Pensata

Lúcio Ribeiro

17/09/2004

EXTRA - Morrissey?

Ai, ai. Parece que o Morrissey está confirmado em um festival chamado Persona, que vai acontecer nos dias 5 e 6 de novembro em Buenos Aires, no Club Ciudad, capacidade para 30 mil pessoas. Junto de Primal Scream, PJ Harvey, Pet Shop Boys, todos do Tim Festival. Mais Mars Volta, Blondie e Rinoçerose, que estarão no continente também. Ai, ai.

A turnê americana do Morrissey termina no dia 1º de novembro. Depois, na Europa, ele volta para cantar apenas em dezembro. Ai, ai.

Nada é o que parece

"Put on that dress
I'm going out dancing
Starting off red
Clean and sparkling"
PJ Harvey, em "Dress"

"Can't you see what you've done to my heart?
And soul...
This is a wasteland now"
Interpol, em "Slow Hands"

"Bezzi!
Eu já peguei o Bezzi.
De frente, de lado, de costas
Bezzi, eu já peguei você"
Cansei de Ser Sexy, em "Bezzi"


He-llo!
Você por aqui?

* Tenho uma pergunta séria a fazer. Mas depois.

* Nossa vida, a minha e a sua, passa a ser vivida agora em função do Tim Festival. Evite ficar doente nessa época, olha o colesterol, diminua as frituras, faça alongamentos e lembre-se: olhe para os dois lados antes de atravessar a rua.

* Aí um amigo jornalista compareceu ao anúncio oficial da escalação para o sensacional TF 2004 e me ligou esbaforido: "Era aquilo lá que você tinha dado na coluna, mesmo. Não estou acreditando. Primal Scream, Libertines, PJ Harvey..." Enquanto ele falava, na estação rock em que meu carro estava sintonizado o Mark Knopler tinha a palavra: "So far away from here... So far I just can't see". Nunca uma situação e uma letra fez tanto sentido em toda minha vida.

* Johnny Ramone. Hey! Ho! You go!

* Vamoaí! Vamoaí!




QUEM MATOU LAURA PALMER?

* Você tem um daqueles segredos que ninguém, mas ninguém sabe? Daqueles cabeludos, de espantar, "desacreditar", que nem seu amigo, amiga, parente mais próximo imaginam? Talvez alguém saiba, mas, de tão comprometido com você, não revelará jamais.

Não tem?

* Dia 23, semana que vem, chega às lojas, em DVD e de forma completa, a esquisitíssima "Twin Peaks", uma das principais séries de TV de todos os tempos. Certamente a mais estranha.
O seriado conseguiu mexer com o planeta tipo em 1990 ao contar a historinha de uma linda menina, musa da escola, exemplo de garota, que amanheceu morta em um saco plástico, à beira de um rio, na pacata cidade de Twin Peaks, no belo e gelado noroeste americano, tipo perto do Canadá. Horror, horror, shock, shock!

"Twin Peaks" tinha o dedo diretivo de David Lynch, dono já naquela época de uma mente deturpada, doentia e mórbida.

Grosso modo é assim: a amável Laura, orgulho local, aparece assassinada logo no comecinho do primeiro episódio. Um excêntrico agente do FBI, que registra tudo o que faz num gravadorzinho de mão e não perde a chance de comer um donut (Homer Simpson?), chega à cidade para investigar.

E diante desses dois acontecimentos e da pergunta "Quem matou Laura Palmer", o pequeno lugar nunca mais seria o mesmo.

Imagina o clima de "Arquivo X", um livro de Raymond Chandler, uma música esquisita da Björk e um videoclipe do Aphex Twin? Isso era "Twin Peaks".

* Trilha sonora de matar. Ambiente sombrio. Garotas lindas, caras malvados. Tem o bonzinho e a bitch, claro. Montanhas geladas. Semáforos balançando ao vento na estrada vazia. Armazéns esquisitos. Bares soturnos. Desfiladeiros. Mulher com um tampão no olho. O tiozinho pescador. O delegado bacana. O guarda bobão. Pai fofo. Mãe desequilibrada. Isso tudo também era "Twin Peaks".

* Para mim, a coisa mais fascinante da série, que até hoje eu não esqueço e uso sempre como exemplo para não ficar espantado com as pessoas, era o seguinte: uma vez apresentados todos os personagens do seriado, mostradas as características de cada um, não passava muito tempo e o David Lynch ia mostrar, a sua maneira, que nada, eu disse NADA, ou ninguém (NINGUÉM!), era o que parecia ser.

* Lembro que a série parou os EUA. "Twin Peaks" foi exibido em canal aberto (ABC) e juntou ao redor dos televisores americanos cerca de 35 milhões de interessados no mistério de Laura Palmer. Até o Paulo Francis escrevia, de lá, sobre o seriado. Que a história não o emocionava muito, mas aquilo era muito melhor que o lixo "Dallas", grande sucesso da TV na época, mas que ninguém que ele conhecia sabia o que estava acontecendo na época. Que o David Lynch deveria ficar na TV e nunca mais voltar a dirigir no cinema.

Mas o melhor aconteceu quando o seriado chegou ao Brasil. No vapor do megasucesso nos EUA, a Globo comprou "Twin Peaks" para exibi-la aos domingos, depois do "Fantástico".

Quando passou a ser exibida aqui, um ano depois da exibição americana, era quase impossível já não saber quem era o assassino da Laura Palmer, porque as revistas importadas, jornais e tal não falavam outra coisa.

Então a guerra era para manter o suspense total, tarefa nem tão difícil assim, já que não tinha internet. O negócio era só calar a galera que tinha lido o vasto material gringo sobre o assunto.

Aí a Ilustrada, o caderno cultural da Folha, no dia ou na semana de estréia de "Twin Peaks" no Brasil, deu uma capa sobre a badalada série. E decifrou de cara o megassegredo de primeira, sob o singelo título "Saiba quem matou Laura Palmer". Avisava de cara para ler apenas os que estivessem interessados na identidade do assassino, matando toda a expectativa do whodunit, que fez do seriado o primeiro lugar da TV americana. Se não me engano, o texto registrava o fenômeno, apresentava "Twin Peaks", avisava que ia contar o segredo e... contava. A entregada genial da Ilustrada foi polêmica e rendeu um barulho do tamanho da série. Lembro que, muitos anos depois, um ombudsman da própria Folha desencavou o caso como exemplo de atitude lesa-leitor, ato editorial equivocado, uma ousadia absurda e sem graça. O nome que assinava a capa famosa, lá em 1991, era de um velho conhecido seu: Álvaro Pereira Junior.

* Ainda não coloquei minhas mãos na edição nacional do DVD (quatro discos) de "Twin Peaks", mas a caixa americana é assim. É uma caixa de papelão envolta por um plástico duro protetor. O plástico estampa o lindo rosto de Laura Palmer, alegre e dondoca, numa imagem dessas de baile de formatura, parece. Quando você tira o plástico, na caixa em si, a foto é também de Laura Palmer, pálida, machucada, morta.

* "Twin Peaks" em si, sua música e sua direção inevitavelmente têm cheiro de série datada, mas o climão sinistro está todo nela, intacto. Se você é jovem demais para ter vivido a série que é mais velha que a MTV Brasil e o "Nevermind", do Nirvana, vale a pena embarcar nessa.

* A nota triste do DVD é que ele não contém o piloto da série, quando Laura Palmer é encontrada morta à beira do rio. Uma pendenga de direitos autorais e disputa de TVs impediu David Lynch de lançar o pacote completo. O jeito foi lançar um livro explicativo sobre o prólogo da série e depois os sete episódios seguintes. Muitas videolocadoras têm esse piloto. Ele até foi vendido em banca de jornal aqui no Brasil. Um monte de gente que comprava o DVD de "Twin Peaks", nos EUA, saía da loja e procurava na rua um muambeiro vendendo o piloto-pirata, também em DVD.

* Bob.




AS BONECAS DE DRESDEN

Quase sempre você está fuçando as rádios, internets e descobre uma coisa nova. Amigos às vezes vêm e diz: "dá uma 'olhada' nisso aqui" e tal.

A banda mais nova a me fisgar nos últimos dias tinha tudo para me fazer fugir dela. Chama-se Dresden Dolls, seu instrumento principal é o piano e sua postura e linha condutora baseiam-se em...teatro.

Mas, incrível, está muuuuito longe de ser chato.

O Dresden Dolls é uma dupla, da Boston dos Pixies, e praticam na música a filosofia de Bertolt Brecht, dramaturgo alemão e renovador do teatro moderno blablablá. Uma espécie de White Stripes substituindo a guitarra pelo piano, é papo-cabeça, mas é ótimo pelo o que eu já pude ouvir e ver.

Dando corda às referências da impressão primeira, Dresden Dolls está relacionado a piano, Brecht, White Stripes, David Bowie, Kurt Weill, Siouxsie & The Banshees, gótico, Nick Cave, PJ Harvey e muito Violent Femmes. Deu para entender?

A autodefinição é "brechtian punk cabaret". O disco, de 2003, é batizado de "The Dresden Dolls". O "hit" do disco parece ser a ótima música "Girl Anachronism".

A dupla: Amanda Palmer (piano e voz), uma PJ Harvey com as pinturas dark da Siouxsie, e Brian Viglione, que parece ter saído do "Laranja Mecânica" para assumir a bateria do Dresden Dolls.
A dupla começou a sair de Boston no começo do ano. Já frequenta Manhattan e está iniciando sua primeira turnê na Inglaterra.

O disco do Dresden Dolls está na internet. Melhor, o estilosíssimo clipe de "Girl Anachronism" está na internet. E eu não sei o que você está fazendo, ainda lendo esta coluna em vez de antes ir ver o vídeo dessa dupla.




TIM FESTIVAL

* Primeiro uma pergunta. Há meses você está sendo bem preparado aqui para o anúncio das atrações do festival. Vieram os nomes confirmados. Você teve uns diazinhos para pensar, saborear e discutir a programação. Agora responde: valendo citar um nome só, qual é a banda, grupo, artista que mais o interessa no TF 2004? Sua resposta vale a disputa dos prêmios da semana.

* Não acabou por aí. O Tim Festival pode anunciar nos próximos dias mais atrações para sua já gloriosa edição de 2004, segundo me informaram. Mais uma ou duas. O grupo Kings of Convenience está em negociação, mas sua vinda complicou. O rapper-cool Dizzee Rascal, anteriormente confirmado nos bastidores, infelizmente é carta fora do baralho, por uma confusão de seus agenciadores..

* Muitos e-mails chegaram preocupados com o encavalamento do final do show de Brian Wilson e o começo do Libertines. Vai dar para ver os dois na íntegra.

* Atenção para o detalhe: tal como foi no Rio de Janeiro no ano passado, os ingressos do palco principal, o Tim Stage, não vão valer para o Motomix, o mesmo palco, mas no horário da madrugada. Acabando o último show do palco principal, o público terá de sair e apresentar o ingresso próprio da noitada que antes se chamava After-Hours.

* Atenção para o detalhe 2. Não bobeie na hora de garantir seu ingresso, seja para qual palco for. Mas o toque é mais precioso para o palco Tim Lab no dia 7, quando vai acontecer o show do Libertines. No espaço do Tim Stage cabem 4.000 pessoas. Já o Lab tem a capacidade de 2.000. Por mais indie que o Libertines seja, deve ter muito mais que 2.000 pessoas a fim de ver os caras tocarem no Tim.

* Os ingressos, como informa o site oficial do festival, começam a ser vendidos no dia 1° de outubro em lugares a serem anunciados pela ticketmaster.




TIM FESTIVAL - VOZ DO UNDERGROUND

Uma das surpresas da lista do Tim Festival é a inclusão nela da banda indie paranaense Grenade. A escolha se faz notória por dois aspectos. Primeiro porque reconhece um nome importante e de história dentro da cena marginal e desprovida de atenção, que teima cada vez mais em se organizar e aparecer dentro da mais indigente condição que um país como o Brasil oferece.

Segundo porque dá esperanças a um sem-número de outros grupos do underground nacional, que passa a se coçar para quem sabe, em edições próximas do principal festival do país, poder dividir o palco com históricos nomes do pop internacional. E ganhar a projeção que um convite
desses acarreta.

O Grenade é da cidade de Londrina, diferentemente do que foi apontado aqui no texto de segunda passada, que por distração deste colunista foi colocado em Curitiba. Mas se a quantidade de e-mails que chegou apontando a escorregada servir de indicativo de popularidade, o Grenade tem condições de lotar sozinho o Tim Lab no dia 6, quando a banda abre o palco para os britânicos do Libertines.

Talvez na primeira entrevista com uma atração do TF 2004 pós-anúncio oficial, o "veterano" guitarrista e vocalista Rodrigo Guedes conta como os bastidores do convite e como projeta ver um pouco do show do Brian Wilson um pouco antes de construir uma história particular inesquecível a se apresentar no evento tanto quanto o velho beach boy.

* DESDE O KILLING CHAINSAW - "O Killing Chainsaw surgiu em Piracicaba, SP, em 1989. Fomos da primeira safra de bandas 'indie' junto com os Pin Ups (SP), Second Come (RJ). Gravamos dois discos e acabei me mudando para Londrina, onde comecei a registrar algumas músicas em casa, ainda pensando no Killing Chainsaw. A distância complicou tudo e paramos com o Killing. Então comecei a mostrar essas músicas para alguns amigos que gostaram muito e resolvi encarar a possibilidade de voltar ao início e fazer fitas cassetes para mostrar o trabalho. De lá para cá são 4 CDs que gravei em casa e neste ano a estréia com a banda, o formato definitivo."

* O CONVITE - "Me ligaram da produtora [Dueto] faz duas semanas, fazendo o convite. Foi uma grande surpresa. Em dois dias estava tudo resolvido, muito simples. Na verdade, quando me ligaram só queriam saber se a gente estava dentro, porque para eles já era certo sobre a escalação do Grenade. A gente tocou nos principais festivais independentes nacionais, mas nunca imaginei o Tim Festival."

* PRINCIPAL ATRAÇÃO - "Brian Wilson, pela oportunidade única de ver um gênio de verdade no palco. Mas fiquei muito animado em dividir o palco com os Libertines."

* TOCAR "ESPREMIDO POR BRIAN WILSON E LIBERTINES - Essa é a coisa mais absurda que já me aconteceu, tocar num festival com Brian Wilson. Já tocamos com Teenage Fanclub, Pixies, Fugazi, Luna, Superchunk, mas essa é a primeira vez que fico realmente deslumbrado.

Na verdade, ainda tenho aquela sensação de quem alguém vai me acordar ou me dizer que eu estou no programa "Candid Camera".




CHEMICAL BROTHERS

Outra atração internacional retumbantemente anunciada aqui e confirmada nesta semana é a maravilhosa dupla eletrônica Chemical Brothers. É a segunda visita do duo inglês ao Brasil, desta vez para tocar num improvável Pacaembu, em plena quarta-feira de 20 de outubro. Foi a data que coube. O Pacaembu, segundo dizem, é um espaço de custo baixo para locar, daí a escolha de um estádio para os Brothers, que caberia perfeitamente numa casa como o Via Funchal, o local da primeira vez.

Um live set da dupla é espetacular para os ouvidos e para os olhos. Ainda mais que Tom Rowlands e Ed Simons devem trazer para cá, além do caminhão de hits como "Block Rockin' Beats" e "Hey Boy Hey Girl", as músicas novas, que estarão no disco novo, que sai no final do ano ou no começo de 2005.

Uma delas, a hipnótica "Electronic Battle Weapon 7", que já ecooa nas rádios inglesas e na internet. Stadium Rockin' Beats.

* Para melhorar a abençoada fase de shows, mas desta vez em evento fechado, vem aí o ótimo DJ canadense Tiga, que toca um dia antes dos Brothers em São Paulo, na Casa das Retortas. Só para convidados.




SONAR

Passou. A balada toda foi forte. E o grupo punk-funk nova-iorquino LCD Soundsystem apavorou. James Murphy, desculpe o trocadilho, perdeu e fez muita gente perder seu "edge". No Reading Festival, há pouco mais de duas semanas, o Soundsystem foi considerado a principal "surpresa" do evento, considerando que surpresa aí é a capacidade de agradar muito um público que nem o conhecia, ou conhecia pouco. Foi o que aconteceu no Sónarsound.

Hoje é quinta e ainda não deu para recuperar da parada totalmente.




50 CENT - IN DA STADIUM

O Pacaembu recebe sábado, dentro da segunda etapa do multiforme Chimera Music Festival, o rapper casca-grossa 50 Cent, a última grande estrela do gangsta rap e responsável por uma das músicas mais tocadas no planeta de 2003 para cá, o hit "In da Club".

Antes, nesta sexta, o Chimera empresta o astro americano para o Rio Rap Festival, evento que será realizado no Pier Mauá. O show do Rio, tanto quanto o de amanhã em São Paulo, promoverá o encontro dos rappers pop polêmicos daqui e de lá. Marcelo D2 é outra atração do Rio Rap e do Chimera Music.

Mas, perto das confusões que perseguem 50 Cent, D2 faz hip hop gospel. O rapper americano, 28, que no passaporte se chama Curtis Jackson, é realmente do barulho: órfão de pai e mãe desde os 8 anos, já foi traficante, preso, esfaqueado, baleado (tem nove cicatrizes de bala) e muitas vezes processado.

Por transportar essa vida barra pesada para suas letras, sem tirar nem pôr, a explosão de 50 Cent na cena em 2003 provocou o resgate do gangsta rap, ou rap de gângster, do tipo que cultua tanto um disco quanto uma arma, subgênero que então estava em queda livre na milionária cultura hip hop dos EUA.

"Essa imagem de violência me acompanha e nunca vou conseguir me livrar dela, porque minha vida sempre esteve ligada a isso. Não tinha como fugir do que eu vivia na rua.. Não era possível eu cantar sobre flores para a mulher amada ou sobre o sol da Califórnia se eu podia tombar morto a qualquer momento", explicou 50 Cent a este colunista, em uma conversa que aconteceu há duas semanas na Inglaterra, no dia em que o rapper se apresentaria em um Wembley Arena (Londres) de ingressos esgotados.

O show do Wembley e o papo aconteceram um dia antes de o rapper amargar outra encrenca, dessa vez no palco do gigante Reading Festival, quando 50 Cent foi expulso sob vaias e uma chuva de garrafas do palco (leia abaixo).

Nova confusão. Com raiva, ao sair de cena o músico atirou o microfone em direção ao público que o vaiava (não só). Um rapaz de 18 anos reclamou na polícia que foi atingido pelo microfone e caiu nocauteado, inconsciente. 50 Cent teve que visitar a polícia, antes de sair da Inglaterra.
No dia anterior do incidente, na entrevista, 50 Cent curiosamente lembrava: "Com a vida que eu levava, eu me metia em encrenca até quando eu tentava fugir dela. Como eu, tem milhões na mesma situação. O negócio é que dei sorte e fiz sucesso.O dinheiro me sossegou um pouco."

A sorte a que o rapper se refere foi ter cruzado em 2002 o caminho de outro rapper-encrenca, o Eminem. Caiu nas mãos do famoso astro uma dessas "street tapes", fitas-cassete em que os rappers iniciantes botam seu ritmo e poesia e vendem nas ruas e pequenas lojas, esperando que alguém os descubra.

Assim nasceu o sugestivo "Get Rich or Die Tryin'" ("Fique Rico ou Morra Tentando"), lançado no ano passado, a esta altura já vendeu 12 milhões de unidades e fechou o ano ousando dividir as atenções rapper com a obra-prima "Speakerbox/The Love Below", do Outkast.

"Devo tudo ao Eminem e o Dr. Dre (outro produtor). E não é porque vendi milhões de discos que vou deixar de rezar todos os dias agradecendo aos dois. Eu não era ninguém e hoje eu posso levar minha música para o Brasil, veja você."

50 Cent traz ao Brasil seu coletivo de rap G Unit e algumas poucas músicas novas, que vão estar no próximo álbum, a chegar às lojas só em 2005 para suceder o ricaço "Get Rich..". O disco novo, a priori previsto para fevereiro deste ano, já teve seu lançamento adiado por três vezes.

"Não me senti pronto ainda para lançar um novo disco. Algumas músicas estão OK, e essas podem até entrar no show. Mas o resto delas ainda não presta. Precisam ser melhoradas", afirmou 50 Cent.

Segundo o rapper, as canções do novo CD precisam se enquadrar neste hibridismo que o hip hop vem assistindo nos EUA, eclipsado pelo sucesso do Outkast, que mistura soul e jazz ao rap.

"Encontrar a mistura ideal é o que tem dificultado minha vida, até por causa de meu pobre histórico na música. Meu sonho é encontrar o equilíbrio perfeito entre meu rap e uma canção do Stevie Wonder."

* NOITE DAS GARRAFADAS - Não mostre uma garrafa de água, de plástico, ao rapper americano. 50 Cent já viu centenas delas bem de perto quando foi fortemente vaiado e alvejado durante uma apresentação no gigantesco festival britânico de Reading, há pouco mais de duas semanas.

O problema na Inglaterra foi terem escalado o astro do hip hop americano tão espremido entre o Placebo, banda independente querida dos britânicos, e o Green Day, o aguardado grupo punk californiano.

A Inglaterra da mistura de estilo não foi amistosa com o rapper. Ele já estava sendo vaiado antes mesmo de entrar no palco. Quando apareceu em cena, as garrafas de água também surgiram.
"Todos estamos aqui para nos divertir", tentou dizer 50 Cent, enquanto tentava acalmar a platéia com hits seguidos, como "In da Club", "What Up Gangsta", "P.I.M.P." e ainda uma cover de "Work It", de Missy Elliott.

Mas só o público do Green Day realmente estava se divertindo, atirando coisas ao palco e vaiando.

O show de 50 Cent no Reading, que duraria uma hora, foi encerrado pelo rapper depois de apenas 25 minutos de apresentação.

A noite das garrafadas vivida por 50 Cent lembra aquela que vitimou o cantor e compositor baiano Carlinhos Brown, no Rock in Rio 3, no Rio de Janeiro, em 2001. Na ocasião, Brown foi vítima dos fãs do grupo americano Gun's N Roses, que tocaria na sequência da apresentação do brasileiro.

Voltando ao 50 Cent, o que atrapalhou o popular rapper de não ser "defendido" por seus fãs no Reading Festival foi que ele tocou na noite anterior ao festival em um lotado Wembley Arena, em Londres. Como boa parte do público do Reading Festival é composta por londrinos, o público de 50 Cent, satisfeito com a apresentação da noite passada, não encarou a viagem até Reading para rever o ídolo no dia seguinte.

Em maio deste ano, as garrafas voadoras já fizeram parte de um show do rapper, em um clube de Boston, EUA. Atingido no rosto por uma delas, 50 Cent parou a música que estava cantando e voou em direção ao público, com a garrafa na mão.
Depois de uma briga generalizada entre o rapper, seus seguranças e um grupo de encrenqueiros na platéia, 50 Cent voltou ao palco para terminar a canção, enquanto alguns homens foram expulsos do clube.




PREMIAÇÃO DA SEMANA

Lembra a pergunta sobre sua atração mais aguardada deste Tim Festival, não? Pois sua resposta deve ser enviada com a indicação de prêmio desejada dentre estas gostosuras aqui:

* Um exemplar nacional do maravilhoso segundo CD da banda inglesa Libertines, atração imperdível do Tim Festival.

* Um DVD duplo do inesquecível Stone Roses, banda que mandou no Reino Unido no começo dos anos 90. Show ao vivo, clipes e performances de TV.

* Uma coletânea comemorativa dos 10 anos do grande Supergrass, edição de colecionador, que vem com um pacote de botons da banda, muitos iguaizinhos aos que estão na capa.

* PRÊMIO LONDON CALLING - A loja de discos paulistana London Calling oferece a sorteio nesta semana, para os leitores desta coluna, uma cópia do "Debut Live", da Björk, uma reunião de músicas do disco "Debut", da badalada cantora islandesa, tiradas de shows da turnê dela de 2003. A London Calling faz parceria com este espaço para aumentar toda semana a cota de prêmio oferecidos aqui. A London Calling (www.londoncalling.com.br) é uma das lojas mais espertas para os que gostam da música que esta coluna defende. Seja para encontrar de pronto ou encomendar. Importado ou nacional.




RESULTADOS DA PROMOÇÃO

Vê se seu nome está aí embaixo:

* um CD single inglês de "Michael", do Franz Ferdinand
Jô Tanaka
Santos, SP

* DVD do Morrissey, o "Hulmerist"
Edineide Caxias
Maceió, AL

* O espetacular CD "A Grand Don't Come for Free", do Streets
Miguel T. Sampaio
São Paulo, SP

* Prêmio London Calling - CD do Prodigy, o poderoso "Always Outnumbered Never Outgunned"
Breno Soares
São Paulo, SP




POPICES

Sabe o disco ao vivo dos Strokes, que ia ser lançado em outubro? Ia! O Julian Casablancas não curtiu o resultado final da produção e vetou o CD.// Nesta sexta à noite o agitado grupo indie goiano MQN faz barulheira na Choperia do Sesc Pompéia, dentro do projeto Minha Pátria, Minha Música. // Láááá em Recife, sexta e sábado, acontece o Festival Coquetel Molotov Independent. Tocam Rádio de Outono, Profiterolis, Mellotrons e Superoutro (sexta); Volver, Lulina (SP/PE) e o famoso Brincando de Deus, da Bahia (sábado).// Parece que vazou a versão da linda "Dry Your Eyes", do Streets, com o backing vocal de Chris Martin (Coldplay). A música, hino do ano na Inglaterra, foi barrada por questões contratuais, mas dizem que já frequenta a internet. Se alguém achar, me avisa.// Pete Doherty "clean", comportado, voltando para o Libertines e vindo com a banda para o Tim Festival? Hum. // Vou recomendar uma mesma música da semana passada: "The Bucket", a nova do Kings of Leon. Ótima. Menos country, mais indie. Parece Strokes do primeiro disco.// Peace!
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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