Pensata

Lúcio Ribeiro

08/10/2004

Bota pra funcionar

"When the pigs try to get at ya
And if a nigga get a attitude
Drop it like it's hot
Park it like it's hot
Pop it like it's hot"
Snoop Dogg, em "Drop It Like It's Hot"

"Mas quando entra n'água
É, na primeira braçada
É, ele não vale uma naba
Ele não surfa nada, ele não surfa nada"
Wander Wildner, em "Surfista Calhorda"


E aí? Está pronto para o rolé?

* VMB, aqueles shows, aqueles prêmios. E pensar que quase o Franz Ferdinand foi atração da festa. Desculpe, mas desta vez eu estou do lado do sr. Caetano Veloso, que deu chilique na participação xarope dele com o David Byrne. "MTV, bota essa porra para funcionar."

* Ao mesmo tempo... Será que dá para interpretar como "um aviso" o lance do microfone estrebuchar em microfonia na hora em que o Veloso ia cantar? MTV, bota essa porra para funcionar.

* Curiosíssimo o improviso do criativo rapper Kamau, no reino da MTV, momentos antes de anunciar o prêmio para o chapa Marcelo D2. "Tá na moda, né? Tá na moda, né? Mas quando é de verdade te incomoda, né?"

* Vai. Alca, não!

* Aê. No pacote Tim Festival, entrevista exclusiva com Mani, o baixista do fantástico Primal Scream, que um dia já tocou no Stone Roses. A confirmação do Mars Volta. E para quem o Libertines está devendo dinheiro.

* Já comprou seu ingresso? Não?




O VMB E O AMOR!

Entre imolações a Kiss e Ramones e brigas na platéia e no palco, a lição que se pode tirar dessa última edição do grande prêmio do videoclipe da MTV brasileira é que o amor sempre vence no final.

Venceu o D2, que de troféu na mão estabeleceu que o lema do VMB 2004 é "eu planto o amor para colher o bem", trecho romântico da campeã "Loadeando". O amor aqui está no papo entre pai e filho sobre videogame, futebol e outras viagens.

Venceu o polêmico sambista Zeca Pagodinho, que fez a melhor aparição ao vivo da noite cantando que ama demais em música antiga demais. "Como negar essa linda emoção/ que tanto bem fez pro meu coração", se declara, em "Verdade". O amor aqui vai no balanço da malandragem. Ele revela sua ardente paixão de várias maneiras ("fiz até mandinga") e coloca no final dos versos que o que ele está falando é "verdade", como se antes não fosse.

Todo mundo tem seu próprio jeito de mostrar o amor nas letras. Do lado de lá, o incrível grupo escocês Franz Ferdinand, na voz de seu líder Alex Kapranos, afirma ter feito uma das mais fortes canções de amor dos últimos tempo em "This Fire", música que está em seu badalado álbum de estréia, lançado neste ano.

"Seus olhos fizeram um buraco em mim. Me paralisou. Tomou o controle completamente. E agora há um fogo dentro de mim. Um fogo que queima. Este fogo está tão fora de controle que eu poderia incendiar esta cidade", berra Kapranos, em "This Fire", que sai em single em novembro, na Inglaterra.

Já o último single do ultra-romântico Morrissey, "Let Me Kiss You", não mostra um amor tão excitado assim. Menos juvenil, mais "veterano". Talvez tão intenso quanto, mas numa situação de entrega dos pontos, a caminho do desespero. "Feche os olhos. E pense em alguém que você admira fisicamente. E deixe-me beijá-la(o). Oh"

O atual número da esperta revista anglo-americana "Another Magazine" (www.anothermagazine.com), muita moda e alguma cultura pop, traz na íntegra e de forma escrita a palestra que o distinto cantor australiano Nick Cave deu em 1999 numa universidade de Viena. O tema: "A Canção de Amor".

Entre citações musicais e literárias, o cavernoso Cave relaciona seu modo de compor love songs com a morte de seu pai e a proximidade que isso o trouxe de Deus.

"...A canção de amor é uma canção triste, o som de sua própria desgraça. Nós todos experimentamos por dentro o que a lingua portuguesa chama de 'saudade', que traduz uma inexplicável sensação de desejo por algo ou alguém fora do alcance, um inenarrável e enigmático grito da alma por algo que não teremos...E é esse sentimento que vive no reino da imaginação e da inspiração. Que é a base da canção triste, da canção de amor. Que é a luz de Deus, que chega às profundezas, que remexe nossas feridas.

"...No rock contemporâno, a área em que atuo, a canção de amor parece menos inclinada a visitar a tristeza da alma. Excitação sempre, raiva às vezes, mas raramente fala sobre verdadeira tristeza. Bob Dylan sempre falou dela. Leonard Cohen sempre lidou com ela. E hoje ela apavora a PJ Harvey...

"...Na maravilhosa "Perfect Day", do Lou Reed, ele monta uma agenda de eventos que poderia levar a um dia perfeito. Um dia montado todo ele com momentos do amor belo, onde ele (Reed) e sua amada sentam na grama de um parque e bebem sangria, dão comida para os animais, vão ao cinema etc. Mas é uma parte da letra que se esconde na escuridão do terceiro verso, "I thought I was someone else, someone good" (Achei que eu fose outra pessoa, alguém bom), que leva essa canção sentimentalóide à obra-prima da melancolia que ela é."

Nick Cave não era um cara bom para cantar no VMB 2004. Pelo que entendi, para ele, o amor sempre perde. E a graça (?) está nisso.




ELA

Olha, não quero deixar ninguém alarmado, mas está chegando à superfície mais um vídeo proibido da Paris Hilton, entre muitas coisas, trilionária, atriz, cantora, modelo e baladeira profissional. A herdeira aparece agora em ações durante DOZE horas. O que tem no vídeo? Eu é que pergunto: o que não tem no vídeo?




"O.C." ROCKS

O simpaticíssimo seriado "O.C.", amiguinho da música pop, agora vai virar o melhor amigo da música pop. A série da Mischa Barton volta em sua segunda temporada no começo de novembro, nos EUA, com algumas mudanças estruturais.

Na primeira fase, "O.C." colocava em sua trilha sonora a nata da música indie, de Franz Ferdinand a Chemical Brothers. De Phantom Planet a All-American Rejects.

Agora na segunda, programada para estrear no Brasil em janeiro, o seriado vai incluir no cenário um clube chamado The Bait Shop, onde a galera bonita vai resolver suas intrigas sexomodernas. O legal é que o clube terá um bar e um palco onde bandas pop queridas vão tocar de verdade.

Já acertaram participação ao vivo em "O.C" as bandas Killers, Modest Mouse, Thrills e Walkmen.




PRIMAL SCREAM: AGORA VAI

Demorô.

Foi preciso o Primal Scream atravessar duas fases rock, uma indie-dance, uma psicodélica, uma britpop e descambar para o punk eletrônico para a banda ter sua vinda ao Brasil finalmente confirmada.

O sempre moderno grupo que nasceu escocês em 1986 e desde sempre é nome de ponta seja qual for a valsa dançada pela juventude britânica, é celebrada atração do Tim Festival, que acontece em novembro no Jockey Clube, em São Paulo. O Primal Scream toca no dia 6, fechando a programação do palco principal em noite que terá ainda a cantora-musa inglesa PJ Harvey. A banda do dândi Bobby Gillespie se apresentará também no dia 8, no Rio de Janeiro, junto com o Libertines, no Armazem n.º 5, no Cais do Porto.

Esta seria a segunda visita do Primal Scream ao Brasil, se o grupo não fosse esnobado quando excursionou pela América do Sul em 1998, oferecido para tocar em eventos da marca de jeans Levi's. "Não quisemos. Se oferecessem a Daniela Mercury poderíamos ter aceitado", disse à época a assessoria de imprensa da Levi's Brasil. A chilena e a argentina quiseram.

"Saímos da Inglaterra para tocar na Argentina, Chile e Brasil. Não sei o que aconteceu", disse em entrevista, por telefone, de Manchester, o baixista Mani, que aconteceu também de ser o dono da posição no Stone Roses, seminal banda inglesa também da virada dos 80 para os 90. O Stone Roses de Mani, na época, parecia fadado a um sucesso maior que o do Oasis, por exemplo, não tivesse sua carreira judicialmente interrompida por uma briga de gravadoras.

Agora, em 2004, o poderoso Primal Scream de Mani vem corrigir o desvio de rota e despejar em palcos virgens brasileiros o seu portifólio de hits sujos, esse que virou o CD coletânea "Dirty Hits", lançado no Brasil neste ano. A compilação, o melhor dos sete álbuns de estúdio do grupo, é um expressivo juntamento de tudo o que pautou a música pop inglesa desde que Bobby Gillespie resolveu abandonar o lendário Jesus & Mary Chain.

O modo próprio que o Primal Scream tritura rock, punk, blues, som psicodélico, electro e techno resulta em um show violento, de guerrilha, que mostra que a banda que cantava lá atras as viagens coloridas de "Higher than the Sun" (Mais Elevado que o Sol) deu lugar para sempre ao grupo que vomita ruidosamente palavras de ordens contra hippies, Bush, Tony Blair, em álbuns com nomes tipo "Xtmntr" (consoantes de exterminator) e "Evil Heat".

Assim que acabar a turnê sul-americana (toca no Chile e na Argentina também), o grupo volta à Inglaterra para lançar seu novo álbum, segundo Mani. A promessa é de que o público do Tim Festival já vai ter mostras desse material inédito. As canções novas, a julgar por seus títulos, entregam que a banda camaleônica não vai mudar seu rumo. O baixista soltou que três das músicas que podem ser tocadas aqui são "Suicide Sound", "Shock" e "Punk Song".

Fica a dica: o ingresso para o show do Primal Scream deveria ser vendido junto com um colete e um daqueles tampões de ouvido. Vem chumbo grosso aí.




PRIMAL SCREAM: ENTREVISTA

O baixista Mani, do Primal Scream, conversou com a Popload por telefone, de Manchester, sobre a vinda da banda ao Brasil, a não-vinda da banda ao Brasil, futebol e o tempo. Leia a entrevista .
Mani - Enquanto esperava sua ligação, estava exatamente aqui na minha casa, em Manchester, olhando pela janela a chuva besta cair, o frio pesado chegar. E estava pensando: agora é uma boa hora de mandar para o Brasil.

Popload - Desta vez podemos contar mesmo com uma visita do Primal Scream?
Mani
- Certeza. Nada vai nos impeder de tocar aí desta vez. Sempre tivemos vontade de ir ao Brasil, talvez porque sejamos fanáticos por futebol. Ficamos muito frustrados quando o Brasil foi abortado da turnê que fizemos pela América do Sul em 1998. Eu e o Bob (Bobby Gillespie, vocalista) tínhamos até incluído assistir a uma partida em nossa lista de exigências. Fora as bebidas.

Popload - E por que a banda não veio daquela vez? O show chegou até a ser anunciado em jornais.
Mani
- Não sei a razão até hoje. Saímos daqui para tocar na Argentina, Chile e Brasil. Durante a turnê fomos avisados que não íamos nos apresentar mais no Brasil.

Popload - Mas já que desta vez vai, descreva um show do Primal Scream para um público que nunca viu a banda ao vivo.

Mani
- É basicamente assim: tocamos o mais alto, rápido e energético que podemos. Somos muito velhos para fazer shows convencionais, com momentos calmos, sets elaborados e partes acústicas. Da primeira à última música, a energia que a gente descarrega no palco é absurda. E pode apostar. Quando acontece uma sinergia do nosso som com uma resposta positiva do público, a eletricidade produzida ali parece capaz de iluminar uma cidade inteira.

Popload - Um álbum novo está nos planos da banda, para um futuro imediato?
Mani
- Sim. Já temos algumas boas canções prontas. A idéia é lançar o disco novo em março ou abril do ano que vem. Excursionamos muito nestes últimos anos e não tivemos muito tempo para pensar em canções novas. Mas assim que acabarmos essa turnê pela América do Sul, vamos nos fechar no estúdio e só sair de lá com o disco pronto. Acho que vamos tocar uma ou duas músicas novas em São Paulo.

Popload - Pelo que você sentiu das canções novas, qual vai ser a cara do novo CD?
Mani
- Vai ter a mesma pegada de electronic-rock que pautou nossos últimos discos. Algumas baladas nervosas, no meio. Mas sempre com algumas experimentações sonoras inseridas, para nos levar a caminhos novos. Três delas, "Suicide Sound", "Shock" e "Punk Song", são assim. Seria muito tedioso apenas repetir fórmulas já usadas por nós mesmos. A música está sempre mudando de alguma forama e o Primal Scream sempre muda com ela.

Popload - Os guitarristas Kevin Shields (My Bloody Valentine) e Steve Jones (Sex Pistols), mais o Jim Reid (vocalista do Jesus & Mary Chain), andaram se juntando bastante com o Primal Scream nos últimos tempos. Alguma chance de um deles aparecer no Brasil?
Mani
- Eles fazem parte da história da música pop inglesa e são grandes amigos nossos. Toda vez que eles estão de bobeira, a gente os obriga a tocar com o Primal Scream. O Jim e o Steve eu não vejo há algum tempo. Jim deve estar ocupado arquitetando a volta dos Mary Chain. Mas o Kevin Shields, que tem uma presença mais constante no Primal Scream, deve estar disponível para ir com a gente. Pelo menos foi convidado.




PROMOÇÃO DA SEMANA

A Popload, antenada nas últimas da moda, vai vestir você nesta semana. Duas espetaculares camisetas vão a sorteio no lucio@uol.com.br. As duas lindas, as duas pretas, mesmo o preto estando cafona hoje em dia. A primeira dela é do Green Day e a segunda de "Twin Peaks" (não, não é a foto da Laura Palmer morta). Para completar a oferenda pop da semana, também tem o histórico DVD "Definitely Maybe", do Oasis. E uma cópia caseira de "Palookaville", o novo álbum do Fatboy Slim. Se joga!




VENCEDORES DA SEMANA

* Strokes ao vivo em Londres
Júlio César Brandão
São Paulo, SP

* CD do Valv, "The Sense of Movement"
Cida Sá
Santos, SP

* PRÊMIO LONDON CALLING - CD do Libertines.
Lisiani Peccin Pratti
Porto Alegre, RS




POPICES

Nada sobre o Morrissey, sorry. O Brasil vai comer essa bola gigante e a culpa não é minha nem sua. Conheço gente que vai desencanar do Tim Festival para ir a Buenos Aires ver o cara. // Já a banda Mars Volta, que esta coluna havia ventilado a presença em São Paulo, foi confirmada como nova atração do Tim Festival. O grupo americano, pedaço do ótimo At the Drive in, toca depois do Grenade, antes do Libertines, no dia 7.// O mago eletrônico Fatboy Slim lançou um bacana disco de... rock. "Palookaville", o primeiro álbum em quatro anos, tem surf music, rap, rock e o Damon Albarn. Claro que a coisa, mais tarde, vai sofrer a transformação básica. // Wander Wilder e Banzé tocam domingo no Avenida Club (Pinheiros), dentro do interessantíssimo projeto Doisemum. Balada boa.// Antes, nesta sexta, a banda PB soca o rock na Funhouse, na festa Revolution.// Estou com a sensação de estar esquecendo algo. Mas acho que por enquanto é só.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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