Pensata

Lúcio Ribeiro

29/01/2004

Alô, alô, marciano

"As minas de Sampa
São todas branquelas
Pudera, praia de paulista é o Ibirapuera"
A divertida Rita Lee, em "Minas de Sampa"

"I like the waaaaaaay you move (I like the way you move)
I like the waaaaaaay you move (Ooo you so sexy baaby!)
Uou, uou"
Outkast, em "The Way You Move"

"Meu ouvido não acampa na Transamérica,
FM O Dia, estação de grife
Pagando jabá pra tocar DJ Patife
Não sou astro, dispenso o Max de Castro
A bandeira do 'pela-saquismo' nunca vou levantar no mastro"
De Leve, em "Pra Bombar o Seu Estéreo"


Uou! Uou!
Água em marte, sonda que desaparece misteriosamente, o cara do Jethro Tull mudando de sexo quase aos 70 anos. E tinha gente que desdenhava do agente Mulder. Eu sempre acreditei em "Arquivo X". Tudo está ficando claro, agora.

* O melhor (?): o Jethro Tull toca aqui no Brasil, em março. O David Palmer, o ex-barbudão ex-tecladista e que agora atende como Dee, faz tempo não está na mais no grupo progressivo.

* Troféu infeliz do ano para a Rita Lee. Com um disco novo e com a cidade embuída de uma "corrente pra frente" por causa de seu histórico 450 anos, a roqueira zoou com São Paulo durante show no Rio de Janeiro. "São Paulo não sabe fazer festa. Tadinhos, tenho pena dessa gente. São Paulo é bom pra ganhar dinheiro", essas coisas. Pegou bem mal. Para coroar, a mulher que é a "nossa mais completa tradução" fez a música da epígrafe acima, para as minas de Sampa. Foi engraçado ver o monte de desculpas, uma pior que a outra, que ela soltou para reparar a gafe. Foi mais engraçado ver que mantiveram ela como apresentadora do show de aniversário da cidade. No fim foi tudo festa. Exatamente do jeito que ela disse que São Paulo não sabe fazer.

* Sobre os Pixies, o vem-não vem, fui informado, será resolvido até a próxima sexta. Era para ser na última, mas não rolou ainda. Qualquer definição até a data esperada entra como notícia em cima da hora, na coluna. O Curitiba Pop Festival agora cogita ser realizado até nos dias 8 e 9 de maio, para depois da apresentação da banda no Coachella.

* Sobre o show do Chico César pelado, não tive notícias. Alguém da Paraíba poderia informar?

* Sobre a Paris Hilton no Rio de Janeiro, ela abalou. A dondoca de US$ 4 bilhões e do vídeo pornô mais famoso desde o da Pamela Anderson não é modelo, não é atriz, não é cantora, mas causa espécie por onde passa. Ela tem uma profissão, na verdade: ela é celebrity. Dia 3 de março estréia por aqui o reality show de Paris Hilton, o "A Vida Simples", do qual eu já falei cem vezes. No Globo, que deu capa de caderno para a moça nesta semana, saiu que o episódio de estréia da série nos EUA, em dezembro, foi visto por 11,9 milhões de pessoas, audiência superior à do dia em que George Bush deu entrevista exclusiva à ABC para falar sobre a captura do Saddam Hussein. Hilton manda ver.
Como estamos em temporada de moda e esta coluna sabe se exibir na passarela, aí vai um pequeno relato de um "insider" que acompanhou a passagem da mais roqueira ds patrícias mundiais.
O desfile da Colcci, marca que trouxe a Paris, estava marcado para as 17h, mas a moça chegou quase uma hora atrasada. Mandou avisar que não queria ser fotografada na chegada, mas bastou o primeiro flash estourar para ela começar a posar. Parecia feliz de estar no Brasil. Foi simpática com todo mundo. Quando o assunto "vídeo" pintou, porém, a história mudou. Ela topou
dar uma entrevista para um canal a cabo. A jornalista tocou no assunto e no mesmo instante Paris interrompeu a entrevista. Chamou um assessor sorridente, Neal, e pediu para ele deixar claro que ela não falaria daquele assunto. Repetindo: em vez de interromper a repórter, Paris fingiu que ela não existia e mandou o assessor dar o recado. Tudo isso sem se exaltar, que fique claro. Um segundo depois ela voltou a dar entrevista, como se nada tivesse acontecido. Profissional, a menina. No desfile, não teve para ninguém. E olha que também subiram na passarela modelos badaladas como Mariana Weickert, Ana Claudia Michels e a filha de Luíza Brunet, Yasmim. Paris só fez duas entradas. Na primeira vez usou boné, jaqueta moderna, camiseta branca, gravatinha Strokes, um moleton e salto alto. Pose de rapper. No som, um híbrido de "Get Ur Freak on", de Missy Elliott, com "Love Will Tear Us Apart", do Joy Division. Resultado: a platéia, cheia de globais, ficou de queixo caído com a patricinha bilionária e festeira.

* Sobre o superstar DJ Fatboy Slim, está quase certo que o show de São Paulo vai ser na capital, e não no litoral. E parece que vai ser aberto, com ingresso cobrado, em vez de ser fechado. Mas ainda falta confirmações, que chegam aqui, bem aqui, assim que forem passadas.

* Antes que você saiba por outrem, é bom eu mesmo falar. Fui no show do Caetano no sábado, na Ipiranga com a São João. Eu sei, eu sei. Mas essa coisa de aniversário da cidade, o povo nas ruas, a chance de ele cantar Nirvana para eu ver como é sem ter que pagar R$ 500, meus amigos indo, pertinho de casa... Fiquei umas três músicas mal ouvidas (longe, som ruim). Sabia quais eram por uma mulher desafinada atrás de mim cantava mais alto que o próprio Caetano. Fazendo entonação de "cantora", o que era mais engraçado. Em troca do Nirvana, recebi uma cover de "Saudosa Maloca", "Força Estranha" e "Ronda". Na quarta música já me encontrava longe dali, muito acima do Caetano. Acabei a noite no alto do edifício Itália. A cidade iluminada, tal. O engraçado é que lá estava tocando "New York, New York".

* Músicas da semana:

- Graham Coxon, "Freakin' Out"
. Deliciosa canção nova do grande ex-guitarrista do Blur. Já o melhor som de guitarra do ano, bem típico de quem fez "Song 2".
- Obie Trice, "The Set Up". Chegado do Eminem e do 50 Cent. Detroit, nigger.
- Fiery Furnaces, "Tropical Ice Land". Eles são de Nova York. Eles são uma dupla de irmãos. Tudo o que o White Stripes não é. A música é do álbum que já saiu, mas chega como single em fevereiro. Garagem ensolarada. A voz da também guitarrista faz lembrar dos melhores momentos do Belly.

* Em um mundo dominado pelo Darkness, a banda farofa mais legal dos últimos tempos, você vê o nome dos caras por todos os lugares. Vê gente que não sabe do que está falando falando deles. Vê gente que não gosta deles falando que não gosta deles, só para falar que não gosta deles. Uns estão rindo do Darkness. Outros estão rindo também, de nervoso. O negócio é que há uma necessidade tremenda de falar, hoje, do Darkness. O Darkness também está rindo. A banda do figura Justin Hawkins já é o Kiss destes dias. E o Queen, num lado mais "poético". Pastiches de bandas do velho metal, a pausterização do hairmetal, eles são um grupo "para cima". Todos querem ser amigos do Darkness, citar o Darkness. Ultracafonas, eles foram citados pela descolada revista "Nylon" como o item número 1 nas "dez coisas que fazem a Inglaterra ser o melhor lugar do mundo hoje", em sua última edição, um especial Reino Unido. O Darkness tem músicas horrorosas, de falsetes descarados que até dói. Mas tem outras ótimas, como o hit "I Believe in a Thing Called Love", a "romântica" "Love Is Only a Feeling", entre outras. O album de estréia do Darkness, "Permission to Land", acabou de ser lançado no Brasil. Para você não ficar rindo à toa, dá uma olhada no Darkness como evento, não só como banda. Eles já foram bastante citados por aqui. E tenho impressão que eles vão ter longa vida na coluna. "Permission to Land" foi lançado no final do ano nos EUA e não havia vendido nem 150 mil cópias antes de começar a sair nas revistas. Deve melhorar quando a turnê de 20 shows atingir a América, em março. Tem uma história curiosa que, quando as músicas deles começaram a tocar nas rádios de rock americanas, choveram alguns elogios e muitas reclamações. Muitas. A reação foi tão extrema que os progradores das emissoras resolveram "bancar" a banda mesmo assim, por achar que alguma coisa está acontecendo por causa do Darkness.

* Em um mundo dominado pelo hip hop, é um absurdo o que tem feito o Outkast, tanto cá quanto lá. A cada sopro de "Hey Ya", a banda volta ao primeiro lugar na "Billboard", em álbuns vendidos. Desde que o CD duplo classe "Speakerboxxx/The Love Below" foi lançado nos EUA, há uns quatro meses, ele já frequentou por sete vezes o topo, contagem bacana por ser um álbum duplo. Enquanto isso, "Hey Ya" é "vendida" nas rádios daqui com uma empolgação assombrosa. O hit hip hop tem até vinheta na 89 FM, rádio rock. É a globalização dos gêneros. A mistura que rolou nas pistas do mundo no ano passado atinge as rádios brasileiras, finalmente. Informaram-me que quase todo dia "Hey Ya" toca no "Big Brother". Minha sobrinha já sabe cantar, médio. Uma amiga que ama o Charlie Brown Jr. e tolera o Jota Quest veio pedir o disco "daquela música", para mim. Onde essa "Hey Ya" vai parar.

* Falando em hip hop, duas coisas. Primeiro parece que vem aí o clipe do ano, de autoria do rapper-bomba De Leve. Está sendo engendrado e vai zoar com muita gente boa. Aliás, zoar é o estilo do De Leve. Para quem não sabe, é um rapper de Niterói que toda vez que seu nome é dito vem sempre um complemento: "Esse é o cara", "O Marcelo D2 de 2004" etc. Isso acontece desde o ano passado, quando suas músicas circulavam forte pela internet antes mesmo de seu álbum, "Estilo Foda-se", ter sido lançado. O tal estilo do título sai por todos os poros do De Leve. Da sua música, que dispara sua rima contra meio mundo da música brasileira, como você bem pode notar na epígrafe lá em cima. Do seu estilo, de andar de bicicleta por Niterói sem parar, enquanto não está fazendo música. E do seu estilo-estilo, de vestir só Havaianas, bermuda e camiseta branca GG. GG! Em uma troca de e-mails com o rapper, esta coluna foi saber por que ele pega a turma da gravadora Trama para Cristo. "Eles nada fazem além de música 'pra agradar', fazendo coisas que foram feitas há anos. Fazem um samba muxoxo, querendo ser bossa-novista, só que bem caô, na minha opinião. Agora, não é só os artistas da Trama que fazem isso, não. A Preta Gil também tenta ser cool e moderna. Até me espanta ela não ter lançado nada pela trama (em minusculo por favor). Hehê."
Este é o De Leve. Segue a rima.

* A segunda história vem de BH. E o nome agora é UDR. Se não são tão falados quanto o De Leve, na polêmica chegam mais longe. Para simplificar, prestatenção. Os mineiros fazem funk carioca com letras de death metal ou rap tipo Racionais. Quando não colocam palavrões de fazer corar o João Gordo.
Inclusive, o VJ e rato de porão já botou para tocar em seu programa de rádio (89 FM) uma música do UDR. Eles têm um disco de nome singelo: "Seringas Compartilhadas Vol. 2 - Concertos para Fagote Solo, em Si Bemol". Já corre a internet há tempos. As faixas são "Bonde da Depressão", "Bonde de Jesus", "Bonde da Orgia de Travecos", esse naipe. É funk metal sincronizado com o rock atual: tem até uma faixa-extra chamada "Bonde da Orgia de Travecos (White Stripes mix)". É o mesmo funk, só que estourado por uma guitarra. Faz todo o sentido. A batida funkosa do UDR é espertíssima, bem produzida. O vocal é irado. Em "Bonde da Depressão", a letra manda recado para os fãs da turma de Seattle. (Cantarole em ritmo de funk carioca.) "A massa grunge é fraca/ e não aguenta a dor/ corta 'os pulso'/ usa droga/ camisa de lenhador/ ouve Nirvana, ouve 'Píer Jém'/ E quando o bicho pega apela pros 'Alice in Chéin"). O shows são cômicos, sou informado. Tem troca de figurino e tudo. Além de oferecerem camisetas da UDR para quem subir ao palco e cometer um ato bizarro. Se você tiver a moral, dá para ir conferir tudo isso no Kool Metal, festival que acontece no próximo dia 14, na Tribe House (Pinheiros, SP). O UDR vai estar por aqui. Mostrando, entre outras coisas, sua música nova: "O Evangelho segundo Serguei".

* o pop ganha mais um canal na internet. Do Rio de Janeiro, a terra do De Leve e agora da Rita Lee, vem o site Reator, que mora no www.reator.org. Quem alimenta o Reator é só estudante de comunicação da UFRJ ou da PUC-RJ, com coisa decente a falar sobre música, cinema, literatura. É atualizado semanalmente. Passa lá.

* do Rio de Janeiro ainda soube de mais um caso de picaretagem jornalística. Aliás, dois. Um mega, até inesperado. O outro é o de sempre. Puts.

* Desse "escândalo" eu vou falar. É um escândalo de bom o septeto paulistano Cansei de Ser Sexy, grupo-evento da cena indie formada pela ótima Luísa Lovefoxxx, o baterista Adriano Butcher e mais cinco garotas estilosas. Já comentada aqui, você deve lembrar: a banda faz e acontece. Formada sob o preceito de (quase) ninguém saber tocar nenhum instrumento, a CSS é um combo de um barulho fashion pop delicioso. A banda só se fez, até agora, por apresentações ao vivo e uma música postada na parte indie do site da gravadora Trama. O primeiro álbum está a caminho. Esta coluna ouviu as bases de dois hits instantâneos: I Wanna Be J.LO" e "Meeting Paris Hilton". E atesta: é sensacional.

* No derrame de filmes bons do cinema, em 2004, o próximo é "A Escola do Rock", que já ganhou grande destaque neste espaço depois de emocionar este colunista frágil de sentimentos. Estrelado pelo ótimo Jack Black, uma espécie de Didi Mocó do rock, "A Escola do Rock" ou é um manjado filme besta sobre o gênero ou um dos mais sinceros e ilustrativos filmes que podem ensinar qualquer um a ser uma pessoa normal. Você vai ter que se posicionar. Se quiser ler mais sobre o filme ou procura uma certa coluna de novembro, ou espera até a proximidade do dia 20 de fevereiro, quando ele entra em cartaz. Não vou deixar de ainda falar sobre o filme.
Agora, todo esse lero é para avisar que a trilha sonora de "School of Rock" (no original), acabou de sair no Brasil, via Warner. Tem os ensinamentos do "professor" Jack Black, tem duas da banda que ele formou na escola com a molecada (e com ajuda do Mooney Suzuki, de NY). Tem Ramones, Who, a melhor música do Led Zeppelin (não é "Stairway to Heaven, óbvio), a melhor do Doors, Ramones, T-Rex. E tem uma do Darkness, que não aparece no filme, mas que Black Jack fez questão de colocar na trilha. Engraçado, não?

* Dá uma respirada forte. Está sentindo um cheiro de Jesus & Mary Chain? Há dois anos que a conspiração J&MC está sendo armada. Primeiro foi o emulador Black Rebel Motorcycle Club. Depois, veio do reino da Dinamarca, com o Raveonettes, que pelo DNA é filho dos Mary Chain. Agora, mais recentemente, a cineasta cool Sofia Coppola põe uma música do grupo escocês para participar como ator do triste e engraçado "Encontros e Desencontros", filmaço em cartaz. No final do ano passado, na Inglaterra, chegou às lojas o "The Jesus & Mary Chain Live in Concert", coletânea de 19 faixas da BBC, com faixas de dois shows dos irmãos Reid: um em 1992 (Sheffield), outro em 1995 (Bristol). Para completar, descobri na internet, semana passada, que uma das obras-primas do rock moderno, o álbum "Psychocandy", de 1985, vai ser reeditado em 2004 no Japão, mas só em vinil. Como assim? Será que é para uso eletrônico? Mary Chain nas pistas?
Recentemente, houve uma festa para o Black Rebel Motorcycle Club em Londres. Quem atuou de DJ na balada foi o gênio Bobby Gillespie, do Primal Scream, que participou das primeiras formações do J&MC. Como baterista. Na festa, estava mister Jim Reid. Para fechar o complô, no ano que vem o famoso "Psychocandy" completa 20 anos de seu lançamento. Sentiu o cheiro, agora?

* Promoção da semana. Vem quem quer. Sorteio por e-mail, o de sempre. Uma cópia genérica do "The Jesus & Mary Chain Live in Concert", com capinha, caprichado. Esse não sairá nunca por aqui. Qualidade sonora impecável. Outra: uma cópia oficial de "Permission to Land", do Darkness, aquele. Pede aí: lucio@uol.com.br.

* No ano passado vi uma performance dos meninos do Kings of Leon, abrindo para os Strokes. Achei os ótimos irmãos e primo Followill meio amarrados, soando "só" igual ao excelente disco de estréia deles. Dia destes ouvi na net um show recente deles em Manchester. Os caras me enganaram. A apresentação de Manchester foi ótima. Procura aí para ouvir.

* Quando eu falo que o iPod é o instrumento da revolução, o brinquedo mais valioso da vida deste colunista, etc. e pá., não estou exagerando. Se você bebe água em Marte e pelo menos nunca ouviu falar no toca-MP3s da Apple, não se preocupe. Em menos de dois anos todo mundo que tem alguma relação com música qualquer que seja vai ter um iPod, é a previsão. Vai estar mais barato, variado, funcional. Será uma época em que sair de casa com um discman convencional vai dar vergonha. Se você ainda acha que essa ladainha pelo iPod é blablablá deslumbrado, ouve esta história:
Na edição do fim de semana passado do megajornal britânico "The Sunday Times", saiu um artigo dizendo que o iPod está sendo acusado de acabar com os relacionamentos. Sob o título "Existem três neste casamento: eu, você e o iPod", o jornal detectou que alguns fanáticos por música digital têm levado o aparelho da Apple para a cama. O site IDG Now! traduziu assim o texto do "Times": "A reportagem destaca ainda que milhares de mulheres que compraram o MP3 player para seus maridos e namorados no Natal já começam a se arrepender. Isso porque seus companheiros tornaram-se fanáticos pelo aparelho, passando noites e finais de semanas inteiros com seu pequeno objeto de desejo.
Dois casos de viuvez foram reportados pelo jornal. 'Todas as noites ele pega o iPod logo depois do jantar e sai por aí. Isso está acabando com as nossas vidas', destaca uma mulher triste com a interferência do aparelho. Outra viúva do iPod afirma que o marido desce as escadas da casa às vezes somente para dizer sobre as coisas incríveis que o aparelho pode fazer.
Alan Hely, gerente de Relações Públicas da Apple Europa, afirma que é interessante ver como o aparelho consegue atrair a atenção das pessoas, e argumenta que o iPod é parte de um estilo de vida digital que deveria beneficiar a família, não o contrário. O efeito da tecnologia nos relacionamentos é um sério problema. A Academia Americana de Advogados Matrimoniais deverá publicar nas próximas semanas um relatório que inclui advertências sobre como os computadores podem arruinar casamentos."
Sério!

* O itinerante Big Day Out!, um dos maiores festivais de música pop do mundo, está varrendo a Austrália. Começou dia 16 em Auckland, passou por Sydney, Melbourne, Adelaide e termina em Perth, no próximo domingo. Nosso amigo Cristiano Ferreira foi atropelado pelo BDO em Sydney no último final de semana e relata como o bicho pegou na terra do Vines.
"Passando por cinco cidades da Austrália e uma da Nova Zelândia, o Big Day Out teve pela sua primeira vez em 12 anos uma edição dupla em Sydney, tamanha foi a procura por ingressos.
Neste ano o festival trouxe em seu 'line-up' Metallica, Jet, The Datsuns, Strokes, The Darkness e Kings of Leon, a mulher-homem Peaches, os quebra-espinhas do Audio Bullys, Basement Jaxx e vários outros que esvaziaram a cidade em mais ou menos 40 mil pessoas.
O festival rolou no Olimpic Park, na cidade-olímpica que foi construída para os Jogos de 2000.
O primeiro-grande-nome a tocar foram os caras do The Darkness, debaixo de um sol de derreter titânio. Quarenta e cinco minutos foram suficientes para mostrar o quanto eles acreditam que são sérios e o quanto nós acreditamos que eles não estão fingindo. Deixei de ver o The Datsuns para dancar ao som do Audio Bullys. Discotecagem perfeita: enquanto Tom Dinsdale mexia nas
máquinas, Simon Franks tomava conta do microfone dando grito de ordens para a massa.
Em seguida foi a vez de checar os caras do Dandy Warhols. Sobre gritos da galera que começava a se molhar por causa da chuva, o show foi normal com picos apenas nas músicas do novo álbum. Aí corri, atravessei todo o parque, para ver os australianos do Jet. Como esperado, tocando em casa eles levantaram a galera com seus 'hits'. Depois de mais quarenta e cinco minutos foi a vez do Kings of Leon tocarem. Sinceramente, fora umas três músicas, nada para emocionar.
Neste meio tempo, um tanto arrependido porque tinha perdido os caras do Muse, já estava me preparando para os Strokes. Muita gente foi se juntando para ver os caras. Tudo bem que fiquei lá atrás, mas a voz embriagada do Julian e as guitarras do Nick Valensi seguidas pelas batidas do Moretti chegaram lá perto das pedras do deserto da Austrália. Provaram que no palco o rock'n roll tá para eles. Melhor que nos CDs, pode acreditar.
Como nada é perfeito, eu tava com alguns amigos e um deles queria assistir ao Metallica. Foi engracado ver o poder que esses caras ainda têm geração após geração. Uma grande multidão se aglomerou em frente ao palco para escutá-los. Eu não entendo mais nada. E ainda deram para eles 1,45 minutos de tempo pra tocar.
Mas acabou esse e fui correndo pra ver o Basement Jaxx. Para você ter uma idéia de quanta gente foi para lá, pela primeira vez no dia eles estavam controlando a entrada das pessoas, tamanho era a romaria em direção ao stage. O show foi bem legal, com o Felix Buxton nas picapes e o Simon Ratcliffe na guitarra, enquanto umas mulheres negras com uns puta vozeirões detonavam no microfone. Destaque para os efeitos especiais apresentados na telona psicodélica atrás dos caras: viagem total.
E foi isso. Parabéns para Audio Bullys, Strokes, Basement Jaxx e Jet. Não pude conferir os caras do Mars Volta, Aphex Twin, Peaches, Afrika Bambaataa e Flaming Lips. Não fica bravo! Não tinha como. Era um ou outro."

* Papo Skol Beats, agora. Você leu acima o que foi o show do Basement Jaxx, não? Agora é hora de se preparar para o que vai causar a principal atração do Skol Beats 2004, em abril, São Paulo. Então. O conhecido site de baladas eletrônicas Rraurl está armando a campanha "Um Som Melhor no Skol Beats", devido a acontecimentos passados. É uma movimentação que começou em discussão no Fórum do Rraurl e virou abaixo-assinado. Para apoiar a causa, vá até http://www.rraurl.com/cena/noticia.php?rr_noticia_id=678.

* Já falei aqui do disco do guitarrista americano Ryan Adams, o recém-lançado "lloR N kcoR". Mas resolvi falar mais e melhor, desta vez em tom "crítico". Ui.
Considerado o garoto difícil e esquisito do novo rock, o talentoso guitarrista e letrista Ryan Adams expele (mesmo!) esse delicioso disco-aborto chamado "lloR N kcoR" fazendo bom uso exatamente de suas esquisitices e de sua dificuldade de viver como um ser humano aparentemente incompreendido dentro do cruel mundo da música pop.
O que pode ser um lamento para o rapaz que saiu da música country alternativa americana para cair dentro da cena pop nova-iorquina é, para quem escuta suas canções, uma dádiva.
"lloR N kcoR" é "quase" o jeito correto de escrever fielmente o nome do novo CD de Ryan Adams. Seria se o teclado do computador conseguisse reproduzir o termo "Rock N Roll" como visto em um espelho, com letras invertidas além da escrita do fim para o início.
A brincadeira de Adams aqui está em pegar sua eterna companheira, a guitarra grunhenta, e zoar com clássicos do rock atual e nem tanto, nas 14 faixas do CD. Em "lloR N kcoR" tem Adams interpretando a seu modo Nirvana, REM, Stooges, U2, Strokes, Replacements, Smiths. Tem horas que até parece Bon Jovi.
O disco novo de Adams não era para ser o disco novo. O que era para ter sido o lançamento 2003 do guitarrista já estava batizado como "Love Is Hell", prontinho, na mão da gravadora, a Lost Highway.
Mas a gravadora embargou o lançamento, por considerar o disco "dark, incrivelmente depressivo", justificou Ryan Adams à revista americana "Rolling Stone".
O embaço do não-lançamento fez o guitarrista entrar de novo no estúdio e sair, em pouco tempo, com esse "lloR N kcoR".
O que seria o "Love Is Hell" saiu às lojas por Adams como dois EPs, o "Love Is Hell - Vol. 1" e o "Vol. 2". E todos na mesma época, novembro do ano passado. E todos bons.
"lloR N kcoR", que ganha agora sua edição brasileira, é mesmo completamente alto-astral, comparado com o clima "dark, incrivelmente depressivo" do que seria o "Love Is Hell" álbum.
Sai muita energia juvenil de dentro das guitarras de Adams, uma espécie torta de Neil Young da geração Strokes. Mesmo que suas ótimas letras sejam lamúrias teen bem construídas, não necessariamente um desfile literal de tristeza profunda.
"Let me sing a song for you/ that's never been sung before" (Deixe-me cantar uma canção para você/ que nunca foi cantada antes), começa cantando Adams, em "This Is It", a canção que abre o disco, resposta definitiva à pergunta que os Strokes deixaram no ar no título de seu primeiro CD, "Is This It?".
"Everybody is cool playing rock & roll/ I don't feel cool at all" (Todo mundo é cool tocando rock & roll/ Eu não me sinto nada cool), canta Adams, em "Rock N Roll", recado direto do guitarrista para sua gravadora. O "Rock N Roll" desta vez está escrito sem inversões/distorções. E sem guitarra: nela o genioso Adams toca piano.
O disco é cheio de títulos que remetem à história do rock independente, como se fosse uma atualização. Além do "This Is It" de Adams para o primeiro dos Strokes, tem "She's Lost Total Control" (que mostra que a mulher de hoje está muito mais descontrolada que a "She's Lost Control" de Joy Division), "1974" (a "resposta" de Adams para "1969" dos Stooges).
A grande música do disco é mesmo "So Alive", o primeiro single. De letra apaixonada e ritmo urgente, Ryan começa como se fosse o Morrissey e sua guitarra fosse a de Johnny Marr.
Mas na hora do refrão baixa um A-Ha rápido no cantor e guitarrista. Ou, para ficar mais espirituoso, é a música em que Ryan Adams começa Smiths e termina... Bryan Adams, seu quase xará canadense.
Ryan Adams pode parecer sempre pretensioso. Mas sua música não é. "lloR N kcoR" é um grande disco de llor n kcor

* Isto é Ryan Adams
- o disco "lloR N kcoR" tem participações especiais de Melissa Auf der Maur, ex-Hole, em três faixas. Além de Billy Joe Armstrong, do Green Day, nas guitarras de "Do Miss America" e da atriz Parker Posey, namorada de Adams, em "Note to Self: Don´t Die".
- Aliás, Adams pertence à estirpe dos roqueiros que namoram atrizes. Antes de Parker Posey, o guitarrista era parceiro da fora-da-lei Winona Ryder, conhecida por namorar todo o rock.
- Adams apareceu no final dos anos 90, comandando os vocais e as guitarras da cultuada banda de alt-country Whiskeytown. Foi para a carreira solo assim que foi chamado de "o jovem Dylan" pela imprensa americana. Quando lançou seu CD de estréia, "Heartbreaker", aí não havia mais dúvida. Adams ERA o Dylan.
- Amigo e fã declarado dos rapazes dos Strokes, Adams não só brinca com o quinteto título da primeira faixa de seu novo disco como não deixa nunca de tocar, em suas apresentações ao vivo, o megahit "Last Nite", do grupo de Julian Casablancas. A cover está fácil na internet e deve aparecer em single de Adams.
- Em um dos volumes do EP "Love Is Hell", Adams gravou uma versão triste, triste de "Wonderwall", o maior sucesso do Oasis.
- Declaração de Ryan Adams sobre a polêmica do embargo de "Love Is Hell", pela gravadora Lost Highway, que achou o álbum muito deprê: "Quando acabei de mixar o disco e mostrei para eles, os caras da gravadora disseram que era muito experimental e tosco. Estou falando das mesmas pessoas que eu sei que amaram o último disco do White Stripes".

* E os vencedores da semana passada? Estão aqui:
- O "preparado" do Morrissey novo, com seis músicas que devem estar no "You Are the Quary".
Celso Tanaã
Cascavel, PR

- O disco novo "Rock'n'Roll" (às avessas), do Ryan Adams
Élcio A. T. Oliveira
Cambridge, Inglaterra

- Cópia da trilha original de "Lost in Translation"
Cida Randal
Santos, SP

* Esta coluna só vai oferecer os dois prêmios citados. Estou atolado e atrapalhado com a entrega dos atrasados, então preciso escoar o troço. Falei?

* Chega por hora?
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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