Pensata

Lúcio Ribeiro

26/02/2004

Beatles, a maior banda indie do mundo

"Close your eyes
And think of someone you physically admire
And let me kiss you, oh.
But then you open your eyes
And you see someone that you physically despise
But my heart is open
My heart is open to you"
Morrissey, em "Let Me Kiss You"

"Well she was just seventeen
You know what I mean
And the way she looked
Was way beyond compare
So how could I dance with another,
Oh, when I saw her standing there"
Beatles, em "I Saw Her Standing There"


Que beleza, que beleza!
Atraso normal e o melhor do Carnaval.
Carnaval, para mim, sempre foi e sempre será uma festa muito esquisita. As pessoas se comportam muito esquisitas. E as que não o fazem, aceitam tal esquisitice na boa.
Para você ver como essa coisa funciona fora do padrão, eu acabei indo ver o desfile no Sambódromo-SP. E a única escola que eu vi passar inteira, na avenida, foi a Gaviões...
Não sei nada do riscado, mas não entendi nada no sistema de som da "avenida". Durante a 1h05 do desfile de uma escola, ouve-se a bateria apenas uns dez minutos. Exatamente quando ela está passando na sua frente. Os outros 55 minutos é só de cantoria. Nada do batuque. É assim mesmo?
Carnaval é isso: esquisitice maluca. A liberação extra e especial dos hormônios no período faz a gente ver coisas como a cobertura da Rede TV!. Quem assistiu sabe do que eu estou falando.
As frases mais ouvida nestes dias, na TV, foram: "Mostra aí o samba no pé". "Dá uma viradinha". E as pessoas mostravam e viravam.
Até sites austeros botavam manchetes na linha "Veja foto das gostosas do Carnaval".
Depois ficam pegando no pé de colunistas pop que, brilhantemente, usam de um linguajar mais, hã, solto para ir "direto ao ponto".
Muita polêmica cercou um certo espaço rocker virtual vizinho dia destes, sobre uma nota à respeito da estudante inglesa que botou à venda sua virgindade, como protesto.
Porque o "fino" colunista fechou seu raciocínio sobre esse problema estudantil britânico com a pergunta "Será que ela é um tesão ou uma baranga?", muita gente ficou horrorizada.
O cara só antecipou uma tendência que o Carnaval iria consagrar. Tem meu apoio.

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AQUARELA DO BRASIL

Que a Bjork tem um pé na MPB, isso não é novidade.
Aí ela aparece na Bahia com o chatérrimo Arto Lindsay e seu marido (dela Bjork), o artista plástico Matthew Barney, para inovar no Carnaval brasileiro. Fiasco total.
Os gringos ilustres montaram um trio elétrico chamado "Cortejo Afro", puxado por um trator, que por sua vez arrastava uma árvore.
Pelo que eu pude entender, o trator e a árvore compunham uma instalação, dentro da qual tinha um homem exibindo sua genitália.
Sério...

* Não muito longe da Bjork, nosso Carlinhos Brown era preso por desacato à autoridade. O "Cacique do Candeal", segundo eu li, ao ser solto andou por todo circuito da Orla Marítima. Daí, sentiu-se mal e teve de receber
atendimento médico. Restabelecido, cantou o Hino Nacional, fez várias reverências aos orixás,
cantou outras músicas e foi embora para casa.
Não me pergunte...

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BEATLES É SOM "ALTERNATIVO"

Trilha sonora de gerações e a banda de rock mais importante blablablá, os Beatles também tiveram sua trilha sonora eles mesmos, que era a gritaria insana de garotas sempre dispostas a estourar o pulmão à simples menção do nome do grupo.
Exatos 40 anos do início da Beatlemania, registrada a partir da primeira excursão dos rapazes de Liverpool aos EUA, tudo o que veio depois daquela semana de fevereiro quem viveu neste planeta está cansado de saber.
Mas, à luz do lançamento de mais um dos lucrativos produtos Beatles, desta vez o excelente DVD "The First US Visit", a melhor conversa sobre John, Paul, George e Ringo é sentir a qual nível de decibéis chega essa gritaria insana de garotas hoje, em 2004, quando os berros femininos são para astros como Justin Timberlake e, num olhar mais caseiro, Felipe Dylon.
"Queremos os Beatles, queremos os Beatles", gritaram histéricas 90% das meninas dos anos 60%. Mas, agora, no mundo do rap metal, do emocore, de "Hey Ya", do novo rock, do novo novo rock, do Belle & Sebastian, quem é que quer saber dos Beatles?
Algumas veiculações pop dos EUA, rádios e revistas pelo que pude ler, discutem a importância dos Beatles no som de hoje, tudo no calor deste aniversário de 40 anos desde que o grupo inglês desceu no aeroporto de Nova York e mudou a história da música jovem até hoje
E rádios de rock contemporâneas, e a revista "Entertainment Weekly" em particular, chegaram a uma conclusão que a trajetória dos Beatles, para a juventude, foi do megamegamegaestrelado para o relativo ostracismo e, agora, para o status de banda cult. Do mainstream para o mundo alternativo. Os Beatles, em resumo, são hoje a maior banda indie do mundo.
O jovem culto indie aos Beatles foi registrado assim que aquela coletânea "1" foi lançada, em 2000. Até então, ouvia-se falar de Beatles, nesse espectro teen pop, apenas em entrevista dos irmãos Gallagher, do Oasis.
O assessor de imprensa da Apple (a lendária gravadora dos Beatles, não a dona dos Macintosh e iPod) disse que das 27 milhões de cópias vendidas da coletânea, as duas principais fatias compradoras era de jovens entre 16 e 24 anos e aquela acima dos 45.
Não faz muito tempo, o rapper Nelly fez sua graça para cima da beatleniana "Strawberry Fields Forever" e o mundo do hip hop adorou.
Uma das principais bandas teens dos EUA hoje, a Rooney, catapultada pela descolada série cool "OC", é Beatles esculpido e deixa isso bem claro para quem perguntar.
A última "Entertainmente Weekly" pegou como exemplo uma garota de 19 anos estudante de Yale, que descreve a si mesma como "uma das maiores fãs dos Beatles" que existe. Não tem um amigo meu que não ouça Beatles. Mas num modo alternativo. Tipo, supõe a revista, Radiohead e Outkast é o mainstream que a menina e seus amigos ouvem, mas todos guardam os Beatles num lugar especial. Como, nos 90, os que ouviam Nirvana, Pearl Jam e Chili Peppers reservavam uma hora especial para os discos do Pavement.
"Eu vou ser fã dos Beatles para o resto da minha vida. Já não tenho certeza se eu posso dizer o mesmo sobre artistas como Jay-Z e Outkast", finalizou a menina da Yale.

* a mais nova aproximação dos Beatles da música jovem contemporânea aconteceu há cerca de 15 dias, quando começou a circular pela internet uma fusão hip hop e eletrônica feita pelo DJ californiano Danger Mouse, alterego de um sujeito chamado Brian Burton. Chama-se "Grey Album" e é uma mixagem esperta do "Black Album", último CD do rapper Jay-Z, e o "White Album", do velho Beatles.
Danger Mouse ganhou sua fama instantânea ao transformar em eletrônica as versões a cappella da música do mais famoso astro do hip hop com o que é considerado o mais experimental dos álbuns dos Beatles. O resultado, se não é sensacional, é bem interessante. Algumas das misturas ficou rock'n'roll, até.
Claro, a EMI foi atrás do Danger Mouse e seu disco "proibido".
O "New York Times" desta terça-feira, soltou uma reportagem sobre os 300 sites de troca de arquivos e blogs que se uniram num esforço de "coordenada desobediência civil". Esse sites tornaram disponíveis por 24 horas todas as 12 faixas do "Grey Album". O protesto dos 300 sites foi considerado uma maçica violação aos direitos autorais pela EMI, que mandou carta para todos os websites ontem dizendo que pode processá-los. Enquanto isso, o "Grey Album" está fácil na rede.

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DVD - QUANDO OS BEATLES CHEGARAM AOS EUA

Tudo já deve ter sido dito sobre os Beatles. Qualquer habitante do planeta que ouviu sequer uma música na vida parece conhecer, hoje, pelo menos uma das incontáveis histórias sobre a mais famosa banda de todos os tempos. Já em fevereiro de 1964, com a beatlemania batendo à porta dos EUA, havia um senhor americano que em plena Nova York não tinha idéia de quem eram os ingleses John, Paul, George e Ringo.
Exatos 40 anos depois, a história do encontro quase casual desse sujeito com os quatro rapazes de Liverpool ganha um saboroso DVD chamado "The Beatles - The First US Visit", documentário que está sendo lançado mundialmente neste mês, por causa da grandiosa efeméride.
O tal senhor, o cinegrafista Albert Maysles, recebeu um telefonema da rede britânica Granada Television. A TV queria que Albert e seu irmão sonoplasta, David, seguissem os Beatles em Nova York e depois Washington, onde eles fariam sua primeira performance pública na América. Antes de topar o trabalho, Albert tampou o bocal do telefone e perguntou ao irmão se ele já tinha ouvido falar do tal grupo inglês, para ver se valia a pena o trabalho.
O que aconteceria nas duas semanas que se seguiram ao titubeante "sim" dos irmãos Maysles à Granada Television mudou para sempre a história da música pop e está contada com um frescor emocionante neste que é mais um dos lucrativos lançamentos acerca da banda que mais fatura anualmente no mundo, mesmo após seu fim, há mais de 30 anos.
O tal frescor, dos olhos de Albert Maysles diante dos Beatles e dos Beatles diante da conquista da América, é a alma deste documentário. Os irmãos ganharam as credenciais de bastidores mais valiosas da história da música e testemunharam a ruidosa recepção aos berros adolescentes dos Beatles em Nova York e as lendárias apresentações da banda no Ed Sullivan Show, então o minuto mais caro da TV americana.
A primeira das três aparições dos Beatles no programa de Sullivan rendeu uma audiência de 73 milhões de pessoas. Como comparação, e guardadas as diferenças televisivas de época, o programa de maior audiência da TV aberta americana é a série policial "CSI", que na semana passada foi vista por mais de 30 milhões.
Além dos Beatles em ação --o DVD traz cenas do primeiro show da "invasão inglesa", no Washington Coliseum--, o programa mostra os rapazes, aos 22 anos na média, como seres humanos "normais" diante de toda aquela histeria, em cenas de corredores de hotel, camarins, brincando com repórteres, conversando com crianças no trem e se divertindo em uma boate.
O DVD tem 81 minutos de documentário, um "making of" de quase uma hora com cenas inéditas e uma interessante entrevista recente com Albert Maysles, que quase seis anos após receber os Beatles filmaria outro seminal documentário: "Gimme Shelter", dos Rolling Stones.
"Percorri um longo caminho desde não saber nada sobre os Beatles até ouvir sua música, vê-los tocar e mostrar como eram naquele instante exato da história, quando viraram celebridades e conquistaram toda a nação."
Mesmo sabendo-se o tanto que iria vir depois de fevereiro de 1964, é engraçado pensar que aquelas palavras proferidas por Ed Sullivan ("Senhoras e senhores, os Beatles! Vamos recebê-los"), à la Silvio Santos, eram o início não-oficial da mais profunda manifestação cultural que a música jovem já forjou.

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QUANDO OS EUA ACHARAM QUE OS BEATLES NÃO ERAM "TUDO ISSO"

O jornalista e escritor Marcelo Orozco, autor de "Kurt Cobain - Fragmentos de uma Autobiografia" e o maior entendido de Beatles que eu conheço, conta a pedido deste colunista o curiosíssimo capítulo anterior dessa história da "invasão dos Beatles" de 1964, nos EUA. Olha só isso:

"Uma excentricidade de ingleses como aquele esporte chato que junta multidões por lá, o tal "soccer". Não difere muito disso a reação inicial dos EUA aos Beatles e à loucura do público britânico em 1963. A Capitol Records, braço americano da gravadora inglesa EMI (que tinha os Beatles sob contrato), recusou as gravações do conjunto (e de outros artistas ingleses) ainda em 1962.
Um executivo da Capitol teria sido bem taxativo para o empresário Brian Epstein: "Não creio que os Beatles tenham a ver com nosso mercado".
Isso gerou uma "pré-existência" dos Beatles nos EUA. Já que a Capitol não queria, a EMI licenciou compactos do grupo para a pequena gravadora independente Vee-Jay, de Chicago. A Vee-Jay, que lançava principalmente rhythm'n'blues e estava em crise financeira, não sabia o que fazer com as faixas até que descobriu que "Please Please Me" era sensação na Inglaterra.
O compacto saiu timidamente nos EUA no final de fevereiro de 1963. Lançamento nada criterioso. Havia até erro de grafia no selo do compacto: a banda virou The Beattles. Nos EUA, "Please Please Me" mereceria inclusão na seção "Desaparecidos" de algum jornal.
Em maio, a mesma Vee-Jay tentou de novo com "From Me to You", 1º lugar absoluto na parada inglesa. No Top 200 americano da "Billboard", alcançou uma fenomenal 116ª posição. Não houve comemoração. Após esse nada, a Vee-Jay dispensou "She Loves You", que acabou repassada para o ainda mais obscuro selo Swan, de Filadélfia.
O vinilzinho saiu em setembro. Seu maior feito: entrar na eleição semanal de Murray the K, DJ popular de uma rádio nova-iorquina. A cada semana, Murray tocava cinco lançamentos e submetia à votação dos ouvintes. "She Loves You" obteve honroso 3º lugar. Ou antepenúltimo, dependendo da perspectiva.
Como os planos ambiciosos de Epstein e dos Beatles incluíam os EUA (desde que um disco chegasse ao 1º lugar da parada nacional), o último bote foi com "I Want to Hold Your Hand". Epstein viajou a Nova York no começo de novembro de 1963 com uma demo da música. Essa, o diretor da Capitol Brown Meggs achou mais simpática que as anteriores e concordou em lançar.
É bom ressaltar que Epstein chegou à reunião com o trunfo de que tinha uma conversa marcada com Ed Sullivan, apresentador do programa de TV mais popular dos EUA. Semanas antes, Sullivan se espantara com uma multidão que vira no aeroporto de Londres para receber os Beatles e quis negociar com Epstein.
Essa foi a cartada. O lançamento do disco e a apresentação no programa eram co-dependentes para o sucesso do quarteto nos EUA. Operação em ampla escala que finalmente dobrou a Capitol. Mas as pequenas gravadoras que testaram o terreno em 1963 não ficaram órfãs depois do estouro. A Swan relançou "She Loves You" e conseguiu o 1º lugar.
A Vee-Jay relançou as duas faixas anteriores e também "Love Me Do", ainda inédita nos EUA, através de seu selo secundário Tollie. Também chegou ao topo da "Billboard" em maio de 1964. A Capitol logo acabaria com a festa, recolhendo de volta os direitos sobre as gravações que dispensara um ano antes. Hoje, os três compactos americanos de 1963 dos Beatles em ótimas condições alcançam cotações entre 600 e 2.500 dólares no mercado de discos raros."

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MAIS TRÊS

Talvez isso seja decisivo para aqueles que ainda esperavam por uma motivação extra para ir a Portugal em maio para ver o Rock in Rio-Lisboa. O festival do Rio de Janeiro que é em Lisboa confirmou a cantora Joyce, o Trio Madeira Brasil e o Trio Curupira.

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A SINUCA DO NOVO ROCK

Duas das bandas mais explosivas do novo rock 00, a australiana Vines e a sueca Hives, parecem não estar segurando a onda na hora de mostrar o segundo e fatídico disco. Do Hives é muito cedo falar, mas essa "Walk Idiot Walk", a música nova que recém-escapou para o mundo, não empolgou nas primeiras ouvidas. Já o Vines é mais preocupante. Já chegou às minhas mãos o segundo álbum do grupo do maluco Craig Nicholls, "Winning Days", que sai em meados de março.
Sobre este novo disco, fiz um texto para a Folha, que foi acompanhado por uma entrevista com o baixista Patrick Matthews. Dá uma olhada no que saiu. Escrevi que só tem uma coisa que pode salvar o Vines. O nível de maluquice do Craig Nicholls. Dá uma olhada.
* "Não é preciso ficar com medo e correr para baixar o volume na hora de pôr para tocar o novo disco da explosiva banda australiana The Vines, que chega às lojas no mês que vem.
"Winning Days", o segundo CD do grupo do "difícil" guitarrista e vocalista Craig Nicholls, está longe da eletricidade adolescente que emanava do primeiro álbum, "Highly Evolved".
"É que o novo disco está mais psicodélico, mais bem trabalhado", justificou o baixista do grupo, Patrick Matthews, em entrevista por telefone, de Nova York.
"A maioria das músicas do disco novo são daquelas de ouvir com os olhos fechados, imaginando figuras coloridas", disse Matthews, o sujeito incumbido de segurar a barra das intempéries de Nicholls.
São famosas as crises temperamentais do vocalista. Um exemplo: certa vez, durante uma entrevista ao semanário britânico "New Musical Express", levantou-se da cadeira, correu a um banheiro e lá ficou por cerca de três horas; e são raros os shows em que sua guitarra sai intacta.
O CD de estréia do Vines, "Highly Evolved", chegou na música pop como um furacão, em 2002. A banda e seu disco début entraram pela porta do novo rock, aberta no ano anterior pelo levante norte-americano The Strokes e White Stripes.
O grito e a guitarra estridente de Craig Nicholls fez-se ouvir da Austrália, sinal da globalização deste novo rock, totalmente avalizado pela geração internet, a geração Napster, Audiogalaxy e Soulseek, dois dos programas mais bem-sucedidos de trocas de arquivos em MP3.
O cheiro de espírito adolescente de Nicholls levou o Vines à categoria rotular de "novo Nirvana". Seu look loirinho despenteado à la Kurt Cobain, seu comportamento autodestrutivo e as músicas ora calmas ora inaudíveis logo invadiram a MTV.
De lá para a exaustiva turnê mundial de ano e meio, para a capa da revista britânica "The Face" (em que foi retratado como o "Jesus" do rock, por seu caráter de "mártir adolescente") até destruição do cenário do entrevistador de TV norte-americano americano David Letterman foi um pulo.
O caminho do Vines foi mesmo a destruição. A banda desapareceu no começo do ano passado, depois que Nicholls e o baixista Matthews rolaram em uma briga em pleno palco, durante um show em Boston.
Depois de quase um ano de reclusão, o Vines volta agora ao noticiário pop com o segundo álbum, este manso "Winning Days", que será lançado no final de março nos EUA e no Brasil, puxado pelo single "Ride". Curiosamente, ao contrário da toada do disco, esta é a música mais raivosa do CD.
"Ride", cujo videoclipe estreou nesta semana nas MTVs européia e americana, é inferior em qualidade, ritmo e inspiração aos sucessos do primeiro disco, as explosivas "Get Free" e "Highly Evolved". Mas, feita para ser hit, já atingiu seu principal objetivo: está tocando muito nas rádios.
A questão, depois que o disco sair às ruas e a banda à estrada para mais shows, é quanto tempo vai levar para Craig Nicholls liberar sua verve cobainiana. Só ele para botar o disco novo na tomada e devolver o gás juvenil que encantava no Vines.
O baixista Patrick Matthews, que constantemente (e literalmente) sofre golpes de kung fu dados por Nicholls durante as famosas apresentações da banda, diz na entrevista ao lado que o companheiro está mais calmo. "Os remédios estão dando certo", ele brinca.
O melhor talvez fosse maneirar essa medicação de Nicholls. Não iria sobrar um instrumento inteiro aos finais dos shows da banda, como na turnê anterior. Mas pelo menos o Vines não iria malograr tão feio logo no segundo disco.

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ENTREVISTA - VINES BUSCA O "OK COMPUTER"

Não dá para entrevistar Craig Nicholls, o genioso guitarrista do Vines. Ou ele está calmo demais (remédios) e a conversa vai ser chata, ou ele vai estar excessivamente "elétrico" e vai surtar e até inventar as respostas. Melhor ver o que a alma-gêmea de Nicholls, o baixista Patrick Matthews, (um pouco) mais equilibrado, tem a dizer sobre a nova fase do Vines.

Folha - Como está o Craig Nicholls? Mais calmo?
Patrick Matthews
- Desde que ele esteja com os medicamentos em dia... Estou brincando. Ele é meio maluco, mas é um excelente e inspirado músico. Craig anda tranquilo. Até cortou o cabelo, dia desses. Vamos ver quando a turnê começar. É sempre mais tenso quando estamos viajando, passando dias em hotéis, com agenda lotada.

Folha - Como estão você e ele? Mais calmos?
Matthews
- Sim. Aquela briga de Boston não foi a primeira e nem vai ser a última. Mas ele não vive sem mim. Sou o ponto de equilíbrio dele. Na verdade, sou o único que suporta ele.

Folha - Qual a expectativa da banda, agora que o disco vai às lojas dentro de um mês?
Matthews
- Muito positiva. Acho que encontramos um eixo de equilíbrio entre o que queremos da música pop e o que a música pop quer do Vines. E a atenção sobre nós deve ser um pouco mais leve do que foi no primeiro disco. Vão notar que nossa banda é normal, com guitarra, baixo, bateria...

Folha - Você acha? E a famosa "pressão do segundo álbum" não caiu sobre o Vines?
Matthews
- Acho que não. Vamos guardar essa pressão para o nosso terceiro disco, porque ainda somos a mesma banda do álbum anterior. A maioria das músicas já estavam prontas faz tempo, tocávamos elas em shows. É uma espécie de seqüência, talvez um pouco mais calma. Acho que vamos ser uma banda completamente diferente no terceiro CD. Sinto que vamos fazer algo como o Radiohead fez com o "OK Computer". Não sei se com a mesma qualidade, mas me refiro a sacudir tudo já feito e buscar novos caminhos. O pop fica chato se você não mudar.

Folha - O que você tem para falar de "Winning Days", o disco novo?
Matthews
- Se você o comparar com o anterior, "Highly Evolved", ele é um disco mais seguro. Uma banda mais confiante em mesclar explosões de guitarras com um som mais psicodélico, que é o estilo de música que ainda temos paciência de fazer. Para resumir, esse CD é mesmo mais psicodélico, desses de você fechar os olhos e imaginar figuras coloridas quando estiver ouvindo as músicas. Estamos crescendo.

Folha - Vocês se sentiram estrangulados pela alta expectativa criada com o rápido sucesso do primeiro disco?
Matthews
- A gente não entendia muito por quê, mas procuramos tirar proveito dessa onda toda que fizeram sobre nós. Mas não era fácil carregar nas malas da turnê bobagens como "o novo Nirvana", "os Strokes australianos". Pensamos o seguinte: "Já que é assim, vamos tocar para o máximo de pessoas possível, viajar bastante".

Folha - Vocês chegaram a quebrar o sofá do David Letterman, na famosa performance de "Get Free" no estúdio do apresentador?
Matthews
- Não. Acho que não chegou a quebrar. Craig saiu do local onde estávamos e voou sobre o sofá, que ainda bem estava vazio na hora, sem nenhum entrevistado. Mas ele é leve. O sofá, no máximo, ficou com uma das pernas bambas. Aquela apresentação foi absurda.

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A BANDA QUE CHUTOU O SUCESSO PARA FORA

A gravadora paulistana Sum Records tem um jeito peculiar de lançar discos. Nem sempre novidades, nem sempre seguindo uma estratégia que faça um sentido aparente, a gravadora de quando em quando desova um pacote de uma dúzia de discos que pode conter a mais cintilante novidade do pop escocês ou um disco fora de catálogo de um gangsta rap que originalmente foi lançado no começo dos anos 90. É sempre uma surpresa.
O mais recente derrame de CDs da Sum Records, num total de dez discos, tem de música eletrônica argentina a uma homenagem póstuma ao rapper 2Pac Shakur. E, no meio deles, um tesouro para quem teve um ouvido sintonizado no rock britânico do final dos anos 80 e começo dos 90.
Por alguma conspiração divina, saiu aqui o álbum "George Best", da banda inglesa Wedding Present, cultuado grupo de Leeds, adorado pela crítica, freqüentador do Top 40 britânico, mas que nunca chegou a sair do limbo underground.
Este "George Best" que chega é na versão "Plus", lançado na Inglaterra em 2001 e aditivado por singles e faixas bônus. O original é de 1987.
Numa comparação torta, o Wedding Present é uma espécie de Smiths menos gay, mais tosco, menos lírico, mas intensamente romântico da mesma forma. A música do Wedding Present refletia a personalidade do guitarrista David Gedge, o sujeito mais boa gente e mais confuso do rock inglês nos 80/90.
Uma mistura de letras prolixas sobre desencontros amorosos e as agruras da vida cotidiana vinha musicada por uma estridente cortina de guitarras. Mas bem lá no fundo dava para sentir o excelente ritmo, a urgência e a forte emoção que parecia sair da alma atormentada de Gedge.
Algo como se o guitarrista Johnny Marr, ex-Smiths, tocasse no Jesus & Mary Chain. E tendo o Morrissey como vocalista, mas não dando para entender o que ele cantava.
O Wedding Present não decolou, mesmo sendo a banda predileta de gente como o Everett True (jornalista do extinto semanário britânico "Melody Maker") e pelo lendário radialista John Peel (da rede BBC). Do meio dos anos 90 em diante, a banda degringolou em discos ruins e Gedge acabou sozinho.
Esse "George Best Plus" traz em CD nove músicas bônus dos singles "Nobody's Twisting Your Arm" e "Why Are You Being So Reasonable Now", este último com um cover dos Beatles, a música "Getting Better".

*

A capa deste CD é curiosa para quem aprecia futebol. George Best, o jogador barbudo da foto, é uma espécie de Garrincha do futebol britânico. Como era da Irlanda do Norte, nunca jogou uma Copa do Mundo. Mas, em clubes, foi grande ídolo da torcida do Manchester United, a maior da Inglaterra.
Como sempre gostou de farra e bebida, decaiu antes mesmo dos 30 anos. Chegou a passar pelo Cosmos, de Nova York, antes de Pelé. Aposentado, passou a beber desesperadamente. Nos últimos anos, fez um transplante de fígado para sobreviver. Mas revoltou a opinião pública no final de 2003 quando foi visto bebendo outra vez. Também bateu na mulher, que insistiu por anos em sua recuperação e finalmente o abandonou. Este ano, foi detido por dirigir alcoolizado.

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PROMOÇÃO DA SEMANA

Rapidinho, fica assim. Semana curta, promoção curta. Vai para sorteio o "proibido" CD "Grey Album", quando o hip hop do Jay-Z ("Black Album") encontra os Beatles ("White Album"). Esta coluna também põe na banca a pérola "George Best Plus", o relançamento da Sum Records para o ótimo e saudoso Wedding Present. O esquemão é aquele: lucio@uol.com.br.

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VENCEDORES DA SEMANA


* CD com o vídeo da paródia "Hey Ya, Charlie Brown", mais o clipe extended da versão original da música do Outkast (5min) e o áudio de "Hey Ya Ganja"
- Eunice Estevam
Rio de Janeiro, RJ

* DVD "The Beatles - The First U.S. Visit"
- Ana Paula Pergotto
São Paulo, SP

* O CD do Air, "Talkie Walkie".
- Aninha Riot
Santos, SP
- Júlio A. dos Santos
Joinville, SC

* Trilha oficial do filme "Escola do Rock"
- Douglas Muniz
São Paulo, SP

* Cópia caseira do CD Franz Ferdinand
- Patrícia Mantovani
São Paulo, SP


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DESPEDIDA DA SEMANA

Tchau mesmo. Morrissey fica para a semana que vem. O Pixies está na mão. Vamos ver se esse contrato é assinado logo. A entrega de determinados prêmios está bem atrasada, mas em duas semanas tudo deve estar normalizado. Vida de colunista premiador não é fácil. Neste final de semana, no Rio, tem o grande Ruído Festival. O Los Pirata, outra banda indie que cultua os Beatles, toca lá, junto de várias bandas boas. Placebo em São Paulo no final de abril? Até mais.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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