Pensata

Lúcio Ribeiro

06/08/2004

Dot Com

"If there's something inside that you wanna say
Say it out loud it'll be okay
I will be your light
I will be your light
I will be your light
Beta Band, em "Dry the Rain"

"We were lovers, we were kissers
We were holders of hands
We were make-believers just losing time"
Stills, em "Still in Love Song"

"Slash dot Dash dot
Slash dot Dash dot com
Dot com"
Fatboy Slim, em "Slash Dot Dash"


Hey!
Quem é você? Onde você está?
Qual sua música favorita?
Fala aí, escreve aí..

* Foi inacreditável a repercussão da história da semana passada, sobre a síndrome das "classic rock" em rádios não "classic". Deve ter sido o recorde de emails do ano, na coluna. Mais que isso, deve ter sido o recorde de emails participativos da Popload em muito tempo. E olha que a quase totalidade das missivas eram para dividir a mesma opinião. Surpresa minha, foram pouquíssimos os que vieram para achincalhar o colunista, diferentemente do que acontece nessas ocasiões de polêmicas do tipo. Embora a batalha sempre pareça perdida, isso é um bom sinal.
* Falando em novas bandas, novo gás e vida pulsante na música, é inacreditável o painel gigante do Franz Ferdinand que ocupa boa parte do lado de fora do prédio megaloja FNAC, a de Pinheiros (SP). Nem em Glasgow os caras teriam tal exposição. Guardada às devidas proporções, lembra o painel da Times Square, em Nova York, o espaço mais caro do mundo. Que atualmente é ocupado pela C2, a Coca-Cola low-carb.

* Boa notícia para os cariocas. O Tim Festival 2004, que só iria acontecer em São Paulo, neste ano, vai ser realizado no Rio também. Quem falou foram os caras do Kraftwerk.

* Bem-vindo à coluna. Bom te ver.




UM RAP, UM BEAT, UM PUNK

Tempo quente na música pop. Principalmente lá para cima, época dos festivais do verão europeu em que a ordem é dançar tudo com a cabeça ardendo sob o sol bravo.
Uma banda de hip hop resolveu contar a história do movimento em uma só canção. E o título lema é implacável: "As armas não matam as pessoas. São os rappers quem matam".
"Guns Don't Kill People, Rappers Do" é hit de rádio e de internet. E por zoar com nomes conhecidos do hip hop já seria um evento, não fosse tal rap sair da boca de um coletivo de dez branquinhos do improvável País de Gales. O grupo, anota aí, se chama Goldie Lookin' Chain.
Um single esperto, "Half Man, Half Machine", lançado em abril, chamou a atenção para a bizarra formação. Mas quando "Guns Don't Kill People, Rappers Do" e uma outra zoeira rap, "Your Mother's Got a Penis", começaram a circular, em julho, o Goldie Lookin' Chain virou mega.
O "circular" da frase acima é por sua vez engraçado. O clipe já está na MTV, a música é uma das mais pedidas nas rádios britânicas, a trupe galesa andou abrindo os shows para o Darkness e para o Streets, passou pelo Glastonbury Festival, está escalada para o palco principal do gigante Reading Festival e tocou até em Ibiza.
Mas "Guns Don't Kill People, Rappers Do", o single, ainda está por ser lançado. Sai daqui a duas semanas. O álbum, o primeiro do GLC, batizado de "Greatest Hits" (notou?), chega às lojas só em setembro.
"Guns" é um escracho. De batida preguiçosa e uma frase de guitarra repetida sem parar, a letra dispara contra toda a cena do rap, de Vanilla Ice a Eminem, da polícia aos políticos.
Fala da troca de nome do Prince, rima "violent" com "silent" para dizer que Michael Jackson pediu para o "pequeno Timmy" ficar quietinho. Versa sobre o fino trato do Eminem com as mulheres, dos documentários da BBC2. Lembra 2Pac, P-Diddy e J-Lo. E revela que o Vanilla Ice ensinou a mãe (deles) a cantar a palavra "fuck".
O clipe, entre outras citações, usa a linguagem Beastie Boys de aproximação da câmera na hora de soltar o rap. Prepare seus ouvidos para o Goldie Lookin' Chain. Se a banda conseguir levar seu som além do Atlântico e chegar nas Américas, a bagunça vai estar instaurada.

* Já pode ser ouvido o novo single da entidade Fatboy Slim, o projeto do superstar-DJ Norman Cook. "Slash Dot Dash", que vem à luz em CD somente no dia 13 de setembro, já foi distribuído às rádios européias e fala a linguagem da internet. As palavras de seu título são as únicas proferidas na música inteira, repetidamente e acrescida da internética "com". É como se alguém cantasse algo como "Hífen, barra, ponto com" o tempo todo.
A música é um samba eletrônico. Com as guitarras do White Stripes.por cima.
O próprio Norman Cook explica: "A música é um mix do velho e do novo Fatboy Slim. As guitarras desta vez não foram sampleadas, e sim tocadas ao vivo. O plano era criar um clima Buzzcocks e White Stripes. E comentar essa nova linguagem que as pessoas andam falando, embora eu não tenha nem um computador em casa. Na verdade eu tenho um Atari no meu estúdio, mas ninguém nunca me mandou um e-mail através dele".
"Slash Dot Dash" será o primeiro single a sair do novo álbum "Palookaville", escalado para ir para as lojas em outubro. Damon Albarn, do Blur, e Bootsy Collins farão participação especial.

* A decana banda punk Green Day volta aos negócios com uma música nova bem legal, até. "American Idiot" já toca em rádio lá fora. É o primeiro material inédito do grupo californiano em quatro anos. O som é rápido, bem Green Day mesmo, com Billie Joe Armstrong cantando em vocoder e tudo. A música está no álbum de mesmo nome, que vai ser lançado mês que vem. Mas antes, e isso é engraçado, a canção sairá primeiro nos EUA em... videogame. "American Idiot" é o carro-chefe da trilha sonora do "Madden 2005", game de futebol americano que chega às lojas ainda este mês. A trilha do jogo não é fraca. Tem Franz Ferdinand, Hives, Mooney Suzuki e o Faith No More




SENHORAS E SENHORES, THE HIVES

Numa passagem recente pelos EUA, para divulgar o novo "Tyranossaurus Hives", a banda sueca The Hives tocou uma das músicas do CD no programa do entrevistador popstar David Letterman.
Ao final do show, com o grupo já fora do estúdio, um surpreso Letterman disparou a elogiar a miniapresentação dos escandinavos, dizendo que o que eles tinham feito havia pouco no programa era uma performance realmente "rock'n'roll", naquilo que se espera de um rock mais "verdadeiro".
O que as palavras simplórias de Letterman sugeriam é exatamente o que move o som do Hives. A banda encheu seu aguardado terceiro disco, esse que chegou agora até as mãos brasileiras, com rock de alta velocidade e ao mesmo tempo de um pegajoso pop desses que só os Ramones eram capazes de fazer. A química do Hives é completada pela incrível performance ao vivo comandada por seu vocalista e "homem-show" Howlin' Pelle Almqvist, uma mistura insólita de Mick Jagger com Sílvio Santos, com a inquietude do primeiro e a comunicabilidade com a "platéia" do segundo, muitas vezes fazendo uso do microfone-gravata. É dessa composição bagunçada e feroz a que Letterman estava se referindo.
"Tyranossaurus Hives" é elétrico da faixa de abertura, "Abra Cadaver", até a última, "Antidote" ("Você quer o antídoto, mas eu tenho o veneno", diz o refrão dessa).
A temática das letras e o uniforme terno-e-gravata bicolor do Hives tendem à comédia. O grupo, além de Pelle Almqvist, tem Dr. Matt Destruction, Vigilante Carlstroem, Chris Dangerous e Nicholaus Arson. Se você olhar bem, parece uma banda de história em quadrinhos. Se você ouvir bem, parece trilha de videogame. Mas o som da banda é muito sério.
As duas canções que puxam "Tyranossaurus Hives", o single "Walk Idiot Walk" e "Two-Timing Touch and Broken Bones", respectivamente a terceira e a segunda faixas, são a síntese da explosão do garage-punk da classe de 2001/2002 do rock. Uma musicalidade minimalista e energética que cansa os menos preparados para a urgência da música jovem atual e globalizada, seja no hard-rock do Datsuns (Oceania), no punk de rua do Libertines (Inglaterra), no pop sujo do Mooney Suzuki (EUA).
Uma das dezenas de bandas novas (ou pelo menos novas aos olhos gerais) que passaram pela porta aberta por Strokes e White Stripes, o Hives chega com "Tyranossaurus Hives" ao seu primeiro lançamento por uma gravadora grande. E, mesmo depois de quatro anos sem gravar, chega em grande forma.
Este CD novo é tão coeso em sua variedade que não dá saudade dos discos anteriores, nem do megahit "Hate to Say I Told You So", lançado em single em 2001.
Quando o Hives e "Hate to Say..." apareceram na cena britânica, no tal ano especial de 2001, a pequena e esperta Poptones catou a banda para si e armou uma coletânea de apresentação do quinteto sueco para inglês ver.
Deu à compilação o singelo nome de "Your New Favourite Band". Dependendo do vigor juvenil do ouvinte, este seria um nome cabível a este álbum novo.
Todo o rock está presente em "Tyranossaurus". De Stones a Stooges. De AC/DC a Pixies. E é neste ultimo que o grupo sueco aponta sua guitarra com mais vigor. Em boa parte do CD, em especial nas ótimas "See Through Head", "Love in Plaster" e "No Pun Intended", o Hives ataca de surf punk.
Dono das melhores tiradas do pop atual, Howlin' Pelle Almqvist costuma dizer que "uma banda de rock deveria ser alguma coisa barulhenta e perigosa, tipo um tanque de exército com cérebro". É assim que é o Hives. Pelle falou e disse.

PROMOÇÃO HIVES: O novo disco do incrível Hives, em edição nacional, pode ser seu, se você caprichar no e-mail para lucio@uol.com.br e dizer qual sua atual música preferida. Vai afinar? O Hives é muito rápido para você?




LONDON'S BURNING

À pedido do Folhateen, caderno teen da Folha, fiz um texto para falar da música jovem inglesa atual. Saiu publicado na última segunda. Não há muita novidade além do que eu já venho escrevendo sempre por aqui, mas de todo modo reproduzo o texto do Teen, porque entre outras coisas acho legal chamar sua atenção para a história do grupo Departure. O Goldie Lookin Chain, que aparece lá em cima no começo da coluna, também está aqui. É só um recorte, porque tem muito mais coisa rolando por lá. Mas, enfim, o que saiu no Folhateen foi o seguinte.

"Londres está em chamas, como uma vez gritou o Clash. Mais que Londres, a Inglaterra. Mais que a Inglaterra, todo o Reino Unido arde com a música pop atual. O escocês Franz Ferdinand virou megabanda em três meses. O explosivo e instável grupo Libertines se transformou no porta-voz oficial da nova geração de moleques ingleses já no segundo disco, que é sucesso, muita gente tem, as rádios tocam, mas o álbum mesmo só vai chegar às lojas de disco no final deste mês.
O levante do novo som inglês, seja ele rock, indie, punk, rap e eletrônico, ou a mistura de tudo isso, é uma espécie de "revanche britânica" depois de anos de domínio americano na música pop, liderado por Strokes e White Stripes.
Na era da internet, em que a seção "Lançamentos" de revistas, jornais e rádios estão passando por reformas (o lançamento virtual anda movimentando a cena bem mais do que o real), bandas pequenas e novíssimas pulam do nada no Reino Unido para shows lotados e execuções em rádio, só porque o single ou álbum que nem foi lançado "escapou".
Acompanhe o caso da banda Departure, cujo integrante mais velho tem 22 anos.
O grupo, de Northampton, deu sorte de ser escolhido para abrir os shows da banda americana The Killers, antes de o Killers "estourar" na cena indie inglesa. O Killers estourou, os ingressos das apresentações se esgotaram, e o Departure foi na carona.
A banda inglesa agradou na abertura. Os olhos grandes da grande gravadora Parlophone caíram sobre o Departure e um contrato expresso foi providenciado. Um CD demo da música "All Mapped Out" caiu na internet e nas mãos dos DJs de rock mais ouvidos da Radio One, a emissora pop da BBC. E virou hit na rede e no ar.
O detalhe é que o Departure foi formado em janeiro deste ano. Alcançou um bom contrato aos três meses de vida. Aos cinco, tocava na BBC. E, aos seis, já ocupava espaço em computador de jornalista brasileiro. E seu primeiro produto palpável, o single oficial de "All Mapped Out", tem lançamento convencional apenas hoje, na Inglaterra. Sentiu?
Essa animação toda da cena britânica está dando status de megabanda ao grupo escocês Snow Patrol da noite para o dia. Mesmo com dois bons primeiros álbuns, a banda nunca havia saído dos subterrâneos de Glasgow. Um mês depois do lançamento do terceiro CD, "Final Straw", fez pelo menos três de suas principais músicas serem cantadas por dois festivais gigantes. Saiba mais sobre três dos muitos exemplos da animação pop inglesa atual.

The Departure
De onde: Inglaterra
Som: Música indie britânica que podia ser escocesa, por causa do jeitão art-rock
Parece com: Franz Ferdinand
CD: a banda tem zero música lançada; o primeiro single será lançado hoje, mas, desde que toca em rádio (há um mês) e o show da banda ficou faladíssimo, "All Mapped Out" se tornou um grande cartão de visitas para a jovem banda, que assinou com uma major e ganhou convite para a maioria dos festivais britânicos que interessam
Músicas recomendadas: A tal "All Mapped Out", ótima, funk punk de sotaque bem inglês

Goldie Lookin' Chain
De onde: País de Gales
Som: hip hop galês, bem-humorado, consegue imaginar?
Parece com: Beastie Boys chapado, mais lento, malandro
CD: atenção para o nome do primeiro disco deles: "Greatest Hits"
Música recomendada: "Guns Don't Kill People Rappers Do", hit de rádio e da internet, que zoa com vários rappers na letra

Ordinary Boys
De onde: Inglaterra
Som: pop inglês dos anos 80, com vocal exagerado
Parece com: Tem bastante Smiths, um pouco de Blur e algo de Libertines
CD: "Over the Counter Culture", lançado em julho
Música recomendada: a grudenta "Week In, Week Out", britpop meio caipira, até




MAIS PRÊMIOS

Além do Hives novo, a coluna oferece a sorteio mais uma cópia do livro da urb-escritora Clarah Averbuck, "Vida de Gato". E mais um exemplar da edição nacional de "Final Straw", do disco lindo do Snow Patrol. Manda e-mail aí para concorrer. Mandou?




POPICES

A ótima banda The Killers está na Hot List da edição atual da "Rolling Stone"// Sábado, na Funhouse, toca o grupo Van Damian, que segundo rola é o Queens of The Stone Age brasileiro.// No mesmo dia, o Biônica, que já está fazendo circular seu bonito álbum de faroeste paulistano, se apresenta no Atari. Discoteca do diabo.// A vigorosa Borderlinerz faz rodada dupla no final de semana: sábado se apresentam no Exxex; domingo no Jive, às 18h. No último Amni Hot Spot, o Borderlinerz fez a trilha de um dos desfiles, mandando uma ótima versão de "A Forest", do The Cure. Já tinha falado isso aqui?// Começa nesta sexta e vai até domingo a edição 2004 do caprichado Eletronika - Festival de Novas Tendências Musicais. Vai até domingo. A intensa programação de shows e workshops você tem acesso pelo www.eletronika.com.br. Se joga, já que o Atlético e o Cruzeiro não estão grande coisa no Brasileirão.// Música para já: a nervosa "Shoot Down", última faixa do discaço novo do Prodigy.// A lista dos ganhadores da promo da semana passada pintam aqui na próxima coluna.// Salvem as baleias, libertem as fockas.// Você nunca deu nada pelo Backstreet Boys, não é? Acha uma banda de meninas e tal. Mas olha o que o Nick Carter fez com a agora ex-namorada, Paris Hilton, nossa princesa bilionária e atriz de fitas proibidas. Até mais.

Reprodução

Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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