Pensata

Lúcio Ribeiro

18/06/2003

Eles

"Your cell phone, your time, your bank card, your license, your thoughts, your fears, your sweat, your passions, your regrets, your profits, your time off, your fashions, your sex, your pills, your grass, your tits, your ass, your laughs, your balls, your address, your shoe size, your dejects, your plants, your eyes, your schedule, your desktop, your details, your life, your children, your photos, your home, your emotions, you love, your dreams, your security, your space, your magazines, your blue jeans, your football shirt, your baseball cap, your videogame... WE WANT YOUR SOUL"
Adam Freeland, em "We Want Your Soul"

"Take me out tonight
Where there's music and there's people
And they're young and alive"
Morrissey, em "There Is a Light That Never Goes Out


Olá. Embora este colunista tenha dado um rolê na terra do "fuck the tan" (dane-se o bronzeado), a cor de pele predominante é o jambo, posso dizer. Fazer o quê? Ibiza vem daqui a pouco.
A coluna debruça suas letras iniciais em cima de dois seres especiais, os "eles" do título. Um já foi considerado o ser mais maravilhoso do mundo. O outro, que orgulhosamente este espaço anuncia como outra deliciosa atração do Tim Festival vindouro, tem tal glória em um espaço mais reduzido. É, segundo um número cada vez maior de entusiastas, o ser mais maravilhoso dentro de uma cabine de DJ.
Lady ou gentleman! Com você, Morrissey e Erol Alkan.

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ELE: MORRISSEY

É tempo de Morrissey. Um dos sujeitos mais adorados da música pop desde sempre é de novo notícia quente.
Talvez o autor das letras mais bonitas do rock, Morrissey finalmente e depois de muitos anos de reclusão e alguns poucos shows emocionantes assinou contrato com uma gravadora e está produzindo a toque de caixa um disco novo. Seu primeiro em seis anos.
A banda que Morrissey liderou nos anos 80, o seminal The Smiths, completou agora em maio seus 20 anos. Nos Smiths, Morrissey e o fenomenal guitarrista Johnny Marr formaram a dupla mais entrosada da música desde Lennon & McCartney.
Em maio de 1983, o DJ inglês John Peel resolveu botar em seu programa uma banda nova de Manchester que acabava de lançar seu primeiro single, "Hand in Glove", cuja capa trazia a foto de um modelo pelado, de costas, encostado em uma parede.
Seis meses depois a banda lançava o single "This Charming Man". E a música pop nunca mais seria a mesma.

* Não faz muitos anos Morrissey foi eleito em pesquisa do respeitabilíssimo diário britânico "The Guardian" como o maior inglês vivo. E não há nada que indique que essa posição tenha sido alterada.
Daí não é de espantar que a cada respiro do músico apareçam reportagens e entrevistas sobre ele ou seu grupo. A bacanuda revista "Word", nova publicação musical inglesa, entrega sua capa de junho a uma entrevista exclusiva com Morrissey. No último dia 8, a poderosa emissora Channel 4 mostrou o sensacional especial "The Importance of Being Morrissey" na TV, que já circula pela internet e deve até virar DVD. O documentário captou durante seis meses no final do ano passado e começo deste como vive Morrissey em seu retiro em Los Angeles e recontou a trajetória artística do ex-Smiths, com trechos exclusivos de shows, depoimentos de famosos, a "treta" com David Bowie, e como na famosa turnê americana de 1991, já solo, Morrissey esgotou mais rapidamente os ingressos para o show do Madison Square Garden (NYC) do que os Beatles.

* O Channel 4 devia ter mandado uma equipe para o Rio de Janeiro, atrás do MC Saquinho e da "Montagem Dermite", aquela obra funk do morro que baseia sua letra e música nos Smiths. Ou Dermite, como queira. Isso sim é a real medida para a "Importância de Ser Morrissey".

* Por causa dessa nova onda Morrissey, o álbum coletânea "The Very Best of the Smiths" subiu 43 posições e garantiu reentrada no Top 100 da parada inglesa.

* O semanário "New Musical Express" encartou em uma edição de duas semanas atrás um excelente especial de 28 páginas em homenagem aos 20 anos de Smiths. Traz entre outras coisas pôsteres, uma clássica entrevista de 1985, as frases famosas de Morrissey, as críticas de época do semanário para cada disco lançado e a lista das 20 melhores canções da banda.

* Eu tenho uma péssima memória para tudo, mas lembro-me bem da primeira vez que ouvi Smiths na minha vida. E em que circunstância.
Já havia lido sobre a banda em matérias escritas pelo polêmico Pepe Escobar na famosa Ilustrada dos anos 80 e tal. Aí, num certo dia, sozinho em casa (olha o que eu lembro: minha família havia ido a um velório de um parente e eu não pude ir porque tinha escola de manhã), quando me preparava para dormir resolvi ouvir um pouco de rádio. Na Transamérica FM, o locutor anunciou "What Difference Does It Make", do tal The Smiths. Depois foi difícil pegar no sono.

* No especial da "NME", estrelas do rock atual conta como de alguma forma os Smiths foram importantes para sua vida. O grande Noel Gallagher, do Oasis, lembrou um fato que ocorreu com ele e o ex-Smiths certa vez: "Eu vi o Morrissey uma vez, numa rua de Camden Town (bairro agitado de Londres). Foi no dia que "Some Might Say" chegou ao número um nas paradas e eu estava voltando de uma loja de bebidas, porque à noite íamos comemorar. Morrissey estava com uma mulher, que de repente correu atrás de mim e disse 'O Morrissey está mandando um alô para você'. Eu respondi que estaríamos fazendo uma festa naquela noite. Que, se ele quisesse aparecer, o número da casa era 38a. Então fizemos a festa e, no dia seguinte, quando acordei, tinha um posta dos Smiths embaixo da porta. Estava escrito: 'Me liga neste número. Vamos sair por aí e fazer uns pequenos furtos em lojas'. Eu liguei e ele não atendeu o telefone. Parece que ele nunca atende".

* A piveta Kelly Osbourne também deu seu depoimento para a "NME". "Acho que os Smiths foram uma banda moderníssima, não só na música como no estilo. Você tem que levar em conta que eu sou muito jovem para eles, mas eu não tenho uma jaqueta jeans que não contenha um pin do Morrissey espetado nela."

* PROMOÇÃO - Como eu sou bem camarada, adquiri uma "NME" extra para sortear aqui o especial dos Smiths entre os leitores. Quem quiser concorrer a esse maravilhoso item de colecionador pode mandar seu e-mail para cá: lucio@uol.com.br

* ESPECIAL - Outra: a coluna proporciona a audição da espetacular canção smithiana "There Is a Light That Never Goes Out", cantada por Morrissey em show no Texas em setembro do ano passado. Além de ouvir, dá para baixar também. Está bem aqui. Não repare na gritaria e a histeria incessante durante a música. Fazem parte de um show do Morrissey. Em tempo, o citado funk "Montagem Dermite", construído em cima de "Bigmouth Strikes Again", também está à disposição do seu ouvido na página musical da Popload.

* Não custa sempre lembrar, mas durante a passagem de Morrissey pelo Brasil, em 2000, na porta dos shows eram vendidas fronhas de travesseiros com o rosto de Morrissey estampado. Conheço um amigo que comprou uma. Que outro artista na história motivou um artigo para fã como esse?

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ELE: EROL ALKAN

Em um universo bem menos restrito que Morrissey, brilha outro inglês, o DJ Erol Alkan.
Alkan, frequentador assíduo desta coluna, pilota a noite de rock mais bacana do planeta, a Trash, alojada no clube The End, em Londres, realizada às segundas-feiras.
Erol Alkan é a mais nova atração fechada para o Tim Festival, como este espaço pode apurar dentro do reino encantado do DJ, no The End.
Até agora, e se não der zebra, o megafestival que vai substituir o Free Jazz em outubro já tem acertados, além de Alkan, o veterano grupo Front 242 e o moderníssimo The Rapture, de Nova York.

* Erol Alkan tem inacreditável habilidade nas picapes. É o culpado, dizem em Londres, pela música indie voltar a ser cool. Seu clube atrai toda a gente do novo rock. Pessoas como Jarvis Cocker, Courtney Love e Marilyn Manson também circulam pela Trash, sempre que dá.
Alkan é ainda um dos grandes responsáveis pela saudável onda de misturar em pista rock e eletrônica, que tanto essa coluna prega.
Sua carreira segue trajetória emergente e espetacular. Mesmo tocando essencialmente rock, Alkan conseguiu fincar seu nome na cena eletrônica. Foi coroado o DJ revelação da eletro-revista "Musik" em 2002, tocou no Reading Festival, no Homelands. É um dos responsáveis pelo estouro da onda das músicas híbridas, tipo essa última agora, que mistura Strokes e Blondie. Inventou um codinome (Kurtis Rush) , usou a noite Trash como laboratório e saiu misturando Missy Elliott e George Michael, Kylie Minogue e New Order.

* Amiga minha esteve em Londres na semana passada e, claro, foi à Trash na segunda.
Ela conta o que viu (ouviu): "A noite foi
bem mais eletrônica que rock. E quando ia para o rock não era nenhuma banda saída do interior da Escandinávia. Bem pop, até. Tocou Pixies. E foi nessa que ele colocou a voz do Jack White (da música 'Black Math') no meio de "Broken Face", dos Pixies. Até tocar a música toda do White Stripes. Parece que não combina, mas na hora tudo fez muito sentido. Talvez pelos "ahãs ahãs" das duas".

* Pois a mesma revista eletrônica "Musik", que concedeu prêmio de revelação ao roqueiro Erol Alkan, dá ao DJ da Trash o trabalho de remixar o CD que vem encartado nesta edição de julho. São 13 faixas buriladas por Erol. De muito conhecido, só tem um Duran Duran no meio, com a música "Girls on Film". De "médio conhecido" há Goldfrap, The Faint e Playgroup. A "Musik" deve estar chegando às bancas brasileiras nesta quinta-feira. Se você tiver uma nota preta para torrar em revista importada da Inglaterra, busque a sua.

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IBIZA E JO

Toda a excepcional temporada do verão 2003 de Ibiza, claro, começa nesta semana, quando eu já não estou mais no lugar mais clubber do mundo. A ilha espanhola passa a receber por estes dias as principais festas eletrônicas de Londres, que mudam de mala e picape para a terra das noitadas, das noitadas-de-dia, dos lugares paradisíacos, das praias de nudismo, da culinária estupenda e da cerveja a R$ 40, a garrafa long neck.
Em minha turnê por Ibiza, consegui apenas ir a duas baladas. O badalado e recomendadíssimo bar pré-clubes Underground, de entrada franca, som excelente e bebida barata. Cheguei lá e... estava fechado. Abre na semana que vem.
No dia seguinte, fui ao Pacha, um dos principais clubes da cidade. É a sede das principais festas inglesas e por onde passarão DJs do naipe de Fatboy Slim, Audio Bullys e Timo Mass. A programação lá vai de segunda a segunda, non-stop.
Pois o Pacha, um clube gigante e bregamente bonito com cinco ambientes, estava meio vazio quando cheguei lá, quase 2 da manhã. E o som, mais ou menos.
E foi enchendo e o som melhorando. Às 4h o bicho pegou. Luzes mágicas, DJ misturando techno, house, Depeche Mode e Clash.
Entrei como convidado no Pacha. Se fosse pagar, tanto lá quanto em qualquer outro clube grande da ilha, a quantia a ser desembolsada teria que ser algo em torno de 50 euros. Traduzindo, quase 200 mangos.

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IAN MCCULLOCH, UM BRASILEIRO

Nosso amigo coelho Ian McCulloch, já frequentador assíduo destas plagas, tal qual Jimmy Cliff, Nick Cave e Man at Work, planeja vir ao Brasil em breve para divulgar seu novo disco solo, "Sleading".
O CD do homem que liderou o Echo & The Bunnymen (e ainda lidera o espectro do grupo de Liverpool) acaba de ser editado no Brasil pela Sum Records.
Segundo informações de insiders, Ian McCulloch é conhecido entre os amigos como "O Brasileiro", de tanto que gosta de visitar o país.
Ele é o consultor da galera de Liverpool quando o assunto é caipirinha.
"Sleading", o disco novo, está longe de qualquer trabalho de ponta que o sujeito fez na vida, seja à frente do Echo ou do começo de sua carreira solo. É só um punhado de canções acústicas com a levada do vocal inconfundível, mas hoje deteriorado, de McCulloch.
A vinda do músico ao Brasil está vinculada a detalhes de patrocínio, que estão sendo acertados. E inclui pocket shows, sessões para rádio e festas em São Paulo.

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OUTDOOR DO RADIOHEAD

Já trombou com um anúncio sinistro como este aí embaixo?

Paulo Terron



Tão esquisito quanto Thom Yorke, esse outdoor que pergunta se você está doente, fresco ou quer férias, e em troca avisa que chupa sangue novo, pode ser visto em região como a da av. Paulista. E serve para divulgar o novo disco do Radiohead, o recém-lançado "Hail to the Thief". As frases aparentemente malucas são trechos da música "We Suck Young Blood", a sétima faixa do CD. No final, há um número de telefone, de prefixo do Rio de Janeiro, para quem quiser descobrir que outdoor é aquele. Ao ligar, a pessoa pode ouvir uma música do "Hail to the Thief".
A tática publicitária muito própria das coisas de Thom Yorke também está sendo usada em Los Angeles e Tóquio, entre outros lugares.

* PROMOÇÃO RADIOHEAD - Você gosta de coisas malucas como o Thom Yorke. Pois então esta coluna oferece a sorteio um CD oficial do "Hail to the Thief", mas uma cartela plastificada que reproduz a capa do disco e cujas palavras são destacáveis (é bacana, não me pergunte para que serve) e ainda um quebra-cabeça "Hail to the Thief". Quer esse mimo Radiohead? E-mail para lucio@uol.com.br.

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MISTÉRIO NOS SIMPSONS

Circulou notícia escabrosa e preocupante nesta semana, que dava conta de que um corpo de uma mulher foi encontrado totalmente queimado em uma casa de Springfield, EUA. Seria a Marge Simpson?

* A Globo tomou os Simpsons do SBT e passa a, hã, passar o desenho em julho. Será exibido aos sábados, às 11h30. O Picapau foi na carona. Os Simpsons dava 10 pontos de Ibope ao SBT, quando era mostrado, às 18h30.

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POPICES

NOVO ABBA - Liam Gallagher, Liam Prodigy e as namoradas, as irmãs Nicole e Natalie Appeton (All Saints), formaram uma banda nova, chamada NLLN, pelo que deu para entender é uma banda tributo ao grupo sueco Abba. Já tem até uma música pronta: "Drop the Gun".

GATINHOS MALUCOS - Você lembra aquele site www.rathergood.com, que fez videoclipes das músicas do White Stripes e Vines estrelados por gatinhos esquisitos. Pois lá tem agora o clipe felino para "Gay Bar", do grupo americano Electric Six, cujo álbum já está nas lojas de todo o Brasil, não só nas de Fortaleza.

PULLEY - A banda punk da Califórnia chega dia 13 de julho para uma turnê de 12 shows por porões brasileiros, começando por São Bernardo do Campo e acabando em Porto Alegre, no dia 28. Info total: www.motormusic.com.br.

POR UM FIO - Nosso amigo Kiefer Sutherland (o Jack Bauer do seriado "24")
pula de lado e só com a voz interpreta um terrorista de dar medo no Bin
Laden. De uma janela qualquer no meio de um monte de prédios, Sutherland
apavora um sujeitinho torpe que atende sua chamada de um telefone público em "Phone Booth", o filme mais zicado dos últimos tempos. Quando ia estrear nos EUA, um atirador maluco da vida real disparava contra pessoas de uma van, em Washington, o que melaria o lançamento. Aí o filme teve duas estréias abortadas, porque o clima na América não era de glorificar terrorista.
Quando entrou em cartaz, já não tinha mais graça. Mas graças a Sutherland, tem graça, sim. Engraçado.

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ENTÃO

Havia anunciado papinhos pop suculentos que abordariam o incrível Adam
Freeland, as duas músicas mais legais do momento e sexo. Mas me esqueci do feriado, e que quase ninguém vai ler este restolho de coluna. Então, para não matar assuntos legais como os citados, vou guardá-los para a semana que vem. Pode ser?

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LISTA DUPLA DE VENCEDORES

Confira aí se seu nome está na relação dos ganhadores das duas últimas
colunas:

* livro "Pergunte ao Pó", de Joe Fante
- Marcelo Dagoberto Sá
Fortaleza, SP

- Eunice Dutra
Colatina, ES

* CD "Hail to the Thief", do Radiohead
- Álvaro Pecomini
São Paulo, SP

* revista "Crocodilo", primeira edição
- Lico A. Almeida
São Paulo, SP

- Wilson K.
Santos, SP

- Márcia Morcillo
Belo Horizonte, MG

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TCHAU

Ficamos assim, por hora. Logo mais tem mais. Bom feriado e boa volta.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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