Pensata

Lúcio Ribeiro

30/07/2003

Quem é você?

"You are
And nothing else compares
Oh no nothing else compares
And nothing else compares"
Coldplay, em "Clocks"

"I was made for loving you baby
And you were made for loving me
And I can't get enough of you baby
Can't you get enough of me...?"
Kiss, em "I Was Made for Loving You"

"You want it
She's got it
Molly's Chambers gonna change your mind
She's got your
Your pistol"
Kings of Leon, em "Molly's Chamber"


Obas!
Sem espernear, mas hoje não tem o costumeiro papinho furado inicial. O troço aqui é sério. Vamos agora discutir o futuro do jornalismo.
Não dá para acreditar no poderosíssimo jornal "The New York Times". Mesmo com todos os cadernos de cultura do Brasil reproduzindo os textos do diário nova-iorquino (não tem uma semana em que não se vê um texto do grande Jon "Sempre-um-ano-atrás" Pareles), ainda assim a publicação mais maravilhosa do mundo arrasta uma crise de credibilidade que não está fácil.
Não bastasse toda a sujeirada do caso do Jayson Blair, o jornalista-picareta que inventava reportagens, o "NYT" escorregou feio de novo nesta semana, ao noticiar a morte de Bob Hope, 100 anos.
A perda do histórico comediante americano consternou a nação, pá. E o maior jornal do mundo gastou papel para registrar o fato.
Na hora de publicar o indelével "obituário", aqueles textos tradicionais nos diários que dão a notícia da morte e lembram, em tom de pesquisa, o quanto a pessoa foi importante para uma determinada área, veio a mancada, na verdade mais curiosa do que propriamente um desastre.
Quem assinou o texto principal, publicado nesta terça-feira passada, foi o jornalista Vincent Canby, veterano crítico da parte de entretenimento do jornal.
O problema é que Canby morreu em 2000, mais de dois anos antes de Hope. É normal, quando um ser famoso está muito velho e/ou doente, as publicações irem preparando obituários das figuras ilustres.
O problema dois é que o "NYT" se "esqueceu" de avisar o fato aos leitores, que buzinaram na redação com e-mails e telefonemas. Canby era um cara conhecido para os leitores.

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THE CALLING vs. COLDPLAY

Se você está seco por informações sobre o show do ano no Brasil, vai ter que esperar mais um pouco.
A empresa que está trazendo o ótimo grupo inglês Coldplay ao país é a mesma responsável pela vinda da baba-teen The Calling, banda de amigos do André Barcinski, do Garagem.
E os intensos preparativos para a apresentação do Calling estão botando malucos os promotores.
O anúncio do local do show do Coldplay no Rio, que pode não ser mais no Jockey Club, mais as informações sobre o dia de início da venda dos ingressos, só devem chegar ao público quando o furacão The Calling sossegar. O que pode ser nas próximas horas, mas vai saber.
O Coldplay toca em São Paulo no dia 3 de setembro. No dia seguinte, o show é no Rio, em local ainda não confirmado.

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RADIOHEAD PARA SEUS OLHOS

A EMI lança no Brasil mais para o meio de agosto o DVD "7 Television Comercials", que sai na semana que vem nos EUA e na Inglaterra.
Primeira coletânea que o grupo lançou em vídeo, tem clipes espetaculares dos álbuns "The Bends" e "OK Computer".
A lista dos sete é: "Paranoid Android", "Street Spirit", "No Surprises", "Just", "High and Dry", "Karma Police" e "Fake Plastic Trees".
Se você não tem DVD, compre os dois. O aparelho e este "7 Television Comercials".
Ou espere uma coluna pop bacana dessas sortear algumas cópias.

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A VOLTA DO KRAFTWERK




Sabe a música eletrônica? Sabe o electro?
Então...
A música começa a ser bombardeada pelas notícias de uma possível volta do fantástico grupo alemão Kraftwerk, os patriarcas do pop robótico.
Pode ser e pode não ser.
Na semana que vem, na Inglaterra, será lançado o álbum "Tour de France 2003 Soundtracks", cheio de composições eletrônicas novas do quarteto Messrs Hutter, Schneider, Hilpert e Schmitz.
Mas há um mistério. Não se sabe até que ponto as músicas são mesmo novas ou trechos de músicas velhas retrabalhadas no computador.
De todo modo, o disco é uma homenagem aos 100 anos da famosa e charmosíssima competição ciclística da França, que foi finalizada nesta semana.
O CD traz uma versão reconstruída da obra-prima electro "Tour de France", single do Kraftwerk de 1983. Vinte anos atrás.
Um jornalista de música do bacanaço diário britânico "The Guardian" pegou um avião e foi até Dusseldorf ver se desvendava o mistério da volta do Kraftwerk.
E jura que teve indícios de que a mítica banda, que já se apresentou em Free Jazz no Brasil (antológico, para quem viu), está trancada no fechadíssimo estúdio KlingKlang, trabalhando em material novo --mesmo.
Mas vai saber.
O KlingKlang é um dos locais mais misteriosos do mundo para uma banda de qualquer gênero. Tão esquisito quanto a opção do Kraftwerk de desligar-se do mundo.
O estúdio não tem telefone, fax, recepcionista e, segundo o "Guardian", toda correspondência que chega lá é devolvida fechada. O Kraftwerk não dá entrevistas. Quando raramente concede um papo, um assunto é terminantemente proibido na conversa: sobre Kraftwerk.
Desde 1978 eles não posam para uma foto de divulgação.
Como dizem lá no Rio, "sinistro".

* O Kraftwerk fez dois shows no Brasil, em 1998, no Free Jazz daquele ano. Escrevi a crítica da apresentação para a Ilustrada, da Folha. Na hora de dar o título para o texto, não resisti e tasquei "Ok, computer". Assim, com vírgula. Nunca me esqueci desse título.

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QUER SER CRÍTICO DE MÚSICA?

Saiu nesta semana no caderno para adolescentes da Folha. Álvaro Pereira Junior, polêmico colunista pop do Folhateen, forneceu um passo a passo, sete dicas no total, para aqueles que querem se tornar um crítico de música. Se é que alguém realmente quer entrar nessa.
O texto do Álvaro está reproduzido aí embaixo, para bom proveito dos muitos leitores que, lá como aqui, vivem perguntando sobre o tema.
Você pediu, então toma.
1) Ouça música desesperadamente. Você não precisa ser músico, saber diferenciar um ré de um mi. Mas precisa ter conhecimentos histórico, entender de onde vem o tipo de música sobre o qual você escreve, e como as coisas evoluíram até hoje. Só conhecer a discografia completa do Weezer não basta.

2) Leia livros e revistas desesperadamente. Você quer criar um estilo, certo? Então precisa ler montanhas de revistas e livros, de todos os gêneros, para chegar a um jeito próprio de escrever. Não adianta só ler "Escuta Aqui'' e a coluna do Lúcio Ribeiro na Folha Online. Assim, acaba virando clone. Mais um.

3) Aprenda inglês. 99,99% do que conta no chamado "mundo das artes'' acontece em inglês. Se você não sabe a língua direito, arrume outra coisa para fazer. Ser crítico de música não dá.

4) Aceite sua insignificância. Ninguém saudável compra ou deixa de comprar um CD por causa de uma crítica. Em geral, críticas de música são lidas por nerds, músicos e outros críticos de música. O leitor normal --aquele que tem uma vida, família, amigos etc.-- está pouco se lixando para o que o crítico pensa.

5) Não fique amigo de músicos. Bandas --principalmente as mais novas-- sofrem muito. Dão shows sem ganhar nada, não conseguem divulgação etc. Gravar um disco é mais difícil ainda. Só que é melhor não se envolver com
isso, senão você vai ficar com pena dos músicos e fazer sua crítica com base nesse contexto, e não na simples audição do CD. Os caras da banda podem ser gente boa, batalhadores e honestos, a baixista pode ser uma gostosa, mas, se fizeram um disco ruim, é isso que você tem de dizer.

6) Pratique a crítica destrutiva. Enfie uma coisa na cabeça: você e os músicos, ou você e as gravadoras, não estão no mesmo barco. E você não tem papel algum na construção de nenhum tipo de cena musical. No Brasil, a prática do compadrio e da "brodagem" é corrente entre jornalistas, músicos e gravadoras. Todo mundo é amiguinho e se ajuda mutuamente. Gente talentosa perde tempo escrevendo só sobre o que gosta, ou finge que gosta. Fuja dessa.

7) Prepare-se para realidade de uma redação. Pense naquele cara --ou moça-- inteligente, moderno, que passa o dia escutando música e, de vez em quando, escreve sobre um CD que lhe chamou a atenção. Agora esqueça isso. As críticas assinadas são uma parte muito pequena do que o jornalista faz na redação, o que inclui diagramar páginas, escrever títulos, bolar legendas de fotos, escrever matérias não-assinadas, preparar notinhas, reescrever textos dos outros, ser esculachado pelo chefe etc.

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QUEM É VOCÊ?
(OU MELHOR: QUE MÚSICA É VOCÊ?)

Cuidado.
Esta eu tirei de uma coluna bonitinha por aí.
Um levantamento realizado por psicólogos da Universidade do Texas apontou que dá para traçar o perfil psicológico/comportamental/social/sexual de um indivíduo só de olhar para sua coleção de discos.
Sim, seu namorado(a), amiga(o), vizinho, colega de trabalho, chefe é o que ele ouve.
Segundo o estudo dos texanos e a coluna pop que o retratou, quem curte, por exemplo, "Material Girl", da Madonna, é uma pessoa animada, divertida, extrovertida, confiável. Você venera "Brown Sugar", dos Rolling Stones, então seu perfil é o de um ser que é aberto a novas experiências, é atlético, inteligente, boa fluência verbal e tem tendência a ser dominador. Sua música favorita é "It Is the End of the World As You Know It (and I Feel Fine)", do REM, então você deve ser curioso, jovial, assume riscos, não é nada neurótico.
Gosto não se discute e, como toda pesquisa feita com um determinado número de pessoas em um determinado lugar, tende a ser papo furado. Mas é um pouco verdade.
Pense em pessoas a sua volta e nos discos que elas têm, nas músicas que elas mais ouvem. Pense no que vende disco no Brasil, nas músicas que mais tocam em FM, em quem ouve e em quem programa aquilo, nos clipes que a MTV massacra todo dia, nas coisas que concorrem ao Grammy Latino.
Aí dá para traçar um perfil até de um país, não só de uma pessoa.

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BRASÍLIA MUSIC FESTIVAL: PÁRA TUDO

Falando em "diga o que ouve que eu direi quem você é", o Brasília Music Festival deve anunciar nos próximos dias, definitivamente, as atrações do festival que acontecerá nos dias 25, 26 e 27 de setembro, no Autódromo Internacional Nelson Piquet.
No primeiro dia a escalação do palco é Jota Quest, Capital Inicial, Rita Lee e Alanis Morissette. No dia 26, RPM, Titãs, Pretenders e Simply Red. Para fechar: Tihuana, Ultraje a Rigor e Charlie Brown Jr.
Duas outras atrações, uma internacional e outra nacional, devem ser anunciadas mais para frente, para engrossar o caldo do evento. Fala-se em Live e Detonautas, pela ordem.
Que beleza!

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OLHO NELA: BRODY ARMSTRONG

É esta aqui:




Esta mulher é o bicho. É a cantora da banda australiana punk pop The Distillers, radicada na Califórnia.
Enterre a comportada Courtney Love. Brody já é considerada a mulher número 1 no rock e começa a ver seu rosto lindo mas surrado, com dois piercings na boca, aparecer por todo lugar.
Maquiagem estourada, uma voz algo rouca, a garota não é fácil. Tem um passado mais pesado que o Eminem, na questão "infância difícil, problemas familiares". O segundo disco deles, "Sing Sing Death House", está por aí para quem quiser ouvir. Se você tiver que escolher uma só música deles para ouvir, pegue "The Young Crazed Peeling".
Tenho a impressão que Brody Armstrong vai frequentar bastante este espaço.

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EFEITO THE FEVER

Em minha passagem pelas picapes no último sábado, na festa do Garagem, deu para perceber uma coisa:
* tem gente que ainda vem pedir para tocar Placebo, mesmo quando o Placebo foi tocado (não por mim) umas seis músicas antes do momento da solicitação.
* a deliciosa banda nova-iorquina The Fevers agradou bastante. Foi a campeã da noite no quesito "O que é isso que você tocou?"

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SUEDE NO BRASIL?

No Chile o povo indie não fala outra coisa. Suede (não confirmado) vai tocar lá em outubro. Darão uma esticada ao Brasil? Alô, produtores!

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O CASO URGE OVERKILL

Muitos comentários bateram à porta da minha caixa postal sobre o fenômeno Urge Overkill e muitos outros que assombram as rádios rock brasileiras.
Assombrar é mesmo o verbo a ser usado nessa necrofilia musical da FM.
Apavorada também com essa história, a leitora Ana Luísa Toledo de Barros conta seu momento tétrico com as emissoras de rock.
"Aí vai a historinha de 'Love Walks In', música do Van Halen: todo domingo, visito minha avó. Perto das duas horas da tarde, saio com o carro. Pego a avenida Paulista, passo pelo Metrô Ana Rosa, vou cortando pelas ruas da Aclimação até chegar no Ipiranga, onde ela mora.
Primeiro domingo: estava eu virando a esquina da rua Paula Ney com a rua José do Patrocinio, na Aclimação. O rádio estava ligado (não lembro qual a estação) e começou a tocar 'Love Walks In'. Na falta de algo melhor, ouvi a música até o final. Mudei de rádio logo em seguida (também não lembro qual a estação). E foi LOGO EM SEGUIDA que passou a rolar... 'Love Walks In'!
Parecia até que o locutor da segunda rádio estava só esperando acabar a primeira 'Love Walks In' para, sem dar espaço pra gente respirar, repetir o troço!
Segundo domingo: novamente eu descendo a Paula Ney, mais ou menos no mesmo horário do domingo passado. Aí... 'Love Walks In'! Talvez eu só tenha lembrado porque, após uma semana, a música rolava no MESMO lugar, rua que desço em segundos.
Terceiro domingo: mesmo horário. Dobrei a fatídica esquina e....nada aconteceu. 'Aeeeê!', pensei. 'Acabou a maldição'! Imagina! Três ruas mais para frente...
Quarto domingo: eu, na avenida Paulista, tensa. Logo estaria na Paula Ney, zona do perigo. Comecei a preparar o espírito para ouvir de novo o 'tema dos domingos'... Mas a safada me pegou desprevenida! Dessa vez, a maldita começou a rolar mais cedo. Ou talvez eu tenha saído de casa mais tarde...
Se a música fosse lançamento recente, vá lá! Mas...por que tanto encantamento com velharia? E velharia ruim, ainda por cima!"

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BRINCANDO DE DEUS

Talvez a banda indie-indie mais velha em atividade no Brasil, dos tempos daquelas que disputavam com Pin Ups e Garage Fuzz o posto de principal banda do rock underground nacional, o brincando de deus toca em São Paulo neste final de semana .
O grupo, cujo título vai no minúsculo mesmo, se apresenta no Trip Bar (Fradique Coutinho), no sábado de folga do Projeto All Stars.
O brincando de deus foi formado em 1992. Não sei como o grupo está agora, depois de uma sumida de quase três anos. Mas acredito que a sinfonia de distorção que a banda é capaz de produzir ainda é capaz de arrancar comentários como o deste colunista, em 2000.
"Se você tiver que gastar sua grana para comprar dois discos, um nacional e outro internacional, que estes dois sejam 'Parachutes', disco de estréia da ótima banda britânica Coldplay, que sai no Brasil pela EMI. Só a faixa 'Yellow' vale o álbum. Experimente no Napster. E o CD 'Brincando de Deus', da grande banda baiana de mesmo nome, que canta em inglês."

* MAIS BALADAS
Se essa for a sua (é a minha), sexta tem The Hacker (para facilitar, o parceiro da Miss Kittin). A festa, da Smartbiz Gigolo, acontece no Credicard Hall. No cardápio, o DJ alemão Savas Pascalidis e os brasileiros Renato Lopes e Mau Mau.// A Funhouse estréia o mês de primeiro aniversário na sexta, quando a banda Diagonal anima a festa Revolution. A festança de 1 ano, mesmo, rola no dia 23.

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PROMOÇÃO DA SEMANA

O recado é rápido. E-mails para lucio@uol.com.br vão disputar, nesta semana, uma cópia caseira do ótimo álbum "Yes New York", coletânea com 16 músicas do novo rock nova-iorquino, já nem tão novo, que tem a melhor versão dos Strokes para "New York City Cops", ao vivo na Islândia. E Radio 4, Rapture, Le Tigre, Interpol, Fever (a que eu toquei no Trip Bar) Walkmen, LCD Soundsystem e outros. Outro que vai para sorteio, mas desta vez em versão oficial, é o disco novo do grupo Dandy Warhols, "Welcome to the Monkey House", recém-lançado pela EMI. Vai!

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VENCEDORES DAS PROMOÇÕES

A lista dos ganhadores da semana passada e da retrasada segue abaixo. Veja se seu nome está na parada.

* Versão caseira do disco "Yes New York"
Patrícia Blundt
São Paulo, SP

* CD "Fever to Tell", do Yeah Yeah Yeahs
Jean Sérgio Tovoglini
Curitiba, PR

* CD "Fire", do Electric Six
Élson T. Oliveira
Goiatuba, GO
Túlio X
Rio de Janeiro, RJ

* DVD "Trilogy", do Cure
Luciane Lopes
São Paulo, SP

* "Think Tank", do Blur, edição vermelha limitada
Sérgio Lúcio Veronese
São Paulo, SP

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Câmbio.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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