Pensata

Lúcio Ribeiro

11/03/2004

Extra! Pixies confirmam show no Brasil

"Hermanita ven conmigo,
Hay aviones cada hora,
Isla del encanto,
Me voy! Me voy! Me voy!"
Pixies, em "Isla de Encanto"


Reprodução



Come on, Pilgrim. A notícia que esta coluna vem reverberando desde janeiro se concretizou. Como se já não bastasse os Pixies armarem sua tão-sonhada volta, o grupo confirmou nesta quinta-feira que vem mesmo ao Brasil, estrelar o Curitiba Pop Festival 2004.
Uma das mais importantes formações da música jovem no final dos anos 80/começo dos 90, os Pixies sacramentam sua esperada volta com o anúncio de uma série de concorridos shows nos EUA e Europa, o lançamento de uma coletânea e ainda de um DVD. É real.
Melhor: o grupo que influenciou Nirvana e Radiohead arrumou uma brecha para fazer um show único no Brasil, no dia 8 de maio. Em Curitiba. É surreal.
O Curitiba Pop Festival divulgou a lista de atrações para a sua segunda edição, um elenco de convidados que outorga ao evento paranaense o título de mais relevante evento do rock independente nacional neste ano. Veja a lista completa mais abaixo.
Junto com os celebrados Pixies, vem também ao CPF o cultuado grupo escocês Teenage Fanclub, contemporâneo da banda de Francis Black e que também se reúne agora para vir excursionar no Brasil. Da Suécia, a aqui desconhecida banda indie Hell on Wheels completa a lista internacional do festival.
Teenage Fanclub e Hell on Wheels, que já abril para o White Stripes e na semana que vem faz uma mini-turnê pelos EUA, tocam no Paraná no dia 7 de maio. Também em maio, os dois grupos se apresentam em São Paulo.
A volta à ativa dos Pixies chacoalhou o rock em 2004, quando foi anunciada, em janeiro. A reunião da banda foi vendida como o principal trunfo do próximo Coachella, da Califórnia, hoje o principal festival americano. Os Pixies, que não tocam ao vivo há 12 anos, desde que abriu os shows da turnê Zoo TV, do U2, estrelam o Coachella ao lado de Radiohead e Kraftwerk.
Uma turnê de 11 pequenos shows "pré-Coachella" nos EUA, que começa dia 14 de abril em Winnipeg, esgotou todos seus ingressos em menos de uma hora, em fevereiro. Também em minutos cerca de 19 mil entradas foram vendidas para quatro shows (em junho!!) no clube Brixton Academy, em Londres. E a banda já é nome forte de uma dezena de festivais de verão da Europa.
Os Pixies eram e voltam a ser Francis Black e Joey Santiago nas guitarras, Kim Deal no baixo e David Lovering na bateria. Black e Deal cantam. Começaram os ensaios este mês em um lugar secreto de Los Angeles e ainda não falaram sobre a volta.
Nesta pelo dinheiro
Os mais próximos dizem: a cultuada banda não esconde que esquece as brigas antigas e retorna agora por causa de dinheiro, já que patinam em suas carreiras solo e os Pixies são ainda uma marca fortíssima no rock.
"O empresário deles [Jeff Craft, da agência inglesa Helter Skelter] falou claramente que é por causa da grana. E que sentiu que ganhou na loteria quando os Pixies caíram do céu para ele agenciar", falou Paola Wescher, produtora do Curitiba Pop Festival.
O festival paranaense só acertou com os Pixies graças aos contatos com a baixista Kim Deal, feitos no ano passado, quando as Breeders (outra banda de Deal) vieram tocar na primeira edição do CPF.
"O Jeff Craft me dizia a cada telefonema: só estou conversando com você porque a Kim Deal pediu. Nem atenderia um telefonema do Brasil neste momento", disse Wescher.
Os Pixies vão lançar, ainda neste ano, um CD-coletânea chamado "Wave of Mutilation" e DVD que trará clipes, um show de 1988 em Londres e um documentário chamado "Gouge". A febre Pixies está só começando.

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PIXIES: TEEN SPIRIT

A medida do que foi a curta mas intensa passagem dos Pixies (1987, o primeiro disco; 1992, o último show) no rock pode ser dada pelas indeléveis palavras de um integrante da cena americana da época: o músico Kurt Cobain, do Nirvana.
Cobain (1967-1994) teria falado, ao tentar explicar o processo de criação de "Smells Like Teen Spirit", um dos mais estrondosos sucessos das guitarras nos anos 90, que "vinha desesperadamente tentando escrever a melhor música pop de todos os tempos.
Estava querendo compor no estilo dos Pixies."
Com um som surf punk contaminado por elementos hispânicos, os Pixies colocavam em Boston um dos focos do renascimento do rock americano de garagem _O Sonic Youth criava o barulho-arte em Nova York, o REM botava poesia indie no country rock da Georgia e o grunge sujo e com um pé no metal tomava forma em Seattle.
De cara, com o lançamento em 1987 do miniálbum "Come on Pilgrim" e principalmente com o disco "Surfer Rosa", os Pixies começavam seu reinado na música underground. Por causa da obra-prima "Doolitle", de 1989, a banda virava mega, começava a influenciar toda a cena alternativa americana e sozinha lotava festivais na Europa. O impacto de "Doolittle" no rock tem consequências até hoje. Uma das músicas do CD, "Here Comes Your Man", toca muito ainda em rádios e pistas brasileiras.
Incompatibilidade de gênios teria levado a banda ao final meio precoce, tempos depois do lançamento do "Trompe Le Monde", o quarto e último álbum dos Pixies, de 1991. Frank Black e Kim Deal embarcaram em promissoras carreiras solo, mas que hoje soam moribundas.
"A razão de a banda ter acabado foi que eu já tinha experimentado tudo nos Pixies, trabalhado o suficiente com aquelas pessoas. Brigas com Kim Deal... A verdade é que eu já estava cansado, desmotivado. Era a hora de ir embora", disse Frank Black a este colunista em 1997.

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ISTO É PIXIES

* "Ficava tocando Pixies nos ensaios do Radiohead, no começo. Quando o som que eu tirava da guitarra se aproximava das músicas dos Pixies, eu me sentia pronto para levar minha banda para frente"
Thom Yorke, líder do Radiohead

* "Eu simplesmente amo cada pequena coisa que os Pixies fizeram."
Dave Grohl, líder da banda Foo Fighters

* "A mais legal banda extinta do rock americano dos anos 80 e 90."
"The Guardian" (jornal inglês)

* "Fui a um show deles em Londres e nunca vi nada tão forte na música.
Desde então, passei a ser completamente influenciada por eles."
PJ Harvey, cantora

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TEENAGE FANCLUB EM CURITIBA E SP

Do limbo escocês direto para uma turnê brasileira, uma das bandas mais queridas da cena independente dos anos 90 é destaque também do Curitiba Pop Festival. Cada um a seu tempo, o Teenage Fanclub foi o precursor do uso da fofura amorosa no lírico pop inglês, uma década antes do Belle &Sebastian.
Inspirada em Byrds, Big Star e Smiths, o TFC foi formado em 1990 em Glasgow e logo entrou para o seleto e festejado elenco da gravadora inglesa Creation, que enriqueceu com o Oasis e foi celeiro dos principais grupos indies da virada dos 80 para os 90, até o britpop.
Já com o segundo álbum, "Bandwagonesque, o grupo escocês "ousou" arrancar da revista americana "Spin" a láurea de "disco do ano" em 1991, o mesmo ano de "Nevermind", do Nirvana, o que até hoje rende cartas reclamonas à publicação musical.
Com o tempo e alguns álbuns depois, o lirismo desesperado do Teenage Fanclub foi dando lugar a músicas serenas, baladas puras e calmas. Em 1999, a banda se esfacelou, coincidindo com a falência da Creation. O grupo, a partir daí, se reuniu algumas vezes para excursionar pelo Japão, Reino Unido e EUA, ainda vivendo da boa imagem criada nos anos 90.
No ano passado, foi lançado no exterior a coletânea "Four Thousand Seven Hundred & Sixty Six Seconds", com 21 sucessos indies do TFC. Dá para achar o disco em loja de importados.
A presença no Brasil do irmão mais velho do Belle & Sebastian vai além do show em Curitiba. O grupo inicia turnê em Recife no dia 30 de abril. Depois, faz uma residência curta no Sesc Pompéia, em São Paulo, nos dias 4, 5 e 6 de maio.

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A PROGRAMAÇÃO DO CPF 2004

Dia 7 de maio - sexta-feira
Teenage Fanclub (Escócia)
Hell on Whells (Suécia)
Sonic Jr (AL)
Íris (PR)
Pipodélica (SC)
Kingstone (PR)
No Milk Today (PR)

Dia 8 - sábado
Pixies (EUA)
Pin Ups (São Paulo)
Frank Jorge + Flu + Wander Wildner (RS)
Mombojó (Recife)
Pelebroi Não Sei (Curitiba)
Grenade (Londrina)
Ludov (São Paulo)
Excelsior (PR)
Autoramas (RJ)
Polexia (PR)
Relespública (PR)
Tarja Preta (PR)

Curitiba Pop Festival 2004
Quando: 7 e 8 de maio em Curitiba, PR
local: Ópera de Arame
ingressos: começam a ser vendidos segunda na internet, a partir das 14h,
no site www.curitibapopfestival.com. Postos de venda serão abertos em Curitiba somente em abril.
Quanto: R$ 80 para o sábado (Pixies), R$ 40 para a sexta (Teenage Fanclub). R$ 100 é o preço para o ingresso para os dois dias.

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AMENIDADES POP

A semana começou bem besta, mas já está pegando fogo no noticiário pop. Mas nada que me impeça de começar com amenidades tecnológicas. Afinal, a vida moderna não é fácil para ninguém. Vai lá, uma sobre o iPod, outra sobre celular.
IPod: Uma mulher de 23 anos foi presa em Memphis, a terra do Elvis, sob a acusação de homicídio de primeiro grau. Ela golpeou seguidamente na cabeça seu namorado, até a morte do rapaz (27 anos). A arma: um aparelho iPod. Segundo estimativa do médico, o moço levou de 40 a 80 golpes na cabeça. A razão, singela, foi porque o cara acusou a namorada brava de pirata. Disse que era um absurdo ela ter no iPod cerca de 2000 músicas baixadas "ilegalmente". E foi lá e apagou todas as músicas do iPod da menina. Aí...
Celular: Na Inglaterra, um cara levou o filho no zoológico local... (É verdade isso). Aí o moleque, na hora de ver os peixes no aquário gigante e tal, jogou o chapéu no tanque. O cara se debruçou no aquário, para recuperar o chapéu. Aí, na operação arriscada, caiu da jaqueta do sujeito o celular e a máquina digital. A máquina ele conseguiu catar. O celular, apareceu um peixe-gato e engoliu o aparelho, de 300 libras (R$ 1600). Juntou uma multidão ao redor do cara, vendo a cena. Sugeriram para o cara ligar para seu aparelho, para ver qual peixe vibrava. O melhor foi o seguinte: "Liguei para a companhia de telefonia para comunicá-los da perda, mas eles riam tanto que eu tive que esperar 15 minutos para ser atendido", disse o inglês. No dia seguinte, o celular foi encontrado no fundo do tanque, "devolvido".

* O rock perdeu um de seus desconhecidos mais ilustres. O inglês Alf Bicknell, motorista dos Beatles, morreu terça em Oxford. Ele inspirou a música "Drive My Car" e dirigia o carro quando a banda de Paul e John foi conhecer o Elvis, em 1965.

* Na coluna da semana passada, na nota triste sobre o fim da produtora mineira Motor Music, enalteci de passagem o doce de leite da cidade de Viçosa, o mais famoso do mundo segundo os mineiros e segundo meu próprio paladar. A razão de eu ter me citado tal iguaria mineira está no texto da última coluna e não interessa muito botar aqui de novo. Mas lamentei, além do final da Motor, a interrupção do fornecimento a este colunista do tal doce de leite. Pois três leitores (dois de Viçosa e um de BH) escreveram, se prontificando a não permitir que o envio do doce tenha um fim. Um leitor capixaba que cursa Engenharia dos Alimentos mandou email corroborando com a opinião sobre a guloseim. E uma menina de Rio Pomba, outra das milhares cidades mineiras, escreveu que estou certo quanto ao doce de leite de Viçosa, mas que eu precisava experimentar o doce de leite da cidade dela, que ficou em segundo lugar no concurso nacional da categoria. Estou esperando.

* Chega dessas bobagens. Vamos a outras delas.

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PARA BRASILEIRO VER

Deviam proibir em contrato essa história de artista internacional fazer "homenagens" ao Brasil, quando vêm tocar por aqui. Quase sempre vira xaropada.
Das duas horas em que o superDJ Fatboy Slim tocou no domingo passado, no Rio, mais da metade foi "comida" por gracinhas como "Copacabana", a original do "Utererê", "Garota de Ipanema", música xarope especial para o Rio. Até a voz do Velosão foi usada.
Brasileirismos fora, apenas por duas vezes o mega Norman Cook fez jus ao seu gordo cachê para trazer ao Rio sua audaciosa festa Big Beach Boutique.
Primeiro ao tocar a deliciosa "Hear My Name", o hino eletrônico destes tempos na Inglaterra, do DJ Armand Van Helden. Excitante, a música transcende o terreno eletrônico, como "Hey Ya" transcendeu o rap. Mexida por Cook, com aquela lua de fundo e o Pão de Açúcar iluminado, foi perfeito. Estranho a música não ter sido citada em nenhuma das resenhas dos shows que eu li. Será que eu sonhei que ela tocou?
Depois, aí sim, ao mostrar sua versão para a "internacional" "Quem Que Caguetô", do Tejo, Speed e Black Alien, a "nossa" música do comercial da Nissan européia.

* Pensando nesse irritante agradinho gringo ao Brasil, entrevistei ontem (quarta) o músico Steve Jackson (guitarrista, violonista) do Belle & Sebastian, cujo valioso DVD retrospectiva está sendo lançado nesta semana no Brasil, pela Trama. É o ótimo "Fans Only", destinado para aqueles que estão representados no título.
Quando o grupo veio ao Brasil, nos calorosos shows do Free Jazz Festival em 2001, a grande bossa em cima da banda era a versão escocesa para "Minha Menina", canção dos Mutantes, que o B&S dizia adorar e tal. Todo artista internacional que conhece a música underground de muitos cantos do planeta se declara fã de Mutantes.
Todos noticiaram. A banda tocou "Minha Menina" em um especial da MTV, nos dois shows do festival (Rio e SP) e foi tema de um bloco inteiro do programa do Jô Soares, que está na íntegra no DVD. Cantaram em português, com um papel com a letra na mão e tal. Baita boa vontade. Mas a presepada de sempre. Gastaram um tempo gigante com a música brazuca, com todas aquelas canções legais que os caras têm.
No final da entrevista, perguntei se ele já sabia cantar "Minha Menina" sem ter que ler no papel. Ele falou que não, imagina. Perguntei: vocês nunca mais cantaram a música, em nenhuma outra ocasião. Ele: "Não. Nunca mais. No Brasil até comprei um disco do grupo da música, mas acho que perdi na viagem. Nunca mais vi ele."
Ele claramente não lembrava mais o nome dos Mutantes. Mesmo com "Minha Menina" tendo ganhado um grande espaço para a "homenagem brasileira" nesse DVD que sai.
Fiquei meio envergonhado para perguntar.

* Nunca soube que o Sepultura foi fazer shows em festivais ingleses e tocou "She Loves You", dos Beatles.

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O DVD DO BELLE & SEBASTIAN

Já tá nas lojas. Depois de um tempo longe da fofice do grupo escocês, e vivendo os tempos nervosos da "era Franz Ferdinand", é uma delícia ver os clipes singelos do Belle & Sebastian. Imagens bobas e músicas pop primorosas, tipo "The Boy with the Arab Strap", "Modern Rock Song" e "Wrong Girl", para citar algumas.
"O DVD ficou muito melhor do que eu esperava", disse Steve Jackson, em entrevista a esta coluna direto de Madri, onde a banda está em turnê.
"Para uma banda como a nossa, que tinha um problema sério com entrevistas e fotos, o DVD revela uma intimidade nossa muito intensa. Até agora não me acostumei a isso. Mas vejo que melhoramos bastante nesse aspecto", abriu Jackson.
"Fans Only" tem mais de duas horas de duração. Um documentário acompanha a banda pelo festival de Coachella, no Brasil e pelo Japão, além de mostrar detalhe do cotidiano do grupo em Glasgow. Tem trecho ao vivo da banda no Black Session, programa francês que virou concorridíssimo disco na internet.
Sobre a acalentada turnê brasileira de 2001, Jackson falou que foi um momento "fora de controle" da banda. "Trataram-nos como reis. Foi totalmente surpresa ver como eramos adorados aí. Ficou estranho ver um país com um clima tão bonito como o Brasil gostar de uma banda que veio de uma terra chuvosa. Fico perguntando sempre ao nosso agente quando vamos voltar ao Brasil."

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MASSIVE ATTACK PERTO DO BRASIL

Perto, na Argentina. O país vizinho anunciou que vai trazer o cultuado grupo de trip hop inglês para um festival que ocorre no final de maio, em Buenos Aires. Alguém daqui do Brasil vai aproveitar a deixa e trazer a banda para cá, será?

* OUTROS: o Rush, veja você, volta ao Brasil em agosto. Quem mandou... E esta é boa: o fantasmagórico Twisted Sister deve pintar por aqui, no final do ano. A própria banda soltou o aviso. Eles voltaram ao estúdio para regravar o disco clássico deles, o "Stay Hungry", de 1984. Que picaretagem. Isso é culpa do Darkness.

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O ACIDENTE DO RYAN ADAMS, AO VIVO

Reprodução



O guitar-hero indie Ryan Adams está copiando o Jack White, do White Stripes. Postou no site dele fotos punk e imagens de Raio-X do seu pós-operatório. Como White fez quando fraturou seu dedo no ano passado, Adams, que quebrou o pulso durante uma queda em pleno show, em Liverpool, revelou seu lado "E.R." em foto e vídeo.
E, melhor que o guitarrista do White Stripes, Adams mostrou a quebra em som também.
No seu site (.com), ele liberou para audição a música "Shadowlands", ao vivo em Liverpool, que estava sendo interpretada pelo guitarrista no instante em que caiu do palco e fraturou feio o pulso esquerdo. Ouve lá. A música vai chegando ao fim e você ouve o "tum". Acho que o próprio Adams fala "Quebrou". E a canção continuou, esquálida, sem Adams. No final, uma voz aparece e diz que aquela havia sido a última música da apresentação.
Adams pode perder até 25% dos movimentos do pulso.

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O desbocado rapper De leve, de Niterói, apontado como "o cara" do hip hop brasileiro em 2004, toca em São Paulo nesta quinta. É no clube Jive. Max de Castro, Simoninha e o resto do pessoal da Trama não estão convidados.

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ROCK CONTRA A DEPRESSÃO

O assunto é sério. O emocore e o punk pop adolescentes estão sendo "estudados" nos EUA como uma espécie de rockterapia. Geralmente músicas pesadas com letras tristonhas demais, essas tendências jovens estão ajudando na luta contra a depressão na adolescência.
E a maior representação dessa é o novo clipe da banda desesperada Good Charlotte, que está estreando na MTV. Alguém já viu.
A última edição da revista teen "Capricho" traz texto deste colunista sobre o assunto. Saiu assim:

* "A única coisa q tinha me deixado animado jah era. Eu tinha esperanças de poder ir pra Campinas amanhã ver Matrix, mas como sou um loser eu não vou. Bom. Eu jah esperava issu... Eu sempre tenhu q ficar aki em casa, sem nada pra fazer. E aguentar minha mãe mandando eu estudar... Nunca viajo, soh saio de Serra Negra pra ir na escola, em Amparo... Putz, num sei ateh qnd eu vo aguentar ficar assim. Qualquer hora eu me jogo da janela..."
Lucas tem um blog e se autodenominava "loser" já aos 15, 16 anos. A vida adolescente dele parece ser um fardo insuportável, assim como pode ser insuportável em maior ou menor grau para milhões de adolescentes. Dá para ver isso no blog dele. Dá para ver também que ele adora música emo - em definição simplista, uma espécie de rock rápido e pesado, às vezes punk, e que chama a atenção pelas letras bastante emocionais.
Palavras como angústia, medo, solidão, fim de namoro e dor recheiam as letras de grupos brasileiros, como CPM 22, Dance of Days e também de gringos, tipo Blink 182, Simple Plan e, claro, Good Charlotte, para citar alguns famosos. Para dar uma idéia de como o bicho deprê está pegando, uma banda de punk pop dessa linha, que está estourando na Inglaterra, se chama Funeral for a Friend.
"Não sei viver sem ter você. É difícil de aceitar, recomeçar do zero. Levantar e caminhar", diz a letra barra-pesada de Não Sei Viver sem Ter Você, sucesso de clipe e de rádio do CPM, que já tocou até no filme alegre da Angélica. Mas você não viu nada ainda no território da música jovem e da dor adolescente se ainda não botou os olhos em "Hold On", videoclipe da banda americana Good Charlotte, sucesso de internet e que está programado para estrear por estes dias na MTV brasileira.
O clipe está puxando uma onda teen que está sendo chamada de "therapy rock", uma espécie de contra-ataque do rock contra a depressão. É muito, muito punk, e eu não me refiro ao gênero musical. A letra de Hold On passa a mensagem de que, se tudo é uma droga, é preciso dar um tempo, segurar a onda, "hold on", porque as coisas sempre acabam melhorando.
"Hold On", o clipe, começa com um dado estatístico: "A cada 18 minutos, alguém se suicida nos EUA. No Brasil, na mesma faixa de idade, quatro em cada 100 mil jovens optam pelo fim trágico, segundo estatística do Ministério da Saúde, com números de 2000. O índice, comparado com outros países, é relativamente baixo. Mas a evolução do desespero juvenil aqui é preocupante: o número de suicídios cresceu 20 vezes nos últimos 20 anos. E esse crescimento atinge principalmente a faixa adolescente. Tanto que agora em março, em São Paulo, será organizado um Simpósio Internacional para tratar do tema, com foco no jovem.
Voltando ao emo, ao punk pop e aos EUA, o clipe do Good Charlotte não está sozinho na batalha de levantar o ânimo dos fãs de hardcore. O Blink 182, que dizem já ter vendido mais de 10 milhões de discos para a galera jovem, fez uma música para um fã que não segurou a barra. Chama-se Adam's Song e a letra é baseada no bilhete suicida que o menino deixou. Mas, na música, o Blink 182 interferiu na história e mudou o final, na onda do movimento "Segure a onda". O Adam da música sobrevive.
Voltando ao vídeo do Good Charlotte, ele é dar nó na garganta. O clipe começa e aí entra em cena o rosto de Bob Burt, um aposentado treinador esportivo de uma escola americana. Com a voz trêmula, ele lamenta o suicídio de sua filha, de 19 anos. Burt é um dos personagens reais que dividem espaço no clipe com o Good Charlotte. Tem a garota que perdeu o namorado, o menino que perdeu o pai, a mãe que até hoje espera o filho voltar na segunda-feira, tem os rapazes que sofrem a falta do melhor amigo.
Uma das pessoas que aparecem na tela é uma garota de 21 anos, acompanhada da frase "Still here" (ainda aqui). No final do vídeo, ela conta que tentou se ferir mortalmente. "Mas ainda bem que ainda estou aqui."
O recado, embora bem triste, é direto. O cenário é uma casa em ruínas, com as paredes pichadas com palavras como pain (dor) e lonely (sozinho). A música chega a parar quando os personagens aparecem para dar seu depoimento. O clipe foi feito com a cooperação de várias fundações americanas de prevenção ao suicídio.
A garota que perdeu o namorado é Daphne Dachstbani (a marcada pela frase "Lost his boyfriend"), de 24 anos, que vive em Los Angeles. Ela sabia que o namorado andava deprimido, mas não esperava que ele chegasse a fazer o que fez. "Eu o teria agarrado pelos cabelos e o forçado a ir
ao médico."
O clipe, um dos mais veiculados na MTV americana desde quando estreou, no final do ano passado, parece ter conseguido o impacto desejado, em parte. Um menino ligou agradecendo à emissora musical. Seu melhor amigo, pronto para cometer suicídio na noite anterior, desencanou da idéia depois de ter assistido ao vídeo do Good Charlotte.

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PROMOÇÕES DA SEMANA

Sucesso de pedidos, os CDs "manufaturados" do "New Musical Express" e o Franz Ferdinand ao vivo na Holanda, oferecidos aqui semana passada, voltam a brilhar reluzentes como objetos de desejo. A coluna também oferece um exemplar original do DVD do Belle & Sebastian, o "Fans Only", coisa fina. Então vai nessa. Para concorrer a esses prêmios, mande emails para lucio@uol.com.br com aquela chorada tradicional, aquela implorada básica, aquele pedido apelativo ou apenas aquela cornetada normal na coluna, para depois solicitar o prêmio. Você já sabe como é.

* Para recordar, o CD especial da "NME", chamado "Rare and Unreleased", contém, entre outras coisas:
- Black Rebel Motorcycle Club fazendo cover ao vivo de "Hardest Button to Button", do White Stripes
- A ótima "Michael", do Franz Ferdinand, ao vivo
- Outkast e Coldplay e Strokes e Radiohead
- Rapture ao vivo, Kyle Minogue remixada pelos gênios Chemical Brothers
- Libertines em sessão de rádio
- The Thrills fazendo versão da arrasadora "Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me", dos Smiths.

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CHEGA

Está bom o tamanho da coluna ou ficou pequeno?
O delicioso clubinho paulistano Xingu reabriu suas portas. As lindas noites de sexta, vamos torcer, estão de volta. Hoje (por acaso sexta), no começo da madrugada, este colunista toca na Torre. Se você não tiver nada melhor para fazer (Xingu?), aparece lá.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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