Pensata

Lúcio Ribeiro

15/10/2004

Tem, mas acabou

"Now I'm gonna make you dance
It's your chance
Yeah boy shake that ass"
Eminem, em "Just Lose It"

"Our love
don't mess with our love
our love
is so much stronger"
The Dears, em 'Lost in the Plot'"


Tranqüilo?
Tranqüila?
Ingressinho na mão, já?

* Pois, é. Até o Super Homem, que nunca tinha morrido, morreu... Agora, pelas minhas contas, resta o punk. Porque sempre soube que o punk não morreu. O Elvis também não.

* Não vou falar muito aqui, mas semana que vem tem o Chemical Brothers ao vivo em São Paulo. Show completo, não apenas DJ set. Se vale a recomendação, não perca de jeito nenhum. Eu sei que o Pacaembu é estranho para show assim e tal, mas a última vez que eu vi os caras ao vivo, numa apresentação no festival espanhol de Benicassim, a terra tremeu. É sério.

* Sem muito papinho de começo. Vamos direto ao assunto.




INDEPENDÊNCIA OU MORTE

Adoro este título infame.

A cena indie nacional está abusada. O combo rock-fashion Cansei de Ser Sexy, atração do Tim Festival, armou nesta semana show-relâmpago para servir de gravação ao "Fantástico", da Globo. O Goiânia Noise Festival, você vai ver já, já, anunciou oficialmente o seminal MC5 como atração para novembro. Ontem, o Sesc Pompéia teve a primeira noite do Dynamite Festival, com Leela, Gram e o Ludov, vencedor de categoria indie do VMB da MTV, que precisa arrumar essa porra. Nesta sexta, na hora do almoço, o descolado Borderlinerz toca na Paulista, em frente à Fiesp. A casa (casa mesmo) de shows Funhouse enfileira de sexta à domingo, em seu pequeno palco, os grupos Blemish (sex), os curitibanos do Faichecleres (sáb) e The Concept (dom).

* Um pouco mais acima, a megabanda indie Libertines, da Inglaterra, provocou o primeiro esgotamento de ingressos do Tim Festival, festival que acontece em novembro. Na sequência, acabou também o ticket para ver a dobradinha britânica Primal Scream e PJ Harvey. E, pelo que esta coluna foi informada, as entradas para ver o veterano Brian Wilson não devem sobreviver nas bilheterias até esta coluna chegar a seus olhos.




CAUSO DO TIM FESTIVAL

Amigo deste colunista foi garantir seus ingressos para o Tim Festival na última sexta-feira, no primeiro dia da venda das entradas, e presenciou cena pitoresca. Na fila de mais de duas horas de espera na superloja FNAC, a da avenida Paulista, o jeito era passar o tempo conversando com os da frente e o de trás. Então uma garota atrás dele puxou conversa.
- Que coisa essa fila, né? Ontem vim aqui e não tinha ninguém.
- Claro, os ingressos começaram a ser vendidos hoje...
- Não. Eu vim aqui e comprei ingresso ontem. Precisei de mais e voltei hoje.
- Sério? O Tim Festival anunciou a venda de ingressos apenas para hoje.
- Tim Festival? O que é Tim Festival? Quem vai tocar nesse festival? Estou aqui para comprar ingressos para o Jota Quest. Achei estranho toda essa gente para comprar entradas para o Jota Quest.




LIBERTINES: MEDO

Já falei aqui e não custa repetir. Quem já viu ou fuçou na internet as performances da explosiva banda britânica é uma emoção só. Os shows vão do terrível ao sublime em uma disparidade de assustar. Vi na rede um show deles no mítico CBGB, em Nova York, e foi muito ruim. Agora em agosto, presente ao Reading Festival, achei ótimo. A amiga e escritora Clarah Averbuck não faz muito tempo pegou a banda em Los Angeles e saiu no meio. Nesta semana, o chapa Thiago Ney, foi pela Ilustrada conferir o grupo de Carl Barat em Nova York e escreveu o seguinte texto para a Popload.

* "A expectativa para este show não era pouca. O Webster Hall estava lotado, muita gente chegou cedo, mas a questão era saber se a banda, sem Peter Doherty, seria a explosão e o (ótimo) caos que sempre marcaram os Libertines ou se eles seriam apenas... uma banda normal de rock. Se depender apenas da apresentação de anteontem, Doherty está realmente se afastando cada vez mais dos Libertines.

Foram 90 minutos com a banda no gás, sem descanso.

Barat é quem comanda as ações. Ele não se mexe muito, não pula, conversa pouco com o público, mas seu jeito blasé, meio posudo, hipnotiza, e joga a atenção toda sobre si.

Ao vivo os punk-ska-reggaes do Libertines ficam ainda mais punks. "Time for Heroes", "Up the Bracket", "Good Old Days", "Don't Look Back into the Sun"... são canções "toscas", até simplórias musicalmente, mas têm vigor, são potentes e tocam o ouvinte por inteiro. Eles fecham o set com "What a Waster", o single que fala sobre como a vida é injusta e as pessoas não sabem aproveitar a vida e que foi, sintomaticamente, o primeiro hit do grupo.

A certa altura, Gary Powell assume o comando e faz um solo de bateria que lembra... Timbalada (a mesma batucada foi sampleada no hit, acredite, tecno "Street Carnival", muito tocado no Brasil por DJs gringos...)

Retornam ao bis, Barat tira a camisa e ouvem-se gritos de meninas. O cara, afinal, é rockstar. Como acontece na maioria de seus shows, terminam com uma antiga, "I Get Along". Peter Doherty talvez faça falta, com ele ali haveria a sempre bem-vinda possibilidade do imprevisível, do não-planejado, mas com canções tão potentes, quem precisa de imprevisibilidade?"




POLÊMICA

1. Quando você pensa que já viu tudo, chega a notícia de que vem aí a cantora adolescente russa Nato, a última bossa da cena pop de Moscou que pretende cantar o terror. Mesmo. A garota "misteriosa" se auto-intitula uma artista "suicide bomber", canta em árabe, se esconde atrás de uma burga --tradicional vestimenta das mulheres afegãs-- e está tentando agendar shows no Reino Unido.

Nato é cria dos produtores da famosa dupla de lesbo-estudantil Tatu, e em suas apresentações costuma cantar em frente a um telão no qual é exibido imagens da Al-Jazeera, a rede de TV árabe. Palavras como Iraq,
Al Qaeda e Nasdaq são mostradas a toda hora no telão.

Não é preciso falar, a Nato está despertando uma gigante manifestação negativa na Rússia, inclusive de órgãos oficiais, que não têm instrumentos legais, no entanto, para cancelar seus shows.

À Reuteurs, um dos membros do time que inventou a menina para o pop russo disse que uma companhia musical inglesa está realmente interessada em levar o show dela para Londres, "porque não há nada interessante e forte acontecendo no pop inglês". Estou caçando MP3 da suicide singer na internet, mas ainda não achei.

2. Já viu o clipe novo do Eminem, da boa "Just Lose It"? Está para ser visto por aí, facinho. A esculhambação em cima do Michael Jackson é impiedosa. Criancinhas no colo, na cama, o nariz do Michael caindo no chão e o melhor: a alusão ao cabelo queimado no comercial da Pepsi. Brincadeirinha local e que vai enjoar. Mas o Eminem, segundo me falou o gênio Wayne Kramer, tem sua importância. Segundo eu soube, em entrevista ao radialista Steve Harvey, nesta semana, Jackson disse que Eminem foi insensível ao caracterizá-lo como molestador de menores no clipe. "Estou muito chateado com a visão que Eminem passou de minha pessoa no video dele", disse Jacko. "Acho que ele foi desrespeitoso e ultrajante. Uma coisa é brincar de me imitar, outra é ser insensível e degradante. Admiro Eminem como artista e fiquei chocado com tudo isso. O video é inapropriado e desrespeitoso comigo, meus filhos, minha família e com a comunidade". A emissora BET, uma espécie de MTV para o público negro, decidiu tirar o vídeo do ar, depois de um pedido pessoal de Michael Jackson. O assessor de Eminem disse: "Nós sentimos muito que a BET tenha tomado essa decisão". A MTV continua a exibir o video.

* No clipe do Eminem, sobra até para a dondoca Paris Hilton.




FRANZ FERDINAND AFINOU

Talvez a banda mais bacana do planeta hoje, a escocesa Franz Ferdinand, pareceu-me, não segurou a onda ao tocar para milhões de americanos via programa do apresentador David Letterman. Você sabe, o grupo só não foi ao Brasil para se apresentar (e salvar) o VMB porque arranjou compromissos como esse na América. Mas na hora da apresentação, que aconteceu na semana passada nos EUA e foi ao ar esta semana no Brasil, o grupo de Alex Kapranos deu pinta de estar beeeem nervoso. A música tocada foi a fantástica "Take Me Out", que não chegou a ser desastre, mas confesso não rolou como deveria. Ainda mais porque depois do showzinho o Letterman levantou da cadeira e foi cumprimentar a banda um a um, soltando a gracinha: "Welcome to our country" a cada aperto de mão. Bah.




NOVO MORRISSEY E NOVAS BANDAS

Tenho ouvido algumas coisas, nas últimas semanas, que estão me tirando do sério. Com exceção de duas, vou deixar para listá-las na semana que vem, para eu entender melhor o que está acontecendo. A que tem vez aqui e agora é, primeiro, a banda The Dears, do Canadá, quinteto indie de certo nome na cena indie-indie americana, mas que acaba de engatar neste mês uma turnê de respeito nos EUA e na Europa. É impressionante de linda a música que serve de último single do Dears, chamada "Lost in the Plot". É muito... Smiths. O negão estiloso que usa terninho Strokes, vocalista do Dears, é um Morrissey indie escarrado. E a guitarra é a de um Johnny Marr depois de um ácido. Coisa séria. E recomendadíssima.

* Outra banda de vocalista negro estiloso (Kele Okereke) e som excelente é a Bloc Party, de Londres. É uma música melhor que a outra. Para escolher uma a dedo, pegue a simples e belíssima "Little Thoughts", canção que começa gostosinha e acaba a 100 por hora . "Eu volto tudo, vou para trás, faço tudo de novo, se você pedir", mais ou menos canta Kele. Me lembra uma cena do Super-Homem, e aqui fica uma homenagem indie-singela para o Christopher Reeve. Sabe a famosa cena em que o Superman vê a amada morta e fica desesperado? E vai para a fora da órbita da Terra, pára o planeta com sua superforça e o faz girar ao contrário, fazendo o tempo ir para trás, até que ele evita a morte da querida? Bloc Party, em "Little Thoughts", é essa cena. Bloc Party, Superman e Nietzsche.




SENHORAS E SENHORES... MC5!

É como se fosse a chegada do Messias. O Messias do rock. O Brasil recebe para um show exclusivo em Goiânia, em novembro, a mítica banda americana MC5, "entidade" musical de Detroit que, no fim dos anos 60, pisou nas flores do movimento hippie californiano, cuspiu na swinging London, antecipou o hard rock, influenciou o punk e proporcionou uma série de outros chacoalhos que causaram irreversíveis danos (para o bem) na música jovem.

A molecada agitadora do MC5, ou o que sobrou dela, vem ao país agora na forma de um trio de senhores distintos, aparentemente pacatos, com a missão de botar todas as luzes no Goiânia Noise Festival, no exato momento em que a música independente nacional vê pipocar, de Natal a Porto Alegre, um sem-número de bandas de garagem. Daí o caráter "bíblico" da visita.

O MC5 visita o Brasil, na verdade, como MC3. Ou, como é usado, DKT/MC5. Do quinteto, só sobreviveram para tocar na terra de Zezé de Camargo o baixista Michael Davis, o baterista Dennis Thompson e o guitarrista Wayne Kramer. Dois de seus principais membros --o vocalista Rob Tyner e o guitarrista Fred "Sonic" Smith-- já morreram.

E Wayne Kramer, presença obrigatória em qualquer lista de melhores guitarristas da história, falou com exclusividade a este colunista de seu estúdio, em Los Angeles. Los Angeles?

"Eu não vivo em Detroit desde 1978", disse Kramer, que com o restante do MC5 cravou no mapa do rock a terra que hoje pertence a Eminem e White Stripes. Detroit, ou a Motor City, deu origem ao nome do celebrado quinteto: MC5. Longe geograficamente do paz-e-amor da Califórnia, o MC5 surgiu para botar para quebrar, num ambiente cinza e cercado por muros de fábricas de carro.

Ultrapolitizada, a banda liderava, na virada dos anos 60 para os 70, uma guerrilha urbana e roqueira em resposta à zona social, aos conflitos sociais e aos mortos ensacados no Vietnã que atormentavam o son(h)o americano. Não tinha show da banda que não acabava com a queima da bandeira.

Com uma avassaladora energia sônica, que misturava rock sujo com reminiscência de funk, soul e descontrole jazzístico, o MC5 fez e aconteceu e influenciou tudo o que veio a seguir. Talvez por isso acabou rápido, logo depois do terceiro disco ("Kick Out the Jams", 69, "Back in the USA", 70, e "High Time", 71).

E talvez por isso também que o retorno da banda, no ano passado e mais de 30 anos depois, causou um choque para quem de alguma forma conhecia sua história. Fãs mais ardorosos acharam um absurdo o antes politizado e queima-bandeiras de outrora MC5 voltar à ativa, mais de 30 anos depois, em um evento patrocinado pela marca de jeans Levi's, um dos símbolos da América capitalista.

Em uma negociação complicada, a Levi's conseguiu comprar o direito de usar o famoso logo do grupo de Detroit em uma campanha para vender uma linha de camisetas vintage. E para o "bem" ou para o "mal", o MC5 voltou à ativa.

Com vocalistas convidados, que incluem Evan Dando (Lemonheads), Mark Arm (Mudhoney) e Lisa Kekaula (BellRays), o MC5 versão 24004 passou o ano excursionando pelo mundo. Até acabar no Brasil, em Goiás, na "Goiânia Rock City", naquele que pode ser mesmo o último show da banda, já que, segundo Wayne Kramer, 56 anos, "não há planos futuros para o MC5".




SENHORAS E SENHORES... WAYNE KRAMER!

A entrevista a seguir, saiu editada no caderno Ilustrada, da Folha, desta sexta-feira. O papo, na íntegra, sobre
a polêmica da Levi's, Eminem vs. White Stripes, Kerry vs. Bush e quem vai cantar para o MC5 no show do Goiânia Noise Festival, foi assim:

Folha - Você está falando de Los Angeles, onde mora. Quando foi que você deixou de viver em Detroit, a Motor City?

Wayne Kramer
- Eu deixei Detroit em 1978, há muuuito tempo atrás. Mas eu sempre volto lá, umas duas vezes por ano pelo menos. Para trabalhar e dar uma olhada no que está acontecendo.

Folha - Como é voltar à nada rotineira rotina do famoso MC5?

Kramer
- Sobre tocar e viajar em turnê não tem nada de novo, pois venho fazendo isso há mais de 30 anos. A volta do MC5, antes de mais nada, é uma chance maravilhosa de reencontrar meus velhos amigos Michael Davis e Dennis Thompson, o que sobrou da banda original. E voltar a tocar as canções do MC5, agora, nesta altura da minha vida, é como receber uma grande dádiva.

Folha - O que motivou vocês a voltarem com a banda, mais de 20 anos depois?

Wayne Kramer
- A oportunidade surgiu por causa do incidente com a Levi's no ano passado. Havia um problema na coisa toda e pensamos: como vamos resolver isso? Uma das soluções que pensamos foi fazer um concerto para nos reunirmos de novo, convidar uns amigos e celebrar a música do MC5. Funcionou de uma maneira tão maravilhosa que quisemos fazer de novo, até pelos fãs. Porque eu nunca soube que as canções do MC5 fossem tão importantes para tantas pessoas.

Folha - O "incidente" com a Levi's, de uma banda tão contestadora do capitalismo (nos anos 60/70) tocar para uma marca de jeans tão americana, causou uma tremenda discussão entre os fãs do MC5 na internet. Qual sua visão do caso?

Kramer
- O caso foi o seguinte: Gary Grimshaw, o artista que desenhou o logo do MC5, licenciou a marca para a Levi's, que queria associar o logo a uma campanha de camisetas vintage.

Ele não tinha que ter licenciado nada sem nossa aprovação. Quando um representante da Levi's trouxe o papel para eu assinar, disse que era contra. Aí a pessoa falou: 'Se você não assinar, eu vou pedir o dinheiro de volta ao artista'. Nem era tanto dinheiro. Não ia fazer isso com o Gary.

Para resumir, eu penso assim. A Levi's estava pensando na Levi's, nós estávamos pensando em nós mesmos. E os fãs querem ver a banda. Quem tem razão? Todo mundo.

Não foi um patrocínio. Eles compraram o logo, a gente vendeu a chance de tocar para muitos fãs que, com o passar dos anos, viraram nossos amigos, muitos dos quais as melhores pessoas que eu já conheci.

Folha - Neste ano, em que vocês voltaram para valer, o MC5 se apresentou em Londres, em Los Angeles, no Reading Festival. Como foi a recepção?

Kramer
- Fantástica. De novo, me espantou ver quantas pessoas conheciam nossas músicas. Senti-me diante de um pequeno milagre.

Folha - Quem vem ao Brasil para cantar no MC5?

Kramer
- Mark Arm, do Mudhoney, deve ir conosco. Lisa Kekaula, do BellRays, a mulher mais poderosa que eu conheço.

Folha - Vocês pretendem lançar um álbum de inéditas?

Kramer
- Não temos um grande plano. Não temos um futuro traçado. Estamos fazendo as coisas conforme elas estão se apresentando para nós. Não temos mais nenhum show marcado para depois do Brasil, por exemplo.

Folha - Quer dizer que o show de Goiânia pode significar o fim ou o novo fim do MC5?

Kramer
- Não sei te respoder. Não estamos pensando em gravar um disco. Só nos restam os shows. Se ninguém nos contratar, não tem por que continuar.

Folha - Numa era do White Stripes, para citar uma outra banda de Detroit, você vê lugar no rock para o velho MC5?

Kramer
- Pode ter. Acho que hoje toda a música é acessível para qualquer um de qualquer idade. Para o rock, não importa se a banda é de 30 anos atrás ou foi formada hoje. A energia pode ser a mesma. Os Beatles são uma banda que cabem hoje. Meninos gostam dos Stones do começo. Depende o quão profundo é o interesse pelo rock, todas as cenas sobrevivem em qualquer tempo.

Folha - Você ouve músicas de agora, novas bandas? O que você gosta e desgosta?

Kramer
- Ouço, claro. Eu amo Eminem [também de Detroit]. Para mim, ele é o legítimo filho do MC5. Porque ele tem a coragem de dizer em sua música a verdade sobre o que ele sente. Com a força e a contundência com que cospíamos nossas idéias no microfone na sua época. Ele comete erros, é lógico. Como o MC5 cometia.

O Eminem está em sua época fazendo de certa forma o que fizemos lá atrás. Quando o MC5 começou, era um tempo de grandes mudanças. A América pegava fogo e não sabíamos se o país teria alguma paz. É a mesmíssima situação em que a música do Eminem está inserida.

Outro que é filho do MC5 é Jack White, o guitarrista do White Stripes. Ele é muito bom músico e está sempre focado no tipo de som que ele se propõe fazer. White é um dos heróis que fazem Detroit ainda arder em chamas para o rock. Quando sai alguém bom de lá, é porque realmente é bom. Porque Detroit é uma cidade opressora, feia e muito difícil de se viver nela. Lá as pessoas têm que criar alguma coisa partindo do nada que a cidade oferece.

Folha - O MC5 sempre foi marcado por seu caráter extremamente politizado. Hoje, qual sua posição diante da contenda Kerry vs. Bush?

Kramer
- Eu não me impressiono por nenhum dos dois. Eu defendo uma mudança radical progressiva da política americana e isso levaria muito tempo para acontecer. Não sei se algum deles é capaz de dar a minha América ideal. De todo modo, entre os dois, acho que o Kerry é um ser humano melhor que Bush. Certamente mais esperto. Mas até uma desses postes de rua tem mais cérebro que o Bush [gargalha].




É NOOOOOOOISE

A oportunidade da Goiânia receber o Wayne Kramer e sua turma para o seu Noise Festival não podia ser mais feliz. A cidade, apelidada na comunidade underground de Goiânia Rock City, tem no rock de garagem lá longe uma similaridade com a Detroit do MC5. Mas tem.

O MC5, com Mark "Mudhoney" Arm dividindo o microfone com Lisa Kekaula, do BellRays, encabeça o elenco de 50 atrações desta que é a décima edição do festival promovido, bancado e organizado pelo selo indie Monstro Discos.

A programação completa do festival, que será realizado nos dias 19, 20 e 21 de novembro no Planalto Central, ainda está por ser divulgada no site da "corporação" Monstro (www.monstrodiscos.com.br). Mas alguns nomes confirmados para o Noise são os de Lobão, B Negão, os gaúchos do Cachorro Grande, os bagunceiros paulistanos do Los Pirata e Jumbo Eletro e os "populares" locais MQN e Mechanics, entre muitos outros. Os grupos punks Queers (EUA) e GBH (Inglaterra) e o Tormentos (Argentina) engrossam o cardápio internacional do décimo Goiânia Noise Festival.

Agora, se o Goiânia Noise Festival realmente receber o show de lançamento do disco novo do grupo gaúcho Irmãos Rocha!, não quero nem ver.




PREMIAÇÃO DA SEMANA

Anota aí e chama meu nome na sua lista de endereços. Mandando e-mail para esta coluna você vai concorrer a:

* DVD do Oasis, "Definitely Maybe", essencial para qualquer pessoa humana

* O livro "Cassino Hotel", literatura indie (não mais) articulada pelo escritor gaúcho André Takeda, autor do famoso "Clube dos Corações Solitários" (2002)

* CD Strokes, ao vivo no Alexandra Palace, em Londres

* PRÊMIO LONDON BURNING - Pixies
A coletânea "Wave of Mutilation - The Best of Pixies" é oferecida pela loja de discos paulistana London Calling, que faz parceria com este espaço. A London Calling (www.londoncalling.com.br) é uma das lojas espertas para os que gostam da música que esta coluna defende. Seja para encontrar de pronto ou encomendar. Importado ou nacional.

* Ingresso para o Libertines ou Primal Scream, se der, só na semana que vem. Ou na outra.




RESULTADO DA PROMOÇÃO

* Camiseta do "Twin Peaks"
Juliane Monteiro
Avaré, SP

* Camiseta do Green Day
Pedro Luís Bezzi
São Paulo, SP

* "Definitely Maybe", o DVD do Oasis
Márcio Guido Wendel
Rio de Janeiro, RJ

* CD-amigo do Fatboy Slim, o novo "Palookaville"
Anna Tanaka
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HORA DE DIZER TCHAU!

Tchau!


Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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