Pensata

Lúcio Ribeiro

29/10/2004

Prazeres juvenis

"Jolene, Jolene, Jolene, Joleeeeene
I'm begging you,
Please don't take my man"
White Stripes, em "Jolene"

"Up, down, turn around
Please don't let me hit the ground
Tonight I think I'll walk alone
I'll find my soul as I go home"
New Order, em "Temptation"

"I'm gonna call her on the telephone
Have her over cos I'm all alone
I need excitement I need it bad
And it's the best I've ever had
Undertones, em "Teenage Kicks"


Fala, bacana.

Para um cara já passado como eu, e que considera música tão importante para a vida como oxigênio, a notícia da morte repentina de um sujeito tão boa-praça como o DJ inglês John Peel, da BBC, é de devastar uma coluna como esta. Esta coluna, ainda que devastada, é para ele.

* É. No rol da lista das melhores frases do cinema neste ano, todas de "Kill Bill", eu havia me esquecido de uma importante. Bem lembrado por um leitor. É a importante e profunda "Bitch, you have no future", dito pela Noiva antes de arrancar o olho da rival.

* Aí a leitora Lívia Andrade, toda triste porque não tinha conseguido seu ingresso para o Libertines, passa no fim de semana (este último) na frente da FNAC. E resolve, de bobeira, perguntar se tinha o ingresso para show, que, todo mundo sabe e ela sabia, foi o primeiro a esgotar.

-Por algum milagre tem ingressos para o Libertines?

-Tem sim, de vez em quando algumas pessoas desistem do ingresso e eles reaparecem no sistema...

* Poim!!!




JOHN PEEL

Para lembrar: John Peel, radialista da Radio One em plena atividade, morreu na última terça, aos 65 anos, durante férias no Peru. A julgar pela reação no meio musical (não só) britânico e mundial, o choque para tal microcosmo foi relativamente parecido com o que causou a morte da princesa Diana para a nação britânica.

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* Na semana passada, nos três programas que mantinha na Radio One às terças, quartas e quintas, Peel recebeu convidados como o Underworld, Siouxsie e Robert Smith (Cure), respectivamente. A última música tocada por John Peel foi "Are You Experienced", de Jimi Hendrix.

* Várias personalidades entraram ao vivo na Radio One, durante toda a terça-feira, para expressar de viva-voz o pesar sobre o acontecido como o maior DJ da história da música. Dos músicos mais novos ao povo do britpop (Jarvis Cocker, do Pulp, Damon Albarn, do Blur). De Bernard Summer (New Order) a Elvis Costello. Do primeiro-ministro Tony Blair a Tommy Smith, um dos principais jogadores do futebol inglês (Liverpool) desde sempre.

* John Peel tem a mesma importância e relevância de uma dessas grandes bandas, que viram imortais depois que morrem. Na BBC desde 1967, Peel foi prestigiado pelos Beatles. Dizem que recebeu das mãos dos quatro de Liverpool (e isso é que é "primeira mão!), o promo da fantástica "I'm the Walrus". Peel foi o primeiro a tocar em rádio grande a revolução punk. Introduziu os Sex Pistols aos ingleses e até sua morte sempre falou que sua canção favorita da vida era "Teenage Kicks", do Undertones, que empresta seu título a esta coluna. Peel foi um dos sujeitos mais importantes de quatro gerações de adolescentes adoradores de música pop.

* O DJ registrou os dourados anos 80 inglês nas famosas Peel Sessions, transformando em disco raridades de Echo & The Bunnymen, New Order e Smiths, banda que adorava. A primeira vez que os Smiths apareceu para o rádio foi via John Peel. Acolheu superbem a turma de Nirvana no levante grunge. Foi vital no britpop e deu voz às últimas manifestações indies. Amava e sempre dava seu microfone ao White Stripes, por exemplo. O hip hop americano e até o drum'n'bass têm uma dívida eterna com o veiculador John Peel.

* Eu guardo muitas fitas cassete com programas inteiros do John Peel gravados, do começo dos 90, que hoje não tem nenhuma relevância, mas das quais nunca quis me desfazer. Agora é que não vou me desfazer, mesmo. Amigos meus, na mezozóica era pré-internet, turbinava seus rádios para ouvir daqui do Brasil as transmissões de John Peel pela BBC, via ondas curtas.

* Um dos principais jornais do mundo, o "Guardian", registrou a morte de Peel com uma foto gigante em sua prestigiosa capa. Ainda deu um texto grande com duas assinaturas e uma ilustração acompanhando. O "Daily Star" disse que se calou uma das vozes mais reconhecíveis da história do rádio. Outro gigante diário, o "Independent", disse que John Peel foi a mais importante figura da música britânica desde a criação do rock'n'roll. Mais importante que qualquer artista porque ele era o entusiasta que descobriu muitos daqueles que nós pensamos como grandes figuras do pop nos últimos 40 anos.

* Na última segunda-feira, um dia antes da morte de Peel, o programa Garagem (Brasil 2000 FM) fez um especial bandas ao vivo. Por telefone, me perguntaram qual o show que tinha marcado minha vida. Depois de citar dezenas, tive que ficar com um só, e movido a muitas razões sentimentais escolhi uma apresentação que eu vi em maio de 1991, da banda inglesa Wedding Present, no Brixton Academy (Londres). Como a cada minuto eu mudo de opinião, sobre listas e votações definitivas, fiquei pensando sobre a minha escolha, se realmente era esse mesmo o show que me marcou e tal. No dia seguinte, quando soube da morte do John Peel, achei que Wedding Present foi mesmo a escolha acertada. Em 1991 eu morava em Londres e John Peel era o meu guia. E ele adorava Wedding Present, banda que eu devo ter escutado pela primeira vez em seu programa. Fiquei feliz com a escolha, no fim.

* Na terça de sua morte, a novíssima banda-dupla Black Keys fez um show sob a sombra do passamento de John Peel. Um de seus integrantes até chorou no palco. O Black Keys nunca foi ao programa do DJ. E é uma dupla americana. Este colunista entrevistou Matthews Caws, vocalista da banda indie Nada Surf, que fará shows em São Paulo em breve. O Nada Surf é de uma Nova York pré-Strokes e depois de um certo estouro local foi se esconderm em ostracismo dentro do underground americano. Caws puxou o assunto John Peel, para dizer o quanto estava chateado.

* Ainda na terça, em Liverpool, a dupla Neil & Tim Finn recebeu em show, no bis, a participação do guitarrista Johnny Marr, ex-Smiths. Marr e os Finn tocaram "There Is a Light That Never Goes Out", clássica dos Smiths. Alguém na platéia gritou "Teenage Kicks". E Marr e os Finn tocaram.

* A partir do ano que vem, o megafestival Glastonbury vai ter um palco com o nome de John Peel. Em Manchester, a bandaça Franz Ferdinand também tocou "Teenage Kicks", do Undertones, em show de sua badalada turnê britânica. Em Londres, o grupo local Hope of the States dedicou a música final ao DJ. No telão, atrás da banda, foi escrito "John Peel, You'll Never Walk Alone", lema da torcida do Liverpool FC, cantado nas horas difíceis para mostrar suporte até o fim.




DOIS CERTOS CLIPES

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Esse tal de Libertines, que foi o primeiro a esgotar os ingressos do Tim Festival (e na minha modesta opinião é a banda mais "tem que ver agora" do evento), lançou nesta semana os singles e o tocante vídeo da espetacular faixa "What Became of the Likely Lads", música improvável para as pistas, mas que rolou divina quando a toquei durante discotecagem no clube Atari, dias atrás.

Para quem tem acompanhado a novela que é a relação tumultuada de amizade entre os guitarristas Carl Barat e o afastado Pete Doherty, o clipe emociona. São dois moleques tais quais Barat e Doherty, mas só que com uns 12 anos cada.

Os dois, ao som da agridoce "Likely Lads", aparecem no alto de um prédio, olhando para baixo numa sacada. Não só olhando, mas cuspindo de lá de cima em carros estacionados embaixo. Zoam juntos o tempo todo, jogam carrinho de supermercado num lago, estraçalham um bicho (rato?) a pauladas, roubam CDs e saem correndo, brincam de dar porradas um no outro. Em uma certa passagem, o molequinho Doherty acende um cigarro (?) e fuma. Carl não. Até tira o cigarro da mão do pequeno amigo e pisa no chão, numa alusão branda do que realmente aconteceu nestes últimos meses da vida dos dois neste "futuro" de hoje. No final, os dois fazem uma espécie de dança punk infantil na sala de uma casa, felicíssimos, filmados em câmera lenta. Vídeo campeão. Está por aí, na internet.

* O segundo clipe é do marrento Eminem, jogando m* no ventilador da importantíssima eleição americana. É o vídeo da música "Mosh", já o segundo do álbum novo, "Encore", que nem foi lançado ainda, mas está todo na rede. O rap do Eminem é arrastado, raivoso. Enjoa logo. Mas o clipe, todo em animação espetacular, é um primor. Com prazo de validade, foi feito e lançado rapidinho para servir de último grito artístico contra o presidente George W Bush, antes das eleições, dia 2 agora. Pede consciência para a juventude e as minorias (ou seja, voto em Kerry). Mostra um Eminem com um discurso inflamado pedindo para os jovens o seguir: "Stomp, push, shove, mush, fuck Bush" são as palavras de ordem. Os inconformados botam uma blusa com capuz preto sobre a cabeça, como o Eminem, e os seguem pelas ruas. O rosto de Bush discursando em convenções republicanas e falando em redução de impostos vai aparecendo durante a trajetória de Eminem até... a urna. Aparece uma fila de gente jovem encapuzada e representantes de minoria para votar. Eminem implora que o povo saia para votar, principalmente contra a "política do petróleo".

* Num tom mais sarcástico, gozador, o hip hop faz outra intervenção nas eleições americanas, botando Bush e Kerry numa roda de break. Dá uma olhada em http://www.miniclip.com/Homepage.htm.




TIM FESTIVAL - TÁ CHEGANDO A HORA


* AQUELE CARA NÃO É O... - Fique de olho por onde anda neste final de semana, em São Paulo e principalmente no Rio. Você pode trombar com uma grande atração do festival, que já vão estar em programas turísticos pelas cidades.

* LIBERTINES, EM ATLANTA - O leitor Fernando Colugnato conferiu o show do Libertines em Atlanta, na semana passada, e manda seu recado.
"O público aqui do Sul dos EUA não é dos mais animados, mas tinha europeu às pencas. E esses caras pareciam que estavam em um estádio de futebol, alucinados, fazendo corinho com nome dos caras e "cantando" LIBERTINESEEES. Cantando todas as músicas e fazendo os riffs com a boca. Eles sem dúvida foram os mais animados, e uma atração a parte.
Perto de outros shows que assisti por aqui, este foi dos mais animados (só perdeu pros Pixies). Não sou um grande fã da banda, só conhecia os hits. Mas gostei muito dos caras no palco. O baterista é quem segura bem a onda. O cara é um monstro em todos os sentidos (até no tamanho), e o guitarrista, um bêbado, malucão e que faz uma base de responsa e a presença mais rock'n'roll no palco."

* PJ HARVEY, EM SAN FRANCISCO - O amigo Paulo Terron catou a musa indie nesta semana em SanFran. E...

"Ela fez dois shows sold out no Warfield (uma casa de 1500 lugares). O show é muito
legal (e muito diferente do que eu esperava). Para começar, é completamente supercontrolado: você tem a impressão de que ela entra no palco e sai sem deixar cair uma gota de suor. A banda que a acompanha é bem boa. Eles são versáteis: o baterista às vezes vai para o teclado, o guitarista assume uma segunda bateria às vezes (duas baterias! E nem é um show do Ringo Starr...). Só não é um show para indie fã de guitarras barulhentas. Aliás, tem algumas canções que nem tem guitarra. Ela abriu com "To Bring You My Love", bem devagar. O momento mais agitado foi em "The Whores Hustle and the Hustlers Whore" (e mesmo assim bem controlado). "Is This Desire?" foi legal também. Senti falta de "Sheela-na-Gig", que não rolou. A PJ Harvey parece ser bem tímida. Ela estava com uma minissaia vermelha e é mais bonita pessoalmente. No backstage, ela estava bem sorridente, depois do show. E sem uma gota de suor."

* BOLSA DE INGRESSOS - O leitor Márcio Oliveira Amaral (amsound@ig.com.br ou amsound@bol.com.br) tem um ingresso sobrando para a noite do Libertines/Mars Volta/Grenade, a do dia 7. A namorada desistiu. Ele pede R$ 110 pela entrada, pois mora no interior. "É só para deixar claro que não é exploração. Simplesmente para cobrir os altos gastos que tive ao me locomover daqui de Jacareí até Sampa (gasolina , pedágio etc.) para comprar o ingresso.

* UMA PARA O TIM - Talvez a última a vender todos os ingressos (se é que já estão esgotados), a primeira noite do Tim no palco Motomix (dia 5) tem tudo para ser uma das baladas mais legais do ano. Vai reunir os caras do Soulwax e 2 ManyDJs, que são os mesmos na base, e a trupe brasileira-hype Cansei de Ser Sexy. Pela farra e pela canção "Poney Honey Money", que vai estar no álbum de estréia do CSS, já vale o dinheiro gasto na entrada.




CD DUPLA FACE

A banda Donnas, de garotas simpáticas, lançou nesta semana o já histórico "Gold Medal", o primeiro CD dupla face da nova era da música. A indústria aponta que é o novo padrão do futuro discográfico, que está na encruzilhada internética. Em uma face do CD estão todas as faixas do álbum, que podem ser tocadas em qualquer aparelho de CD ou DVD. Do outro, ficam arquivos multímidia, que servem para ser colocados em computadores ou DVD especiais. No final do mês, é a vez de Nine Inch Nails e Blondie entrarem para a nova era e lançarem seus dupla face.




NADA SURF EM SP

A banda americana Nada Surf, que pintou grande no começo, mas logo voltou para o refúgio indie americano, vem ao Brasil para cinco shows. O grupo, que explodiu e depois implodiu com a ótima "Popular", toca a partir do dia 13 em São Paulo, Rio de Janeiro (14 e 15), Curitiba (18), Londrina (19) e Taubaté (20).




MODA ROCK

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Com uma festa no club/restaurante Bop na próxima quarta-feira, será lançada uma inspiradíssima nova grife de camisetas de rock, a Vinil. Criação de Paula Bertone e do rocker André Barcinski (Garagem), as camisetas estampam turnês e slogan imaginárias de bandas espetaculares, como Clash, New Order, Sonic Youth, Flaming Lips e outras. As camisetas são vendidas pela internet, pelo site www.garagem.net/vinil, e entregues em qualquer lugar do Brasil. Vá na página, escolha a sua e não se assuste com um dos "modelos" das camisetas da Vinil.




PROMOÇÃO DA SEMANA

Taí o que você queria. A Popload vai vestir você. E-mails para a coluna vão concorrer aos seguintes prêmios fashion:

* Uma camiseta de menino da Vinil, com estampa do show fictício da sensacional tríade Sonic Youth/My Bloody Valentine/Dinosaur Jr.
* Uma camiseta de menina do Kill Bill, volume 2, vermelhaça, muito boa.
* Uma camiseta de menino ou menina da ótima Franz Ferdinand, bandaça escocesa.




VENCEDORESSSSSSS

Devo, não nego. Pago agora.

* Uma camiseta feminina do Franz Ferdinand
Ilze Farah
São Paulo, SP

* Um kit "Kill Bill", com camiseta/CD/DVD
Tânia Maria Susekini
São Bernardo do Campo, SP

* DVD do Oasis, "Definitely Maybe"
Maurício de P. Oliveira
Rio de Janeiro, RJ

* O livro "Cassino Hotel", literatura indie de André Takeda
Diogo Ferreira
São Paulo, SP

* CD Strokes, ao vivo no Alexandra Palace, em Londres
Marcella Dominique Martins
Feira de Santana, BA

* PRÊMIO LONDON CALLING - Pixies, coletânea "Wave of Mutilation - The Best of", oferecida pela loja London Calling (.com.br)
Aline Dalla Vecchia
São Paulo, SP (talvez)




POPICES

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Até que enfim, a caixa do Nirvana vai sair. "With the Lights Out" vai carregar 81 músicas em três CDs, sendo 68 inéditas (tipo ensaios, novas versões, demos, ao vivo). Vem com um DVD e um livro. Oba.// A casa (mesmo) de rock paulistana Funhouse faz festança forte nesta sexta, para celebrar seus dois anos de bons serviços à música independente. A balada, fora da sede, acontece no enorme Superclub, clubão que fica na Rua Brigadeiro Galvão, 871, Barra Funda (próximo ao metrô Barra Funda e ao Memorial da América Latina). Shows escolhidos a dedo das ilustres Autoramas (RJ), Jumbo Elektro e Laboratório SP. Os DJs da casa botam o som de disco. E a dupla Jazzie & os Vendidos fazem, hã, performances. Se joga.// O grupo Franz Ferdinand teve um lançamento indie nos EUA, mas a banda agradou demais por lá. Tanto que estão relançando o álbum de estréia dos escoceses. Com cinco faixas bônus, incluindo a ótima nova versão de "This Fire", a "This Fffire".// Detetives e a banda Acústicos e Válvulados tocam neste domingo no projeto 2 em 1, que acontece no inusitado de bom Avenida Club, em Pinheiros.// Eu já tinha ficado chocado uma vez com o zagueiro Serginho, quando ele fez um golaço de cabeça no Palmeiras em pleno Parque Antártica. Mas desta vez foi demais.// Para quem vai votar, bom voto. E consciência.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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