Pensata

Lúcio Ribeiro

24/03/2004

Curitiba tenta show extra dos Pixies

"It's been a bad day,
but tonight my love...
it only gets worse"
The Belles, em "Never Said Anything"

"If it's not love
then it's the bomb,
the bomb, the bomb, the bomb, the bomb
that will bring us together"
Morrissey (Smiths), em "Ask"

"Do you like the bitch, bitch?"
Cansei de Ser Sexy, em "Meeting Paris Hilton"


Então...
O descontentamento é tamanho, deu para notar pelas mensagens que derrubaram minha caixa postal duas vezes nos últimos dias. A consternação popular está comovente, irada, fora de controle.
Nem a torcida do Corinthians esteve tão inconformada em tempos recentes.
Pelo barulho que foi a procura dos ingressos para o show único, exclusivo, único, exclusivo e único e exclusivo dos Pixies em Curitiba, a impressão é a de que dava para lotar o Maracanã para ver a reencarnação em solo brasileira de uma das principais bandas da música independente.
Daí que acabou. Acabaram. Os ingressos.
Muita gente chiou/chia, esperneou/esperneia, xingou/xinga o festival paranaense, o Curitiba Pop Festival.
Dois mil ingressos se esgotaram em menos de quatro horas, na semana passada.
Nesta segunda, quando os mil restantes saíram à venda para um público virtual e outro que até passou à noite (mais de 50, me disseram) diante de uma bilheteria em Curitiba, a cota de entradas da internet evaporou em 20 minutos.
As epopéias diante do computador e da fila em Curitiba foram contadas em narrativas emocionadas (e frustradas), em diversos e-mails. Hora a hora, como se fosse um episódio do seriado "24".
Recife, Brasília, Goiânia, Fortaleza, São Paulo, Rio e Curitiba compraram muitos ingressos, segundo a organização.
Já tem entrada para os Pixies sendo vendida a R$ 1.800 na internet (Mercado Livre).
Os porta-vozes do Curitiba Pop Festival disseram foi feito o possível para mais bem atender o público, mas, sim, em algumas vezes a coisa fugiu do controle.
Leitor jura que comprou ingresso no domingo, quando eles só iriam ser comercializados a partir das 11h da segunda. Na segunda, por volta das 9h da manhã, portanto duas horas antes do horário programado, o acesso já estava tão grande que fez "cair" o servidor do site do festival. Os operadores do site só conseguiram levá-lo de volta ao ar perto das 14h.
Na fila viva, os ingressos só chegaram ao meio-dia, por causa de um problema de impressão. E a confusão já estava grande.
E-mails com o assunto "CPF dos infernos", "CPF desrespeita o público", "Odeio Curitiba", "Buááááááá´" e "Peloamordedeus" crucificaram mais o festival do que o Mel Gibson maltratou Jesus em seu filme. Crucificaram em português, em castelhano e até em inglês.
"Tava achando muito azar os Pixies tocarem bem agora que estou longe dos EUA. Quando soube que iam tocar aqui no Brasil, perto de onde estou, nem acreditei. E nem acredito agora, que não consegui convite", enviou uma mensagem à coluna um leitor americano, que está fazendo um curso em Londrina.
Muitos amaldiçoam porque os Pixies não vão tocar em São Paulo, porque não conseguiram comprar os ingressos, porque só são 3 mil, porque não mudam de lugar.
Eu, figura isenta, ponderada, acima do bem e do mal e amigo de cães e gatos que sou, não condeno o CPF, mesmo.
Faltou uma organização/preparação mais profissional ao festival, na hora de mais bem atender e principalmente informar o público? Faltou. Foi esquisita essa venda "casada" para os ingressos dos dois dias? Foi.
Mas ingresso para show concorrido derruba servidor em qualquer lugar do mundo, seja pro show do Radiohead em Oxford ou do Oasis em Manchester. É uma correria insana e poucos compram e muitos não. Já fiquei cinco horas numa fila para ver o DJ Marky, em Londres, e fui embora sem chegar perto da porta.
O CPF é um festival independente, feito por uma moçada nova, na cidade deles, Curitiba. Se faltam produtores espertos, com visão e profissionais nas "grandes" praças, que só depois das negociações feitas quiseram entrar na jogada paranaense, a culpa não é do festival paranaense.
Três mil ingressos não é um número tão baixo para um festival indie com pretensões de orçamento pelo menos "empatado" como esse.
E, alem do quê...

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CPF TENTA SHOW EXTRA

A mesma lábia, o mesmo "caô" que o festival curitibano passou nos Pixies para trazer ao Brasil a banda do Frank Black nesta efervescência da volta à ativa, que por si só já é um milagre, estão sendo aplicados para convencer o grupo a fazer um show extra no domingo, também na Ópera de Arame.
A tarefa é hercúlea, a agenda é apertada, mas novidades podem pintar nos próximos dias.

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UM (1) INGRESSO PARA OS PIXIES

A leitora Caroline Sachs não só conseguiu comprar ingressos para ver a banda americana como sobrou um. Unzinho. E ela quer vender (o preço é com ela).
O contato é para ser feito através do e-mail carolsachs82@hotmail.com.
Boa sorte para você. E boa sorte para o computador da Caroline.

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UM EMAIL

"Escrevo esse imeiu totalmente desolado. Quando começaram os boatos sobre a vinda do pixies ao Brasil, meses atrás, eu resolvi q iria a Curitiba ver o cpf. Tenho um amigo lá e ele disse q poderia ficar na casa dele. Passei a guardar minha [pouca] grana, parei d sair nos fins d semana, d ir ao cinema, tudo pra economizar. e o único xou q fui esse ano foi o do los hermanos na semana passada. O q me impulsionou a viver nesses últimos tempos, era saber q em maio, veria o pixies e o teenage fanclub. Esse foi o sentido da minha vida por 3 meses. Quando li na sua coluna q tudo estava confirmado, q ñ era mais boato, veio a felicidade. Até q ontem eu li sobre a venda dos ingressos. 2 mil em 4 horas? Só mil ingressos pra segunda? A partir das 11? Eu ia falar com o meu colega d Curitiba pra comprar o ingresso pra mim lá, mas ele só sai do serviço às 4 da tarde, essa hora os ingressos já foram pro saco e ele mora lá a pouco tempo, nem dá pra pedir alguém pra comprar o ingresso pra ele. Pela internet eu ñ posso comprar, ñ tenho cartão, nem meu irmão e o dos meus pais estão bloqueados porq eles ñ pagaram. Uma das bandas mais importantes dos últimos tempos retorna depois d + 10 anos e eu vou ficar aqui, parado, com meus 200 reais numa mão e a outra, coçando o saco. Ñ posso nem olhar pros meus cds do pixies q já fico puto. Pensei em fazer algo, ir pra Curitiba sem o ingresso e ver se na hora algum segurança ñ deixa eu entrar se eu molhar sua mão e tal. Ou então fingir q sou da imprensa d algum lugar f***** e tentar uma credencial. Ainda tenho mais d 1 mês pra pensar, mas acho pouco provável q eu consiga ver o CPF."

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A PAIXÃO DE MORRISSEY

Você conhece o filme do Morrissey? Os filmes do Morrissey?? Os filmes sobre o Morrissey, melhor dizendo???
É tempo de falar do maior inglês vivo, o ser humano mais maravilhoso do mundo, como bem dizem e pensam muitos dos britânicos e muita gente que eu conheço (eu???).
Mas não falar sobre o disco novo dele, "You Are Quarry", que sai dia 17 de maio, já teve destaque aqui, mas atualmente tem mais informações desencontradas que o romance da jovem e casta Sandy com o diretorzão da Globo, casado e bem mais velho que ela.
O que pega sobre o ex-líder dos Smiths é que dois filmes especialíssimos foram lançados em DVD sobre o ídolo no finalzinho do ano passado: o longa "My Life with Morrissey" e o documentário em curta-metragem "Real Life with Morrissey".
Os dois estão no mesmo DVD. O longa tem uma carreira até intensa em festivais de cinema nos EUA e Canadá. O curta entra como "extra" do DVD.

Reprodução



* "My Life with Morrissey" - A menina da foto é Jackie, uma garota que trabalha no escritório de um estúdio de TV em Los Angeles. Maluca por Ele, é conhecida por conversar com pôsters, fotos e capas de disco do bardo do pop inglês. Pior, recolhe informações sobre onde o Morrissey foi visto na cidade e mapeia sua trajetória noturna. Depois, sai à caça do ídolo, do submundo de Los Angeles até as festas nos badalados casarões de LA. Além de nunca encontrar o figura, vai sofrendo humilhação atrás de humilhação durante sua procura insana. Os céus sabem o quanto ela se sentia miserável naquelas horas.
Até que, num belo dia, sem querer dá de cara com o ídolo, num desses estacionamentos gigantes e vazios. Jackie enlouquece. E passa a enlouquecer todo mundo. Ela tem certeza que Mozz não é gay e, melhor, está apaixonada por ela. E prepara-se para casar com ele.

Reprodução



Baixei boa parte de "My Life with Morrissey" da internet, mas trailer e fotos estão disponíveis no site oficial do filme, além de ser possível adquirir o DVD pela Amazon.com.
O filme é dirigido por Andrew Overtoom, diretor do badalado desenho Bob Esponja, da Nickelodeon.
"My Live with Morrissey" é o primeiro trabalho "real" de Overtoom, que teve a idéia de realizá-lo depois que uma amiga chamada Jackie encontrou o cantor em um restaurante e decidiu ir falar com ele. Ficou tão nervosa que perdeu a voz e ficou muda diante do ídolo. Para piorar, derrubou um copo de suco no Morrissey, que, simpático, resolveu conversar com a menina, para consolá-la da trapalhada.
A cena em que a Jackie do filme e o Morrissey do filme (interpretado por um cara chamado Jose Maldonado) no estacionamento é assim: ela fica sabendo que o cantor está comendo um cachorro-quente em uma barraquinha dessas e lendo poesias. Voa para lá, mas quando chega logo vê que Mozz já tinha ido embora. Olhou no lixo e viu metade do cachorro-quente na lata, o sanduíche que imagina ter sido de Morrissey. Resgata o que restou do cachorro-quente e inicia uma performance de idolatria com o dog, até que Morrissey volta e aparece na frente dela.
Sobre a foto lá em cima da garota sobre a fronha do Morrissey, preciso dizer que tenho dois amigos que têm uma. Fronhas do cantor dos Smiths foram vendidas nos shows do cara em Curitiba e São Paulo há exatos quatro anos. Já sobre o boneco da foto dois, curtiria ter um. Ficaria perto dos meus discos, junto com o do Liam Gallagher.
Já contei do meu "encontro" com Morrissey em Curitiba? Hora destas eu conto.

Reprodução



* "Real Life with Morrissey" - O curta documentário que é a parte bônus do DVD tenta mostrar o quão longe pode ir um fã de Morrissey, em sua adoração. Pessoas que tatuam o nome de Mozz, que fazem convenção dos Smiths, que conseguiram a façanha de ter um autógrafo dele ou uma foto junta com o ser, os que fazem concurso de sósias e filmes malucos como o do cara do Bob Esponja. Amiga minha leu um comentário engraçado sobre o filme que dizia assim:
"O que é mais marcante no documentário é que os fãs de Morrissey são aparentemente normais. Eles não se ajustam ao estereótipo do cara de óculos e jeitão 'literário' usando um cardigan, já que esses tipos mudaram para o Belle & Sebastian".

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REVIVAL BRIT

Um monte de fatos e acontecimentos são capazes de motivar um revival de uma música, de uma banda, de uma onda qualquer. Pode ser uma propaganda de TV, uma cover bem feita, um acontecimento histórico. Ou ele pode nascer do nada, também.
Por exemplo: eu estou com um negócio de ouvir britpop ultimamente. Não me pergunte por quê. Começou com um clipe do Pulp, que eu vi. No mesmo dia ouvi uma bem colocada canção do Oasis no rádio. Quando fui ver, já estava carregando minha caixa de singles do Blur para lá e para cá.
Blur, Oasis e Pulp. A tríade mágica que deixou o meio da década passada mais lindo, colorido.
Já, já passa.

* Nem é tããão revival, mas estou seriamente sendo perseguido pelos Strokes do primeiro disco. Nesta semana uma amiga descolou "Last Nite" como alarme do celular. No dia seguinte, numa manhã preguiçosa, o clipe ao vivo de "The Modern Age" me fez pular da cama. Tomei banho, peguei meu carro e ouço "The Modern Age" no rádio. Saio para uma entrevista e a entrevistada está ouvindo o "Is This It" inteiro.

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O ARTISTA CONHECIDO COMO PRINCE

Talvez menos maluco que na época em que tinha trocado seu nome por um símbolo, o grande Prince está de volta. Seja nas viagens funk hop do Outkast, seja na house dos infernos do ótimo Basement Jaxx. Ou seja de corpo e alma, mesmo
Prince acaba de anunciar dois megashows para Nova York, em julho.
Mas avisa que serão seus últimos dois shows.

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QUAL É, GROHL? QUAL É?

No último domingo, a coluna de pop do megajornal "The New York Times" teve um convidado especial. E não-jornalista. O cara mais gente-fina do rock, o foo-fighter Dave Grohl, assumiu a "Playlist" e escreveu notinhas espertas sobre a volta dos Pixies, Paris Hilton, Yeah Yeah Yeahs!, Darkness, Britney Spears. Parecia uma coluna que eu conheço. Bão, acho que a Zap'n'Roll devia processar o ex-Nirvana. Anyway.

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JESUS!!!

* Vou passer como eu recebi. O guitarrista Dado Villa-Lobos, ex-Legião Urbana, estreará como artista solo e cantor, num formato musical que "varia do básico violão, percussão e voz ao esporro semi-eletrônico tipo Jesus and Mary Chain".

* Ainda Jesus. Amiga minha definiu bem o filme do Mel Gibson: "Massacre da Serra Elétrica na Galiléia". E parece que o personagem principal de "Paixão de Cristo" não é o Cristo, e sim os objetos: a cruz, os pregos, a coroa de espinhos.

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DEZ MÚSICAS PARA AGORA, AGORA

Essas ficam adiadas (novamente) para a semana que vem. A lista das músicas novas mais bacana do momento é sensacional, ótima, linda, mas ainda não rolou de eu fazê-la. Mas na semana que vem estará aqui. Já menti alguma vez?

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PROMOÇÃO DA SEMANA

Não tinha como não ser. A coluna oferece dois presentes cuja urgência grita no nosso ouvido. Dois discos que servirão como aquecimento de dois megaeventos pop que estão vindo aí. São eles:

* Um "preparado" do Morrissey novo, com sete músicas que devem estar no "You Are the Quary", que chega às lojas em maio. Tem "Irish Blood, English Heart", "I'm Not Sorry", "The First of the Gang to Die", "I Like You", "You Know I Couldn't Last", "The World Is Full of Crashing Bores" e "Mexico, tiradas das últimas turnês do Morrissey.

* Um album ao vivo dos Pixies, nos estúdios da BBC, lançado em 2000 e ainda no plástico. É o "Pixies at the BBC", que tem "Manta Ray", "Wave of Mutilation", "Hey" e "Monkey Gone to Heaven", além de uma cover dos Beatles.

Quem quiser concorrer, "do the job". E-mails para lucio@uol.com.br

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BALADAS

O Bop estréia nesta quinta a noite quinzenal "Pista de Prata", articulada pela amiga Maria Prata e que terá residência do ótimo DJ KL Jay, dos Racionais.// Sexta, um insólito show baixa na Funhouse. Um coral "polifônico" e indie de 15 integrantes vestem bata branca e fazem da noite Revolution uma congregação pop. // No Atari Club, ainda na sexta, as Hats tocam assim que o Paulão do Garagem acabar sua discotecagem.// A nervosa banda de surf music Gasolines toca no sábado, na Funhouse.

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RESULTADO DAS PROMOÇÕES PASSADAS

Ainda nesta quinta, a lista da alegria: a atual e a atrasada. Por hora é só. Esta coluna é dedicada à revista "The Face", publicação "cutting edge" de cultura pop, que fechou nesta semana. A "Face" foi tão inovadora e moderna nos anos 80 e boa parte dos 90 que criou um monte de clones. Ficou sem razão de existir.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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