Pensata

Lúcio Ribeiro

25/08/2004

Primal Scream vem. Strokes diz que vem

"Stop to pretend, stop pretending
It seems this game is simply never-ending"
Strokes, em "The Modern Age"

"I'm not trying to be
no big ting
I'm not trying to give you
no advice"
Skinnyman, em "No Big Ting"

"I wanna stand up
I wanna let go
You know, you know
No, you don't, you don't"
Killers, em "All These Things That I've Done"


A-í!
Beleza?

Coluna gringa , em semana de correria brava.
Popload na Inglaterra, libra a quase R$ 6. Frio no verao. Aquela maravilha.
Nao espere textos longos nem acentos deste computador ingles que esconde o til, o c-cedilha e o circunflexo. O de resto que voce espera está aí embaixo. Os shows do V Festival, entrevista com os Strokes, Primal Scream no Brasil e a música pop na era do celular. E mais, bem mais.

* Daft Punk no Brasil? MTV2 no Brasil, só com clipes e jornalismo, ainda este ano? Chemical Brothers e Death in Vegas no final de outubro?

* Neste final de semana, aqui em Londres, vai ser difícil encontrar uma só pessoa dentro de casa. Tem o carnaval de Notting Hill, o que significa 3 milhoes de pessoas nas ruas e 42 caminhoes de som tocando reggae, hip hop, samba e salsa. Nao muito longe dali, em Kings Cross, acontece o Cross Central, festival de nova música (nao só) com ótimas atracoes que vai do Jarvis Cocker (Pulp) fazendo DJ set até British Sea Power, Kills, The Others, Erol Alkan, LCD Soundsystem, Blackstrobe, Ladytron e Chicks on Speed. Mais outros cem nomes. Para acabar, um pouco fora de Londres, tem o velho conhecido Reading Festival, suas 40 horas e 148 bandas.

* Enquanto isso, um amigo me diz que, no mesmo final de semana, o próximo, aí no Brasil, uma comunidade de admiradores do desenho do Pica-Pau planeja fazer um "flash mob" (lembra isso?) em frente ao Masp. Em homenagem específica ao episódio em que o personagem desce as cataratas do Niágara num barril. Os amigos do pássaro no Orkut vão para o museu vestidos com capas de chuvas amarelas. Porque o Pica-Pau usou capa amarela neste desenho.

* Stand up tall.




V FESTIVAL

* PRIMAL SCREAM - Sim à guerra. O V Festival 2004, uma das principais aglomerações jovens em torno de música pop do verão britânico, terminou no último domingo com uma "batalha" sonora que muito provavelmente vai reverberar violenta no Brasil.
A veterana banda escocesa Primal Scream e os ainda infantes Strokes, de Nova York, fecharam o festival do conglomerado Virgin com dois shows praticamente na mesma hora, cada qual arrastando hordas de admiradores para seus espaços. E, acabado o V 2004, o que se vê na agenda de apresentações futuras de ambas as bandas são shows em São Paulo.
O "guerrilheiro" Primal Scream, segundo a Popload apurou aqui na Inglaterra, está escalado para a próxima edição do Tim Festival, que será realizado em novembro no Jockey Clube. A banda de Bobby Gillespie se junta a uma lista que, ainda extra-oficialmente, enfileira atrações como Kraftwerk, o mexicano Kinky, a dupla 2ManyDJs e o rapper inglês pop star Dizzee Rascal.
Será a primeira vez que o Primal Scream, banda com quase 20 anos de carreira, se apresenta no país. Em 1998, o grupo foi oferecido pela marca de roupa Levi's para shows na América Latina. A subsidiária argentina solicitou o Primal Scream para Buenos Aires. A brasileira, não. Uma hora dessas eu conto melhor essa história.
Bobby Gillespie, que começou baterista do lendário Jesus & Mary Chain, fundou o grupo em 1985. Na virada para os 90 já era considerada uma das mais influentes bandas britânicas da história recente.
O abarrotado show do Primal Scream foi em uma das tendas enormes do V Festival, um Via Funchal de lona armado a uns 300 metros do palco principal onde estavam os Strokes. Quando estava para chegar a hora de Gillespie e seus seis parceiros (entre eles o baixista Mani, ex-Stone Roses) darem seu show, as entradas para a tenda precisaram ser bloqueadas, por causa do afluxo grande de público.
O show foi o mesmo que a banda vem apresentando há dois anos, desde que lançou o CD "Evil Heat", seu último álbum de inéditas. No ano passado, o grupo escocês editou seu primeiro disco de "best-of" da carreira, a coletânea "Dirty Hits".
Em ação, o Primal Scream, que já foi rock, depois indie-dance, depois britpop, depois rock de novo, desde o contundente CD "XTRMNTR" (2000) assumiu uma feroz faceta que mistura símbolos bélicos a palavras de ordem, embalados por um rock bem pesado e uma música eletrônica à la Prodigy, tudo junto.
E isso é entregue ao vivo de uma maneira bem violenta. O grupo fica alinhado (quatro músicos mais Gillespie) bem perto da beira do palco, quase empurrados para baixo pela bateria, pelo encarregado dos teclados e por uma opressora parede de amplificadores.
É impressionante a disposição da banda. Pedradas como "Exterminator", "Miss Lucifer", "Rise" e "Swastika Eyes" se sucedem sem que o grupo, montado todo ele por músicos "da antiga", perca o gás juvenil. O pique é tanto que até a meiga "Movin on Up" parece heavy metal.
Primal Scream no Jockey paulistano promete ser uma experiência única. Rock de referência e energia sonora em doses cavalares. Com o perdão do trocadilho.

* STROKES - "Hoje acaba. Agora, antes de lançarmos o terceiro disco, só nos apresentaremos ao vivo no Brasil." A pergunta sobre "os tais shows no Brasil" ainda estava guardada quando o baterista Fabrizio Moretti, da banda americana Strokes, soltou para a Popload a afirmação acima, hora e meia antes de o grupo fechar o V Festival com o show cuja expectativa levou a esgotar os ingressos do sábado em tempo recorde.
"Pode marcar aí. É um compromisso muito sério com os fãs brasileiros e latinos, em geral, que pretendemos levar adiante. Vamos tocar no Brasil ainda no final deste ano ou, se der errado, no comecinho do próximo", afirmou Moretti, que vive em Nova York desde pequeno, mas nasceu no Rio de Janeiro. "É um absurdo a quantidade de pessoas que gostam dos Strokes na América do Sul e contatam nosso website. Mais absurdo ainda nunca termos tocado para esse público."
Moretti falou que dois promotores do Brasil apresentaram propostas para a ida dos Strokes ao Brasil. Uma delas de uma rádio. E, segundo Fabrizio e também o vocalista Julian Casablancas, que participou depois da conversa, uma delas deve vingar.
Os Strokes agora voltam a Nova York para gravar o terceiro álbum, previsto para ir às lojas por volta de maio de 2005.
"Nenhuma música está pronta ainda", disse o baterista.
"Temos apenas algumas idéias de canções, alguns trechos delas desenvolvidos, mas vamos finalizá-las no estúdio, quando voltarmos a Nova York. Mas dá para dizer que as músicas parecem bem mais pesadas que as dos outros discos. Deve sair um álbum muito pesado, eu acho. Cheio da mesma coisa de paixão, amor. Mas pesado."
Mas um outro produto Strokes será lançado antes do sucessor de "Room on Fire". Em outubro será editado (inclusive no Brasil) o CD "Live in London", tirado de apresentação da banda em dezembro passado no Alexandra Palace, casa de shows da capital inglesa. A gravação é da BBC.
"Eu sei que uma banda com apenas dois discos resolver lançar um ao vivo pode parecer pretensão, mas a atmosfera desse show foi tão incrível que gostaríamos de dividi-la de alguma forma com os muitos fãs que não conseguiram ingresso para esses shows. E o disco ao vivo ainda vai ter um preço mais baixo que o de um CD normal", justificou Moretti.
No próximo dia 20 sai na Inglaterra o single de "The End Has No End". O disco terá como extra a cover ao vivo de "Clampdown", do lendário grupo punk inglês The Clash. A cover, tocada no show do V Festival, vai estar no disco ao vivo dos Strokes.
"Todos da banda adoram o Clash. Começamos a tocar essa música de farra, nos shows. E, como os ingleses não reclamaram, vamos botar ela no disco", brincou o baterista.
Os Strokes têm tocado em suas apresentações uma outra cover, a de "A Salty Salute", da banda indie americana Guided by Voices. Mas essa versão não deve constar do disco ao vivo.

* MAIS STROKES - O show do grupo nova-iorquino no V Festival foi bacana, mais ou menos. Teve um componente que fez o show ficar maravilhoso em algumas músicas e chato em outras. Julian Casablancas, o vocalista, estava com-ple-ta-men-te bebado no palco. Talvez por ser o ultimo show dos Strokes dessa fase "segundo disco", o vocalista estava visivelmente em estado alterado. Na hora em que eu entrevistava o Fabrizio Moretti no camarim da banda, ele chegou quase no fim da conversa com uma simpatia de dar medo. Parecia que me conhecia havia muito tempo. O baterista só ria. No palco, a voz dele estava muito enrolada. Quando a "viagem" de Julian tomava um tom agressivo e rebelde, o show funcionava. Quando a bola baixava, a apresentacao se tornava morna. Perdi as últimas seis músicas do show da banda, para correr e ver o Primal Scream, que já estava tocando.

* PIXIES - Imediatamente antes dos Strokes, o palco principal do V, no domingo, recebeu os Pixies. Com a Kim Deal de cabelo curto, estilo "joaozinho". O show foi sensacional do início ao fim. Todas as 25 músicas. Ainda acho inacreditável como uma banda dessa num momento deste já tenha tocado no Brasil. Bendito Curitiba Pop Festival.

*STROKES E PIXIES - "Os Pixies nao abriram para os Strokes. Por algum motivo que nao sei qual, botaram a gente para tocar depois deles. Nunca associe o termo "banda de abertura" aos Pixies.. Jamais", disse o guitarrista Albert Hammond Jr. ao jornal "Independent".

* OUTROS - Show lindo-lindo do grupo escoces Snow Patrol. A banda é bem simpatico, funciona ao vivo, o público canta todas as músicas, Já virou mega, mesmo. A apresentacao do grupo rap-zoeira Goldie Lookin' Chain, do País de Gales, foi impagável. Tem 13 caras no palco, agindo igualzinho aos Beastie Boys. A hora de "Guns Don't Kill People, Rappers Do", que abriu o show, foi um evento. Kasabian e Zutons, duas das novas bandas do Reino Unido, mataram a pau. Showzinhos de meia hora, pá, pum.

* DRUM'N'BASS - Já tinha visto essa camiseta campea uma outra vez, mas tinha me esquecido dela. No dia que eu achá-la para vender, vou comprar. Tem a frase "Drum'n'bass" no alto. E embaixo uma foto do Ringo Star e outra do Paul McCartney.




O CELULAR E A MÚSICA POP

Hoje em dia, nos megafestivais de músicas aqui na Inglaterra, no Brasil, Ibiza, onde for, voce tem as bandas, o público e o. celular.
Atual melhor amigo da música pop, o telefone móvel nao está "apenas" bastante empenhado em entrar no arenoso mundo do download nem só em marcar território ocupando o nome dos eventos (V Festival - Virgin Mobile; Tim Festival; Nokia Trends - Sonar Brasil.).
Pelo visto no último final de semana no ingles V Festival, o ajuntamento de dezenas de bandas e 130 mil pessoas para "celebrar" o celular da Virgin em uma fazenda de Chelmsford, o aparelho se confundia em importancia com guitarra, baixo, bateria e picapes.
Em um evento criado na era da juventude viciada em celular, todo mundo a toda hora parecia estar com o aparelho em maos. Seja para encontrar o amigo perdido na multidao, para avisar quando um certo show comecou lá na tenda distante ou ainda para dividir o momento com quem nao estava no festival e nao podia presenciar "aquela" música "daquela" banda. Na hora dos Pixies, dos Strokes ou do Snow Patrol, eram muuuuitos os aparelhos erguidos ao céu na hora dos hits de tais bandas.
Mas o celular conseguiu ir além, no festival da Virgin. Ele foi usado como instrumento de entretenimento
Os imensos teloes ao lado do palco principal, nos intervalos dos shows, serviram como um quadro de recados gigante. Pessoas mandavam uma mensagem para uma central, dentro do festival, e essa central reproduzia o escrito para milhares nos teloes, para milhares.
E, se tinha algum recado "sério", o que virou atracao obrigatória no festival foram exatamente as mensagens-palhacada. E aí ninguém conseguia desgrudar o olho os recados no telao. Era gozacao de futebol, paquera, piadinhas ("Sabe por que o Michael Jackson."), zoeira entre amigos, aluguel com os fas dos grupos que iam tocar.
"Strokes é banda de menina"; "Michael, venha já para casa que eu estou esperando com seu chá"; "Dá um grito aquele(a) que transou com duas pessoas diferentes hoje, no camping". E aí vinha a gritaria.
Mas a mensagem mais bizarra, pelo menos para mim, veio pouco antes de os Pixies subirem ao palco, no sábado.
Dizia o seguinte: "Nao perca tempo aqui. Vao para suas casas ouvir Tribalists". Em ingles. E sem o "a" final. Tribalists.
Ao meu redor, ninguém se manifestou como em qualquer outra mensagem. Nem riu, nem gargalhou , nem nada. Só eu fiquei com uma cara de espanto.





KILLERS AO VIVO

Minha dívida com a banda americana Killers está paga. Grupo querido desta coluna faz um tempo, andei falando mal deles quando os vi tocarem no Coachella Festival, na Califórnia. Gostava de uma ou duas músicas do grupo e resolvi dar uma conferida no show dos Killers. Assisti a performance em tres músicas, achei chato e fui embora ver outra coisa.
Tempos depois, quando o disco de estréia saiu, o ótimo "Hot Fuss", eu ja curtia bastante a banda e estava bem arrependido de nao ter visto mais da performance deles no Coachella.
Pois me reencontrei com o Killers segunda passada, aqui em Londres. Eles sao a banda mais britpop surgida nos últimos tempos, mesmo sendo de Las Vegas. Tem um que de brega bem legal no som deles, mas tem mais ainda um lado pop poderoso, pegajoso.
A música "All These Things That I've Done", novo single da banda, tem o refrao mais xarope deste ano, mas todo o resto dela é maravilhoso.
Aqui na Inglaterra o povo é doido por eles. O show pegou fogo nos hits da banda de uma maneira que eu fiquei assustado. O Killers, com o perdao do trocadilho, matou.




PROMOÇÕES INGLESAS

* Quitutes pop made in Britain direto para voces: uma revista Uncut (ou é a Mojo?) especial e bacanuda sobre a chegada dos Beatles nos EUA. Junto vem um CD com artistas americanos interpretando alguns sucessos dos Beatles. Outra revista que vai para sorteio é da série "classics" da Uncut e traz uma edicao bem bonita dedicada `a história do U2. Para completar a lista, esta coluna oferece o single "Michael", do Franz Ferdinand. Tudo para sorteio no lucio@uol.com.br. Tudo imperdível, já empacotado e colocado na mala. Vai participar ou qualé?.


* A lista dos ganhadores da semana passada só será divulgada na coluna da semana que vem. Aguenta a mao, porque daqui nao deu para fazer o sorteio.




POPICES

Nas rádios, nas revistas, nos jornais. O show mais aguardado do Reading Festival deste ano é o do White Stripes, pelo que parece. A expectativa é a de que a dupla recheie o show de músicas novas, que estarao no próximo disco.// Enquanto o Brasil procura quem anda matando mendigo em Sao Paulo, aqui em Londres a polícia persegue quem matou uma francesa de 22 anos na semana passada. A marteladas. O negócio foi bem feio e os jornais só dao este caso nas manchetes, principalmente depois que ligaram esse assassinato ao de seis outros que aconteceram desde Janeiro de 2003. O hammer killer, como tem sido chamado, ataca sua vítima a noite, chegando por trás, aparentemente sem nenhuma justificativa, desferindo golpes com uma arma que dá a pinta de ser um martelo. // Da série "coisas que só acontecem na Inglaterra", nesta semana teve um jogo de futebol de uma divisao de baixo entre Plymouth Argyle contra o Yeovil Town. Um jogador do Plymouth caiu machucado e um companheiro de time, que estava com a bola, atirou-a para fora, para que o jogo parasse e o cara fosse atendido. Um adversário do Yeovil, gentil, assim que o jogo foi retomado decidiu devolver a bola para o Plymouth, dando um bicao para o campo do inimigo. Só que o goleiro nao tinha visto que a partida tinha sido reiniciada e, fora de campo, viu a bola tomar o caminho do gol e. entrar. Deu uma confusao generalizada, porque nao acreditavam que o jogador do Yeovil tinha sido mesmo gentil, camarada. E entao o técnico do Yeovil ordenou que seus jogadores ficassem parados e deixassem o Plymouth empatar. O jogo recomecou, um cara do Plymouth foi indo, indo e chutou fácil. Segundo os jornais britanicos, foram os dois gols mais bizarros do futebol ingles. No final, o Yeovil ganhou por 3 a 2 e eliminou o Plymouth de uma das copas daqui. Recompensa?// Fica a dica daqui para aí: Sábado tem Leela na Funhouse O rock prefere as loiras. E, no Domingo, tem Los Pirata mais o Jumbo Elektro no Avenida Clube, em um encontro de notáveis da música indie paulistano. //E por enquanto é só.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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