Pensata

Lúcio Ribeiro

27/02/2003

Os grandes plágios da música brasileira (Parte 1)

"Yoshimi, they don't believe me, but you won't let those robots defeat me"
Flaming Lips

"I've been the one to party until the end/ Looking for the after party to began/ I'm going down to... La La land. / I hope to see you soon in... La La Land"
Green Velvet

"You're so cute when you're frustrated, dear/ you are the only person who's completely certain there's nothing here to be into/ That is all that you can do"
Interpol


Hello. Antes tarde do que nunca.
Esquentando os tamborins?
Para quem quer adicionar uma guitarra ao telecoteco, um batidão eletrônico ao ziriguidum, aqui vai uma rápida trilha sonora para este Carnaval.

Na verdade, é mais que uma sugestão. É um desafio. Existe alguma música, hoje, mais nervosamente bacana que "La La Land", do Green Velvet, mais deliciosamente vibrante que "Bandage", do Hot Hot Heat, mais envolvente, envolvente e envolvente que "Give It Up", do LCD Soundsystem, e mais apocalíptica que "Danger! High Voltage", do Electric 6?

E-cartas à redação desta coluna, por favor.

* "Danger! High Voltage" é tão apocalíptica que fiz uma ligação direta dela assim quando soube do incêndio maluco que matou quase 100 roqueiros em um clube de Rhode Island, na semana passada. "Fire in the Disco", grita o Electric 6. Aí a tal banda Great White, de hard rock pelo que informaram, vai e arma no palco uma parafernália pirotécnica, à la Kiss. Dentro de um clube fechado. Uma construção de madeira. O guitarrista, Ty Longley, que estava desaparecido, foi confirmado como vítima nesta semana.

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MÚSICAS QUE "LEMBRAM" OUTRAS

É cada vez maior o número de pessoas que, entendidas de linhas melódicas e tal e coisa, afirmam que é plágio lascado mesmo a música "Já Sei Namorar", dos nossos amigos Tribalistas. Xerocada de sucesso antigo do Sly and Family Stone, teria copiado a estrutura melódica na qual Marisa Monte contribui cantando "tchururururu-ru".

Confesso que já vi coisa muito pior e nem vejo isso como plágio. Apenas uma "herança" em alguns casos. Mas enfim.

O negócio é que o bafafá motivou uma discussão entre amigos em torno de músicas do pop nacional que lembram outras.

O caso mais famoso é o que envolve o cantor Jorge Benjor, na época Ben, e o escocês Rod Stewart.

Em 1978, o roqueiro britânico usou a "frase" "Tê-tetere-teretetê", da música "Taj Mahal", no refrão da ótima "Do Ya Think I'm Sexy?".

Jorge Ben já estava encaminhando um processo contra Stewart quando o escocês, com a música polêmica, chegou ao primeiro lugar do chart inglês. Mas aí, rapidamente, Stewart cedeu os lucros da faixa ao Unicef em um show beneficente na sede da ONU, em Nova York. E a história ficou por isso mesmo.

Tem o caso do plágio (assumido) do Legião Urbana para cima da letra do duo inglês Soft Cell.

"Take your hands off me/ I don't belong to you", que Marc Almond canta na lindíssima "Say Hello Wave Goodbye". Renato Russo disse que se "inspirou" mesmo nas palavras do Soft Cell para tascar o "Tire suas mãos de mim/ eu não pertenço a você", o começo da música "Será", sucesso estrondoso do primeiro álbum da banda de Brasília.

Russo confirma ainda que o hit "Que País É Esse?" é parente próxima, também, de "I Don't Care", dos Ramones.

O jornalista André Barcinski, co-piloto do "Garagem" e empresário da música eletrônica, conta que já fez um programa de rádio certa vez, tocando uma dessas músicas polêmicas do pop nacional, seguida de sua, hã, versão original.

Tem uma música da bandaça Gang of Four, lembra o André, que foi 'usada' com categoria pelos Titãs, banda de renomados e muitos letristas.

O Gang of Four, você deve saber, voltou a ser bastante lembrado, recentemente, por ser embrião do movimento punk-funk praticado em Nova York.

A tal música "homenageada" pelos Titãs é a "Damaged Goods", cuja letra inclui as frases "Your kiss so sweet/ Your sweat so sour/ Sometimes I think I love you/ But I know it's only lust".

Tempos depois aparecem os Titãs com "Seu beijo é tão doce, seu suor é tão salgado... Às vezes acho que te amo, às vezes acho que é só sexo", em "Corações e Mentes".

O que o Camisa de Vênus, grande banda punk baiana dos 80, bebia no The Clash era brincadeira. Mas a melhor deles é "Meu Primo Zé", que é prima de "My Perfect Cousin", do Undertones.

A lista é imensa. Quem quiser contribuir com ela, manda para cá.


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SKOL BEATS 2003 - A LISTA

Esta coluna saúda a lista de atrações do milionário festival internacional de música eletrônica Skol Beats, que em sua quarta edição vai ser realizado no Complexo do Anhembi, em São Paulo.

A data é 26 de abril. Serão 69 atrações em quatro tendas, palco principal e chill out, por onde circularão gente das 16h até as 10h do dia seguinte.

A lista completa já deve estar circulando por todo lugar. Mas numa triagem rápida, confira algumas das principais atrações, mesclando brasileiros e estrangeiros.

* Outdoor Stage
- 16h30-17h - Zemaria live
- 17h30-18h15 - Dj Marky x XRS live
- 21h30-22h30 - Junkie XL live
- 23h30-0h30 - Stereo MC's live
- 2h-3h - 808 State live
- 3h-3h45 - Murphy

* The End
- 21h30-0h - Layo & Bushwacka!
- 0h-2h - Green Velvet DJ set
- 2h-3h30 - Derrick May
- 3h30-5h - Renato Cohen

* Bugged Out!
2h-4h - Dave Clarke

* Movement
- 22h30-0h - Grooverider
- 1h30-3h30 - LTJ Bukem com MC Conrad
- 3h30-5h30 - DJ Marky
- 5h30-7h - Bryan Gee

* Se vale a dica desta coluna, não perca a techno do Dave Clarke, o breakbeat do LTJ Bukem com MC Conrad e o espetacular Green Velvet, maluco de Chicago agraciado com uma das epígrafes acima.


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BLUR NOVO

Atenção todos os mouses. A britbanda Blur soltou o nome do próximo disco e a lista das músicas. O CD, "Think Tank", o sétimo do grupo e o primeiro a não contar com o guitarrista Graham Coxon, é esperado para o dia 5 de maio. Antes, no dia 21 de abril, sai o single "Out of Time".

No lugar de Coxon já está o ex-guitarrista do Verve, Simon Tong.

O Blur vai estar no Coaxella Festival, na Califórnia, no final de abril.

Confira o tracklist do álbum e, desde já, olho na internet. Pelo menos o single já deve aparecer dia destes.

1. Ambulance
2. Out Of Time
3. Crazy Beat
4. Good Song
5. On the Way to the Club
6. Brothers and Sisters
7. Caravan
8. We've Got a File on You
9. Moroccan Peoples Revolutionary Bowls Club
10. Sweet Song
11. Jets
12. Gene by Gene
13. Battery in Your Leg


* Sabe aquela "Don't Bomb When You're the Bomb", que o Blur soltou no comecinho do ano só em vinil, só em single, e sem assinar o nome Blur no projeto?

Falei até mais ou menos mal dela aqui, mas agora até que estou curtindo bastante a música. Pena que ela não vai estar no disco.


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POPICES

* Você deve se lembrar daquela bacanuda revista inglesa chamada "X-Ray", que teve um lançamento especial em setembro passado, mas que iria circular a valer a partir de fevereiro deste ano. Pois o número dois da revista, que tem um formato cool, vem com CD e pertence à bacanuda rádio londrina XFM já circula nas bancas inglesas. O grupo brit-psicodélico The Coral é a capa. Baita revista boa.

* Nicholas Cage e Spike Jonze estão sublimes em "Adaptação", filme abiloladamente genial que está em cartaz. Já viu? Que cabelo é aquele do Nicholas Cage?

* No sabadão de Carnaval, a interessantíssima banda paulistana Evil Sounds Drink põe batidas eletrônicas dentro do antro roqueiro Tramp Club, na noite Superblast. Se o seu negócio não é a avenida, não perca o ESD.

* A banda sorocabana Wry fechou turnê inglesa em março, em uma rota de bares pequenos. No dia 29 de março, os caras tocam no charmosíssimo podreira The Monarch, no bairro de Camden Town. Cool.

* A sensacional série "24" vai para seu quarto episódio da nova temporada. Já se passaram três horas em outro dia difícil da vida do agente Jack Bauer. E nas tais três horas teve mais ação que em toda a filmografia do Spielberg. A última vez que eu respirei fundo foi na segunda-feira, pouco antes de "24" começar.

* O músico 3D, da bandaça Massive Attack, chegou a ser preso nesta semana, e depois foi solto, por causa de suposto envolvimento com pedofilia na internet. Parece que o nome de 3D foi ligado a uma batida policial que aprendeu grande quantidade de drogas e vários computadores em Bristol, na Inglaterra. Que barra!

* Momento inspirado da MTV, numa tarde destas. Em uma sequência mágica, passou o lindíssimo clipe de "Little by Little", do Oasis, o gracioso "Grace", do Supergrass, e "Clocks", do Coldplay, ao vivo e maravilhoso. Essa "Clocks" é f***.

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INTERPOOL - ENTREVISTA

O mercado brasileiro de discos pop foi literalmente iluminado nesta semana, quando começou a aparecer nas prateleiras das lojas um disco preto, com uma figura vermelha esquisita e uma série de seis lâmpadas acesas.

Está escrito na capa. Interpol. "Turn on the Bright Lights".

Mais uma banda nova a sair da prolífica cena de Nova York, o Interpol exatamente não é apenas mais uma banda a sair da prolífica cena de Nova York.

Em que pese seus curtos quatro anos de fundação e o fato de ter "aparecido" mesmo no ano passado, o tal grupo pode ser considerado como um velho conhecido de quem ouve rock pelo menos desde os anos 80.

Dentre todas essas bandas do novo rock que parecem com alguma coisa boa já ouvida no passado, o Interpol é o exemplo mais forte. Bote para tocar qualquer música deste disco de estréia do quarteto nova-iorquino e logo saltará aos ouvidos os melhores momentos do pós-punk inglês.

Longe de representar demérito, o som do Interpol tem o gás do U2 quando novo, é sombrio como o New Order do começo, resgata o clima "no future" do Magazine e, mais latente, é assombrado pela melancolia vocal de Ian Curtis, mártir do Joy Division.

Esta coluna encontrou Daniel Kessler, fundador e guitarrista da banda, por telefone, em Portland, na semana passada. O Interpol não consegue parar de tocar desde 2001, mas tudo "piorou" perto de agosto de 2002, quando o maravilhoso "Turn on the Bright Lights", álbum de estréia do grupo, foi lançado lá fora.

E a banda só vai descer do palco e guardar seus ternos em abril, na França, daqui a 40 shows. O Interpol é famoso por se apresentar a rigor. O baterista da banda é também dono de badalado brechó em Williamsburg, Brooklyn, o atual bairro mais hypado do mundo. Sobre o Interpol, os ternos, o disco e Nova York, Kessler disse:

A banda - 'O Interpol nasceu na NY University, entre 98/99. Sempre toquei guitarra e queria formar uma banda para ter algum prazer enquanto não estivesse em aula. Quando dei por mim, estava pedindo demissão de meu emprego para sair em turnê."

O disco - "É o nosso primeiro CD, e é difícil saber realmente o que você quer logo de cara. Acho que ele captou uma atmosfera bem intensa, algo perto do que desejávamos. É bem melódico e não superproduzido, porque nós mesmos o fizemos. Acabou saindo também um disco temático sobre amor perdido, mas não sei por que claramente."

Os ternos - "Não é uma determinação interna. Quando conheci os outros caras, todos já se vestiam assim. Uns vestem camisetas, outros tocam com capas. Nós gostamos de gravatas coloridas."

Joy Division - "[A comparação] Não me incomoda. É uma banda que gostamos, mas confesso que não sou tão conhecedor de Joy Division. Se é que nosso som parece com o de alguma banda, diria que é com o Echo & the Bunnymen."

Cena de Nova York - "A cidade aconteceu de ter, ao mesmo tempo, um número grande de bandas boas e de diversos estilos, posturas. Mas diferente do que todos sugerem, aqui não há um senso de comunidade musical. Adoro Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Walkmen. Conheço pessoas dessas bandas, mas não são meus melhores amigos. O Interpol é mais uma banda de Nova York do que da cena de Nova York."


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PEACHES - ENTREVISTA

Grosso modo e deixando de início o item "sexo" de fora, o furacão Peaches é uma ex-garota punk que encontrou a música eletrônica em algum ponto no trânsito entre Toronto e Berlim, misturou tudo o que achou e fez do resultado sonoro um produto novo, só seu.

Rainha do electro-punk, que é sujo, pesado, mas dá para dançar, Peaches manda avisar, direto da cidade mais agitada da Alemanha, e via Popload, que seu disco de estréia já está nas lojas brasileiras ("The Teaches of Peaches", Sum Records) e, mais, que vem apresentá-lo em show ao vivo por aqui em outubro ou novembro.

"Tenho convites para tocar no Brasil e devo aceitar, sim, tão logo meu CD novo for lançado. Ouvi falar muito bem dos clubes daí. Parece que as noites de São Paulo são quentes. São mesmo?"

Uma das mais bem acabadas crias deste mundo pop globalizado e conectado na internet, Peaches era até há bem pouco tempo uma baixista de uma banda punk chamada Feedom (ela diz que o grupo, que tem Chilly Gonzalez, não acabou). Até há bem pouco tempo nem Peaches ela era.

Merrill Nisker, 35, cansou de ser apenas a punk malucona, ativista e feminista Merrill Nisker e virou Peaches em 2000, quando resolveu que o Canadá era um país muito pequeno e frio para seu som violento e suas letras bem quentes, proibidas para menores... de 30 anos.

No processo de transformação, sentiu que o negócio era botar punk, música eletrônica, rock e funk em sua groovebox (espécie de sintetizador e editor de sons), encarnar uma Nina Hagen moderna, violentar as batidas programadas do, digamos, Depeche Mode e mudar de vida.

E as brumas do levante electro acabaram levando a moça que atrai em shows mais moças que a PJ Harvey para a multifacetada Berlim, direto para o selo vanguardista Kitty-Yo. E cujo nome artístico, ela explicou, é uma alusão àquela coisa que "as garotas têm, mas os garotos, não".

"Ia ficar fazendo o que no Canadá? Berlim é viva. E é uma grande cidade, de espírito livre, cheia de pessoas criativas e longe de modismos bestas que têm em lugares movimentados como Nova York e Londres. Aqui ninguém se espanta com 'novidades', com 'febres'. A música é curtição, não business", afirma Peaches.

O hype que Peaches parece abominar fez dela nome forte da cena electroclash de Nova York e, na parte que toca aos ingleses, botou a canadense para exibir com som e imagem seus movimentos sexy-vulgares e seu pênis de borracha no colossal Reading Festival, na edição do ano passado.

Sua tara é famosa. Peaches, "só de farra e sem pegar pesado", já fez ponta em filme pornô antes no Canadá e depois em Berlim.

"Conhecia algumas das garotas atrizes", justificou.

"É engraçado saber que o 'Teaches of Peaches' está saindo agora no Brasil, quase três anos depois que eu o gravei. Ainda hoje acho ele moderno, enérgico. Meu próximo álbum [previsto para setembro] deverá soar parecido", informa Peaches.

E sobre a cena de Berlim, Peaches? "Aqui, pelo que dá para notar em um giro pelos clubes, há uma interminável obsessão de misturar música eletrônica e punk. É um modo de mesclar batidas modernas a uma agressividade inerente a quem vive em um mundo maluco como este. É bom extravasar isso pela música."


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PROMOÇÃO DA SEMANA

Direto ao assunto, a lista de prêmios para sorteio desta semana é a seguinte:

* 1 CD oficial do Interpol, o brilhante "Turn on the Bright Lights"

* 1 CD caseiro do Interpol, acrescido de faixas bônus

* 1 CD "caseiro" do novo White Stripes, o sensacional "Elephant"

* 1 CD oficial "Big Beach Boutique II", do mágico Fatboy Slim

Seu único trabalho é mandar um e-mail para lucio@uol.com.br e esperar pela sorte


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CHEGA

O resultado da promoção da semana passada sai só na próxima. Senão ia demorar mais ainda para botar a coluna no ar. Bom Carnaval. Não vai se exceder nas brincadeiras. Quebra tudo!
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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