Pensata

Lúcio Ribeiro

25/04/2001

Mudei de idéia. Talvez você não goste

EXTRA! EXTRA!
(dia 25.abr.01/18h16)

URGENTE JON SPENCER
Os organizadores do Abril pro Rock São Paulo conseguiram armar um show extra do Jon Spencer, no sábado mesmo, só que às 19h. Os ingressos para o show do blueseiro pervertido (mais Sala Especial, mais Jupiter Apple) estavam esgotados desde domingo. Então fique ligado e corra atrás. São 750 lugares e o mesmo preço: R$ 30 (R$ 15 para estudante e comerciários).

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Lúcio Ribeiro

Foto maluca com o barbudo Jon Spencer,
que a xongas da minha máquina se atrapalhou
com a luz, e eu aproveitei para piorar ainda
mais no Photoshop


Hoje eu ia abrir o papo falando (outra vez) dos Strokes, a banda mais legal disparada a surgir nos últimos tempos. A que fez da demo um single de três músicas e em pouco tempo já tinha dez (dez!) gravadoras americanas correndo atrás dos meninos. Mas o Strokes, por hoje, vai virar uma nota, mais abaixo.

É que, se esta coluna tem uma alma independente e um estimável rol de leitores indies, não dá para não começar falando do maior evento indie deste país, o recém-terminado Abril pro Rock, de Recife.

Depois de dois adiamentos, fui finalmente ver o festival de perto. Ver qual é que é, sabe?

Que o Abril pro Rock, já partindo para sua décima edição, virou o Lollapalooza brasileiro pela característica itinerante e uma etapa em São Paulo, eu sabia.

Mas uma carinha de mini-Reading Festival (claro, claro, guardadas as proporções) eu tive que ir lá para descobrir que o festival tem.

O lema do maior festival do mundo, o da cidadezinha inglesa de hooligans Reading, é o de "Grandes bandas, boa cerveja e pessoas legais". Em Recife, só faltou se confirmar o segundo item.

Então, banda a banda, confira como foram os shows (que eu vi) do Abril pro Rock 2001:

Sexta - palco secundário

* Pinto e Rouxinol (PE)
Dupla de repentistas local. Sujeitos simpáticos com seus pandeirinhos contando ora historinhas chatas, ora outras mais legais que "Eduardo e Mônica". Nota: 5.

* D-Urb (PE)
Raiva urbana apoiada em barulho que no máximo resulta em sub-Rage Against the Machine. Nota: 5.

* Bonsucesso Samba Clube (PE)
Banda "cool" de Olinda, que não é legal só por causa do nome. Os caras importaram trip hop ao mangue beat. E a mistura ficou agradável. Nota: 6.

Sexta - palco principal

* Nação Zumbi (PE)
Assim fica fácil. A platéia era toda deles. Parecia o Guns no Rock in Rio 3. Ainda por cima conta com o guitarrista Lúcio Maia... Nota: 8.

* O Rappa (RJ)
Rolou outra simbiose banda-público de cair o queixo. Não sou muito chegado no show panfletário demais dos caras, mas que eles têm suingue não dá pra negar. Nota: 7.

* Asian Dub Foundation (Reino Unido)
Não sei ao certo, mas deve ser a banda mais à frente deste tempo. Uma mistureba de letras fortes com punk, toques indianos, dub, rap e o escambau. O caldo fica sensacional. Faz dançar até poste. Fique de frente para o palco, feche os olhos e prepare-se para acordar dançando na Índia. Nota: 10.

* DJ Amon Tobin (Reino Unido)
Tocou para ninguém, pelo horário madrugador ingrato. Os que ficaram só estavam lá porque não haviam se recuperado ainda dos shows anteriores. Mas foi lá e tocou seu drum'n'bass jazzístico. Na boa. Nota: 6.

Sábado - palco principal

* The Queers (EUA)
Banda veterana de punk rock que chegou lá e tocou... punk rock.
Nota: 7.

* Ratos de Porão (SP)
Para quem encontra algum sentido no hardcore insano da banda do João Gordo... Nota: 8.

* Raimundos (DF)
Este me surpreendeu. Nunca fui com a cara da banda, embora sempre nutri uma simpatia por ter botado de alguma forma o meu sobrinho na rota de Ramones e Nirvana. Mas o show foi poderoso. Tosqueira teen das boas. Nota: 8.

Domingo - palco secundário

* Textículos de Mary (PE)
Marilyn Manson my ass. Transgressão está nesta banda de despirocados pornôs, com atitudes no palco proibidas para menores de 40 anos. Pensei que os Textículos se sustentavam só no folclore, na "atitude". Mas a banda é boa pacas. E bem pesada. Nota: 9.

* Mopho (AL)
Se você conhece o Cosmic Rough Riders, eis aí uma referência brasileira imediata. Mas serve o Charlatans. Rock psicodélico honesto. Começou morno, mas "pegou" mais para o final. Nota: 6.

* Brasov (RJ)
Não sei se dá para assistir show desta banda mais do que uma vez, mas a salsa pop engraçadinha do grupo rolou das mais legais. Nota: 7.

Domingo - palco principal

* Jon Spencer Blues Explosion (EUA)
Com uma barba esquisita de Jesus Cristo, Jon Spencer foi infernal. Não ligou os instrumentos ao sistema de som do palco. Levou seus próprios amplificadores e tascou seu blues deturpado dali. Se você é de São Paulo e não conseguiu ingresso para o show do Sesc Pompéia, pode chorar muito. Nota: 10.

* Mundo Livre S/A (PE)
Continua empenhado em fazer música que para mim não fede nem cheira. Nota: 5.

* Lobão (RJ), participação especial de Arnaldo Baptista
Showzaço do velho Lobo. Peguei-me arrepiado até em "Me Chama". Lobão atacou de power trio, pesado. "Corações Psicodélicos" não é o máximo? E ainda o lance com o Arnaldo Baptista, fundador do lendário Mutantes, rolou legal. O Arnaldo ali nos teclados, 53 anos, com uma aparência bem prejudicada pela vida no rock'n'roll, foi de uma honestidade comovente. Nota: 9.

Lúcio Ribeiro

Show do Lobão, com a participação comovente
do Arnaldo Baptista (à dir., o ex-Mutantes) nos
teclados, no Abril pro Rock, em Recife


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ABRIL PRO ROCK EM SÃO PAULO

Você que é paulistano não pode deixar de ver o Asian Dub Foundation cair aqui no Sesc Belenzinho na sexta. Você não merece isso. Eu não posso ser tão abençoado de ver os caras duas vezes em uma semana e você nenhuma.
Quanto ao Jon Spencer no Abril pro Rock paulistano, os ingressos já eram. Se você não pode ir por motivos de força maior, tudo bem. Mas se marcou e não garantiu sua entrada, meus pêsames.

Toma aí a escalação completa:

Se liga, galera. Tem Textículos de Mary, Mopho, Ratos...

SÃO PAULO
(Sesc Pompéia)

Sexta

Choperia: Mopho (AL), Sonic Jr. (AL), Os The Darma Lovers (RS)
Teatro: Ratos de Porão (SP), Inocentes (SP), Devotos (PE)

Sábado

Choperia: Replicantes (RS), Wander Wildner (RS), Textículos de Mary (PE)
Teatro: Sala Especial (SP), Júpiter Apple (RS), Jon Spencer Blues Explosion (USA)

Domingo

Choperia: Dj Dolores e Orquestra Sta. Massa (PE), Flu (RS), Bomsucesso Samba Clube (PE)
Teatro: Ortinho Y-A Zuada (PE), Brasov (RJ), Mundo Livre S/A (PE)

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STROKES

Já falei muito aqui. Emprestei o disco a amigos. Toquei em clube indie. Falei até para um cara do "New York Times" (a banda é nova-iorquina), que me respondeu: "Quem? Strokes? Não Conheço". Escrevi uma capa para a Ilustrada, da Folha.

Você já ouviu os caras? Conhece a curta história da banda? Sabe que o baterista é brasileiro?

"The Modern Age", "Last Nite" e "Barely Legal", as únicas músicas da banda, estão no Napster.

Depois não diga que não foi avisado.

A história completa está aqui.


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OS TITÃS E A ELETRÔNICA

Show do titã-solo Paulo Miklos na semana passada em São Paulo, no bar Woodstock, aberto pela banda gaúcha Bidê ou Balde. E chega o Miklos e fala: "Os Titãs, uma banda que sempre esteve a frente de seu tempo, antecipando as novas tendências, vai assumir um DJ em sua formação.

Ei, Joey Ramone! Faça alguma coisa aí de cima.

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DVD: UTENSÍLIO DOMÉSTICO OBRIGATÓRIO

Como diz o amigo Tom Leão, do jornal carioca "O Globo", DVD é uma coisa que você um dia vai ter. Não tem jeito.

Então vale muito comprar logo uma revista chamada "DVD Music", nas bancas com um preço mais ou menos de 15 lascas, que traz "de brinde" o DVD da banda americana Talking Heads, no tempo que o David Byrne não era uma mala paga-pau para a "nossa" MPB.

O DVD é o "Stop Making Sense", showzaço hipnotizante da banda em Los Angeles, no começo dos anos 80. O melhor: a cópia é a remasterizada.

E falando em DVD...

* Saiu agora na Inglaterra um histórico DVD do grupo inglês New Order, chamado "New Order 3 16", que contém um inacreditável show em Nova York em 1981 (uma das primeiras da banda de Manchester, não muito depois do suicídio de Ian Curtis e o consequente fim do Joy Division) mais uma apresentação do grupo no Reading Festival de 1998. Cacilda!
Mas DVD inglês não serve no nosso sistema. Tem que esperar o americano ou, sabe lá, o nacional.

* E foi lançado o DVD americano do "Familiar to Millions", do Oasis, o que virou CD duplo. É o de um dos falados shows de Wembley do ano passado. O máximo é um extra que mostra a chegado do público desde o começo do dia, a aglomeração se formando, a banda passando o som horas antes do show. Revela bem uma das características mais bacanas do Oasis: a de ser uma banda que parece um time de futebol. Seus fãs são torcedores uniformizados do grupo.

O leitor Daniel Dias Goi, que mora em Los Angeles, me escreveu dizendo que tinha comprado e que era muito legal. Intimei o coitado a comprar e mandar para mim pelo correio. Leitor bacana é isso aí.

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JENNIFER ANISTON

Sabe a fofíssima Rachel, de "Friends". Ela está fabulosa na capa deste mês da revista americana "Vanity Fair", cabelo dessarumadamente arrumado, olhão verde, levemente maquiada e vestindo um decotadíssimo Valentino e um colar de diamante.

A chamada da capa é ótima: "Ela ganha 750 mil dólares por semana. Seu cabelo ainda é o máximo. Ela é casada com o Brad Pitt. E mesmo com tudo isso é quase impossível não gostar de Jennifer Aniston".

Puts!

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O LIXO QUE EU GOSTO

Você já deve ter estado em uma situação dessas. Tipo mudar de idéia. Pensar uma coisa e fazer outra, simplesmente porque sim. Pois é: me encontro assim, agora. Mudei de idéia. Disse que era para se abrir comigo e contar seus podres, o lixo musical que você gosta e não conta para ninguém. Podia confiar: eu não iria contar para ninguém.
Então... É que eu resolvi contar. E vai ser agora.

Desculpa aí. Não vai ser de todo mundo, porque não cabe. Será aleatório. Só resta torcer.

As musiquinhas ordinárias que fazem a cabeça do povo indie:

Lúcio Ribeiro
música: "Polícia", Titãs; "Me Chama", Lobão.
explicação: "Quanto à primeira não tem. Devo ter feito algo de errado para Deus. A segunda não é lixo, não, na verdade. O Lobão é legal."

Rodrigo Amboni
música: "É Preciso Saber Viver", versão Titãs.
explicação: não tem

Rodrigo Campos De Domenico
música: uma da Marina
explicação: "Putz, eu não consigo acreditar, mas eu gosto de uma música q tem no CD de remixes da Marina Lima, que os caras escutam aqui no meu trabalho. Não sei nem quero saber o nome."

Flavio Aquistapókulus
música: "Rock do Espirro", Trio Esperança
explicação: "Eu ADORO. O que é a Evinha cantando com aquela vozinha ranheta de criança a seguinte letra:
"Beijo nunca me faz bem... Eu preciso me tratar... Me disseram que ninguém assim pode namorar... Ah,ah... ATCHIM, beijo esquisito, ATCHIM, faniquito, ATCHIM, namorar, eu não consigo beijar...

Acácio J. Piotto
música: "Take on Me", A-Ha.
explicação: "Lúcio pelo amor de Deus não conta pra ninguém, hein? Foi um momento escorregão. Digamos que eu estava como o Suplicy disse uma vez: fora dos eixos."

Ana Cláudia Coli
música: "Larger Than Life", Backstreet Boys.
explicação: "Ai, você vai querer me matar. É horrível, mas eu canto junto. Tem também uma... não, essa nem pra minha mãe eu conto!"

Pedro Cunha, Porto Alegre
música: Engenheiros do Hawaii
explicação: OK, me fuzile. Tenho todos dos Engenheiros do Hawaii. A maioria ainda em vinil.

Fabiano Liporoni
música: "Devolva-me", Adriana Calcanhotto
explicação: "Cara, é a música mais triste dos últimos anos... Só perde pro 'Last Kiss', do Pearl Jam"

Leandro S
música: "My Way", do Limp Bizkit
explicação: "Ouço fingindo que toco guitarra ao mesmo tempo. Patético. Mas ninguém sabe disso."

Luciane Nadaleto Zardo
música: "Domingo", Titãs.
explicação: não tem

Renato Thibes
música: Bon Jovi
explicação: "Pode contar pra todo mundo, pq eu já tô acostumado a ser zoado por isso!"

Elis Maria Barbosa
música: "Sob Medida", Fafá de Belém.
explicação: "Não tenho nenhuma intenção de ganhar prêmio, mas eu preciso desabafar..."

Paola Franco, GO
música: Aquela do "pirou o cabeção", O Surto.
explicação: "É cara, tentei fugir, mas não deu. Já que você resolveu repetir a promoção... Sei que isso vai doer, mas vou abrir o jogo. A música que eu curto, e que não tenho coragem de falar pra ninguém, porque é um lixo mesmo, é aquela do ..."

Luiz César Pimentel
música: "Cigana Sandra Rosa Madalena", Sidney Magal
explicação: "Valém clássicos?"

Alexandre Malvestio
música: "Livin La Vida Loca", Rick Martin, "Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão, disco da Marisa Monte.
explicação: "Não vai rir. Rick Martin, pode crer. She's all I ever had, she bangs etc. Marisa ego-aos Montes, ela é insuportavelmente convencida e 'auto-manipuladora de impressões causadas'. Dá onde tirei isso. Tô falando difícil como o Caetano. Mas esse disco dela é legal, gosto dele! Quero o disco do Legião. Confio em você.

Diana Figueiredo Pinheiro
música: "Aprender a Amar", Sandy & Júnior
explicação: "Bom, eu juro que você é a primeira pessoa que sabe disso, e por favor não espalha (a não ser que eu mereça algum prêmio legal), mas eu gosto muito dessa música! Porra, muito trash, eu concordo... Mas é tão bonitinha! NINGUEM SABE: EU TENHO A MAIOR FAMA DE INTELECTUALIZADA E ROQUEIRA."

Roberta de Jesus Lopes, Santos/SP
música: "Crazy", Julio Iglesias e "La Barca", Rick Martin
explicação: "Nunca escrevi para você, mas desta vez fiquei entusiasmada com a sua promoção. Toda vez que a música do Iglesias tocava na novela da TV Globo eu me arrepiava, mas não confessava a ninguém. A do Rick Martin, trilha sonora da novela 'Deus nos Acuda', que embalava o romance dos atores Edson Celulari e Cláudia Raia, na vida real embalava o meu romance também... E essa nem meu namorado imagina, porque se ele desconfiasse acredito que ele me deixaria no ato...

Cassiane
música: uma do Raça Negra
explicação: "Ainda bem que a promoção não acabou e ainda tenho oportunidade de relatar que sou apaixonada pelo pagode mauricinho do Raça Negra. Mas vê se não espalha, porque é muito constrangedor para mim. Uma garota que adora britpop e barulheira gostar de versos como: Extrapolei, exagerei, passei da conta/ Meu coração não tem juízo não, às vezes apronta..."

Não pensa que acabou. Semana que vem tem mais.

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VENCEDORES DA SEMANA

Paola Franco
prêmio: CD do Maybees

Rodrigo Campos De Domenico
prêmio: coletânea Brazilian Peebles

Acácio J. Piotto
prêmio: CD do Brincando de Deus

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PROMOÇÃO DA SEMANA

A pergunta é ótima, o prêmio é fabuloso e você ainda vai estar ajudando a fazer deste país um lugar menos ruim para se viver.

Em uma promoção conjunta desta coluna com a produtora mineira Motor Music, acostumada a trazer bandas legais para o Brasil, você estará concorrendo a 10 (dez!) camisetas da turnê do Mudhoney e 10 (dez!) camisetas da turnê do Yo La Tengo, dois grupos bacanas que vieram ao país recentemente pelas mãos da Motor.

O caminho é o seguinte: responda "qual o grupo ou artista que você gostaria de pedir para a Motor Music ir atrás e trazer para o Brasil?".

Lógico que tem que ser alguém de porte médio, de Frank Black a Belle & Sebastian. De Coldplay a Built to Spill.

Não pode pedir Pearl Jam, REM ou Oasis.

Sua resposta é importante para a Motor Music saber o que você quer. A produtora mineira anda com canal bom nos EUA e está amiga do British Council, o que pode facilitar na vinda de gente boa do Reino Unido.

Vai, não perca tempo. Vamos botar o Brasil na rota dos shows de rock legais.

Um primeiro passo é mandar seu voto para lucio@uol.com.br.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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