Pensata

Lúcio Ribeiro

15/07/2004

Supernovembro

"The room is on fire and she´s fixing her hair:
'You sound so angry
Just calm down, you found me'."
Strokes, em "Reptilia"

"If you want my body and you think I'm sexy
Come on sugar let me know.
If you really need me just reach out and touch me
Come on honey tell me so"
Girls of FHM, em "Do Ya Think I'm Sexy"

"It's been a long time but I just can't wake up
Back on tour, one, two, three, we all back on four
You better wake up
You gotta feel me"
Prodigy, em "Wake Up Call"



Aê!
Duas coisas.
Primeiro: alguém pode ajudar a me livrar desse Orkut?
Não consigo parar de gastar valiosas horas diárias nesse negócio. Tem gente que não acha a menor graça, mas ficar viajando nas infinitas comunidades deste programa rende prazeres inacreditáveis, dos mais non-sense e de propósito zero até os mais úteis, informativos e que podem mudar a vida de pessoas.
Fuçando numa das comunidades, dia desses, encontrei um cara que eu conheci na época do boom da primeira fornada do novo rock. Um senhor, na verdade, ligado ao White Stripes e que antes disso me deu o caminho para chegar nos Strokes.
Graças a ele conheci uma garota em 2001, que foi muito simpática, agilizou entrevista e me credenciou para um show dos Strokes em Providence, perto de Boston. E durante um certo tempo me abastecia de notícias da banda e do rock de Nova York em geral. Essa garota, anos depois (tipo há um mês), se tornou a senhora Julian Casablancas. E de quem, claro, perdi o contato e o e-mail daqueles tempos.
Mas o senhor do Orkut me mandou o e-mail dela.
Escrevi um e-mail para ela, relembrando esse começo e perguntando (claro) dessa história de que eles vêm ao Brasil em novembro.
Meu e-mail era longo. A resposta dela, uma linha.
"O Julian me disse que no fim do ano iríamos ao Brasil."

Segundo: semaninha complicada, coluna pequena. Mas o que você tem que saber vai estar aqui.




SUPERNOVEMBRO

O burburinho é gigante nos bastidores da música pop de veia independente, eletrônica e/ou da mistura das duas. As notícias extraoficiais veiculadas aqui na semana estão se confirmando e ganhando adesões de peso. Vem aí o Supernovembro.
Os superstar DJs dos Chemical Brothers deve ser o grande nome da versão brasileira do festival eletrônico Creamfields, marcado para acontecer em São Paulo no dia 20 de novembro. No mesmo mês e ainda em data indefinida, a adorada banda escocesa Belle & Sebastian pode fazer sua segunda turnê brasileira, agora fora de festivais. Como se não bastasse, o Belle & Sebastian pode aterrissar por aqui muito bem acompanhado da espetacular banda Libertines, em um evento indie bancado pela gravadora Trama.
Já o Tim Festival está mesmo tomando forma em nova data e vai, sim, ter entre suas atrações o grande Kraftwerk, que confirmou sua turnê sul-americana para o começo do abençoado mês musical.
Os alemães pioneiros da música eletrônica tocam em São Paulo no dia 7 de novembro, um domingo que está programado para ser a data de encerramento do Tim Festival. Na mesma noite, se apresentam o pianista pop Brad Mehdau, que entre outras coisas toca (e muito bem) a famosa "Paranoid Android", talvez a mais importante música do megagrupo Radiohead.
Um rascunho antecipado do Tim Festival 2004 aponta como "confirmados", para resumir, o grupo mexicano de rock Kinky, para o dia 5, o baixista inglês de jazz Dave Holland, no dia 6, e Kraftwerk e Mehldau no dia 7, um domingo. A organização brasileira do atual mais importante festival de música do Brasil só se manifestou quanto ao Kraftwerk. As notícias vêm de fora.
O Tim Festival acontece este ano apenas em São Paulo. O local deve ser mantido no costumeiro Jockey Clube, que abriga o evento desde seus tempos de Free Jazz. O show do Kraftwerk vem embrulhado como o giro da "Tour de France Soundtrack", por causa do álbum de remixes da destacada música, lançado no ano passado. Mas tem a mesmíssima levada robótica e cheia de imagens em telão dos shows de 1998, quando o grupo se apresentou no finado Free Jazz. Obrigatório, portanto.
O Kraftwerk toca ainda em Brasília, no dia seguinte.
Ainda sobre o Creamfields, o duo inglês Chemical Brothers encabeça a versão latina do festival-rave de Liverpool, que acontece no Brasil pela primeira vez --foi realizado já no México e na Argentina.




STROKES SIM, CURE NÃO


Os únicos latinos que verão a nova fase da banda de Robert Smith ainda este ano serão os mexicanos. A turnê sul-americana passou, segundo informações do grupo, para 2005.
Mas outra banda a engrossar o Supernovembro é a badalada Strokes, de importância suprema no cenário do novo rock.
Informações vindas do próprio empresário da banda dão conta de que o grupo, que tocou no escocês T in the Park na semana passada, só sairá da toca para se apresentar no Reading/Leeds Festival em agosto e na América do Sul (seriam dois shows no Brasil) em novembro. Até o semanário inglês "New Musical Express" soltou a informação.
O problema é saber se os Strokes se apresentariam solo ou seriam o grande nome do Tim Festival. Porque, se botarem os Strokes no Via Funchal, deve acontecer uma sangria recorde na disputa por ingressos.





PRODIGY


Se tem o Supernovembro nos shows, parece que vivemos ainda o Superjulho nos lançamentos. Os lançamentos virtuais, na verdade. Está na rede, para mim e para você, o "Always Outnumbered, Never Outgunned", vigoroso disco da perigosa Prodigy, oito anos depois de infectar a música eletrônica com o espetacular "The Fat of the Land". "Outgunned", o disco novo, é áspero e não alivia nenhum ouvido. O grupo do cerebral Liam Howlett distorce o Nirvana, altera o rap, transforma o Oasis em banda punk e refaz a disco music como se John Travolta hoje fosse um traveco que fazia seus passinhos de dança sob os cacos do globo disco de luz.
Algumas faixas comentadas de "Outgunned":
* Spitfire - A atriz Juliette Lewis, que uma vez chupou o dedo do Robert DeNiro, cospe fogo nesta potente abertura.
* Girls - A tal dizzzco music, que eu falei. Primeiro single. Elektro-punk f***. Os vocais femininos são da porcaria Ping Pong Bitches, que aqui estão espetaculares. Valeu, meninas.
* Wake Up Call - Funk barra pesada, levado pelo rapper Kool Keith. Acorda aí, que o bicho tá pegando, é a mensagem.
* Phoenix - Cover doentia de "Love Buzz", clássico do Nirvana que nem é do Nirvana.
O que com Cobain era um metal sexy, aqui é música para trilha de filme esquisito do David Lynch. O Liam Howlett disse que "Phoenix" soa como se o Fatboy Slim tocasse guitarra solo no Kinks.
* Shootdown - O começo é "Firestarter". Depois é um electro Sex Pistols, quase Sigue Sigue Sputnik, com Liam Gallagher no vocal e Noel estourando o baixo.


IH, VAZOU

Falando em Prodigy, Libertines, Interpol e "lançamentos" virtuais (esses álbuns que chegam à internet meses antes de irem às lojas), uma péssima notícia para a indústria fonográfica.
Não é difícil prever, a troca de arquivos na rede, principalmente o de MP3, só faz crescer. Mesmo com as ameaças de ações judiciais e as (ineficazes) trucagens anti-pirataria nos CDs oficiais, um estudo aponta que hoje 8.3 milhões de pessoas trocam arquivos em comunidades tipo Kazaa e Soulseek. No ano passado, esse número não chegava a 7 milhões.
O troca-troca está dividido assim: 58% dos 8.3 milhões dos downloaders baixam músicas; 20.3% caçam vídeos pornôs; 8.7% catam filmes; e 5.7% estão nessas pelo intercâmbio de programas de computador.






FORA DA ORDEM


A molecada do Lost Prophets tocando "Reptilia", dos Strokes, no festival de Glastonbury. Strokes tocando "Clampdown", do Clash, no festival escocês T in the Park, domingo passado. Você precisa ouvir essas duas.





SABRINA, OS DIAMANTES NÃO SÃO PARA COMER

A revista "FHM", publicação inglesa para homens, juntou cerca de cem modelos, atrizes, cantoras e bonitonas em geral para gravar um CD comemorativo dos dez anos de seu suplemento de maior sucesso, o 100 Sexiest Women in the World. Gravaram um clipe animado e um single com a cover da conhecida e emblemática (para elas) "Do Ya Think I'm Sexy", sucesso do cantor escocês Rod Stewart e que um dia também ganhou uma cover sensacional dos Revolting Cocks, blablablá. A idéia era encartar o single na revista e tal.
Acontece que a música, na versão mulherada, entrou nesta semana no Top 20 da parada britânica. É um lixo sem tamanho, lógico, mas o clipe é animado. E a história é boa.




MORRISSEY E OS MAIS JOVENS

Dei a pista aqui na semana passada, mas queria me estender um pouco mais sobre a apresentação do cantor-dândi Morrissey no último Glastonbury Festival. Falei que dava para baixar alguns vídeos desse show pela internet. A BBC 3 transmitiu parte do concerto, pelo que eu entendi, e ele foi parar na rede. Elegante e com uma banda de senhores vestindo terninho, o cara que um dia liderou os Smiths cantou para uma multidão à frente dele. Mas poucos ali eram realmente "o público" do Morrissey. O Glastonbury é um festival canseira para a molecada. Não recomendado para ninguém maior que 20 anos. Muitos ali sabiam dos Smiths pelos livros de história.
Mas a arena estava lotadíssima. E o Morrissey balançando o microfone, esgarçando a camisa e gastando a garganta para soltar suas letras "salvadoras" para a meninada da geração Linkin Park.
A massa pouco se movia, mas todos pareciam estar muito atentos.
No máximo, balançavam pouco a cabeça, para acompanhar as canções, principalmente as dos Smiths e as duas do álbum novo que tocam bastante nas rádios.
Mas quando a música acabava, o aplauso era caloroso, forte. Eles entendiam que o sr. Morrissey merecia todo o respeito.

SORTE DE LEITOR - Semanas atrás andei esbravejando com a "New Musical Express" por causa da minha assinatura. Estavam vacilando, não entregavam algumas edições. Fui firme na reclamação: "Como posso fazer minha coluna desse jeito?"
Não é que nesta semana eles me enviaram um pacote com os números atrasados. E neste pacote estava uma "NME" repetida, a que encartou o disco "Songs to Save Your Life", o CD especial que o Morrissey montou para os leitores do semanário. E que já está sendo campeão de pedidos dos leitores daqui, desde foi colocado a sorteio aqui, na semana passada. Pois aí vai para promoção mais um original "Songs to Save Your Life", com a "NME" de capa do Morrissey e tudo. Só para lembrar, são 17 músicas, uma quase-inédita do próprio ("The Never Played Symphonics"), mais Libertines, Killers, Ordinary Boys e Franz Ferdinand (com "Jacqueline" ao vivo). Quer? E-mails para lucio@uol.com.br




(MAIS) PROMOÇÃO DA SEMANA

O Cure não vem mais para você, mas o disco novo da banda ainda pode ir. Pedidos calientes pela última obra de Robert "Cabelinho" Smith podem ser feitos no email de sempre. Alguém vai levar o disco. Outro que pode ir parar na sua coleção é um manufaturado "Franz Ferdinand Live in Glastonbury", showzaço dos queridíssimos da Escócia, que tem 12 músicas e uma qualidade linda. Para concorrer, você sabe como. Faço até uma capinha caprichada.

* Três leitores ganharam e ainda não levaram. Uma comédia de erros e desencontros impediram duas coleções dos Pixies (faz tempo) e um livro do grande Fábio Massari (faz teeeempo) de serem entregues a quem faturou os prêmios. Esses problemas vão ser sanados até a semana que vem. Desculpa aí.

* Lista dos vencedores nesta semana fica para a próxima coluna.




PORTO ALEGRE, ZERO GRAU

Justamente no mesmo fim de semana em que o Grêmio vem a SP, este colunista baixa na quente Porto Alegre para participar de um seminário de música... eletrônica. Vai acontecer no Santander Cultural, no sábado às 15h, e terá ainda a participação do expert Marcos Boffa. Muitas horas antes, nesta sexta à noite, dou o som na festa rocker Noisy, no Circuito Bar (Lopo Gonçalves, 66). Apareçam os do Sul.




TCHAU MESMO

Vai no Black Eyed Peas? Não sou muito chegado. Tem o bom Violins (GO) na Funhouse na sexta (hoje?) e o impagável Jumbo Electro no sábado. O primeiro na Funhouse, o segundo no clube novo Exxex Clubaret, no Itaim, reduto boy paulistano. Ia passar à frente uma teoria engraçada sobre o entreveiro Chorão x Camelo, mas desencanei. O Chorão foi gênio nesta semana. Primeiro pediu calorosa desculpa através de seu site. Depois, com outro comunicado, aliviou a desculpa, pois não era bem assim. Por fim, retirou tudo e ainda postou um áudio de "Ana Julia", hit dos Los Hermanos, quando esta serviu de jingle para uma propaganda de celular. Falei com mister Ian McCulloch nesta semana. O "brasileiro" do Echo & The Bunnymen está animado com mais uma visita ao seu "segundo lar", de acordo com palavras do próprio. É para o tal projeto com cantores nacionais. Canta com o Leo Jaime em São Paulo. Podia ser pior, tipo no Rio, que vai ser com participação do Frejat. Porto Alegre é que vai se dar melhor: o convidado lá é o roqueiro Wander Wildner. Falando em Wildner e Porto Alegre, um recado pro Cardoso. Aparece na balada de sexta, na Noisy. Deixo uma lição de casa. Procure ouvir a excelente "Stand Up Tall", nova do moleque inglês Dizzee Rascal. É tudo. Na semana que vem eu falo mais dela. Conversado?
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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