Pensata

Lúcio Ribeiro

13/05/2004

Aconteceu

"You will you won't
You do you don't
You're saying you will
but you know you won't"
Zutons, em "You Will, You Won´t

"Last night she brought me to
The state of mind in an empty room
White light, the kiss of life
A and E on a Saturday night"
Supergrass, em "Kiss of Life"

"I know a place where I can go
when I'm alone
Into your arms
Into your arms I can go"
Lemonheads, em "Into Your Arms"


Hey! HEY!
Popload Ano 5, aqui vamos nós.
A coluna aí embaixo promete.
Promete estar bagunçada, caótica, cansada e confusa, retratando a imensa alegria e a tristeza profunda vivida pelo colunista, tudo ao mesmo tempo e tudo misturado e tudo bem intenso.
O evento Curitiba Pop Festival, Pixies no Brasil (agora dá para acreditar), Curitiba em si, futebol com o Teenage Fanclub, Morrissey faixa-a-faixa, o amor nos tempos do Streets, a incrível volta do Farm. E o escambau!

* Na segunda que vem, 17 de maio, dia do lançamento do lindo disco do lindo Morrissey, este espaço completa quatro anos de existência, o que eu considero um feito. Principalmente porque a resposta que ele consegue junto a seu fiel leitorado (que pode mudar, rotar, mas não o larga) é sempre impressionante. Por causa dessa fotinho merreca que acompanha estas linhas desde 2000, me pararam em Índio, na Califórnia. Em Curitiba, durante o Pop Festival, vários leitores de vários cantos se apresentaram para simplesmente dizer que gosta e lê. Ou que gosta em parte e lê. Ou que não gosta e lê.

* Você pode não acreditar, mas a coluna já foi beeeem pior. Fui fuçar umas coisas antigas e achei um texto gozado e retrospectivo que fiz no primeiro aniversário da coluna. E cabe direitinho aqui, hoje. É algo datado, mas ainda assim carrega o espírito. Dizia assim (vou fazer umas interferências pontuais e atuais entre parênteses) :

* "A primeira coluna, lá no longíquo 17 de maio de 2000, era curtíssima, tratava de dois atores de cinema (nada de música, portanto) e causou uma comoção incrível no país. Recebi 1 (um!) e-mail comentando. E falando mal.
De lá para cá, tudo mudou. A conselho de um precioso amigo, passei a falar de coisas que, digamos, 'não posso' falar em jornal. Mas que sempre tive vontade.
Aí fiz um texto conclamando o povo roqueiro a sair da preguiça, brigar contra as rádios fuleiras que tocam o pior e se acham "rock", ouvir o Napster e outras balelas incentivadoras. Recebi uns 15 e-mails.
Achei lindo e saquei que se fizesse a coluna como um grande e-mail público e considerasse cada leitor como se fosse um amigo pessoal, respondendo (hummmm!), trocando uma idéia, a coisa ia funcionar.
Coisas como a que eu fazia todos os dias e que muita gente faz normalmente. Mandar um e-mail para um amigo dando uma notícia, metendo o pau em alguém, falando sobre uma música que ouviu, um filme a que assistiu.
E funcionou. Logo o número de e-mails já chegava a cem, com os leitores me tratando como se fosse um chegado. Claro que instituir uns premiozinhos legais, tipo um CD pop recém-lançado, ajudou bastante, já que não há quem não goste de um discão de graça.
Mas era legal ver gente de todo o Brasil me escrever como se eu fosse um colega de trabalho. Tem gente que me chama de 'Lu' em email (ainda hoje chama).
E se tem uma coisa que eu adoro desde que comecei a fazer a coluna é a diversidade dos leitores deste espaço. Não tem essa de eu falar para todo mundo comprar o DVD do Oasis sem ler pelo menos três e-mails na linha: 'Eu que não compro essa merda', 'banda xarope', 'vi falarem na MTV que a briga deles é jogo de marketing' etc.
Belle & Sebastian é legal? 'Grupo de maricas', 'Mutantes era melhor' etc.
Ou 'Fala mais do Carlinhos Brown que ele merece.' 'Pára de falar do Carlinhos Brown, que já está bem sem graça.'
Muitos desses leitores-amigos abastecem semanalmente esta coluna com informações novas, dicas importantes, chamadas de atenção. Vários garotos de 18 anos demonstram que sabem muito mais de música que eu. Isso tudo eu acho bem 'cool'.
Uma das respostas mais bacanas que eu obtive neste um ano foi com uma coluna recentíssima, de duas semana atrás, em que eu perguntava qual banda/música/pessoa fez a música se tornar marcante em sua vida.
Foram 427 respostas (bons tempos. Hoje são 4270. Não estou reclamando, mas é que era mais 'administrável') de gente que abriu o e-mail e escreveu para mim longas linhas sobre sua história pessoal. Entende que a resposta obtida aqui não é entrar em um site e clicar na bolinha que indica se você acha ou não que o FHC está fazendo um bom governo?
É leitor-amigo de várias idades e de vários cantos do país sentando e escrevendo extensos e-mails sobre muitas coisas. E depois mandando outro e-mail para retificar ou ratificar o que disse, acrescentando outras informações.
Ninguém mandou. Curti muito este ano e agora, se não me impedirem, proibírem ou falarem 'Chega!' , vou seguir rumo ao segundo (quinto) aniversário."

* Nos próximos dias, vou tentar botar em prática um evento comemorativo que estou bolando, para não deixar a data simplesmente passar. Vamos ver se rola.

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CIDADE DO SOM


O Curitiba Pop Festival 2 morreu! Viva o Curitiba Pop Festival 3. Assim que o zumbido de "Planet of Sound" saiu dos ouvidos, a organização do excelente evento curitibano já começava a botar os olhos para o futuro. E o sonho do próximo CPF já tem nome: Flaming Lips. Você leu bem: Wayne Coyne e os Lábios Flamejantes de Oklahoma.
Para um festival que conseguiu trazer ao Brasil os Pixies, com exclusividade e em pleno momento de notoriedade da banda em sua volta, alguém duvida que no ano que vem vamos ver Coyne passeando sobre a galera brasileira na charmosíssima Pedreira, em uma bolha de plástico, com o palco cheio de bichinhos da Parmalat vivos, bolhas de sabão, serpentinas, muppets que cantam etc.?

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HEY

Reprodução



"Isto não está acontecendo."
Depois da terceira vez que essa frase foi pronunciada atrás de mim, e o show perfeito dos Pixies em Curitiba ainda estava na oitava música de um total de 27, a banda iniciou o berro e os acordes iniciais de "Hey", fantástica música climática do álbum "Doolittle".
E aí a pessoa do "isto não está acontecendo" das duas uma: ou se convenceu, sim, de que os Pixies estavam próximos de nós, tocando ao vivo a trilha sonora de boa parte das vidas indies que estavam presentes, ou havia desmaiado, caído dura, morrido.
A apresentação dos Pixies na Pedreira, do jeito que foi, no frio que foi, no lugar que foi e com o setlist que foi, é daqueles inesquecíveis tipo New Order no Olympia, Nirvana no Morumbi, Echo & The Bunnymen no Anhembi, Kraftwerk no Jockey, Beastie Boys no Olympia, Oasis no Metropolitan, Nick Cave no Projeto SP, U2 no Morumbi, Morrissey em Curitiba.
Para não dizer que é exagero, a impressão no vale do CPF era que o show tinha se pagado logo no começo, tipo quarta música, quando a banda havia tocado "U-Mass". Aí vieram três "obscuras", duas delas cantadas em parte em espanhol, incluindo a parte instrumental barulhenta à lá filme do Tarantino da nervosa "Vamos". Depois o sucesso "Monkey Gone to Heaven" e depois "Hey".
Frank Black veio ao microfone e gritou "Hey". Muita gente achou que dali viria um cumprimento ao Brasil, os agradecimentos de praxe e o indefectível "Boua notche" e "Nôs amámos vocheis". Mas não era. Francis não abriu a boca para se dirigir à platéia um só segundo, hora nenhuma.
E "Hey" foi cantada tão alto pelo público, e aquilo ecoou na Pedreira, que Black pareceu surpreso, no palco.
O som que vinha da banda estava tão toscamente bom, em uma sintonia barulhenta tão harmoniosa, que era difícil acreditar que a banda ficou tantos anos separada.
Fora o show do Coachella Festival, no calorento deserto da Califórnia no sábado anterior, eu já havia testemunhado a banda se apresentar ao vivo outras duas vezes, no turbilhão daquele fantástico ano de 1991, na Inglaterra. Muito da lembrança daqueles shows já foram embora, mas a impressão é a de que eles nunca tocaram tão bem e fácil e entrosados e alegres como agora. É um efeito dinossáurico às avessas, dá para falar. Como tantas bandas que acabam e depois "reaparecem", os Pixies não parecem tocar covers de si mesmo. Pelo menos por esses dois últimos shows, Coachella e Curitiba, a veterana banda deu a pinta de ter alcançado o seu... auge.
Aí muitas músicas depois, hits ou não, os Pixies voltariam para um bis a princípio de três músicas. Tocaram as extraordinárias "Gigantic" e "Debaser" e terminariam o show com "Into the White". É: "Into the White". Uma daquelas canções lado B dos Pixies, suave e demente, que John Lennon adoraria ter chegado para o Paul McCartney e dito: "Paul, tenho uma música nova genial. Você vai adorar o baixo dela".
Como Deus é curitibano, os Pixies confabularam por alguns segundos e logo depois saiu uma música que não estava programada. "Planet of Sound", a música que definitivamente botou Curitiba no planeta sonoro.
E o irônico de tudo é saber que a Inglaterra ainda está por ver, em quatro noites esgotadas no Brixton Academy e em bombados festivais de verão, o que no Brasil já foi visto. Engraçado.

Reprodução



* Assim que eu cheguei à Pedreira, no sábado, umas quatro horas antes de os Pixies começarem a tocar, fui abordado por uma garota..
"Você não pode me ajudar? Tenho 16 anos e não estão me deixando entrar (a censura do festival era de 18 anos). Tá bom, tenho 15. E eu preciso entrar. Não posso perder os Pixies."
Ela olhava para minha credencial de imprensa e talvez achasse que ali estava uma saída para a sua entrada.
"Estou com mais duas amigas, mas elas não fazem muita questão de entrar. Eu faço. Por favor."
Debaixo das roupas de frio, deu para notar que ela vestia uma camiseta do Nirvana: "Estou com vontade de chorar".
E chorou, diante da minha falta de ação e malícia para burlar censuras em festivais para os outros.
Deixei a menina na porta, de coração partido, porque ia perder os Pixies.
Fiquei pensando de onde será que vem tanto amor por uma banda que lançou o primeiro disco mais ou menos no mesmo período em que a mãe dela a lançava à luz. De rádios FM? Improvável. Dos clubes de rock de Curitiba?

* Na Califórnia, na única vez em que os Pixies resolveram falar com a imprensa, foi perguntado a Frank Black se os Pixies voltavam agora para tocar na linha "velha escola" ou atualizada, na "nova escola". "Old school or new school?". Black respondeu de pronto: "Our school".

* A grande banda escocesa Teenage Fanclub derramou excelente lamúria indie naquele vale gelado da Pedreira, na sexta-feira. O caráter histórico do festival de Curitiba deve numa parte boa à presença da banda que mostrou a fofura no pop britânico muito antes que o Belle & Sebastian, ainda que bem mais barulhenta. Nâo sei se alguém lembra aí daquela vez que a TV Bandeirantes passou (vai saber por quê) um programa com os melhores momentos do Reading Festival de 1992. Lembro que uma das memoráveis cenas era o Fanclub tocando "Everything Flows" no festival inglês, com uma ventania brava soprando tudo para o alto, dava para ver na TV. No show de Curitiba, na hora em que a banda tocou para nós "Everything Flows", uma das mais bonitas canções indies da história, me lembrei do Reading 1992 da Band.

* O Teenage Fanclub é uma das bandas que eu mais vi ao vivo na minha vida. Uma das minhas mais queridas daquele começo e meio dos anos 90 também. Mesmo com ela longe do seu melhor momento, é engraçado eu me pegar lado a lado com o baixista Gerard Love e o guitarrista Raymond McGinley, discutindo como vai ser o próximo disco, lembrando de shows passados e falando de bandas novas. Todos sentados na arquibancada do estádio do Pinheirão, em Curitiba, assistindo o Paraná Clube jogar contra o Cruzeiro pelo Brasileirão.

* Grande celebração do rock gaúcho se deu dois shows antes dos Pixies, na apresentação dos conhecidos indies Wander Wildner, Frank Jorge, Flu e Jimi Joe, onde guardada as devidas proporções Wildner comanda uma espécie de Desert Sessions, tal qual Josh Homme faz lá no... deserto.
O show inteiro, da primeira à última música, foi extremamente vigoroso, denso, bem tocado. Embora eu tenha cometido indisciplinas na hora de ver os indies nacionais tocarem no CPF, dá para dizer que os gaúchos fizeram o melhor show fora as duas grandes atrações. Versões rápidas e bem pesadas de hinos como "It's Fucking Boring to Death" (De Falla) e "Surfista Calhorda" (Replicantes), a melhor música de letra brasileira da história, foram impressionantes de boas.

* Amigos que viram disseram, e acredito, que os shows das bandas Grenade, Autoramas e Relespública foram bem elogiáveis.

* E a polêmica do festival, pelo que pareceu na pós-cobertura do evento paranaense, foi a performance da veterana banda paulistana Pin Ups, banda-mãe da cena indie de SP. Os Pin Ups tocaram espremidos entre os gaúchos e os Pixies, foram praticamente enxotados do palco e colheram as críticas mais pesadas de desaprovação. Vi alguns momentos do show do grupo e gostei, até. Sujo, low-fi, mono, Pin Ups total. O vocalista da banda, o Luiz Gustavo, o Bobby Gillespie brasileiro, conta como foi estar lá em cima. "Tivemos de cortar quatro músicas pelo menos. Agora, não tem como segurar o nervosismo, né? Banda de abertura do Pixies. Pressão pra sair do palco. Público que não dava pra enxergar de tão longe. Você joga um pandeiro pro povo e jornalista vem falar que 'xingou e atirou algo na platéia'! Mesmo assim acho que fizemos um show legal. Bem MC5. Bem Pin Ups. Sem frescura. Sem cachê. Pessoas odiaram e amaram. Assim que eu gosto. Bela despedida."

* Curitiba ferveu no gelo. Logo após as últimas atrações do CPF, o povo rumou para um cinema no centro da cidade, tanto na sexta quanto no sábado. Um minifestival chamado RG dava continuação à celebração indie, com bandas como Leela (RJ), Walverdes (RS) e MQN (GO). Na sexta, eu e alguns amigos fomos experimentar a cena eletrônica local e caímos no Vibe, um clube abarrotado por um exército inesgotáveis de Gisele Bundchens dançando remixes house de New Order e White Stripes, com a pista nas mãos de um DJ de Mallorca (Espanha) e um do clube Hypno, do Uruguai. Balada forte.

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TODOS JUNTOS AGORA

Se você conhece "All Together Now", de uma banda de Liverpool chamada The Farm, certamente tem a consciência de como essa música foi uma praga quando tocou, no começo dos anos 90. Nunca consegui decidir se essa música era muito chata ou muito legal. Pois vou ter nova chance de chegar a uma conclusão agora, já que a música vai ser desenterrada no próximo dia 31 de maio, quando será relançada como tema da seleção inglesa. "All Together Now" foi escolhida para ser o hino da torcida inglesa na Eurocopa 2004, campeonato de seleções européias que será realizado em Portugal.

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JÁ OUVIU?

Duas musiquinhas novas para já.

* "Kiss of Life", Supergrass
Uma das bandas mais espertas da Inglaterra volta ao rádio com bacanudo single novo. Suingada, dentro do que uma canção britpop pode ser, "Kiss of Life" tem o pique alegre que caracteriza o som do Supergrass. Não sei por quê, mas a primeira vez que eu ouvi essa música achei que fosse o Beck voltando a fazer coisas legais.

* "Pressure", Zutons
Quem matou os Zutons? Esse é o nome do disco (só que em inglês, claro) desta banda nova de Liverpool que a julgar pelas músicas descoladas vai ser fácil amiguinha desta coluna. Meio moderna, meio anos 70, um saxofone sujo com violões melódicos. Cheia de climas, backing vocals de coral para um vocal principal gritado e britânico, traz o refrão que é assim: "Pressure, pressure, pressure, pressure, pressure, pressure, pressure". Ótima.

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FESTIVAL EM DVD

Ainda no ritmo dos festivais...
Sem avisar, a BMG solta no mercado brasileiro o DVD "270 Miles from Graceland - Bonnaroo 2003", documentário caprichado sobre a edição do ano passado do festival do Tennessee, que não é muito badalado nem nos EUA e muito menos no Brasil.
Mas não dá para reclamar de um lançamento nacional que nos bota em contato com grupos como Flaming Lips, Sonic Youth, My Morning Jacket, James Brown, Polyphonic Spree, Ben Kweller entre muitos outros.
Mas não é só música que rola. O DVD mostra todo climão de festival, desde a viagem na estrada, as "atrações" fora do palco, o público típíco de eventos assim, o lugar, as tendas, os ensaios, as entrevistas de imprensa, os bastidores.
O Flaming Lips é registrado durante a execução da linda "Yoshimi Battles the Pink Robot" e só ela vale o DVD.

PROMOÇÃO BONNAROO - Tem um DVD para você faturar no sorteio da coluna, para os que concorrerem no lucio@uol.com.br. Seja meu convidado.

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MORRISSEY FAIXA A FAIXA

Reprodução



Êêêêê! Segunda-feira é o dia de lançamento, na Inglaterra (nos EUA é terça), de "You Are the Quary", o primeiro disco em sete anos da lenda viva e hoje distinto senhor Morrissey, um dos seres mais iluminados da música pop desde sempre. O lançamento na segunda, na verdade, é o convencional, pois o disco já "saiu" faz tempo para quem frequenta as comunidades de MP3.
No Brasil, o "You Are the Quary", de "carne-e-osso", chega às lojas em junho, segundo promessa da BMG.
O rei das pessoas sensíveis, solitárias e miseráveis de espírito aparece com uma dúzia de canções acalentadoras, de pop perfeito, cuja voz serve nas canções como um instrumento tão forte, marcante como a guitarra em um rock pesado, a bateria no show do Sepultura ou o baixo em "Seven Nation Army".
Não sei se é um disco para Morrissey fazer novos fãs, mas os velhos não vão segurar o sorriso em muitas faixas, mesmo aquelas mais melancólicas (e são várias). Um faixa-a-faixa do disco fica assim:

1. America Is Not the World
Começo grandioso e político de Morrissey. "Eu não tenho nada a oferecer a você, apenas este coração profundo e verdadeiro, que você faz questão de dizer que não precisa." Essa frase não é destinada a alguém, mas à América. Para George W. Bush dançar coladinho com sua parceira.

2. Irish Blood, English Heart
Bombástico primeiro single do CD. Começa Morrissey e depois explode um britpop veloz, delicioso, que provavelmente você já conhece. Por que se não conhece...

3. I have forgiven Jesus
"Eu era uma boa criança." Lá vem historinha do Morrissey. Música marcada pela bateria, que às vezes aparece uma guitarra tipo "How Soon Is Now" sem os ecos. Linda.

4. Come Back To Camden
Talvez a melhor do disco, talvez não. Pianinho matador combinando com a voz adocicada de Morrissey. Música contraindicada para horas difíceis. Ele canta "quando os motoristas de táxi não param de falar" como se estivesse fazendo a mais profunda declaração de amor. Gênio.

5. I'm Not Sorry
Talvez não, mas talvez a melhor do disco. Música com cadência diferente das outras, com batidas programadas bem simples, em que a voz de Morrissey, para variar, faz toda a diferença. Parece levada de bongô. "Alcance minha mão e a corrida estará vencida. Rejeite minha mão e o prejuízo está feito".

6. The World Is Full of Crashing Bores
Esta caberia em disco dos Smiths. Começa romântica mas suja, mas Morrissey trata de limpá-la. É ele quem manda. Se Johnny Marr estivesse na guitarra, botando sua marca, seria uma das melhores músicas deste século.

7. How Could Anybody Possibly Know How I Feel
Outra muito Smiths. Pop com guitarra marcante, base para a língua afiadíssima de Moz. Tem um pique que não a coloca na categoria de "romântica". "Mesmo eu, doente e depravado, com um pé na cova, nunca seria alguém como você", manda o recado.

8. The First of the Gang to Die
Esta é famosa, porque esteve nos shows ao vivo nos últimos dois anos. Parece Suede

9. Let Me Kiss You
"Feche os olhos e pense em alguém que você fisicamente admira. Aogra deixe-me beijá-la" Apesar da letra, ma música mais ou menos. Nota 7.

10. All The Lazy Dykes
Climática, densa, tipo New Order depressive. Mas é outra que não faz maravilhas, embora seja legal notar que há um backing vocal feminino feito pelo próprio Morrissey.

11. I Like you
Deve ser o próximo single, é o que corre. A voz de Morrissey duela com uma batida seca de bateria. Outra que lembra New Order

12. You Know I Couldn't Last
Final pomposo. Quando no começo você pensa que vai entrar o Darkness, Moz vem para suavizar a coisa. Daquelas campeãs, eufórica e melancólica ao mesmo tempo. O melhor de Morrissey.

PROMOÇÃO MORRISSEY - Sai um "You Are the Quarry", fresquinho, em versão caseira, para quem não quiser esperar até junho para catar o novo mandamento pop do bardo inglês. O caminho é email para lucio@uol.com.br. E alivie sua alma.

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KEANE E ROY KEANE

A música pop também bate sua bolinha. Uma das mais celebradas bandas novas da Inglaterra, o Keane, ganhou recentemente um sem-número de críticas adocicadas com o lançamento de seu CD de estréia, "Hopes & Fears", na última segunda-feira. Tanto que o disco, dessa banda que de modo divertido pode ser definida como o Radiohead calminho com voz do A-Ha e usando emprestado o piano do Coldplay, vai até sair nos próximos dias no Brasil, em edição expressa da Universal para um ainda pequeno grupo indie.
O que o futebol tem com isso é que o Keane, mesmo sendo da cidade de East Sussex, tirou seu nome do meio-campista irlandês Roy Keane, craque do Manchester United. A banda no início negava a conexão, mas em recente entrevista o vocalista Tom Chaplin confessou o fanatismo boleiro do grupo transposto para a música.
O engraçado que o Roy Keane é um jogador casca-grossa e o Keane é uma banda cuja tônica é a sensibilidade pop, para a qual os ingleses usam o termo "heart-stopping band". De todo modo, o belo "Hopes & Fears" é a salvação em CD para quem quer dar disco no Dia dos Namorados. Pelo menos duas baladas do disco, "Somewhere Only We Know" e "Everybody´s Changing", que já foram indicadas e epígrafes em colunas passadas, são mesmo de machucar corações mais, hã, fragilizados.

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BALADAS

Duas atrações internacionais de nome chacoalham São Paulo, dando sequência ao agitado mês de maio. O dândi Evan Dando canta "Into Your Arms" com um Lemonheads recauchutado, no DirecTV Music Hall, domingo. A abertura é do popesco combo gaúcho Bidê ou Balde, entre outros. A turnê do Lemonheads só acaba dia 23, no festival goiano Bananada.//Nesta sexta tem Forgotten Boys e Muzzarelas no Hangar 110, mas os shows não acabarão tarde, para todos correrem para ver o Motorhead, no Via Funchal.// Depois, no Outs, tem Objeto Amarelo e Biônica.//No sábado, o andarilho Wander Wildner canta cantigas urbanas gaúchas no Juke Joint (Frei Caneca), enquanto não longe dali o Outs vai estar abarrotado com nova festa do programa Garagem, que tem como convidada e DJ a atriz Luciana Vendramini, patrimônio nacional.

E no domingo tem a segunda prova de dominação do som indie. Com apoio da Prefeitura, as bandas Gram, Ludov, Lambrusco Kids, Os Excluídos e White Frogs tocam com infra profissional no pátio do Metrô Brás, na nova etapa do itinerante São Paulo Independente. Grande pedida de aquecimento para o Lemonheads.

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MAIS PROMOÇÃO

Baita sujeito camarada que eu sou, vou sortear um CD especial e promocional sobre o Coachella Festival, que saiu encartado na revista americana "Filter" e tem 18 músicas, todas novas, algumas inéditas. Tipo PJ Harvey, Thrills, Modest Mouse, Gomez, Killers, Sonic Youth, Veils e muito mais. Vem nessa? Candidate-se no lucio@uol.com.br.

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RESULTADO DOS PIXIES (ATUAL E ATRASADO)

* Promo Pixies 1 - CD ao vivo em Coachella
Camilo Bueno
Santos, SP

* Promo Pixies 2 - Coleção de 5 CDs
- Natália Cobain Xavier
Belo Horizonte, BH
- José Tadeu Beirão Junior
Rio de Janeiro, RJ
- Roberto Kitagawa
Guarulhos, SP



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FOI BOM, FOI MAL

* Quatro anos já foram. Valeu a força. Esta coluna é sua. Faça dela o que você quiser, neste ano 5. Como diz o Morrissey, encoste sua mão na minha e a corrida está ganha.

* Um dos cachorros mais gente-fina da história dos animais já não vai ser um personagem pop desta coluna nunca mais. A partir de agora o Astor não vai latir quando eu botar para tocar o comecinho de "Been Caught Stealing", do Jane´s Addiction, sua música preferida. Nem rosnar quando ouvir o estridente Tribalistas. Esta coluna é dele.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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