Pensata

Lúcio Ribeiro

26/11/2004

O moribundo

"We're making a move, we're making it now,
We're coming out of the side-lines.
Just put your hands up - it's a raid"

Franz Ferdinand, em "Mis-Shapes", do Pulp

"With the lights out
it's less dangerous
Here we are now
Entertain us"

Nirvana, em "Teen Spirit"

"My friend says we're like the dinosaurs
only we are doing ourselves in
much faster than they ever did
we'll make great pets!"

Porno for Pyros, em "Pets"

"You and me baby ain't nothin' but mammals
so lets do it like they do it on the Discovery Channel"

Bloodhound Gang, em "Bad Touch"

Certs?

Me empolguei nas epígrafes. Quatro. Foi mal aí.

* Vamos segurar um pouco as balelas semanais e tratar, logo de cara, das coisas mais importantes dos últimos dias:
* primeiro, saiu o "Best of" do Def Leppard. Pronto: falei!
* outra, a rede de hambúrgueres Burger King finalmente chegou ao Brasil. A dica são os anéis de cebola. Ri agora, argentinada.
* um recado: Paris Hilton. São Paulo. Segunda-feira.
* por fim, mas não menos importante, o Orkut acaba de receber a comunidade "Causos do Finatti 2", lugar para discutir vida e obra do colunista Humberto Finatti, autor da incrível Zap'n'Roll. A nova comunidade é recomendada pelo próprio Finatti e organizada pela pessoa que está escrevendo a biografia do colunista. Para não perder.

Agora o resto...




NIRVANA E O BRASIL: ENCONTROS E DESENCONTROS

* Desencontro
Um dos mais significativos lançamentos dos últimos anos vai ser simplesmente ignorado no Brasil. Não, você não leu errado. A esperada e histórica caixa do Nirvana, documental de três CDs e um DVD sobre a popularíssima banda que abalou os anos 90, lançada no planeta nesta semana, não vai sair no Brasil. Seria muito caro produzi-la aqui e seria muito caro importá-la, alega a gravadora Universal.

Para ouvir e simplesmente ver, entre outras coisas, a rara ligação da banda com o Brasil, que consta do DVD, será preciso desembolsar por volta de R$ 250 nas lojas de importados. Ou ir à internet, onde as músicas e as imagens já estão.

* Encontro
Além de ter o material que tem, o DVD traz raras imagens muito caras ao Brasil. Nele está registrada a passagem da banda pelo Brasil em 1993, quando o Nirvana aportou aqui para os famosos shows de SP e Rio do Hollywood Rock. Mas não são cenas dos shows.

A história foi falada à época, mas ninguém viu e ouviu nada. O áudio só foi aparecer, nove anos depois (2002) e logo vazou para a internet, circulando como uma peste. Agora é possível ver em imagens uma parte do que aconteceu num estúdio da BMG, no Rio, em 1993, num dia de folga em que a banda "sumiu".

O papo é o seguinte: um dia antes do show do Nirvana na parte carioca do Hollywood Rock, uma semana depois de tocarem em São Paulo, Cobain, Grohl e Novoselic se trancaram em um estúdio no prédio da Arista/BMG e armaram uma sessão de gravações. Fizeram umas jam, tocaram umas cover e burilaram umas demos ("Heart-Shaped Box", "Milk It", "Scenteless Apprentice" e "Moist Vagina") que viriam a entrar no álbum seguinte, o "In Utero", o sucessor do espetacular "Nevermind" (1991).

No meio de tudo isso, tocaram uma cover significativa e bem estranha para o momento do Nirvana. A música chamava "Seasons in the Sun". Com Kurt Cobain na bateria e cantando, o baixista Krist Novoselic na guitarra e o baterista Dave Grohl no baixo. É a imagem dessa cover secreta, dentro de estúdio no Rio, no verão carioca, que aparece na íntegra em vídeo no "With the Lights Out" e encerra o CD. Porque, de letrinha macabra, já mostrava a obsessão de Cobain com a morte.


Divulgação





COBAIN, O MORIBUNDO

"Seasons in the Sun", a tal cover do DVD, fala na letra de um cara que morreu e está se despedindo. Feita em 1961 por um compositor belga, o poeta Jacques Brel, a música logo foi parar nas mãos de um cantor canadense, que ofereceu a música aos Beach Boys. A famosa banda californiana chegou a gravar a composição, mas decidiu não colocá-la em disco. Aí o canadense, Terry Jacks, resolveu bancar um CD com a música, cantando ele mesmo. Mas pediu ao francês para mudar algumas coisas.

A música originalmente se chamava "Le Moribond", e em inglês chegou a ter o nome de "The Dying Man".

Um trecho da letra diz assim: "Goodbye my friend, it's hard do die/ When all the birds are singing in the sky/ And all the clouds are everywhere/ Pretty girls are everywhere/ Think of me and I'll be there".

Depois de se despedir do amigo, ele se despede do pai (aqui é mais deprê) e da Michelle, sua "little one".

O disco vendeu 300 mil cópias no Canadá, logo se tornando o single que mais vendeu mais rápido na história do país. Empolgado, Jacks lançou o disco nos EUA em 1974 e ultrapassou a marca de um milhão de cópias vendidas.

Depois, a música caiu no esquecimento geral. Mas não no de Kurt Cobain, que trouxe a música para o Brasil 20 anos depois. Para no ano seguinte se despedir ele mesmo.




A VOLTA DO SERIADO INDIE

A novelinha teen descolada "O.C.", o seriado mais previsivelmente bacana da TV, um remix de "Dawson's Creek" e "Sex and the City", estréia no Brasil sua segunda temporada. A série estrelada pela dondoca Mischa Barton e seus amigos lindos vai ao ar em fornada nova na próxima quarta-feira, às 20h, no canal pago Warner.

Tirando as pendengas amorosas de sempre, o programa, veiculador de trilha sonora moderna, vai fazer ainda mais pela música pop atual.

No cenário de "O.C." foi criado um clube chamado The Bait Shop, para a molecada da série se divertir e interpretar seus dramas tristes e definitivos, típico da carga emocional teen do programa. E, toda vez que os personagens estiverem desenrolando alguma história nesse clube, uma banda de verdade estará tocando ao vivo.

Nos EUA, onde "O.C." está no ano 2/episódio 4, o seriado mostrou na semana passada uma performance do grupo nova-iorquino The Walkmen.

O Walkmen tocou dentro da trama em que o personagem Seth Cohen (Adam Brody, o garoto indie de "O.C.") armou um plano para reatar com sua ex-namorada no clube onde o Walkmen estaria se apresentando. O episódio do Walkmen poderá ser visto no Brasil no dia 15, se a programação normal não for atropelada.

Na semana que vem, ainda dentro da agenda americana, é a vez do bombado grupo The Killers intrometer seu som na trama de "O.C.". Vão tocar duas canções, uma delas a maravilhosa "Mr. Brightside".

* KILLERS: Depois de estourarem primeiro na Europa, os Killers estão agora querendo conquistar seu próprio país. A banda, de Las Vegas, que teve finalmente seu aclamado primeiro álbum ("Hot Fuss") lançado no Brasil, é trilha de comercial longo e poético da marca Kinder (sabe Kinder ovo com surpresa?) na França. E tem um remix de seu hit maior, "Somebody Told Me", entupindo as rádios inglesas.

Mas a conquista da América é o que interessa agora ao Killers. Além de mostrar a cara no dia 2 para milhões de adolescentes que cultuam "O.C.", o grupo de Brandon Flowers é o convidado sonoro do programa do entrevistador Conan O'Brien, um dia antes.

Em seguida, de braços dados com os dândis escoceses do Franz Ferdinand, estrelam pela Costa Oeste alguns festivais de rádios rock locais. No dia 9, tocam no Key Arena em Seattle, em festa da 107.7 FM. No dia seguinte, no Graham Civic Auditorium, chacoalham San Fran em evento da Live105. Os matadores estão à solta.




BICHOS

Essas coisas não acontecem do nada. Bem no momento que o mundo vive uma espécie de comoção geral sobre a arte de criar cachorros e gatos, acontece neste final de semana o festival Sinfonia de Cães, movimentação indie-indie de nome simpático e significativo. O Sinfonia de Cães, em sua segunda edição, reúne 22 bandas que transitam no underground paulistano em um cenário armado para receber mil pessoas na rua Azurita, 46, no Canindé, ao lado do campo da Lusa e perto do metro Tietê.

O site www.post.com.br/sinfonia dá a escalação e todas as info. Bandas como Ludovic, Espíritos Zombeteiros, Ecos Falsos e Hats são destaques do festival. O pessoal do programa Studio 11, combo indie que chacoalha de som bom a região de Franca, é um dos que botarão o som entre bandas. Coisa fina.

* Sinfonia de Cães, capa da "Veja" sobre pets, o bronco Thiago Ney criando dois gatinhos novos, o meu gato posando para foto na revista "Capricho", a Gisele Bundchen ameaçando ficar feia se não acharem a cachorrinha dela, o Luciano (Zezé di Camargo) também procurando o cão dele e a Paris Hilton aqui em São Paulo. É a revolução dos bichos. Falando nisso, aproveite que você é um bom ser humano e vai ver o que a Suipa tem a falar no site deles (www.suipa.org.br). Eles pedem sua ajuda.

PREMIAÇÃO DA SEMANA

O saco do Pop Noel está cheio. Escolhe aí seu presente e peça no lucio@uol.com.br. Fica à vontade para pedir quantos quiser. Os três primeiros da lista são as novidades da semana. Serão sorteado apenas dois destes para a semana que vem.
* Camista linda e vermelha do Libertines, oferecida pela gravadora Trama
* CD novo do U2, o bem bom "Atomic Bomb"
* CD especial da revista inglesa "Q", com as melhores músicas de 2004 para a publicação. Tem "The Dark of the Matinee", do Franz Ferdinand, "Muzzle of Bees", do wilco, "Can't Stand Me Now", do Libertines, "Train in Vain", do Clash, "Drop the Pressure", do Mylo, mais Interpol, Jeff Buckley, Green Day, Keene, Dizzee Rascal, Kasabian, Nick Cave e Secret Machines.
* Disco do Killers, o ótimo "Hot Fuss"
* CD "Guitar Bizarre", a piratice do João Erbetta
* DVD "Devotional", sobre a turnê de 1993 do Depeche Mode

** Já a relação de vencedores... Fica para a semana que vem. Não deu para rolar para esta. Foi mal aí.

POPICES

Anota essa: bandas canadenses vão dominar. Tava jogando gamão pela internet nesta semana e encarei um cara mais bem rankeado que eu jogando lá de Quebec, no Canadá. Enquanto apanhava do cara, perguntei sobre a Arcade Fire, da qual gostei do que escutei. "They are awesome, man. Stop playing and go listening to them". Antes de fazer o que ele falou, veio ainda outro toque: ouvir os Dears, liderado pelo Morrissey negro. //"Faz tempo que eu tinha ouvido, mas só agora consegui para mim a cover de "Mis-Shapes", fantástica música do Pulp, tirada de uma sessão acústica de rádio do ótimo Franz Ferdinand. Deliciosamente mal-tocada e desafinada, porque não é fácil chegar perto da voz do Jarvis Cocker. Para se divertir com o FF e lembrar o Pulp, fica a recomendação.// A megabanda indie Cachorro Grande e o psicodélico Continental Combo podem ser vistos no palco da Funhouse no sábado e no domingo, respectivamente. //Sem querer zoar com erros alheios, porque esta coluna escorrega bastante também e tal e coisa... Mas tava assistindo o capítulo desta semana do seriado fofo "Gilmore Girls" quando rolou uma cena em que uma menina começou a citar algumas bandas de rock, entre elas o Yo La Tengo. O tradutor não teve dúvida e tascou Yellow Tango. Uma banda chamada Tango Amarelo é tudo.// O palmeirense Rogério Real comanda a última festa Love Buzz, na Torre, neste sábado. Além do nome ótimo, emprestado do Nirvana, a balada promove também o show da falada banda Laboratório SP.//A BMG vai lançar dois CDs dos Sex Pistols, vasto material que foi gravado pela seminal banda punk antes de lançarem o "Nevermind the Bollocks". Um dos CDs está cheio de demos de canções que entraram no ultrafamoso disco.//Para constar: a acima citada cover de "Seasons in the Sun", raríssima versão que está no DVD do Nirvana, foi feita mais recentemente pela delicada banda inglesa Black Box Recorder.// Músicas da semana: "Da Funk", do Daft Punk. E "Unconditional", do Bravery (Nova York).// E é isso aí.


Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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