Pensata

Lúcio Ribeiro

29/04/2004

É tudo verdade

"Your mother's got a penis
your mother's got a penis
your mother's got a. penis"
Goldie Lookin' Chain, em "Your Mother's Got a Penis"

"What the fuck do I care
I've got a girlfriend, anyway "
The Streets, em "Fit But But You Know It"

"Hey Mister DJ
Put a record on
I wanna dance with my baby
Do you like to boogie-woogie
Do you like my acid rock"
Madonna, em "Hey Mr. DJ"


"Oi!", como diria Mike Skinner, o carinha dos Streets.
* A ressaca do Skol Beats ainda é sentida. Assim como o zumbido fino e irritante na orelha. Mas este último não é pelas cerca de 17 horas de alto e bom som. Muito pelo contrário. Não dava para um festival desse porte vacilar no básico. Mas ainda sim foi bem bom. E deixou uma mensagem de futuro que ficou muito na cara. Vê se você concorda comigo, lá embaixo.
* Só para avisar, na sexta-feira da semana passada, os Pixies tocaram "Dancing the Manta Ray", seguida de "Manta Ray". Isso é muito sério.
* E o Fischerspooner indo na Loca no domingo, hein? O show deles no Skol Beats foi fraquinho, mas essa eu queria ter visto. Eles podiam ter feito performances lá, e não no festival. Seria mais apropriado.
* Esta coluna pede desculpas pelo mal jeito e tal, mas não vai poder se alongar muito, imprimir aquele ritmo incrível, produzir aquela talagada de texto tradicional. Vai ter que ser meio rapidinha.
* Os motivos são vários. O mais latente dele é que este colunista se manda para Índio, na Califórnia, para o Coachella Festival, festival gigante que acontece no deserto, a algumas horas de Los Angeles. Muito sobre o Coachella, o primeiro festival gigante do ano no circuito EUA-Europa, você vai ler lá embaixo. E a cobertura completa, na coluna da semana que vem.
* Para os que foram solidários de alguma forma com a história da invasão das taturanas pretas (coluna da semana passada), a notícia é que a coisa parece estar sob controle. Um carro de uma cor clara virou negro depois de ser totalmente coberto pelos bichos, mas alguma chuva e o tempo mais frio, acredito, afugentaram as asquerosas.

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SKOL BEATS VAI VIRAR O FREE JAZZ

Mais do que dizer novidades como o eletroclash acabou por causa do show "Las Vegas" do Fischerspooner, que o truqueiro Benni Benassi foi truqueiro e que o Basement Jaxx arrasou com seu caldeirão de misturas, é legal ver que a edição 2004 do Skol Beats, o maior evento de música eletrônica fora da Inglaterra, foi a última do festival tal qual o conhecíamos.
Esta coluna aposta que no próximo ano, mais tardar em 2006, o Skol Beats vai escalar nomes do rock e do hip hop.
Esgotamento da eletrônica, fortalecimento do rock ou a entrada de vez na era das misturas?
O fato é que nem foi pelas camisetas do Nirvana, Stones ou do Motorhead (!) que circularam entre o público. Mas o "Beats" do nome do festival neste ano esteve impregnado de elementos muito além da música eletrônica, a ideologia motora do festival da Skol.
Quando a principal atração do evento, a dupla inglesa Basement Jaxx,.tocou um de seus maiores sucessos, o festival podia bem ser de rock. "Romeo" foi mixado com a linha de baixo de "Magnificent Seven", do lendário grupo punk The Clash. E o que se viu foi o DJ Simon Ratcliffe em frente no palco simulando um guitar hero. Ele toca guitarra em parte da apresentação do Jaxx.
Se o Basement Jaxx é punk rock, ele também é hip hop. Uma das vocalistas negras que acompanha a dupla segurou uma troca de configuração no palco com a boca, entoando "Milkshake", sucesso libidinoso da rapper Kelis.
Antes dos ingleses, o italiano Benni Benassi já tinha passeado por outras tendências, novas ou velhas. O DJ embolou seu megahit, a grudenta "Satisfaction", ora com "Toxic", de Britney Spears, ora com a "outra" "Satisfaction", a dos Rolling Stones. Sucesso. Benassi ainda usou sua electro-house com voz de computador Macintosh como veículo para a novíssima "She Wants to Move", do N*E*R*D*, a versão rock do Neptunes. E fez do Anhembi uma arena moderna.
Dentro das tendas, o grupo de hip hop americano Black Eyed Peas esteve presente nas picapes do bombado DJ Derrick Carter, de Chicago. Já o italiano Mario Picotto deu uma velocidade impressionante para "Clocks", megasucesso do Coldplay. Engraçado ver que algo que saia do desajeitado (para dançar) Chris Martin embale uma arena techno.
Mas a intrusão mais latente sofrida pela música eletrônica saiu das mãos do festejado DJ britânico Darren Emerson, ex-Underworld.
Emerson serviu-se da onipresente "Seven Nation Army", do grupo de rock White Stripes, em uma ótima versão de 12 minutos que num primeiro momento respeitava a pulsante linha de baixo reconhecidíssima da música. Mas na hora do refrão aplicava uma house barulhenta e ácida capaz de fazer Jack e Meg White virarem clubbers de apito em uma mão e garrafinha de água na outra.
"Seven Nation Army", que também foi citada na apresentação do Basement Jaxx, já faz mais de ano é a música de rock mais utilizada por DJ no mundo todo.
Já estou curioso para ver a escalação do Skol Beats 2005.

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A PIOR MÚSICA BRASILEIRA DO MUNDO

Vamos logo ao resultado da enquete formulada aqui na semana passada, na carona da revista americana "Blender", que listou as mais execráveis música da história.
Só para lembrar, a "Blender", refletindo o pensamento de seus críticos, elegeu no topo dos 50 lixos musicais uma do metal viajante Starship. Mas colocou entre os dez coisas como "Ice Ice Baby", de Vanilla Ice, "Don't Worry, Be Happy", de Bobby McFerrin e "American Life", da Madonna, tadinha. Para baixo do Top 10 tem canções de gente famosos como Doors, Mick Jagger solo, Oingo Boingo, Primus, o horrível Jamiroquai.
O legal é a chamada para a pesquisa da "Blender", mais ou menos assim: "Solos longos de bateria. Álbuns conceituais de rock progressivo. Kenny G. Suportamos tudo isso, e coisa muito pior, para construir a lista "Blender" dos 50 menos talentosos artistas de todos os tempos. Só que, por favor, não peça para fazermos isso de novo. Nunca mais."
Como julguei que a importante pesquisa da "Blender" é falha, por não contar com músicas brasileiras de amargar, resolvi abraçar a causa e divulgar a nossa lista. Contando com uma boa vontade impressionante dos leitores deste espaço, que participaram efusivamente da convocatória, listo a seguinte relação das piores canções da história brasileira recente.
Antes, atenção: foram eliminadas babas assumidas, músicas de negócios assumidamente chumbrega como Br'oz, Carla Peres, Ovelha e Arnaldo Antunes. Só foram computados os votos de coisas, hã, "sérias". Vai:

1º "Fácil", Jota Quest - 51 votos
2º "Tieta", Caetano Veloso - 48
3º "A Namorada", Carlinhos Brown - 40
4º "Amor I Love You", Marisa Monte - 38
5º "O Papa É Pop", Engenheiros do Hawaii - 35
6º "Pelados em Santos", Titãs (regravação) - 29
7º "Já Sei Namorar", Tribalistas - 27
8º "Oxigênio", Jota Quest - 23
9º "É Preciso Saber Viver", Titãs (regravação) - 18
10º "A Cera", O Surto - 15

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ANALISANDO O JOTA QUEST (E CONSIDERAÇÕES)

* Primeiro: não concordo com a lista. Nos seis primeiros lugares não mexeria em nomes, mas rearranjaria as posições. Perto da lista brasileira, "Don't Worry Be Happy", uma das dez piores do mundo na carreira internacional, parece ser de Lennon/McCartney e tirada do "Revolver", o melhor álbum dos Beatles.

* Uma leitora, a Lígia Helena, votou em "Tele-Fome", dos mineiros do Jota Quest. Empolgada, Lígia ainda fez uma análise semiótica da letra da música, trecho a trecho, que vale reproduzir.

"Não alimento amor por telefone, isso é ilusão/
Não adianta falar de amor ao telfone, isso é ilusão"

Logo no primeiro verso percebemos a GENIAL sacada do título. Ele não alimenta amor por telefone. Logo, se você se limitar ao telefone, seu amor não será alimentado. Ficará com fome. Tele-fome. Sacou?

"Pra que tanto telefonema se o homem inventou o avião/
Pra você chegar mais rápido ao meu coração"

Neste trecho eu acredito que a grande questão era encontrar uma rima boa para "coração". Todos sabemos da enorme dificuldade que é rimar palavras terminadas em "ão", dada a escassez deste tipo de SOM no nosso vocabulário. Analisada a FORMA, passemos ao conteúdo: pra que telefonar, se o homem inventou o avião?
Quer me dizer "boa noite" antes de dormir, babe? Não telefone, vá ao aeroporto mais próximo, compre a passagem, faça o check in, embarque, chegue aqui onde eu moro, pegue um táxi até minha casa e me deseje boa noite. Pra que telefone? Resposta: pra chegar mais rápido ao meu coração. Se ele diz, quem sou eu pra discordar...

"Não alimento amor por telefone, isso é ilusão
Não adianta falar de amor ao telefone, isso é ilusão"

Bla bla bla bla bla.

"A fome de amar é real, não se traduz em fios
Meu ouvido não ama, apenas ouve os seus reclames"

Daí lendo estes versos me veio a dúvida. Estaria ele falando sobre a fome de amar no sentido LITERAL, do amor como sentimento nobre de uma pessoa por outrem, ou no sentido figurado, como um eufemismo para sexo? O cara tava com vontade de transar e a menina ficava enrolando por telefone? Aí sim eu concordo que o avião seja necessário, que o telefone só aumente a "fome de amar que é real" do cara. De qualquer forma, não precisava fazer uma música tão piegas pra chamar a menina na chincha, né? Pegasse ele um avião e pronto, resolvia o problema.
Agora, se ele está falando de amor no sentido LITERAL, aí eu não entendi nada. Talvez eu seja pouco romântica.

"Vou desligar, não me ligue mais
A obrigação da tua voz é estar aqui
Vou desligar, não me ligue mais
A obrigação da tua voz é estar aqui..."

A velha chantagem emocional. Mas qual o problema do telefone, caramba?! E sinceramente, se alguém viesse com essa conversa de "obrigação", eu sairia correndo. A menina devia pensar como eu: "obrigação o caralho, eu só faço o que eu quero." Cá entre nós, boa escolha manter distância de alguém que escreve essas barbaridades.

"No ouvido do meu coração, yeah, yeah
No ouvido do meu coração, yeah"

Onde?!?! Ouvido do coração?! Esse deve ser dos que te mandam "um beijo no coração". E de novo me vem a dúvida. Seria amor romântico? Seria amor CARNAL? Será que ele tá tentando dar o truque de amor romântico pra conseguir transar? Essa música me deixa confusa.
Daí pra frente a letra se repete...

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LETRAS BONITAS, MÚSICAS TOCANTES

Falando em escarafunchar letras e tal, pintou na internet uma versão-protesto que está "causando", como dizem meninas de 16 anos. Vem de Curitiba, a terra dos Pixies, a música "P* no C* dos Strokes", do Orlando. A letra mostra indignação com a subserviência a gravadoras e celebra os selos indies como o Dischord, se é que eu entendi a letra. A música, acústica, é acompanhada de uma voz até legal. No refrão pouco singelo, o mesmo desejo "para com" os Strokes é direcionado para o White Stripes.

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CAMISETA DE TURNÊ

Reprodução



Popload também é moda.
São cada vez mais vistas adornando o povo descolado essas camisetas de concertos de rock antigões. Comecei a reparar isso no final do ano passado, em revistas, TV ou a olhos vistos mesmo, em viagem a lugares bem distintos, tipo San Francisco e Buenos Aires.
São camisetas cuja estampa conta, por exemplo, sobre o show dos Stones em Oakland, em 1978, como a da foto abaixo. Ou do Velvet Underground em Los Angeles nos anos 60. A do Bowie na turnê do Ziggy Stardust. AC/DC em Londres. Black Sabbath não sei onde em 1980, Bruce Springsteen não sei quando em show de Washington.

Reprodução



Nessa tendência existem dois tipos de camiseta: as reais, que podem ser encontradas em brechó e podem custar de US$ 2 a US$ 80.
E tem as fabricadas agora, por diversas marcas, lojas, grifes indies, com o estilão vintage fake. E a estampa representando a turnê de tal banda anciã em lugares que talvez nem existam mais.
Não é difícil ver em revistas atores jovens de hollywood posando para fotos trajando camisetas vintage de rock. O badalado ator mexicano Gael García Bernal, que esteve nesta semana em São Paulo divulgando o filme "Diários de Motocicleta", de Walter Salles, desfilou pela cidade com uma camisa vintage de turnê dos Ramones.
É bem legal. Quando é que uma das muitas boas grifes indies daqui vai entrar nessa, será.
Bateu um arrependimento depois que eu deixei passar uma camiseta do Clash em tour pela Inglaterra, em 1978, que eu vi em uma lojinha na Argentina.

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A FORÇA DO OASIS

A versão do guitarrista enfermo Ryan Adams para "Wonderwall", do Oasis, ganhou na Inglaterra o título de "single of the week" na semana que passou. É impressionante como os britânicos ainda vivem de tudo o que diz respeito ao grupo dos Gallagher. A cover de Adams, lentosinha, quase parando, é até chata, perto do original.
Mas não são só os britânicos. O cool seriado "O.C.", canal de música independente das boas embalando novelão adolescente, escalou a versão de Adams para um capítulo que passou nesta semana na Warner brasileira.

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É TUDO MENTIRA

Um dos assuntos prediletos desta coluna é o que aborda a viva picaretagem nos meios de comunicação que nos cerca, seja ela e eles do tamanho que forem. Os casos são muitos e estão por aí, dá para ver. Conchavos, truquices, invenções, plágios.
Aí o caderno de alta-cultura da Folha, o "Mais", vem em sua edição do domingo passado e publica o especial "É Tudo Mentira!", com várias entrevistas exclusivas (e inventadas, assume) com vários autores, uma brincadeira que pretende imaginar como seria conversas com figuras que nunca falam.
Em uma entrevista fictícia com o americano Thomas Pynchon, escritor pós-modernista famoso pela vida reclusa bem longe da civilização, o autor defende que a ficção é hoje cada vez mais a própria informação.
Por mais que a entrevista seja mentira, e por tudo que vemos do Jayson Blair ("New York Times") a bloguices indies, a frase de Pynchon é tudo verdade.

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BOLETIM PIXIES

* Pelo que eu pude verificar até quarta à noite, havia na internet registros em MP3 de dez dos 14 shows que os Pixies fazem até sábado, quando tocam em Coachella. A turnê da volta começou em 13 deste mês em Minneapolis, passou pelo Canadá e nesta quinta aparece na cidade de Davis, já na Califórnia.

* De algumas partes aleatórias que eu ouvi, de uns quatro shows, a música mais ovacionada nas apresentações me pareceu "Debaser".

* CURITIBA POP FESTIVAL - Até a última quarta, ainda restavam cerca de 800 ingressos para ver os Pixies no sábado, em show exclusivo no Brasil para a capital paranaense. A organização do festival diz que muita gente acha que os ingressos já estão esgotados e escrevem perguntando se vão colocar mais à venda. É o trauma do primeiro lote. Confusões e dúvidas são esclarecidas no www.curitibapopfestival.com.

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MEGAPROMOÇÃO PIXIES

Opa, opa!. Esta é "huge", como eles dizem lá em Boston. Em parceria com a gravadora Sum, esta coluna bota para sorteio duas coleções de CINCO discos dos Pixies. São eles "Surfer Rosa", "Doolittle", "Trompe Le Monde", "Bossanova" e o "B-Sides". Promo linda para quem não tem nada dos Pixies, preparativo para quem vai ao show ou consolo para quem está fora dessa. E-mails devem ser direcionados para o endereço aquele lá: lucio@uol.com.br.
Já mandou?

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O DISCO DO MORRISSEY

Já começam a aparecer as primeiras críticas ao disco novo do ser Morrissey, "You Are the Quarry". Todas as quatro resenhas que eu vi davam a nota máxima ao CD, que terá lançamento oficial no dia 17 de maio, na Inglaterra. E um dia depois no resto do mundo. No Brasil, o álbum deve sair em junho, pela BMG.

Reprodução

Capa da edição alemã da "Rolling Stone", que
chega às bancas nesta sexta, 29


* Lembrando que uma semana antes do álbum sai o single da linda "Irish Blood, English Heart". Morrissey está sem editar qualquer coisa desde 1997. Neste ano ainda serão lançados dois DVDs do ex-líder dos Smiths.

* Crítica do principal jornal de domingo do planeta, o inglês "Observer", se rasga toda pelo disco e diz que a voz de Morrissey está poderosa e onipresente como sempre.

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THE STREETS SEGUE A RIMA

Disco do ano?
Streets volta a ser assunto top na Inglaterra. Em rádios, jornais, revistas, internet, o grupo-projeto do rapper branquelo Mike Skinner está por todos os lugares na ilha que consome cultura pop tanto quanto cerveja e alimentação básica.
Tudo porque Skinner lança em 10 de maio seu segundo álbum, "A Grand Don't Come for Free", o sucessor do avassalador "Original Pirate Material", de 2002.
Sem pistas muito claras para entender o que anda acontecendo com sua dance music, os britânicos grudam seus olhos no que anda fazendo em casa, no aconchego do quarto, gente de extraordinário talento minimalista como a turminha de Skinner, que inclui no rol de amigos os garageiros Dizzee Rascal (eletrorapper), os caras do Audio Bullys (house-punk) e o conhecido nosso Basement Jaxx, que tocou sábado último em São Paulo.
Skinner bota em "Grand" o que Mano Brown colocou em "Sobrevivendo no Inferno", o álbum-referência dos Racionais MCs.
O álbum novo dos Streets é uma história falada da primeira faixa ("It Was Supposed to be so Easy") até a última ("Empty Cans"). Não é tão calcada na violência quanto o conto de Brown, mas tem parentesco na impressionante capacidade de musicar na rima suas histórias do cotidiano. E mesclar seu palavreado com toques eletrônicos de primeira, com cadência que mais parece ginga. Tudo simples e direto.
"A Grand Don´t Come for Free", que tem a bombástica "Fit But Don´t You Know It" no meio, já está todo ele na internet, livre e solto.
A gente ainda vai falar muito desse disco, eu sinto.
O cara imprime amor em rap tosco ao falar que, quando sua televisão quebrou, ele foi assistir o jogo do campeonato inglês na casa da namorada, em vez de ir ao pub ver lá.

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CONEXÃO COACHELLA

California Dreaming. A cidade de Indio, uns 200 km a sudeste de Los Angeles, abre neste sábado seu deserto no vale do Coachella para os dois dias do primeiro megafestival de música jovem do ano, no eixo EUA-Europa. Neste final de semana acontece o gigante Coachella Valley Music and Arts Festival, evento sonoro que reunirá 82 atrações de várias tendências e tamanhos dentro da música pop, encabeçado pelas presenças dos grupos Radiohead, Kraftwerk, The Cure e Pixies.
O Coachella chega em 2004 a sua quinta edição reivindicando sua justa condição de maior festival americano moderno desde o Lollapalooza em seus melhores tempos. O festival, que começou em 1999 (não houve a edição de 2000) com Rage Against the Machine, Tool e Beck como chamarizes, neste final de semana escala a mais adorada banda hoje no planeta (Radiohead), promove uma das mais aguardadas voltas do rock (Pixies) e leva para a América um raro show dos magos precursores da eletrônica, os alemães do Kraftwerk, pela primeira vez desde os anos 90.
"Estamos impressionados com a procura dos ingressos para este ano. Mais ainda é ver como o festival está crescendo em aceitação positiva de público, dos artistas e da imprensa", disse à Popload o empresário Paul Tollett, da Goldenvoice, que gerencia o Coachella. "O Radiohead, por exemplo, nos procurou no ano passado dizendo que queria se apresentar na edição de 2004", comemora Tollett.
Muito por causa dessa presença do Radiohead e ajudada pela expectativa da volta dos Pixies, o ingresso de sábado do festival atingiu sua lotação máxima, de 50 mil pessoas, pela primeira vez nos cinco anos do Coachella.
A primeira edição do evento, em 1999, reuniu 55 mil pessoas. Para este ano, mais de 80 mil estão sendo esperadas em Índio, o que significa que a população flutuante da cidade, amanhã e depois, deve ser mais que o dobro da fixa, que é de 45 mil habitantes, 70% dela de hispânicos.
As 82 atrações do festival californiano, que começa meio-dia e termina meia-noite, são espalhadas em dois palcos principais e duas tendas. Até ontem o festival não havia divulgado o horário e quem-toca-onde.O cenário do Coachella é paradisíaco. As atrações dividem o olhar da platéia com um fundo de colinas e Palmeiras plantadas artificialmente no meio do deserto. Ainda mais peculiar é o clima no site do festival. Geralmente o festival começa quente, com 38ºC ao meio-dia. A temperatura à noite, depois que a última banda deixa o palco, à meia-noite, beira os 5ºC. Positivos, pelo menos.
Índio carrega o rigor legal de cidades pequenas americanas. A polícia local coíbe cambistas de modo eficaz, é o que pregam. E no festival a única bebida alcoólica vendida é cerveja, que só é comercializada para quem provar com Identidade ter 21 anos ou mais. E são bebidas somente em uma área reservada, longe dos palcos. Ou bebe cerveja ou vê o show.

* SUSPENSE - A vontade de o Radiohead tocar no Coachella e a expectativa pela apresentação da banda, que fez os ingressos serem esgotados, podem originar a maior decepção roqueira do ano. O vocalista do grupo inglês, Thom Yorke, está com infecção na garganta, o que fez a banda cancelar uma apresentação na Austrália na última segunda-feira.
Segundo nota divulgada pela banda, Thom Yorke entrou em tratamento com antibióticos para não deixar de cantar no Coachella.

* COACHELLA-CURITIBA - O palco do Coachella é a legitimação do retorno da banda de Black Francis e Kim Deal à ativa. Foi na carona da divulgação das atrações do festival de Índio que os Pixies anunciaram sua volta, no começo do ano. Marcaram 15 apresentações em clubes pequenos de cidades pouco visitadas pelo grupo, todos chamados de shows de aquecimento "pré-Coachella".
"Os Pixies foi outro que escolheu o Coachella para se apresentar. Quando souberam que o festival ia divulgar sua lista, nos procuraram. Não havia como dizer não para uma das principais bandas dos EUA em todos os tempos", declarou o empresário Tollett.
O Coachella é a última parada dos Pixies antes de tocar no Brasil, em show exclusivo para o Curitiba Pop Festival, no Paraná. A banda de Boston toca no sábado, dia 8, fechando o evento que teve de mudar de lugar para abrigar os 8.000 fãs brasileiros saudosos da turma de Black Francis.

* NOVAS TENDÊNCIAS - Se o Coachella em sua parte de cima parece ser um festival de louvor aos anos 80 (começo dos 90), do meio para baixo ele aponta para todos os lados, principalmente para o futuro de gêneros contemporâneos que buscam novos caminhos.
Encrustado lá no meio das mais de 40 atrações do domingo reluz o nome do jovem rapper inglês Dizzee Rascal, cujo disco "Boy in da Corner", que será lançado em maio no Brasil pela Sum Records, confunde ao virar disco essencial de garagem inglesa, ganhar cinco estrelas de publicação roqueira, estampar capa de revista eletrônica e ser considerado, nos EUA (ele é inglês, lembre-se), o melhor disco de rap em muitos anos.
Rascal caminha de mãos dadas com Audio Bullys, The Streets e Basement Jaxx. E é bom prestar atenção aonde eles estão indo.
O revigorado rock teen americano é outro destaque do megafestival deste final de semana. Phantom Planet, Elefant, Bright Eyes e Death Cab for Cutie, por exemplo, são diferentes entre si, mas são considerados importantes na formação roqueira de teens que hoje bebem mais música nova em seriados do que na MTV.
E a geração internet ganha badalada representação em atos como Danger Mouse, o DJ americano que recentemente virou notícia ao se apropriar do "álbum negro" do rapper Jay-Z e do "álbum branco" dos Beatles para chamar de sua a mistureba dos dois, que originou o "álbum cinza", lançado na rede com sucesso e polêmica.
O resto é o de sempre em festivais do tamanho deste Coachella 2004: muitas e muitas importantes atrações do rap à música eletrônica, para roqueiro dançar.

* Algumas bandas do Coachella

- Sábado
Radiohead - show marca o final da turnê do álbum "Hail to the Thief" (2003). Músicas novas devem ser apresentadas
Pixies - O primeiro show "para valer" desta volta da cultuada banda, que toca no Brasil na próxima semana.
Kraftwerk - O grupo alemão, grupo que possui o DNA da música eletrônica, volta aos EUA para colocar as máquinas para funcionar
Desert Sessions - Josh Homme, ex-Queens of the Stone Age, deve contar com PJ Harvey para lever adiante o seu agora principal projeto
Rapture - Ainda excursionando com o album "Echoes", o grupo de Nova York chacoalha o Coachella com punk-funk retrô
LCD Soundsystem - Os comandantes da vanguarda independente do som de Nova York, o LCD transforma o culto em espetáculo dance
Death Cabie for Cutie - Cultuada banda indie americana mostra as músicas do disco "Transatlanticism", do final de 2003.
Mark Farina - respeitabilíssimo produtor e DJ, Farinavirou uma espécie de Prince da house
The Stills - banda nova canadense que toca o melhor do. britpop
Mais: Laurent Garnier, Sander Kleinberg, Sahara Hotnights, Electric Six, Junior Senior, Pahntom Planet, Mindless Self Indulgence, stellastarr*, Erase Errata

- Domingo
The Cure - De cabelo armado, o Cure volta dos 80 com um som novo mais. metal
Flaming Lips - A cultuada banda de Oklahoma pretende rechear o show de músicas do próximo álbum
Air - os climáticos franceses mostram ao vivo o CD "Talkie Walkie", deste ano
Belle & Sebastian - Fofices pop usuais da maior banda da Escócia hoje, enquanto o Franz Ferdinand não tomar o posto
Basement Jaxx - do Brasil para o Coachella, a eletrônica da mistura mostra sua próxima cara
Bright Eyes - rock sentimental da mais adorada banda indie Americana do lado Oeste
Black Rebel Motorcycle Club - Uma das melhores bandas do novo rock, que não pára de excursionar.
Le Tigre - Lesbo rock de Nova York sob som eletropesado traz a tona o disco novo, finalmente
Dizzee Rascal - Rap inglês com cheiro de revolução, daqueles que transitam tranquilos pelo rock, eletrônica e apontam o futuro
Adam Freeland - DJ inglês mais roqueiro da Inglaterra. Nirvana e White Stripes estão no repertório
Ash - show novo da ótima banda irlandesa
Muse - o melhor show do Radiohead do começo, mais roqueiro. Sem ser o Radiohead
Elefant - Rock retrô-moderno americano, cujo vocalista é modelo argentino
Mais: Paul Van Dyk, Thursday, Crystal Method, Mogwai, 2manydjs, Danger Mouse, Sleepy Jackson, Thrills, !!!, Cooper Temple Clause

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ENTÃO

Vou nessa. O caminho vai ser longo.
O artista antes conhecido como Prince, depois símbolo e agora Prince volta a ser badalado, por causa do novo disco. Ouvi algumas músicas. Não sei, não... Olha que eu curto bem o cara.// O show do cultuado grupo inglês de trip hop Massive Attack, no Via Funchal, vai ser "os shows". São dois. Estão marcados para 24 e 25 de maio. Os ingressos estão à venda no site do local.// Sobre o prometido falatório a respeito do disco lindo do Keane, fica para uma próxima. // Robert Pollard, aquele abraço.// O fod*o Los Pirata chacoalha a festa do gênio Finatti na Outs, nesta sexta, bem acompanhado de Detetives e Ecos Falsos, este último eu não conheço. // O punk não morre com grupo como o Lurkers, patrimônio inglês que toca no Hangar 110 no domingão, aberto pelo agitado Borderlinerz mais os veteranos Inocentes e o Lambrusco Kids.//A turnê do Lemonheads (Evan Dando + dois): dia 13 em Londrina (República); 14 no Rio (Ballroom); dia 15 em BH (Marista Hall); dia 16 em SP (Directv Music Hall); dia 19 em Porto Alegre (Opinião); e dia 23 em Goiânia (no bombado Bananada).// Semana que vem tem TEENAGE FANCLUB em SP, terça, quarta e quinta no Sesc Pompéia.// Depois sexta no CPF. Aí sábado tem PIXIES (dá para acreditar?).// E a balada não acaba em Curitiba. No domingo dia 9 rola o Afterglow Festival, com Drosophila (SP), Mombojó (PE), Lonely Nerds' Songbox (PR), entre outras.

Então é isso. Ia botar mais prêmios para rolar, mas as coleções dos Pixies já estão socando de emails a minha caixa postal. Está bom para a semana. Falow! Cobertura do Coachella na volta. Certs?
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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