Pensata

Lúcio Ribeiro

29/01/2003

Coldplay é nosso - Rio 14 graus

"Vou mandando um beijinho/ pra filhinha e pra vovó/ só não posso esquecer/
da minha eguinha pocotó/ pocotó pocotó pocotó pocotó pocotó pocotó"
MC Serginho

"Fuck the pain away, fuck the pain away, fuck the pain away,
fuck the pain away, fuck the pain away, fuck the pain away"
Peaches



Watch this space!
Direto do Rio de Janeiro, a terra da garoa!
A cidade aqui é mesmo maravilhosa. Além de linda, você esbarra em artista em todo lugar.
Nesta semana estava almoçando num boteco cool do Baixo Gávea, quando aparece um nome forte da vanguarda musical brasileira.
Sozinho, senta e chama rápido o garçom. "Um chope e uma caneta, por favor", pede o músico.
E começa a escrever o que seria uma letra na toalha de papel da mesa. O chope vem e o cara nem vê. Está no processo de criação.
Letra feita, começa a cantar baixinho, dando som ao texto. Logo o paliteiro já entrava no batuque improvisado.
Pronto, nascia mais um hit da nossa música. Essas são coisas que você, ao andar nas ruas daqui, pode testemunhar. Não vejo a hora de essa música explodir para falar: "eu estava lá na hora da criação".
Rio de Janeiro, que beleza.

* Acabou a baixaria no funk carioca. É época de moralização. São os ares do novo governo, será? O grande hino do verão carioca é o funk "Minha Eguinha Pocotó", de autoria do MC Serginho, que no ano passado cunhou a inenarrável "Vai Serginho", funk romântico que usava termos heavy metal para descrever o passeio de um cara pelo corpo da amada, que não parava de incentivá-lo gritando o nome da canção.
Pois o Serginho agora é sucesso por todo lado com a música que fez inspirado em sua filha. Cantava "Minha Eguinha Pocotó" para a garotinha dormir. "O Jumento e o cavalinho, eles nunca andão (sic) só, quando sai (sic) pra passear, levam a égua pocotó." Ainda tem aquela mensagem do tipo "Vem dançaaaaar, vem mexer seu popozão". Mas, com o MC Serginho, o funk carioca da temporada 2002/2003 mostra o seu lado meigo.

* Só não consegui entender até agora (cariocas, me ajudem) qual é o uso apropriado para o termo "lacraia". Lacraia está em uma música que tem um trecho-cover de Gretchen.

* O funk carioca é superpop. Tem um que mistura cânticos de torcida com "Pride (In the Name of Love)", do U2.

* Mas o MC Serginho não é ninguém perto do Seu Jorge, o Caetano Veloso dos novos tempos. E, ao contrário do que pode sugerir, não estou chamando o maior personagem da cena atual do Rio de chato de galocha. É que ele é onipresente, está em todas. Não há evento, show, programa aqui no Rio em que o cara que trouxe o samba para a zona sul não esteja presente. E aí você vai comer um chachorro quente de barraquinha, conforme relato de amigos, e o Seu Jorge está lá, mandando ver o sanduba. Pega um ônibus, o sujeito está na condução. Vai no Maraca, ele está lá torcendo. Passa por uma banca de jornal, Seu Jorge é capa de revista. O ex-vocalista do Farofa Carioca se equilibra em ser cantor, convidado ilustre, comandante de rodas de samba, letrista, ator de cinema e ainda está gravando um CD. "O Romário não chuta com as duas pernas e ainda cabeceia? Eu vou por aí", disse Seu Jorge ao repórter Carlos Albuquerque, do "Globo". Não tenha dúvida. Se a campainha tocar, é o Seu Jorge.

* As rádios de São Paulo deviam pegar uma ponte-aérea e passar algumas horas no Rio, escutando a Fluminense FM, que voltou recentemente à frequência modulada. Uma boa prova de que dá para fazer uma rádio rock mainstream sem ser repetitiva e estúpida. As DJs, só mulheres, embora amadores, não são insuportáveis como todo bom DJ de FM. E a programação mistura o ontem, o hoje e o amanhã sem ranço, nem "esqueminha". E muito menos, parece, sua programação é feita baseada em pesquisa com jovens universitários frequentadores de shopping center, como acontece em SP. Toca Beatles e Charlie Brown Jr. (é boa essa que o Chorão berra "então já eeeeeeera", não?), toca Police e Vines, toca Fatboy Slim e Ramones, toca Coldplay e Neil Young. A Flu FM incentiva a cena local e abre espaço para os eventos rock do Rio. O incrível é que você ouve a rádio por mais de duas horas e nem sinal de Men at Work e "Money for Nothing", "hino roqueiro" do Dire Straits, que infestam diariamente as FMs de SP.

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COLDPLAY A UMA ASSINATURA: SEGUNDO SEMESTRE

Está tudo certo entre o projeto Visa Sounds e a banda Coldplay, para um show em São Paulo (Credicard Hall) e outro no Rio de Janeiro (ATL Hall), em uma data de setembro ou outubro, a ser acertada.
Falta só a banda inglesa campeã de 2002 assinar o contrato da turnê brasileira, viável apenas depois que o grupo de Chris Martin estrelar os festivais europeus.
O Coldplay era atração decantada para vir a Curitiba em março em meio a um elenco que transformaria o festival paranaense em um evento dos sonhos, o melhor de todos os tempos.
Mas a banda que forjou o melhor disco do ano passado deve mesmo vir no Visa Sounds, que está trazendo o estiloso Bryan Ferry em fevereiro, tem confirmado o guitarrista virtuoooooooooso Joe Satriani e arma outra aparição no país da banda teen Silverchair, para maio.

* Quem também vem ao Brasil em fevereiro (dia 14) é a dinossáurica Status Quo, de hard rock. Não tenho idéia do que sobrou de original e de força nesta banda formada em 1968, mas os caras já tiveram seu momento. Nos anos 70 e começo dos 80, emplacaram discos e discos no primeiro lugar da parada britânica. Chegaram a ser atração principal do Reading Festival de 1978, quando o que mandava no festival era o rock, hum, pauleira. Mas a glória suprema do Status Quo foi ser homenageado pelo grupo escocês indie Teenage Fanclub, no clássico CD "Bandwagonesque". A maravilhosa canção "The Concept", que abre o disco, é sobre uma garota linda e descolada, que entre outras bacanas, diz a letra, saiu uma vez para comprar alguns discos do Status Quo. Oh yeah.

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"24 HORAS" - CONTAGEM REGRESSIVA

O seriado mais cool dos últimos anos, esta coluna há tempos vem batendo neste bumbo, chega ao Brasil em sua segunda temporada no próximo dia 17 de fevereiro, via Fox.
Creio, não há mais motivo para explicar aqui o que é essa série sensacional que se passa em tempo real. Então, direto ao assunto.
A emissora paga prepara uma estréia de gala para o ano 2 de "24". Não bastasse a avenida mais famosa do Brasil, a Paulista, ter um outdoor gigante com a cara do agente Jack Bauer (Kiefer Sutherland), da CIA, o canal prepara um especial ousado.
No dia 16, o anterior à estréia da nova temporada, 24 horas da programação da Fox serão dedicadas inteirinhas à reprise da primeira temporada do seriado. Das 21h do dia 16 às 21h do dia 17, só "24 Horas" ano 1. E então entra o primeiro episódio da segunda temporada.

Reprodução



* A segunda temporada, que começou dos EUA em outubro de 2002, teve sua audiência aumentada em mais de 25%, em relação ao ano 1. Dá-lhe, Jack Bauer.
Por aqui, até a temporada nova estrear (e além), você vai ouvir falar bastante de "24".

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NOITES (INDIES) CARIOCAS

Não faz muito tempo, o Rio, para quem curtia rock, era terra de lugar nenhum.
Hoje em dia, a cena indie daqui não deve nada à de SP, por exemplo.
Só para citar uma noite das boas por aqui, segunda-feira fui à Maldita, que ocupa a Casa da Matriz, em Botafogo.
Você leu bem? Segunda-feira!
Noite de segunda-feira dedicada ao rock, que eu conheço, só a Trash, de Londres, o melhor clube do mundo.
Se jogar no rock logo na segunda é o melhor meio de começar a semana.
E no Rio, na Maldita, a casa lota. Tem duas pistas, uma de rock e outra de electro.
E uma coisa que se vê (ouve) na pista de rock da Maldita e não vê em quase nenhuma de SP é a tendência de apontar para o futuro, e não para o passado.
Cheguei lá e estava tocando "Silent Sigh", do Badly Drawn Boy, para começar. A música, ultra-romântica (lentinha), fica uma delícia em pista. Tocou Interpol, The Streets e muito mais.
Teve Pixies e Cure também. Tocou "aquela" do Stone Roses... O som da casa sabia voltar ao passado. Mas não morava nele.
Não dá para uma noite sobreviver tocando só Teenage Fanclub, Buffalo Tom, toda semana. Tem que inovar, instigar. Tem que soltar uma música que provoque o "cliente" a ponto de fazer o sujeito interpelar o DJ para perguntar o que está tocando.
Senão vira, como já está virando, o mesmo preceito de ouvir Deep Purple e Rush em horário nobre de FM, todos os dias.
Sei lá, isso é o que eu penso.
A pista de dança cuja música mais moderna é "Hate to Say I Told You So" tende a ficar às moscas.

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MÚSICAS PARA JÁ

* Primeiro, uma retificação. Este genial colunista recomendou muito a música "Nothing", do Longview, banda nova e bacana de Manchester, terra inesgotável de bandas novas e bacanas. Ninguém achou. O nome correto da canção é "Nowhere". O erro pelo menos serviu para falar de novo do Longview.

* Não estava zoando quando indiquei "Bitter End", do Placebo. A música é boa, mesmo.

* "We Don't Care", Audio Bullys. Dupla de Londres já recomendada aqui. House rock, seja lá o que for isso. Dance musicm, para simplificar. Vai atrás desses caras.

* "Psychosis Safari", The Eighties Matchbox B-Line Disaster. Música maluca, para malucos. Dá medo, mas eu acabei curtindo.

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NEW YORK, NEW YORK

Você acha que a melhor cena roqueira do mundo desde os Strokes anda muito parada, por causa do frio? Marco Lockmann, "nosso homem" (como dizem por aí) em Manhattan, conta o que está acontecendo por lá.

* "Mesmo no inverno siberiano (máxima de -5 graus nas últimas semanas) a cena de NYC não pára... O
Calla (www.callamusic.com) é a banda do momento. Eles são do Texas, mas hoje moram e gravam no Brooklyn. Soam como se Thom Yorke tivesse curtido a pele (e o
cérebro) no sol do Vale da Morte. Tudo isso fundido com
Nick Cave e My Bloody Valentine. "Televise" (Arena
Rock ), o mais recente álbum deles, já é cultuadíssimo e está sendo considerado um dos melhores do ano pelos locais. O Calla está abrindo os shows do Interpol (que junto com Strokes e Yeah Yeah Yeahs são a Santa Trindade de NYC)."

* "Com o Brooklyn ultra-hypado (zilhões de novos clubes
foram inaugurados lá nos últimos seis meses), a cena começa a voltar para o Lower-East-Side de Manhattan, onde o Pianos é o clube da hora. Montado numa antiga fábrica de pianos, reflete a confusão/mistura da música na NYC atual (punk-rock, garage, britpop e house) . O Pianos também é o clube do The Fever (www.thefeveronline), que só com dois singles lançados é o new-new-thing em NYC. Soam como se os Strokes tivessem ouvido Duran Duran mais do que o recomendado..."

* "Enquanto isso, o DFA (www.dfarecords.com), casa de Rapture, Radio 4 e LCD Soundsystem (e possivelmente o selo mais cool dos EUA hoje) esquenta o inverno. James Murphy, o dono do selo e mente por trás do LCD Soundsystem e toda essa mistura house-punk, promove festas clandestinas no Studio do DFA e discoteca toda quinta no APT, um clube secreto no Meat Packing District.
Enquanto isso os Strokes se preparam para gravar o
próximo disco em algum lugar secreto de Gotham
City..."


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WHITE STRIPES NOVO

Saiu o tracklist do próximo disco da cultuada banda de Detroit formada por Meg White e Jack White, duas das pessoas mais cool do planeta. Anote e, a partir de agora, de plantão na internet.

* Seven Nation Army
* Black Math
* There's No Home for You Here
* I Just Don't Know What to Do with Myself
* Cold, Cold Night
* I Want to Be The Boy
* You've Got Her in Your Pocket
* Ball and Biscuit
* The Hardest Button to Button
* Little Acorns
* Hyptnotize
* The Air Near My Fingers
* Girl, You Have No Faith in Medicine
* It's True That We Love One Another

Reprodução



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DISCOS LANÇAMENTOS

* A Universal já soltou no mercado brasileiro, antes do filme, a trilha sonora de "8 Mile", do e sobre Eminem. Nome para prestar atenção: 50 Cent. O rap só fala desse... rapper. Protegido de Eminem e autor de remixes de Missy Elliott, lançou no ano passado o polêmico "Guess Who's Back", em que aparece na capa apontando uma arma para quem tem o disco na mão, revólver "enfeitado" por um crucifixo. Voltando a "8 Mile", o filme de Eminem estréia no Brasil em março, com o subtítulo "Rua das Ilusões".

* "Have You Fed the Fish", Badly Drawn Boy. Álbum da Sum Records que devolve o cantor e compositor de Liverpool a seu devido lugar, o mundo da chatice. Esse disco, tirando a razoável "Born Again", mostra que o lindo disco da trilha de "About a Boy", assinado por BDB, foi um acidente. O cara é a MPB inglesa. Ou MPI, se desejar.

* "Enemy of the Enemy", Asian Dub Foundation. Este deve sair daqui a duas semanas. Nova mistureba sonora e étnica do grupo hindu-britânico. O disco já foi bem falado aqui. Resta reforçar que o CD contém a vigorosa "19 Rebellions", a faixa "brasileira" do disco, cantada por Edy Rock, dos Racionais. Rap + rock de primeira.
* "Forever Delayed", Manic Street Preachers. Sai no Brasil, via Sony, a coletânea "Greatest Hits" do adorado grupo galês. Das 20 músicas clássicas da banda, tem várias legais, como "Motorcycle Emptiness" e tal. Mas há outras que entregam que o MSP é uma banda datada.


* "A New Morning", Suede. Se você quer manter na memória tudo de bom que o grupo de Brett Anderson realizou no saudoso britpop de outrora, não espere muito deste disco fraquinho. Hoje, Brett Anderson sucks.


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O LEITOR E A MÚSICA ELETRÔNICA

De perfil roqueiro, a maioria do leitorado desta coluna é bem tolerante à chamada "música de botão", segundo alguns mais mal humorados.
Segundo resultado da enquete da semana passada, sobre se você gosta bastante, médio, pouco ou nada de música eletrônica, veja o que deu, em números aproximados, porque uma parte dos e-mails ficou no meu computador em SP.

curtem muito: 64 votos
curtem médio: 72 votos
curtem pouco: 49 votos
não gostam nada: 40 votos

* a enquete, para lembrar, foi inspirada em texto de Nick Hornby para seu novo livro, "Songbook". Hornby afirmou que não apreciava nada essa "música sem vocal", o tal "mixing and matching and scratching and cutting and pasting". Mas que começava a ficar seduzido por coisas eletrônicas como Royksopp, Soulwax e Avalanches.

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POPICES

* HULK - Vocês viram que passaram um outro trailer do longa-metragem do "Hulk" no Superbowl (finalíssima do campeonato americano) no último domingo. Está na internet, agora. É muito melhor, mais "revelador", que aquele fraquinho que passa nos cinemas. O filme, dirigido pelo Ang Lee e com a Jennifer Connelly, estréia em junho nos EUA.

* BATMAN - Chris Nolan, o diretor do genial "Amnésia", vai dirigir o próximo filme do "Batman".

* POPSCENE - Este colunista desce a Serra nesta próxima sexta-feira acompanhado por Paulão, do Garagem, como DJs convidados da nova fase da festa Popscene, que acontece no bar Retrô, no centro restaurado de Santos. Se você estiver por perto, sinta-se convidado e dê uma chegada lá. A festa promete. O Paulão toca demais. Mais info no site www.popscene.tk.

* CIRCUITO - No sábado, fica o toque para os leitores que gostam médio ou bastante de música eletrônica: o top DJ brasileiro Renato Cohen, o inglês Bens Sims e Renato Lopes se apresentam na festa da Circuito, na Vila Olímpia, em SP. Info total: www.circuitotechno.net.

* TEATRO POP - Vai até 12 de fevereiro a temporada paulistana da peça "A Vida É Cheia de Som e Fúria", com nova roupagem. A peça, baseada no livro "Alta Fidelidade" (Nick Hornby), está em cartaz às terças e quartas às 21h no Sesc Consolação. Corre que está acabando.

* KELLY - Kelly Osbourne, a filha do Ozzy, quem diria, está internada em Londres desde sexta-feira após sofrer parada cárdio-respiratória durante uma festa. Tal pai, tal filha.

* LITERATURA - Esta coluna não pára de receber o ensaio literário sobre o Mano Wladimir. O legal é quando vem em outra lingua.

* MAIS LITERATURA - Moda no new journalism tupiniquim, escrever textos literários sobre acontecimentos do nosso mundo pop virou mania na cena indie nacional. Estamos já na espera de pensatas sobre a Gisele vestida de homem no SP Fashion Week ou sobre a morte besta do talentoso rapper Sabotage.

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NOVO MASSIVE ATTACK

Segue abaixo texto publicado no caderno Ilustrada, da Folha, no último dia 17. Fala sobre o aguardadérrimo novo disco do grupo inglês Massive Attack, hoje banda de um cara só. Para quem não leu, bom proveito. Repare no tom "mais jornal" do texto. Mas foi escrito com carinho, mesmo assim. Segura:

A cena pop já vai poder sair do transe causado por "Mezzanine", álbum lançado pelo cultuado grupo inglês Massive Attack em 1998. Quase cinco anos depois, a hipnose entra em novo estágio no próximo dia 10 de fevereiro, quando chega às lojas "100th Window", o quinto CD da banda que hoje é de responsabilidade de um homem só. A EMI/Virgin brasileira acompanha o lançamento mundial de "100th Window" de forma relativa. O disco ganha edição nacional também no mês que vem, mas o dia 10 não é garantido.
A Folha teve acesso a uma cópia do disco, que também já circula em alta velocidade pela internet, e adianta como soa um dos CDs mais esperados do pop nos últimos anos.
Influente banda de Bristol, praticante do chamado trip hop, hipnotizante som que mescla eletrônica, dance e rap, o Massive Attack regressa ao cenário com um terço de sua formação.
Dos fundadores da banda, sobrou só o artista gráfico, rapper e cantor atuante Robert Del Naja, conhecido também como 3D. Mas isso não desemboca em queda de qualidade do grupo. O Massive Attack sempre brilhou também pelos convidados de peso que já enfeitaram seu som.
Tricky, Tracey Thorn (Everything But the Girl), Liz Fraser (Cocteau Twins) são alguns dos que já vestiram a camisa desse time sonoro de Bristol.
Em "100th Window", os vocais sobre som etéreo de batidas secas e guitarras viajantes têm a assinatura do próprio 3D, do sempre colaborador Horacy Andy e da grande surpresa do disco, a irlandesa Sinéad O'Connor, que dá o tom feminino sofrido ao álbum. Consta que Damon Albarn, líder do Blur e do Gorillaz, amigo de 3D, participou do CD. Mas não se sabe onde, pois não está creditado no encarte do álbum.
Entenda como quiser, o título "100th Window" vem do livro homônimo de Charles Jennings e Lori Fena, que versa sobre invasões, por meios eletrônicos, da privacidade individual.
"100th Window" consegue ser mais viajante que o último trabalho do grupo, o famoso "Mezzanine". Por culpa própria da capacidade de o Massive Attack construir músicas marcantes, inesquecíveis, este novo CD pode desapontar às primeiras ouvidas, pela falta de canções que de imediato grudem na orelha.
Isso está longe de significar que "100th Window" não tenha uma beleza expressiva. O disco cresce e cresce a cada audição. E, diferentemente do que o nome agressivo Massive Attack possa sugerir, o rapper 3D vai usar este "100th Window" como uma arma para a paz.
Ao acessar o site oficial do grupo, www.massiveattack.com, uma bandeira contra a invasão americana ao Iraque salta de imediato aos olhos.
3D, que no ano passado chegou a pagar do próprio bolso anúncios contrários à iminente guerra em publicações musicais, planeja com o amigo Damon Albarn atos políticos para protestar contra a pendenga EUA-Iraque.
O Massive Attack vai usar propaganda antibélica na esperada turnê britânica e européia, que ocupará abril e maio. Depois, tem marcados seus shows politizados nos... EUA.


* "100th Window", faixa por faixa

1 - "Future Proof"
Bleeps abrem o disco. A música começa lenta, toda quebrada. 3D canta sobre guitarra viajante.

2 - "What Your Sing Souls"
Da linda voz pop de Sinéad O'Connor vem "Sua mente nunca vai mudar se você não pedir". Cada batida deste trip hop fino chega a doer.

3 - "Everywhen"
Horace Andy canta esse mantra ultrasexy de várias levadas. "You Think You Knooooooooow", diz Andy.

4 - "Special Cases"
Neste trip hop sombrio, baixo à la Joy Division, O'Connor dá classe ao macabro.

5 - "Butterfly Caught"
Batidas secas, 3D cantando anasalado e som etéreo.

6 - "A Prayer for England"
Um baixo nervoso comanda a reza de O'Connor.

7 - "Small Time Shot Away"
Talvez a melhor do CD, nela 3D faz rap em cima de um baixo inspirado em "Bella Lugosi's Dead", do Bauhaus. Claro, em ritmo attackiano.

8 - "Name Taken"
Andy empresta sua melancolia, a uma faixa ótima -se fosse do Portishead.

9 - "Antistar"
O tom misterioso aqui não remete a uma Bristol chuvosa. O clima é das arábias.


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RESULTADOS DA SEMANA
(PASSADA E RETRASADA)

Atenção para a vasta lista de ganhadores das duas últimas promoções. Começo a enviar os prêmios só na semana que vem, sorry.

* Cópia caseira do disco que vem no livro novo de Nick Hornby, com xerox do texto sobre música do Teenage Fanclub.
- Hélcio Aparecido Tonevara
Itu, SP
- Eunice Silva
São Paulo, SP

* Cópia caseira de "We're a Happy Family", tributo aos Ramones com Garbage, U2, Metallica, Eddie Vedder.
- Luís Carlos Pitanga
Rio de Janeiro, RJ

- DVD "classic albums" do "Joshua Tree"
Manoela Pereira de Oliveira
Goiânia, GO

* DVD do Fatboy Slim, o sensacional "Big Beach Boutique"
- Nilza Olavo Tagliatelli
São Paulo, SP

* DVD dos Sex Pistols, "classic albums" do "Nevermind the Bollocks..."
- Paulo C. Colombini
Santo André, SP

* CD "Under Construction", da diva do hip hop Missy Elliott
- Alcir Lima
Recife, PE


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PROMOÇÃO DA SEMANA

Sem enquete e direto ao assunto. Mandando e-mail para lucio@uol.com.br, você automaticamente estará concorrendo aos seguintes prêmios, em sorteio:

* uma cópia caseira do disco que vem no livro novo de Nick Hornby. Serão duas cópias em sorteio, ambas acompanhadas do xerox de um texto sobre a música "Oh My Sweet Carolina", do guitarrista americano Ryan Adams, escrita essa que não está no "Songbook".
* uma cópia caseira, outra, do divertido "We're a Happy Family", o tributo aos Ramones.
* CD "Forever Delayed", coletânea novinha do querido Manic Street Preachers
* CD "A New Morning", o mais recente disco do não menos adorado Suede

Vai nessa!

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TCHAU

Vou nessa. Até São Paulo.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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