Pensata

Lúcio Ribeiro

01/04/2004

Um mouse, dez músicas

"Change your heart, look around you
Change your heart, it will astound you
I need your loving like the sunshine
And everybody's gotta learn sometime"
Beck, usando "Everybody's Gotta Learn Sometime"

"If you want to destroy my sweater
Hold this thread as I walk away"
Weezer, em "Undone - The Sweater Song"

"Her ass is a spaceship
I want to ride"
N.E.R.D., em "She Wants to Move"

"Sounds good
Looks good
Fells good too"
Fischerspooner, em "Emerge"


E aí?
Tranquilo?
A coluna está grande. Vai mesmo encarar? Pensa aí...
(...)
(...)
(...)
Já que você vai continuar: plug it in, baby.

* Numa amostragem a olho dos e-mails que chegaram à coluna nestes últimos sete dias, arrisco dizer que uns 20% foram para pedir prêmios, falar do Morrissey, querer mais Nirvana, dizer que está na hora de eu mudar a fotinho, escrever mais ("a coluna diminuiu com o tempo, né?"), escrever menos ("leio sua coluna em capítulos, porque não dá"), não escrever ("essa sua coluna besta já encheu").
Os outros esmagadores 80% ainda são por conta da alegria incontida e do ódio mortal provocados pela novela Pixies-ingressos-show exclusivo-Curitiba. O troço não pára. Tem até site na linha "eu odeio" para o Curitiba Pop Festival (Nukewhales).
Eu começo a acreditar que esse furacão maluco que varreu o Sul deste país tropical abençoado, no final de semana, tem a ver com a bronca dos que se sentiram de alguma forma lesados na rara tentativa de ver os Pixies. Coisa tão inimaginável tempos atrás. Tão perto, tão longe.

* O CPF está animado com a possibilidade de um show extra para o domingo, dia 9. A banda até acenou com a possibilidade, mas não responde nem que sim, nem que não desde a última sexta-feira, data do último contato. Uma outra notícia que pode estourar a qualquer momento é a transferência do show para a enorme Pedreira Paulo Leminski, que seria armada para uma capacidade de 8 mil pessoas. Uma das duas coisas, o extra ou a transferência, deve rolar.

* Para entender melhor o furacão Pixies que devastou Curitiba, os ingressos para o show de Eugene, no Oregon, EUA, ainda nem tinha sido divulgado nas rádios ou jornais do lugar e uma fila gigante já se formava na frente do McDonald Theater, o único clube local. Pelo menos 14 apresentações em lugares fora do circuitão de shows americano vão aquecer os Pixies para o grande concerto no Coachella Festival, o megafestival da Califórnia, que acontece daqui a um mês. O grande retorno dos Pixies está marcado para o próximo dia 13, em Minneapolis.

* A leitora Carolina Sachs, que botou à venda seu ingresso dos Pixies na coluna, recebeu 92 emails e 15 pedidos por msn. Em um grande leilão, negociou a entrada por R$ 550.

* Vai, vamos logo para a coluna. Tudo o que você precisa ouvir já está listado abaixo. Muito Morrissey. Parabéns para o Weezer. Mais Cobain. Bitchney Spears. Skol Beats deluxe. Entrevista com o Basement Jaxx. Strokes fazendo Clash. Radiohead vs. Coldplay. The "OC".
Sobe aí que eu te levo.

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AS DEZ MELHORES MÚSICAS

Nunca o Soulseek ou o Kazaa foram tão queridos. Pode ser alguma conjuntura astrológica, mas faz tempo que eu não ouvia tanta música nova boa, de vários gêneros e de grupos conhecidos ou não.
Quando pensei em fazer essa lista pessoal e irrestrita, há duas semanas, tinha mesmo umas dez músicas bacanas tocando em rádios inglesas e americanas descoladas (para mim). Agora já são umas 20. Mas vamos seguir a idéia original do Top 10. E guardar o resto para as próximas colunas. Plug it in.

* "Fit But You Know It" - The Streets
A nova música do geniozinho Mike Skinner, ponta-de-lança da vanguarda inglesa que mistura hip hop, eletrônico e até rock. A canção lembra "Parklife", do Blur, pela verborragia. A batida é ótima. Estreou na semana passada nas rádios inglesas. Cate já.

* "She Wants to Move" - N.E.R.D.
Nada é mais delicioso e sexy hoje, para as pistas, que esta música. O N.E.R.D. é a parte rocker dos caras do Neptunes. Ou o Neptunes é a versão rapper do N.E.R.D. Você escolhe. Acontece que o N.E.R.D. acabou de lançar lá fora o CD "Fly or Die", que já salta forte na corrida do disco do ano. "She Wants to Move" tem, pelo menos as que eu pude contar, umas cinco versões, o que atesta que muita gente quer botar a mão no hit. Para dar uma idéia, o f***** Basement Jaxx fez um remix matador e ácido de "She Wants to Move". A letra baba forte sobre uma garota, a "she", do título.
Lá pelas tantas vem a parte: "Her ass is a spaceship I want to ride".
Com essa música você nem precisa das oito aí embaixo.

* "Chocolate" - Snowpatrol
Novo single do belo CD "Final Straw", da banda escocesa Snowpatrol. Tem pelo menos três hits nesse terceiro disco do grupo. Esse, "Chocolate", é um deles. Clima dark em levada britpop. "Chocolate" é a grande pedida nesta Páscoa pop. A piada é fraca, mas a frase acaba verdadeira.

* "The Hunger" - Distillers
Courtney Love deve estar se mordendo por não ter conseguido botar em seu disco solo uma música igual essa "The Hunger". Brody Dalle é o bicho. E esse single novo do ótimo "Coral Fang", que a Warner nem sonha em lançar por aqui, é a mais sincera homenagem a "Smells Like Teen Spirit" dos últimos tempos. Tem a parte calminha e tem a barulheira de espantar habitantes de Bagdá. O refrão-berro que Dalle se esguela falando "Don't Goooooooooo" é de fazer qualquer um jamais ir embora.

* "Never Said Anything" - Belles
Tem o Belle & Sebastian e tem o Belles. Banda americana do Kansas, que emplaca agora essa baladaça matadora nas rádios inglesas que está em um disco de 2002. Som meio campestre tipo Wilco com vocal brega de canções românticas dos anos 70, daquelas que minha irmã ouvia e eu odiava. E que hoje eu gosto bastante.

* "Bittersweet Bundle of Misery" - Graham Coxon
A grande volta por cima do adorado guitarrista que o Blur perdeu. É o segundo single do disco "Happiness in Magazines", single e disco a serem lançados em maio. O primeiro, a esperta "Freakin' Out", ganha uma desacelerada folk para virar esta "Bittersweet". Uma delícia.

* "Milkshake" - Kelis
A música não é novidade para ninguém. Mas as diversas formas que ela ganhou são quase todas de matar. Kelis é a rapper nova-iorquina cujo milkshake atrai todos os garotos. A versão de "Milkshake" do X-Press 2 (que vem aí para o Skol Beats), se colocada numa pista junto com "She Wants to Move", do N.E.R.D., é contra-indicada para quem tem problemas na coluna.

* "Week In, Week Out" - The Ordinary Boys
Celebradíssima nova banda inglesa que está para lançar seu álbum de estréia, puxados por dois singles poderosos. "Week in Week Out", som pop britânico até não poder mais, gruda como chiclete.

* "Meeting Paris Hilton" - Cansei de Ser Sexy
O explosivo combo de garotas de SP tem o diferencial indie, por onde quer que você olhe. É luxuoso, festeiro, o som melhora a cada dia, tem atitude, tem a Lovefoxxx no vocal, o Adriano Butcher na bateria, mescla guitarra barulhento com teclado vagabundo, escolhe os temas da música tão bem quanto o Los Pirata. Estou aqui só vendo onde essa banda vai parar. "Meeting Paris Hilton", a música sobre nossa deusa patricinha, é megahit do site da Trama Virtual.

* "The Rat" - Walkmen
O desespero pop da banda nova-iorquina Walkmen (formada em Washington) saiu meio ralo no novo álbum do grupo, "Bows & Arrows", lançado em fevereiro. Mas "The Rat" é dilacerante e carrega o frescor indie da época em que a cena de NY borbulhava, há uns dois, três anos.

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FORA DA ORDEM

Strokes cantando Clash, Radiohead vs. Coldplay e Beck com pique de romântico de Las Vegas. Aproveita que você está catando as músicas lá de cima na internet e baixa essas delícias também.

* "Clampdown": Isso é Strokes fazendo cover do lendário Clash, durante shows deste ano e do final do ano passado. Está mais punk do que o original. Rola muito MP3 de apresentações na França, facinhos de achar.

* Radiohead encontra Coldplay: E na mesma música. Bootleg caprichadíssimo de "High & Dry", do grupo de Thom Yorke, sobreposto a "The Scientist". Maravilhosa.

* Beck: Dentre as bandas velhas esquisitas que acertaram em fazer uma ou duas músicas lindas na carreira, está o Korgis, grupo inglês de power pop do final dos 70, começo de 90. O esplendoroso hit "Everybody's Gotta Learn Sometime" ganhou honestíssima cover do Beck, que fez a música para o filme "Eternal Sunshine of the Spotless Mind", o novo do palhação Jim Carrey que estreou semana passada nos EUA. Revisitação obrigatória.

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A PAIXÃO DE MORRISSEY

* Estreou nesta semana nas rádios KROQ (Los Angeles) e Radio 1 (Londres) a música "Irish Blood, English Heart", a primeira oficial a sair à luz nesta volta do ex-cantor dos Smiths, um dos seres mais maravilhosos do mundo, segundo o consenso pop. A voz do Morrissey, pelo menos com o tratamento de estúdio, está belíssima e única como sempre. Apaixonada, a música tem uma guitarrinha Placebo deliciosa. Lógico, já voou na internet. Dá para achar nas duas versões: a do DJ americano anunciando a canção na famosa Kroq ou o DJ britânico Steve Lamacq apresentando a música na
Radio 1. É um testemunho bem particular: a música é de arrepiar.

* "Irish Blood, English Heart" sai como single no dia 10 de maio, uma semana antes da chegada nas lojas do álbum "You Are the Quarry".

* Se o Morrissey é especial, fãs do Morrissey são também. Ganham até filme, como você viu aqui na semana passada. Compram fronha de travesseiro com letra de música estampada. E fazem coisas como fez o amigo Rick Levy, o hostess mais badalado da cena roqueira paulistana. Conta o Rick que...
"...Em 1998, quando calhou de eu estar em Manchester no exato dia do aniversário do Morrissey, eu e uma amiga demos uma de detetives e descobrimos onde era a casa em que ele morava. Aí ficamos lá na porta, por mais de meia hora, cantando 'Parabéns pra Você' p/ ele... MAIS DE MEIA HORA sem parar... E nada: ninguém aparecia. Até que um policial passou e disse que ele não morava mais ali... Havia mais de 10 anos, ele havia se mudado para Los Angeles. Hahahahahaha."

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W, DE WEEZER

E 1994, de Oasis a Soundgarden, de Beck a Green Day, foi um ano de excelentes lançamentos em CD, muitos aproveitando a porta aberta no mainstream pelo advento Nirvana.
Dos ótimos CDs daquele ano está o álbum azul do Weezer, o famoso.
Em viagem aos EUA em 1994, em busca do tetra, eu lembro bem que chapava quando ouvia "Undone - The Sweater Song" na rádio do carro alugado. Mas não conseguia entender o nome da banda.
Com a ajuda de uma amiga americana, ela matou a charada quando ouviu o DJ de uma rádio de San Francisco anunciar a música.
"É Wizard. Mas mesmo assim o jeito de ele falar está esquisito."
De posse do nome da banda escrita num bloco de anotações, fui atrás do "Wizard" na famosa Amoeba Records. Se lá não tivesse o disco, nenhuma loja no mundo não o teria.
Claro, não encontrei. Minha amiga, frustradíssima não desistiu e tempos depois veio com o álbum azul na mão. Era Weezer.
Perguntei como ela descobriu.
"Olha aquele cartaz ali na parede. O tal de Weezer tocou aqui nesta loja. Ontem".

Reprodução



* O álbum azul ganhou uma versão comemorativa, a "Blue Album Deluxe Edition", lançado na semana passada nos EUA. O especial fica por conta de um segundo CD, além do disco original. É uma coletânea de 14 músicas que apareceram nos lados B dos singles do álbum azul. Inclui inéditas, versões demo, acústica e/ou ao vivo de hits como "Undone", "No One Else", a especialíssima "Jamie" etc.

* PROMOÇÃO AZUL - Uma boa e uma má notícia. A má: o disco comemorativo, não me pergunte por quê, não vai sair no Brasil. Mas a coluna vai fazer duas cópias especiais para sorteio aqui, somente do CD 2, via lucio@uol.com.br. Seja meu convidado a participar.

* DVD - Se o álbum azul não vai ter sua versão luxo brasileira, pelo menos vai ser lançado no país, pela Universal, o DVD "Video Capture Device 1991-2002", um filme de três horas que traz a história do Weezer em seus videoclipes, em performances ao vivo, entrevistas e bastidores. Já saiu lá fora. Aqui chega em duas semanas.

* A cena indie brasileira seria totalmente outra se não existisse o Weezer. Isso todo mundo sabe. E até o próprio Weezer parece saber. No site oficial da banda, quando noticiaram a chegada do DVD no mercado americano, eles anunciaram a lista de outros países que já tinham a confirmação de lançamento. Listaram assim: "Brazil, Mexico, UK, France, Germany, Spain..."

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W, DE WILCO

Reprodução



Seco como um dry martini, o novo disco da adorável banda americana de americana Wilco já está na internet. Chama "A Ghost Is Born" e tem lançamento físico ("lançamento físico" devia ser a nomenclatura oficial destes tempos modernos) é 8 de junho.
Country-rock para fãs de alta cultura, esse novo CD da banda do "deus" Jeff Tweedy não desce fácil nas primeiras ouvidas. Entre suas 12 faixas de guitarras sofridas das encruzilhadas americanas, estão "Spiders - Kidsmoke", de 11 minutos, e a ópera-country "Less than You Think", de 15.
Alto teor de romantismo adulto. Uma espécie de emo maduro, talvez?

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BRITNEY, O QUE É ISSO?

A fase luxúria pela qual atravessa a dondoca Britney Spears, vamos falar, é tudo o que a gente deseja para a "nossa" Sandy.
Eu escrevi isso acima ou apenas pensei?!
Enfim, no domingo passado, em um show de Miami, a cantora americana simulou uma cena de transa com um bailarino que trajava apenas uma cueca. E botas. O cenário era uma cama, no palco. Foi na música "Breathe on Me". Que foi seguida por "Touch of My Hand", em que ela fala de masturbação.
Britney, e o clube do Mickey?

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E O MASSIVE ATTACK, HEIN?

No final de maio, você já leu aqui, o cultuado Massive Attack vem para estes lados para tocar... na Argentina. É destaque de um festival chamado Bue, junto com o Human League reanimado.
Acontece que o Massive Attack acaba de acertar uma data em Santiago, no Chile.
E?!?

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FESTIVAIS

Sem contar o Coachella Festival, megamegamegaevento pop que acontece daqui a quatro semanas na Califórnia, começam a tomar forma as escalações dos festivais de verão da Europa.
V2004 - Strokes, Muse e Pixies estrelam o festival inglês em 21 e 22 de agosto
Reading 2004 - Uma noite tem White Stripes, Morrissey, Libertines e Franz Ferdinand. Noutra, Darkness lidera palco que terá Ash e Hives. Na terceira, Green Day, 50 Cent e Streets comandam.
Glastonbury 2004 - Paul McCartney é a única grande atração confirmada para o gigante festival de junho. Mas devem constar da lista Strokes, Oasis, Basement Jaxx, Pixies, entre pencas de outros.

* Enquanto isso, no Rock in Rio que não será no Rio... O festival português, ou lusobrasileiro que ocorrerá no final de maio, não ocorrerá com o Guns N' Roses, uma das atrações principais. A banda cancelou disco novo e shows, de novo. Mas a Ivete Sangalo e o Xutos e Pontapé continuam confirmados.

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FESTIVAL - SKOL BEATS

Antes do Coachella e antes do Curitiba Pop Festival, o maior festival de música eletrônica do país realiza sua quinta edição, no próximo dia 24. Estão sendo esperadas 50 mil pessoas. E de Darren Emerson (ex-Underworld) a Fischerspooner, o Skol Beats tem atrações imperdíveis das 18h até às 7h da manhã do dia seguinte.
Uma das maiores badalações do evento é a dupla Basement Jaxx, que lançou recentemente o ótimo "Kish Kash" e é considerada iluminadora dos novos caminhos da música eletrônica.

* Em entrevista a este colunista, publicada dias destes no caderno Ilustrada, da Folha, O DJ Simon Ratcliffe, dos Jaxx, falou sobre o show no Brasil, sobre a tendência que mistura tudo e sobre a música eletrônica em geral. O material da Folha saiu como está abaixo.

* Se a música eletrônica padece no purgatório das idéias, não culpe a dupla inglesa Basement Jaxx. Apontados como o grande farol hoje da dance music, para onde quer que a dance music esteja indo, os Jaxx ganham destaque por promover um pandemônio na cena musical ao explorar as possibilidades infinitas da eletrônica.
A importância do que sai dos pick-ups do duo Simon Ratcliffe e Felix Burton para a música jovem hoje pode ser medida por fatos e palavras.
A dupla é a atração principal do Skol Beats, abastado festival eletrônico que acontece no dia 24 de abril em São Paulo. Encerrou na semana passada uma badalada turnê inglesa com duas noites no Brixton Academy, clube-teatro de Londres. Tocou no Big Day Out, o maior festival australiano, e foi o primeiro nome anunciado para o próximo Glastonbury, megaevento musical do verão britânico. E, de São Paulo, no final de abril, cai direto no Coachella 2004, o maior festival americano desde o Lollapalooza.
Em conversa com a Folha, quando esteve recentemente no Brasil, o DJ superstar Norman Cook (Fatboy Slim) disse que a música eletrônica está parada, esperando alguma coisa acontecer. "E, se é que algo vai acontecer logo", continuou Cook, "desconfio que isso vai ter alguma coisa a ver com o Basement Jaxx. A cena precisa pôr os olhos neles".
O Basement Jaxx lançou seu terceiro disco, "Kish Kash", no final do ano passado. A ovação crítica ao CD e a presença obrigatória nos principais eventos de música do planeta não garantiram ao sucessor do explosivo "Rooty" (2001) um resultado bom nas vendagens. Lançado em outubro na Inglaterra, o disco atravessou o Natal sem vender nem 70 mil cópias. Número irrisório para uma dupla com o portfólio de hits para pistas que carrega o Basement Jaxx.
"É o preço que pagamos por experimentar tanto", afirmou, em entrevista por telefone, de Londres, o DJ Simon Ratcliffe, a metade menos convencional dos Jaxx (ele é um DJ que toca guitarra nos shows!). No entanto, Ratcliffe lembra que houve um certo gás nas vendas recentemente, depois de a dupla vencer o Brit Awards (o Grammy inglês) deste ano como "Best British Dance Act".
Se experimentar e explorar as tais possibilidades infinitas da música eletrônica são sinais de vanguarda, o Basement Jaxx puxa o lema do "misturar é o que importa", cartilha moderna seguida ainda pelos (atenção para as nomenclaturas) rappers-eletrônicos The Streets e Dizzee Rascal e pela dupla electropunk Audio Bullys.
Na era dos superstars DJs, em 1999, quando Fatboy Slim (lembra "Rockafeller Skank"?) e Chemical Brothers (lembra "Hey Boy Hey Girl"?) eram os reis das pistas, o Basement Jaxx fazia sua estréia com o álbum "Remedy". A área de atuação da dupla era a house, atualização envenenada da disco music deste século, mas o coquetel era o diferencial. Tinha uma mistura ácida de hip hop, funk, punk, garage, reggae e barulhos orientais.
Foi assim com o segundo disco, "Rooty" (2001), que despejou nos clubes um caminhão de hits como "Where's Your Head at", "Romeo", "Get me Off".
E é assim com este último, "Kish Kash", que inclui soul, tem vocal convidado de uma boy-band (JC Chasez, do N'Sync) e desencava das trevas punk a veterana Siouxsie Sioux. Nessa, a house já está totalmente rasgada, dizimada.
"Nossa idéia é puxarmos a house até seu limite, ver o quanto ela agüenta. Somos experimentalistas, sim. Nosso laboratório é o computador. O som que fazemos já pode ser catalogado com um novo nome. Estão todos confusos, até nós mesmos. Chamam a gente de punk garage. Sou um DJ punk, imagine", acha graça Ratcliffe, mas que nos shows do Basement Jaxx divide sua performance nos pick-ups e na guitarra. É o próprio DJ punk, imagine.

* Folha - Da Austrália aos EUA, o Basement Jaxx percorrerá neste ano os principais festivais de música. A tour inclui um show em São Paulo, que é uma rota desconhecida da dupla. O que você espera dessa apresentação?
Simon Ratcliffe
- Pelo que eu ouvi falar, dá para esperar um público bem enérgico, pulando e gritando, causando o caos, se divertindo, em frenesi, louco, bebendo demais. Ouvi dizer que a galera daí bebe muito, mas não se droga.
Folha - Quem falou?
Ratcliffe
- Não sei. Não me lembro agora. Mas alguém que já tocou aí. Mas, na verdade, nunca estive no Brasil e não tenho idéia do que vou encontrar. Confesso que isso me assusta um pouco.
Folha - O que vai estar na lista de músicas do show?
Ratcliffe
- Vamos tocar tudo. Uma espécie de "o melhor do que já fizemos". Vai ser uma apresentação centrada no "Kish Kash", óbvio, porque é nosso mais recente disco. Mas, como é a primeira vez que tocaremos no Brasil, vai ter as mais conhecidas. Tocaremos umas desconhecidas também, porque está na hora de experimentarmos canções novas.
Folha - Como você situa o Basement Jaxx nessa crise da eletrônica, na implosão dos superclubes e na volta aos clubes pequenos?
Ratcliffe
- A música eletrônica continua a mesma, mas a cultura dos clubes fugiu do controle. Os clubes foram ficando maiores e maiores. Tudo ficou inflado, megalômano. As pessoas precisavam gastar muito dinheiro em um clube gigante, para se divertir em uma noite. O cachê dos DJs virou um absurdo. E o custo de produção de discos dos superDJs se tornou altíssimo. Uma hora ia estourar, é natural. Foi inevitável, mas se surge uma crise de um lado, aparece uma luz de outro. Aparece gente que grava o disco na sala da casa, coisas simples e altamente sofisticadas ao mesmo tempo.
Folha - Você entende que um caminho para a cena eletrônica é a mistura de estilos?
Ratcliffe
- A base que sempre moveu o Basement Jaxx é a house music. E tanto a house em particular quanto a eletrônica em geral se tornaram uma fórmula. É muito fácil hoje em dia fazer música eletrônica e agradar as pessoas. É só escolher uma boa batida, arrumar um som seqüencial repetitivo e tocá-la alto numa pista. Esse tipo de música não interessa ao Basement Jaxx. Se house é o que nós tocamos, queremos espichar essa house para ver até onde ela agüenta. Queremos misturá-la a outros estilos de que gostamos. Corremos o risco de o resultado não ser bom. Mas o desafio é encontrar a mistura perfeita.
Folha - Descreva uma apresentação ao vivo do Basement Jaxx. O que vamos ver aqui no Brasil?
Ratcliffe
- É barulhenta, cheia de cor, várias performances, grande visual, é enérgica, divertida, dez pessoas no palco, tem guitarras, bateria, teclados e, claro, DJs.

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PROMOÇÃO SKOL BEATS

Em promoção boa de lascar, esta coluna vai sortear até o dia 24 vários pares de ingressos para o electromegafestival, começando com um par nesta coluna.
Para concorrer, mande brasa no lucio@uol.com.br. Você sabe quanto está custando um par de ingresso desses?

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RESULTADO DAS PROMOÇÕES

Tardo, falho, mas não falho. Aí vai a relação de premiados de três semanas. Pelo menos o embaço deu tempo de eu botar a casa em ordem (mais ou menos).


* Um "preparado" do Morrissey novo, com sete músicas que devem estar no "You Are the Quary
Roberto Julius de Sá
Rio de Janeiro, RJ

* Um album "Pixies at the BBC"
Marta Yorke
Santo André, SP

* CD incrível "O Melhor de Carlinhos Brown"
Ninguém (não houve pedidos)

* CD "The Last American Show", show de 94 do Nirvana em Seattle
Eli Torvellini
São Paulo, SP

* "D-D-Don't Don't Stop the Beat", álbum do Junior Senior
Julia Silva
São Paulo, SP

* CD especial com raridadas do "New Musical Express"
Lino V. Ribeiro
São Paulo, SP

* Franz Ferdinand ao vivo na Holanda
Paulo DKA
Recife, PE

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RECADINHO RÁPIDO

Xi. Cobain e "OC" e surpresa ficaram para a semana que vem. Não rolou. Mas sem crise, porque semana que vem é daqui a pouco. Não é mesmo? Tem Gasolines nesta sexta no Atari, Luca & Liana levam electro sexypop pra Disco, Borderlinerz no sábado na Outs. Divirta-se. E o badalado colunista Humberto Finatti (ele) toca segunda no D-Edge, em parceria com o João Gordo. Não dá para perder.

Buum!
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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