Pensata

Lúcio Ribeiro

02/09/2004

A luz que não se apaga

"There's a club, if you'd like to go
You could meet somebody who really loves you
So you go, and you stand on your own
And you leave on your own
And you go home, and you cry
And you want to die"

Morrissey, em "How Soon Is Now"

"Woo hoo, woo hoo hoo
Woo hoo, woo hoo hoo
Yeah...
Woo hoo, woo hoo hoo"
5678's, em "Woo Hoo"


Lucio Ribeiro



Oba!
Beleza?

De volta à terra brasilis, abençoada por Deus e bonita por natureza.
Sou Flamengo (não sou) e tenho uma nega chamada Tereza (não tenho).

* Já que não vamos ver o Franz Ferdinand na festa do VMB, principal prêmio da MTV brasileira, como "compensação" vamos ser premiados com um show conjunto de David Byrne (ex-Talking Heads) e Caetano Veloso. Hum...

* Repare: os acentos, os circunflexos e os cês-cedilha voltaram.

* Na semana passada, falei sobre um crime que infestou as manchetes dos diários londrinos, o do maluco que mata pessoas quaisquer a marteladas. Mas me esqueci de mencionar um detalhe impressionante (outro). A última das vítimas, uma francesa de 22 anos, levou martelada até à morte num bairro da região noroeste de Londres, bem à noite. Era uma menina comum, cumprindo sua rotina comum. Foi ao banco, pegou ônibus. Pois, depois do crime, todos os dias, os jornais traziam uma imagem nova da garota em um ponto da cidade, divulgada pela polícia. Cenas da menina durante todo o dia dela. Você está entendendo? A menina numa rua à tarde, num caixa de banco, entrando no ônibus, descendo do ônibus (ela seria atacada dois minutos depois). Londres tem câmeras capazes de permitir o rastreamento de uma pessoa em qualquer de seus dias bestas. Um amigo meu, bem confiável, disse que a polícia tem uma imagem de alguém (provavelmente o assassino) se aproximando da menina depois que ela desceu do ônibus. Não duvido.

* Paris Hilton, você deve conhecer bem ela. Bem mesmo. A teen mais bacana do planeta, não só porque é uma das ativistas mais ferrenhas da causa animal, vai abalar este setembro com o lançamento do livro "Confissões de uma herdeira". E neste momento está às voltas com as gravações de seu primeiro... álbum. Hilton não é fácil.

* Responde com sinceridade. Você também gosta de "My Happy Ending", da Avril Lavigne?

* O Globo, do Rio, deu que Brian "Beach Boys" Wilson é nome certo da escalação do Tim Festival. Até agora, então, fica assim: Primal Scream, Kraftwerk, Dizzee Rascal, 2ManyDJs, Kinky, Brad Mehdhall, Dave Holland.

* Se o Libertines vem para o Tim? LIBERTINES????? Quem foi que...

* Vamoaí, vamoaí.




Lúcio Ribeiro

Morrissey, no Reading, cantando a espetacular "Everyday Is Like Sunday"





READING FESTIVAL - WOO HOO

* Não é fácil encarar um festival inglês, principalmente um festival-festival como esse em Reading. Demanda muito esforço físico (muito), dinheiro, disponibilidade em trombar com pessoas a toda hora, deslocamentos longos, idas e vindas calculadas, comer umas coisas, beber outras.

Muita informação visual e sonora. Precisa de uma preparação de um mês na Granja Comary para encará-lo. Mas em compensação...

* É difícil saber qual foi o melhor show de tantos shows legais de um festival desse tamanho, com mais de 100 atrações, pequenas, médias e grandes. Pelo que li na imprensa inglesa, a láurea está meio dividida entre Morrissey, White Stripes e Streets. Até nobres votos para a apresentação do The (International) Noise Conspiracy apareceu. Do que dá para escrever sobre os shows e sobre o Reading em si, fica assim:

* MORRISSEY - E aí o show do Morrissey no Reading Festival ia começar...
Dado o panorama que envolvia a apresentação do veterano cantor, naquele momento, naquela hora, sábado passado, espremido entre as performances dos barulhentos e urgentes Libertines e White Stripes, o show prometia ser bem curioso.

O Libertines, a banda da hora na Inglaterra, acabava de deixar o palco depois de tocar os já "clássicos" hits de um grupo de intensos dois, três anos de vida. Hits esses misturados às músicas do disco novo, homônimo, lançado na última segunda, e que deve ser colocado no topo das paradas britânicas quando os números forem divulgados, neste final de semana.

Resumindo, o bastão do palco principal do glorioso sábado do Reading ia ser passado pelos furiosos garotos da novíssima geração do som britânico para o senhorzinho charmoso e algo rabugento que era velho amigo de quem tinha mais de 25, 30 anos.

A esperada migração do público do Libertines para os outros palcos, de atrações menos, hã, datadas, quase não ocorreu. A grande parte da molecada ficou para ver o tio Moz cantar suas coisas de coração dilacerado, pátria injusta com seus filhos e outras implicações adultas, sérias.

A gritaria que Morrissey recebeu quando apareceu em cena foi absurda. E retribuiu logo na primeira canção, com uma versão raríssima de "How Soon Is Now", uma das principais bandas de sua seminal ex-banda, The Smiths. Eu vi gente chorar. Não eu, claro, porque comigo não rola essas coisas. (Mentira: minhas lágrimas foram parcialmente derramadas na hora da entrada de "Everyday Is Like Sunday". Não segurei a onda.)

Dos Smiths, Morrissey ainda mandou "Shoplifters of the World Unite" e "There Is a Light That Never Goes Out". E a meninada, junto com a massa dos 30 e 40, aplaudiam fervorosamente o cara que já foi considerado o "ser mais maravilhoso do mundo". A majestade se mostrava intacta. Como nos anos 80 e 90, o astro de uma delicadeza criminosamente nada vulgar fazia seu bailado tradicional com o fio do microfone, sacudindo ele como se estivesse chicoteando algo (ou alguém).

O velho Morrissey encantava e se mostrava encantado ele mesmo. Falou entre todas as músicas, conversava, reclamava, contava histórias. Pediu uma vaia gigante para a Radio 1, uma das patrocinadoras do Reading Festival. "A Radio 1 se recusou a tomar meus últimos dois singles. Vamos dar um grande 'boo' para a Radio 1". E tome um sonoro "booooooo".

Em hora tal, falou que tomou uma multa absurda no condado de Caversham, só porque estava a 32 milhas por hora em uma estrada onde o limite permitido era 30. "Caversham, esta música NÃO é para você", bradou antes de começar "There Is a Light...".

"Vocês aguentam mais algumas canções", soltou, tímido, antes de apresentar seu próximo single, a sexy "Let Me Kiss You", em que na letra ele pede para a outra pessoa fechar os olhos e pensar em alguém que você admira fisicamente, pois ele vai beijá-la.
A luz de Morrissey parece nunca se apagar. Mesmo.

Lúcio Ribeiro

A banda inglesa Libertines em ação, sem o menino-problema Peter Doherty


* TEVE AINDA O... - Jack White continua um "monstro" (meio gordinho, é verdade) e o show de seu WHITE STRIPES abalou. Foi mais do mesmo, mas segue o fino. Teve uma música nova, que eu não sei o nome, mas dá toda a pinta de que vai virar hit. No bis, fizeram uma versão espetacular de "Maps", do Yeah Yeah Yeahs. E, claro, acabou com o hino "Seven Nation Army", ovacionada por uma "onda" humana.// A Inglaterra jovem é do LIBERTINES. A banda de meninos difíceis de Londres segurou o palco principal do Reading, depois do Franz Ferdinand e antes do Morrissey, sem nenhum problema desta vez. E a molecada se espremeu para ver o quarteto em um número que só banda grande consegue arrastar. Carl Barat tocou sem seu fiel parceiro loaded Pete Doherty, que só volta para a banda se conseguir se limpar. Um roadie assumiu a guitarra, dentro do esquema tosqueira e desencanada padrão do Libertines. Um amigo guitarrista disse que os instrumentos que a banda usa é tipo Giannini, basiquinha. Para minha surpresa, que esperava um belo show rude dos meninos, a apresentação foi bem segura, simples e poderosa, mostrando todo o espertíssimo novo álbum e as excelentes músicas dos famosos singles e do primeiro CD. Ah, se a banda vier para SP...// O show do FRANZ FERDINAND foi óóótimo. Começou a 100 por hora e terminou a 200. A vontade era de a banda não acabar nunca mais de tocar. Ver "Michael" ao vivo foi intenso. E a galera pulando em massa na segunda parte de "Take Me Out", seguindo o ritmo da guitarra, mostrou o quanto a banda é gigante no Reino Unido. Até eles se mostraram assustados.// E antes de tudo, na sexta, o festival foi fechado com eles... o DARKNESS. Quem pode com o Darkness? É o AC/DC se vestindo de Queen. Ou uma releitura do Kiss, soando como o Whitesnake. Seria a banda ideal para o Rock in Rio I, se estivéssemos em 1985. A apresentação da bizarra turma de Justin Darkness é recheada de músicas horrivelmente legais. Quem leva a banda na boa se diverte. Metade das músicas são bem chatas, mas a outra metade é boa. Fora que o Justin agitou no Reading o maior coro dos últimos tempos. A platéia inteira cantou ao comando do líder do Darkness. Em falsete (!?!?!).

Lúcio Ribeiro

A banda escocesa Franz Ferdinand, enquanto tocava a linda "Matinée"


* E TEVE MAIS O... Distillers foi bem bom. Brody Dalle é bem boa. Punk rock de dar raiva na Courtney Love.// O Ash foi o show correto de sempre. Com o Har Mar Superstar participando, pelado, em uma música. Mas o Ash já deu.// O Hives vi metade, mas o que deu para ver foi aquilo: muita energia, punk descontrolado e o terninho preto com gravata banda de sempre. Cool.// Absurda de legal a performance do LCD Soundsystem, banda do visionário da cena nova-iorquina James Murphy. Zoeira eletrônica, punk rock e indie americano embalados para dançar. Show obrigatório no Sonar brasileiro, semana que vem. Tenho dito.// Show de responsa deu o Soulwax, o grupo belga de rock dos caras do 2ManyDJs, eletrônicos. Acabaram de lançar um álbum fraco, pelo que li, mas puxado pelo ótimo single "Any Minute Now". Não sei ainda qual é a faceta dos irmãos que vai ser assumida para o Tim Festival (Soulwax ou 2ManyDJs), mas com qualquer uma estaremos bem servidos.// O New York Dolls foi engraçado, para não dizer deprimente. Não precisava. Boa para tocar no Brasil,.em show patrocinado pelas rádios que curtem um mofo. Não deviam mexer com bandas-entidade assim.// Por algum motivo estive na segunda tenda e vi outro show do Super Furry Animals. Bem legal, até.// O do Modest Mouse foi bem honesto, mas muito "indie americano" para inglês ver. Não esquentou o público.// Minha experiência com o TV on the Radio foi zicada. Daria para ver uns 20 minutos do show da banda no terceiro palco e correr para pegar o Franz Ferdinand. A banda nova-iorquina entrou em cena, armaram-se de seus instrumentos, mas algum problema técnico aconteceu. Enquanto alguém tentava arrumar, os caras ficaram lá em cima, fazendo uma jam session zoeira. Foi o que eu vi de TV on the Radio.// A lista dos shows perdidos, por opção ou infelicidade, mesmo, inclui os seguintes lamentos: Streets, Dizzee Rascal, Mark Lanegan, Mondo Generator, British Sea Power, Secret Machines, Sons and Daughters, Graham Coxon, Supergrass, Stills e alguns outros. Pena.

Lúcio Ribeiro

Brody Dalle, do Distillers, o close mais explorado no telão do palco principal





WELLINGTON

Além dos shows bons e da linha mágica das bandas de sábado, o Reading 2004 foi marcado muito por duas outras coisas. Uma delas foi a lama. Choveu muito nos dias anteriores do Reading. E o solo da fazenda onde é armado virou um pasto gigante. Meu tênis preto ainda está na UTI e não sabe se terá de ser sacrificado. Mesmo que nenhuma gota tenha caído do primeiro acorde na sexta ao último, no domingo, o estrago já era grande e irreversível. O tempo para percorrer de um palco a outro se tornou o triplo, em alguns casos. Aí entrou em ação um dos maiores nomes do festival, tão comentado e discutido quanto o do Darkness, por exemplo. O das botas Wellington.

Uma galocha verde vagabunda vendida por 8 libras em Londres, o artigo mais usado no Reading por quem foi esperto (não eu). Metade do povo no festival estava usando. Bota boa para usar para determinado fim nojento e depois jogar fora. Nunca vou me esquecer das Wellington boots.




O NOVO HINO POP

O novo hino da cena britânica é... japonês. As meninas do 5678's, sub-banda japonesa tosca mundialmente conhecida depois que tocaram meia hora durante cena sanguinária de "Kill Bill", do Tarantino, virou coqueluche inglesa.

Tudo porque a principal música delas, a peste "Woo Hoo", cuja assobiável letra é a constituída da seguinte linha "Woo hoo (pausa) woo hoo hoo", foi escolhida também como trilha sonora de um comercial sobre futebol de uma das principais cervejas inglesas, a Carling.

Quando tal propaganda era mostrada no telão do Reading (o festival tem o prenome de Carling Weekend), o tal "woo hoo" era ouvido em alguma parte durante horas.

Você anda no metrô em Londres, no ônibus de dois andares, nas ruas lotadas do centro, onde for, e vai ter sempre alguém cantarolando "woo hoo woo hoo hoo".




Fabrizio Moretti

Eu e o vocalista Julian Casablancas, dos Strokes, nos bastidores do V Festival





PREMIAÇÃO DA SEMANA

Britprêmios. A Popload torrou na Inglaterra algumas libras para a satisfação de seu leitor, tá pensando o quê? Os prêmios gringos desta semana, que vão a sorteio através do lucio@uol.com.br, são os seguintes:

* O excelente single "Can't Stand Me Now", do explosivo Libertines, com música inédita e o clipe na porção virtual.

* A "New Musical Express" com Ian Brown (ex-Stone Roses) na capa, que veio com um CD compilado pela gravadora do momento na Inglaterra, a Domino Records. Tem faixa rara do Franz Ferdinand mais Kills, Sons and Daughters, Blueskins, Clinic, Elliott Smith e até Pavement.

* Um exemplar da revista "Playmusic", publicação britânica indie razoavelmente nova, cuja capa é o Hives e dá destaque ainda para Interpol, Killers, Snow Patrol, Guided by Voices e Futureheads.

Tenta a sorte. Semana que vem tem mais uma rodada de britprêmios. E mais: semana que vem estréia aqui um novo esquema de premiações que vai aumentar as oferendas pop desta coluna. Que beleza!




RESULTADO DAS PROMOÇÕES

Pagando todas as dívidas, eis a lista dos vencedores.
* Especial da "Mojo" sobre os Beatles, com CD
Ernesto Mattos
Rio de Janeiro, RJ

* Especial da revista "Uncut" com o U2, da série "classics"
Valéria Rosa
Vitória, ES
Obs.: chegaram vááários emails do Espírito Santo, além do normal, requisitando a revista do U2. Há um culto capixaba ao Bono, que a gente não teve conhecimento?

* O single de "Michael", do Franz Ferdinand
Lúcio Nakagawa
São Paulo, SP

* O bootleg do Libertines, ao vivo, chamado "Piss Me Off"
Pedro Silva Coutinho
São Paulo, SP

* O CD "São Paulo Sallon: a Discoteca do Diabo", da fogosa banda paulistana Biônica..
Marcelo dos Anjos
Santos, SP

* Dois exemplares da nova revista "Hype", ótima cria pop da revista "Set", de cinema
Joanna Dalila
São Paulo, SP
Marcelo Onaga
Goiânia, GO




POPICES

Soube que o nosso Caetano Veloso foi a uma loja de discos lá no Rio e adquiriu os discos do Morrissey e do Franz Ferdinand. Moderno. Ele ia se divertir vendo esses artistas lá na lama do Reading.// Amigo de Brasília que manja do riscado identificou que a introducao de Mr. Brightside, segunda faixa do matador (não resisto) disco do Killers, é idêntica à de "Camila, Camila", sucesso baba do Nenhum de Nós. E o legal é que é mesmo! Seria cópia?// Semana que vem tem o Sonar Brasil, LCD Soundsystem, Chicks on Speed, Liars, Laurent Garnier e tal e coisa. É caro, mas de um jeito de se programar. A balada é forte.// E tchau aí.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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