Pensata

Lúcio Ribeiro

06/10/2003

Strokes exclusivo (atualizado!)

"But no one comes in and, yes, you're alone
You don't miss meeeeeeeeeeeeeee
I knooooooooooooooooooooooow"
Strokes, em "What Ever Happened"

"I wanna kiss you every minute, every hour, every day
You got me in a spin but everything is OK!
Touching you, touching me
Touching you, God you're touching me
I believe in a thing called love
Just listen to the rhythm of my heart"
Darkness, em "I Believe in a Thing Called Love"

"Watched her as she wiped her eyes
You don't make me sooooooooorry
Now I know
Ah, that you never listened, listened"
Strokes, em "Between Love and Hate"



Olá. Meu nome é Lúcio.
Não sei se você se lembra de mim...
Fala aí: doeu? Morreu só porque não escrevi?
Teve gente que mandou reclamação até para o ombudsman da Folha. Tão me dando uma importância que eu não tenho. Vou ficar convencido, hein?
Você quer coluna, né? Então toma.


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OI


Divulgação



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A FRANÇA, OS TRIBALISTAS E O MONSTRO VIRTUAL

Estou com medo dos franceses.

Nem estou falando de uma franco-brasileira que me escreve várias vezes por dia com questionamentos pop...

Começa por esse filme em cartaz, "Irreversível", de temática "Amnésia" e que chocou o festival de Cannes. Não tem uma sessão em qualquer lugar do mundo em que meia-dúzia não levante e saia no meio, de tão. hã. forte que é o filme (que tem sua graça na estranheza).

É que "Irreversível" tem uma cena no começo em que um cara mata o outro com umas 800 pancadas na cabeça. Com um extintor de incêndio. Cabuloso.

Não demora muito, vem uma cena exasperante de estupro de
uns DEZ MINUTOS sem parar. E que só piora. E piora.
Mas nada disso é tão tétrico quando a onda Tribalista que invade a França.

Em uma edição recente do "Le Monde", o crítico do jornal explica que a banda brazuca caiu nas graças do presidente da EMI internacional (eu disse internacional) e virou prioridade planetária da gravadora.
E convidou toda imprensa européia para dar um pulo em Paris para conferir um pocket show do grupo. E entrevistar Marisa, Carlinhos e Arnaldo. Imagina.

Junta essa "investida" de qualidade com a apreciação que gringo tem do som "exótico" que emana da arte "world music" brasileira e pronto. Que meda.

* Os críticos de música de jornais e revistas inglesas foram convidados dia destes para dar um pulo a Manchester e participar de um simpósio sobre. crítica musical. Convidados por representantes de gravadoras.

Chefões, assessores e jornalistas discutiriam o futuro dos textos sobre discos. Tudo à luz desses monstros horríveis que são a internet e a cultura MP3.

Os jornalistas ingleses defendem que é burro esse esquema de fazer o crítico assinar termos de morte se alguma música de disco sob sua responsabilidade vazar para a rede. Ou então serem levados para muitos andares abaixo do solo para ouvir o CD uma vez e então escrever a resenha.

Os pobres escribas reclamam que não é assim que se passa adiante o sentimento ante um disco novo. Que é preciso saborear lentamente o disco, dormir com ele alguns dias, pagar uma bebida ao CD antes de imortalizar uma opinião sobre a obra.

Ainda não sei o resultado da reunião, mas não é muito difícil prever qual é, não?

* Aqui no Brasil conheço muita gente que pega o disco novo, ouve uma vez no toca-CDs do carro na volta para a casa, enquanto fala ao celular, e no dia seguinte sacramenta sua opinião definitiva sobre o álbum.

* Essa foi boa. Ligam para mim da gravadora e dizem que os Strokes toparam dar entrevista. Isso quarta-feira passada. Falam que eu teria que ir a um estúdio em um bairro de São Paulo, onde aconteceria uma audição do disco novo e onde ainda eu receberia um telefonema do manager da banda, que me passaria um integrante dos Strokes para a entrevista.
Eu ponderei que gostaria de fazer a entrevista da redação mesmo, em um telefone mais apropriado, uma vez que eu já havia ouvido o CD novo.

_ Já ouviu o CD novo?

_ Sim, desde domingo. Eu e mais uns 100 mil moleques, dada a quantidade de e-mail que não pára de chegar para mim desde o final de semana.

_ Onde você ouviu?

_ Na internet.

* Não há mais bobo na música pop. A tal música da Britney com a Madonna já foi para o mundo virtual, antes da data estratégica de lançamento, e a mega-rádio Jovem Pan, nem aí, já mandou para o ar.

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O ILUMINADO DARKNESS

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Vou falar sem medo. A julgar por estas últimas semanas, a banda britânica Darkness, semidesconhecida até a metade do ano, está maior no Reino Unido que o Radiohead e o Oasis juntos.

A observação é de espantar se adicionada do fato de que o Darkness é uma banda de hard rock/heavy metal farofa às antigas, de som tão ousadamente comum que lembra um Van Halen repaginado.

Talvez seja por causa da espetacular "I Believe in a Thing Called Love", a única das muitas músicas do quarteto pela qual esta coluna nutriu alguma simpatia (a bem da verdade, conheço umas cinco canções apenas).

Ou talvez porque o Darkness carrega as melhores definições do rock atual: "é o AC/DC gay", "é o Queen formado por machos", "é o Def Leppard cantando canções pop e bonitas", "é o Bon Jovi cantando coisas como se fosse o Morrissey". Esta última é minha.

Há pouco mais de um ano a banda tocou em um bar em Londres para uma platéia de cinco pessoas. Todas de alguma forma ligada à banda (amigos, fotógrafo, família).

Em agosto, abriram um show do ídolo inglês Robbie Williams no gigantesco parque de Knebworth, diante de 135 mil pessoas. Ninguém soube com certeza se a maioria da platéia estava lá por causa de Williams ou para ver o Darkness. E ninguém também duvida que o Darkness pode fazer seus shows de verão em Knebworth, no ano que vem, como atração principal.

Um mês antes, no começo de julho, a banda lançou seu álbum de estréia, "Permission to Land", que sem permissão aterrissou direto no número dois das paradas inglesas. E desde lá até hoje fica revezando os dois primeiros lugares do chart britânico.

O Darkness é o grupo do figuraça Justin (hã?)Hawkins, que é cabeludão como os velhos ídolos do "rock pauleira", se veste como se fosse do punkoso New York Dolls e é famoso pelos socos, pulos e piruetas malucas no palco, enquanto faz "solos vocais". em falsete.

Se grupos como Datsuns, o Jet e o Hellacopters resgataram o hard rock clássico "à sério", o Darkness parece que veio para zoar a cena.

Invocada para tal, a emissária londrina Graziela Pancheri, que mora na Inglaterra, dá sua dimensão do fenômeno Darkness direto do olho do furacão: "Quando uma banda de 'metal-farofa' começa a tocar em alta rotação até na Capital FM (uma rádio popular de Londres), alguma coisa deve estar errada. É impressionante a aclamação popular aqui por uma banda de rock descompromissado, despojado e visual duvidoso (o vocalista tem a tatuagem de uma fogueira que emerge de sua genitália!)".

Justin, o Hawkins, é o Dave Lee Roth de agora. Em versão melhorada (?!).
O Darkness, em março deste ano, gravou uma impagável versão heavy de "Street Spirit", do álbum "The Bends", do Radiohead. Não é que ficou boa pacas?

Tem na internet. A gravação é de uma session da Radio One.

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AH, O AMOR

Esse sentimento lindo que toma conta (às vezes) do nosso coração anda meio esquisito. Pelo menos na música pop.

Então, sabe o Travis e o Belle & Sebastian, né? Duas bandas bastante apreciadas neste espaço e das mais fofas e amorosas a surgir nos últimos anos, ambas produtoras de musiquinhas lindas para ouvir com a (o) namorada (o) em um campo esverdeado, perto das montanhas e tal.

Com a chegada à superfície de seus mais novos álbuns, "12 Memories" do Travis (lançamento na semana que vem), e "Dear Catastrophe Waitress" do Belle & Sebastian (semana passada), uma questão envolvendo o nobre sentimento também vem à tona.

Estaria o amor fofinho em baixa?

Porque nas primeiras audições dos dois discos citados a coisa soou vazia, sem graça.

Aí, de repente, você encara uma figura bizarra como o Justin Darkness berrando como uma louca essa "I Believe in a Thing Called Love" e pensa: "Hummm.".

Ainda, de um outro lado do rock, ouve um desesperado Julian Casablancas gritar um diálogo dele e de uma garota combinando de se encontrar no banheiro, em uma música acelerada dos Strokes.

E aí não rola nenhuma dúvida de quais músicas falam mais ao coração.

* Em tempo, "Step into My Office, Baby", faixa que abre o disco dos Sebastian, além do nome ótimo é bem cool.


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O MISTÉRIO NAS LETRAS DO JOTA QUEST


Falando em música de amor, somos obrigados a lembrar deles, o Jota Quest.
A banda mineira é um mistério em si, não só nas letras. Como um grupo com tal indigência musical consegue sobreviver tanto tempo, ganhar anuência da MTV do jeito que ganha e ficar martelando do jeito que martela em rádio e novela. Será que estou perdendo algo?

Aí, dia destes, fui pego por uma música do Jota na rádio. Enquanto pensava "Como pode?", comecei a reparar na letra. A música em questão é essa "linda balada" que é massacrada na novela das 8, nesta reta final da trama.

Deu para notar o seguinte: todas as palavras usadas nas letras do grupo são bastante conhecidas por mim, por você, pelos rapazes da banda e pela população brasileira alfabetizada: "amor", "você", "sabe", "vida", "tempo", "chorar".
Mas a construção das frases não fazem o menor sentido.

Não fazem sentido na mesma linha. Não fazem sentido quando se juntam duas linhas. Não fazem sentido o verso inteiro. Mas as palavras conhecidas estão todas lá.

Passa, então, a ser engraçado acompanhar uma canção do Jota. Parece outra lingua. Curta essa experiência.


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S-T-R-O-K-E-S



Vem aí o segundo disco do principal grupo de rock do planeta, considerando que o que o Radiohead faz não é rock, já disse isso aqui.
E segundo disco de uma banda que estourou logo no primeiro CD (na verdade, os Strokes estouraram ANTES do primeiro CD) não é fácil para ninguém, isso é histórico na música.

O álbum, "Room on Fire", o sucessor do bombástico "Is This It", começa a sair no dia 20 de outubro (Inglaterra) e tem data marcada para chegar às lojas brasileiras no dia 28.

Publicações culturais de toda parte do planeta têm trazido nos últimos dias um monte reportagens e resenhas rasgando elogios ao CD, já botando em ebolição essa espera do disco.

Mas, sem precisar a recorrer a resenhas para sentir como vai ser o disco, alguns fatores do cotidiano podem dar a real medida.
No começo da semana passada parei meu carro na frente do bar Ampgalaxy, em SP, só para deixar um pacote.

Um manobrista dessas empresas terceirizadas de estacionamento veio logo pegar o carro para levá-lo.

Eu disse que não iria estacionar, levaria apenas um minuto, peguei o pacote, deixei a porta aberta e entrei no bar. No som do carro, "Room on Fire".

Na volta, rigorosamente um minuto depois, agradeci o manobrista e entrei no carro.

Ele: "Que sonzeira legal é essa? Strokes?"


* A música que tocou nesse um minuto era "Reptilia", a faixa dois do disco novo do grupo nova-iorquino.



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STROKES EXCLUSIVO: "SENTI COMO SE O MUNDO TIVESSE SAÍDO DAS MINHAS COSTAS"


No começo de 2001, meses antes do lançamento do fabuloso "Is This It", quando com um mísero single lançado os Strokes já faziam gente como o chapa Thiago Ney, redator da Ilustrada, desembolsar com razão R$ 500 por um ingresso de show em Londres que custava R$ 50, este colunista entrevistou o baterista Fabrizio Moretti, revelando que havia um brasileiro na banda nova mais falada daquela hora.

Agora, às vésperas do lançamento de "Room on Fire", entrevistei novamente Fabrizio, para reportagem sobre o disco dois, que saiu decentíssima no Folhateen da última segunda-feira.

Lá em 2001 o baterista nova-iorquino da gema carioca era a juventude em pessoa, ativo, falante, entusiasmado, vivo. Agora, dois anos depois, 300 shows por toda a Terra depois, milhões de dólares depois, 200 capas da "New Musical Express" depois, após reformar toda a cena de guitarras e namorar panteras hollywoodianas, Fabrizio era outra pessoa. A voz era outra. Arrastada, cansada, lenta. O cara parecia ter 45 anos, não 23. Parecia que estava dando a entrevista sobre o nono álbum dos Strokes.
Arriscou brincadeiras, lembrou-se da primeira entrevista, conversamos sobre o Brasil, mas a voz dele parecia vir de alguém da idade do Neil Young.

Por isso era paradoxal ouvir dele, quando perguntei sobre a famosa "pressão do segundo disco", a resposta do título acima.
O mundo, pelo que parece, ainda está inteirinho nas costas dele.

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FABRIZIO MORETTI, A ENTREVISTA


(A entrevista, um pouco maior do que a publicada no Folhateen segunda passada, é essa)

Vazou para a internet o aguardadíssimo segundo disco dos
Strokes. O vazamento precoce é resultado do grau de
excitamento da cena musical com o próximo passo da banda que devolveu graça ao rock há dois anos e abriu a porta para a insurgência de um sem-número de grupos e cenas novas. Isso está na numerosa quantidade de páginas de revistas e jornais musicais que já estampam com letras festivas o nome do quinteto nova-iorquino muitas semanas antes de o disco "real" chegar às lojas.

O rock começa a soltar a respiração com a aproximação do dia 20 de outubro, uma segunda-feira que inaugura a semana de lançamentos em vários países de "Room on Fire", o sucessor do extrabadalado "Is This It". Inclua o Brasil nessa, mas espere até o dia 28.

"Room on Fire"é a difícil sequência imediata para uma banda que estoura logo no primeiro disco. É o disco da afirmação. É a deliciosa segunda gozada, como dizem (em inglês, "the second coming", fica mais sensual, menos rasteiro, mais exato). E é, pelo que as primeiras audições permitem concluir, tão espetacular quanto "Is This It".

Quando a Folha primeiro falou dos Strokes, segundos antes de a banda estourar, em abril de 2001, o quinteto nem álbum tinha. O título da reportagem foi "Quase Famosos". Era uma banda fresca na essência, cinco caras entre 20 e 22 anos que mesmo sem o propósito estava sacudindo o rock, excitando a moda com seus cabelos desarrumados e casacos e gravatas se desencontrando com calças jeans surradas.
Hoje, a maior banda de rock do planeta, o título ideal para essa reportagem de espera de seu segundo álbum de carreira seria "Insuportavelmente Famosos". Mas mesmo com milhões de dólares no bolso e a corda da pressão-do-segundo-disco no pescoço, a sonoridade do CD se manteve fiel à juvenília excitante que botou a banda há dois anos no pedestal que está, dentro da música jovem. E a roupa e os cabelos continuam os mesmos.

De Nova York , o baterista da banda Fabrizio Moretti, 23
anos, fala sobre a dificuldade e o prazer de estar
numa banda que é farol de uma geração boa e numerosa. E,
claro, do ansiosamente esperado "Room on Fire".
Moretti, para quem não sabe, é carioca da gema. Nasceu no Rio e foi levado criança para os EUA.

"Vamos fazer assim. Você pergunta em português, eu respondo em inglês. Me dá prazer ouvir a lingua do meu país, que eu entendo. Mas respondo em inglês porque é como melhor eu me expresso".

Popload - Você veio ao Rio no ano passado com sua
namorada _ a atriz "pantera" Drew Barrymore _. Como foi a viagem?
Fabrizio Moretti - Foi ótima. Fiquei no Rio visitando
meus parentes por umas duas semanas. Drew chegou nos últimos dois, três dias da viagem. Ela desembarcou bem no dia da festa do Brasil pela conquista da Copa do Mundo. Foi uma coisa inacreditável para nós.

Popload - Sobre o disco novo, como você se sente com o
fim do processo de gravação e produção deste segundo Strokes, tão esperado e já tão aclamado?
Moretti - Sinto-me como se o mundo tivesse saído das
minhas costas. E me sinto bem por isso. Espero que as pessoas gostem do disco. Mas isso eu não tenho certeza.

Popload - Você acha que as pessoas não vão gostar do CD?
Moretti - É que gastamos tanto tempo em torno do
disco, pensando em tantos detalhes, trabalhando cada segundo das músicas que eu preciso agora de um tempo longe desse disco para ter noção se ele é bom ou não. Se vai agradar ou não. Estou em um ponto que minha expectativa é zero. Mas espero que gostem. Vou cruzar os dedos no dia do lançamento.

Popload - Tirando o estresse de estúdio, dá para dizer
se a banda ficou satisfeita com o resultado final do álbum?
Moretti - Como banda, como amigos, o sensação geral é
que progredimos. Estamos cansados, mas felizes.

Popload - A maioria das bandas que ganham fama já no
primeiro disco tem medo do segundo disco, a hora de provar se o grupo é bom mesmo. Aconteceu com o Oasis, Radiohead, Coldplay, Nirvana. Vocês sentiram muita pressão ao gravar o CD número dois?
Moretti - O diabinho do segundo álbum estava no
estúdio com a gente, dava para ver. Mas a verdadeira pressão que a gente sentia era interna. Da nossa própria cobrança. E era muito. Nós não ligamos para pressões externas.

Popload - Como você descreveria o novo disco?
Moretti - Acho que é uma coleção de canções que são
muito diferentes uma das outras, mas que tem uma consistência e um sentido que as une. Isso decorre do fato que somos os mesmos músicos do álbum anterior, só que um pouco mais desenvolvidos por causa de tudo o que nos ocorreu em tão pouco tempo. Acho o disco inspiradíssimo por causa das lindas composições do Julian [Casablancas, o vocalista e letrista] e de guitarristas como o Nick [Valensi] e o Albert [Hammond Jr.]. Acho que funcionamos bem como banda.

Popload - E como você compararia "Room on Fire"a "Is
This It"?
Moretti - Poderia dizer que são álbums "amantes". Eles
se completam e têm uma química melódica que os une. A gente sabe que nunca vamos chegar no disco que consideramos ideal para nós, mas esses dois estão próximos do que acreditamos.

Popload - O que houve de errado para vocês demitirem o
produtor do Radiohead, o Nigel Godrich? Ele queria
transformar o som dos Strokes em algo "viajante"?
Moretti - O que aconteceu foi que éramos duas
instâncias bem separadas dentro do estúdio. Era a banda de um lado e ele de outro. Tínhamos idéias muito diferentes.
Sabíamos que este tinha que ser um álbum especial, então
procuramos ele por causa de suas idéias especiais, diferentes. Mas acabou sendo um período de tentativas, que
ajudou de algum modo no resultado final do disco, embora ele tenha saído bem diferente do que ele gostaria.

Popload - De 2001 para cá, dos porões nova-iorquinos à
atração principal do gigantesco Reading Festival. Como a vida de vocês ficou diferente em dois, três anos.
Moretti - Algumas coisas importantes mudaram em nossas
vidas, mas somos as mesmas pessoas, saímos com os mesmos amigos, vamos aos mesmos lugares. Nenhuma mundança incrivelmente grande aconteceu em nossas vidas com a repercussão do nosso trabalho até agora.

Popload - E se esse disco não der certo, ou um terceiro
frustrar expectativas. Vocês se acham preparados para o
caminho inverso da fama?
Moretti - Completamente. Não fazemos música para
ganhar dinheiro. Nossa definição de sucesso é diferente
daquela da maioria das pessoas.

Popload - Os Strokes trouxeram um excitamento especial
ao rock, quando surgiram e lançaram o primeiro disco. Agora que o segundo está saindo, como vocês encontram esse estado atual da música?
Moretti - Eu não sei. Nunca fui de prestar atenção
nessa coisa de cena, não sou de ler o que os críticos
escrevem. Existem bandas novas que eu gosto. Existem outras que eu não gosto. Eu não acho que o rock mudou por causa dos Strokes.

Popload - O que você gosta de ouvir hoje?
Moretti - Duas bandas das quais eu fico excitado
quando escuto são o Radiohead e o Kings of Leon. Cara, eu
gosto muito do Kings of Leon.

Popload - Os Strokes parecem ser uma banda de grandes
amigos, sempre. Já aconteceu alguma briga entre vocês que
poderia ter influenciado no futuro da banda.
Moretti - Não tão sério. Já houve casos de algumas
brigas feias, xingamentos, durante o final da última parte da
turnê americana do "Is This It". Mas era só o esgotamento do final da turnê. Precisávamos de um tempo longe daquilo, de nós mesmos. Mas somos tipo melhores amigos e nada vai se impor entre nós.

Popload - No final do mês vamos ter no Rio um festival
cuja escalação inclui White Stripes, Rapture, The Streets,
Erol Alkan. O que você acha dessa lista.
Moretti - Maravilhosa. Gostaria muito de estar aí.

Popload - Os Strokes não chegaram a ser convidados para
tocar nesse Tim Festival?
Moretti - Não tenho idéia. Nós temos que fazer
primeiro essas turnês que arranjam para a gente em mercados como o americano e o europeu. Mas definitivamente vamos tocar no Brasil no ano que vem. Vou fazer isso acontecer, nem que formos em um período de nossas folgas.


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"ROOM ON FIRE"- FAIXA A FAIXA


O disco dos Strokes, música a música. Fabrizio Moretti comenta algumas delas.

1. "WHAT EVER HAPPENED"
Os Strokes abrem seu esperado disco com uma música densa, de um peso pop impenetrável. Pelo baixo, parece que vai começar a alegre "Heart of Glass", do Blondie, mas o que entra é um torturado Julian Casablancas. "Eu quero ser esquecido, não quero ser lembrado." Até parece. Os Strokes estão de volta.

2. "REPTILIA"
O disco acelera. Mas segue pesado. Julian, como Cobain costumava cantar, começa calmo e vai ficando desesperado. Dá show também a guitarra urgente de Nick Valensi, coisa que bota os Strokes longe anos-luz de 90% do rock atual e tão perto dos... Pixies. "É uma jornada para diferentes estados de ânimo", diz Fabrizio.

3. "AUTOMATIC STOP"
E aí chega um reggae, fissura de Casablancas. Quebra propositalmente o ritmo do disco. Tem lá sua graça quando caminha para o pop. Mas não tem o molejo dançante do vizinho Rapture.

4. "12:51"
O primeiro single. É a mais new wave das músicas de "Room on Fire". A pegada dos Strokes vai aos anos 70, mas nesta eles pararam nos 80.

5. "YOU TALK WAY TOO MUCH"
A primeira das músicas que a banda toca há tempos em shows. Aqui, mais bem estruturada com o tratamento de estúdio, mostra a levadinha Strokes característica de guitarra casando perfeitamente com o vocal de Julian Casablancas. Biscoito fino.

6. "BETWEEN LOVE & HATE"
Outra canção com caída para o reggae, mas que a guitarra de Valensi conduz de volta para o rock. É a do atormentado vocal "I never needed anybody" ("Eu nunca precisei de ninguém").

7. "MEET ME IN THE BATHROOM"
Uma das melhores do disco e que quase entrou em "Is This It". Ajuda a explicar porque os Strokes empolgam. As duas guitarras funcionam bem juntas, o baixo aparece bastante, a bateria é perfeita e a voz faz de Casablancas o mais singular cantor do novo rock. "Essa é uma música tão tensa quanto sexy", comenta Fabrizio.

8. "UNDER CONTROL"
É a supresa do disco. Balada para dançar com a namorada. "Ela tem um espírito Motown e parece ter sido feita para tocarmos ao vivo dentro de uma sala", explica o baterista dos Strokes.

9. "THE END HAS NO END"
Música irmã de "12:51" nas guitarras pop. Mas tem a marca da toada nirvanica de Casablancas. Docinho pop no corpo. Convulsão barulhenta no refrão. Talvez a mais Strokes música dos Strokes.

10. "THE WAY IT IS"
Outra montanha-russa de guitarra, vocal e bateria. O punk come solto quando Casablancas entoa "I'm sick of you and that the way it is" ("Estou enjoado de você e isso é assim mesmo"). A brilhante guitarra de Valensi quase canta junto.

11. "I CAN'T WIN"
Se o disco começou denso, ele acaba alto-astral. Dentro do que é alto-astral nos Strokes. É a música de levada mais rápida do álbum. Suingada, a canção tem o irresistível poder de fazer quem a ouve soltar uma exclamação satisfeita e levar o dedo a apertar o play novamente.


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MANIFESTO


Schwarzenegger para presidente dos EUA.


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MÚSICA DA SEMANA


"We Are All in Love", Black Rebel Motorcycle Club
Essa é f***!


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REM E O ROCK NOVO

Aval de Michal Stipe para o rock pós-Strokes, em especial ao nova-iorquino. O REM executou por dois shows seguidos a canção "NYC", em versão acústica, que é de propriedade do ótimo Interpol.

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GARAGEM

Tranque em algum lugar seguro seus discos de MPB, de rock lixo (não thrash) e do Rapture. O impiedoso programa Garagem volta à Brasil 2000 (107.3 FM) na próxima segunda-feira. Faz todo sentido um programa como o Garagem voltar numa rádio de reformulação "pro bem" tão acentuada como a Brasil 2000. O dial paulistano é, sim, um lugar decente agora.
Para diminuir a chance de os franceses babões botar a mão em mais discos dos Tribalistas, o Garagem promete destruir 50 CDs do grupo logo no programa de re-estréia. Um para cada semana em que o programa ficou fora do ar.
Posso dizer porque sou próximo dos caras: Paulão, Álvaro e André, que comandam a nau, estão com fome de disco.

 E não é só. A tradicional festa do Garagem sai de São Paulo e realiza uma verdadeira turnê. O "Garagem on Tour" começa nesta sexta, em Santos, em parceria com a Popscene (Retrô Bar) e com João Gordo como convidado. No sábado, o Garagem arma a festança no ABC, no Haus Club, de Santo André. Na quarta, 15, é a vez do Garagem Campinas, na Kraft, novamente com João Gordo como reforço de. peso nas picapes. Na sexta 17 tem o Garagem Rio, na Bunker 94, em Copacabana. João Gordo vai nessa outra vez, com Paulão e André Barcinski. No sábado, 18, o Garagem volta à SP e ao Trip Bar, para fazer na festa o lançamento do novo CD dos Strokes, que só chega às lojas dez dias depois.


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PROMOÇÃO DA SEMANA

Ainda está aí? Sério?
Então você merece concorrer. Manda seu precioso e-mail para cá e você está bem na fita para ganhar:

- Uma cópia especial de "Room on Fire", o esperado disco novo dos Strokes, com três faixas extras ao vivo.

- Um raro disco do Blur, que saiu na revista de música mensal do jornalaço britânico Observer. Recebi cinco deles de colaboradores fofos que mandaram/trouxeram de Londres. Marco Lockmann, Graziela Prancheri e Consuelo Bassabesi abasteceram este colunista de Blur exclusivo para sorteios durante um mês. O CD tem cinco faixas: Ambulance, Don't Be (acoustic mix), Sweet Song (demo Idea), Me White Noise (live) e Out of Time (acoustic). Sensacional.

- Uma camiseta preta bacanuda do Kings of Leon. É mais para meninos (tamanho G), mas enfim.

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TODOS OS VENCEDORES

Desculpe o embaço geral com a lista. Lá vai o rol de ganhadores das últimas colunas. Tenha paciência também para receber os prêmios, porque agora acumulou o correio:

* CD "Echoes", discaço da banda nova-iorquina Rapture
- Patricia Gallagher
Maceió, AL
- Sérgio A. Pereira
São Paulo, SP

* "Tour de France Soundtrack", álbum do Kraftwerk
- Márcio Luiz Gentile
São Paulo, SP

* Kings of Leon e seu energético primeiro disco.
- Túlio Elkis
Brasília, DF
- Fabiana Cecatti Cesar
Santos, SP
- Ana C. Leite
São Paulo, SP

* O disco do Whirlwind Heat, "Do Rabbits Wonder?", da banda que toca no Tim Festival.
Cristian Augusto Toff
Rio de Janeiro, RJ

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CHEGA, NÉ?

Esta semana já deu.
Vi um negócio numa coluna e fiquei chocado.
Portanto, chega de coluna.
Suede vs. Beatles, Tim Festival, Radiohead e Libertines ficam para a semana que vem. Fora a rapa.

Até!
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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