Pensata

Lúcio Ribeiro

25/03/2005

O pop vai nos dilacerar

"Eu sou tão mau
Eu sou tão mau
E você ainda quer ser o meu amor"
Réu e Condenado, em "Eu Sou Tão Mau"

"Confusion in her eyes that says it all
she's lost control
And she gave away the secrets of her past and said
'I've lost control again'"
Joy Division, em "She Lost Control"

"Just how deep do you believe?
Will you bite the hand that feeds?
Are you brave enough to see?
Do you want to change it?"
Nine Inch Nails, em "The Hand That Feeds"


Boas.
Tem alguém aí para ler isto no feriadão?
Acho incrível como tem alguém aqui para ESCREVER isto!
De todo modo, here we go.

* Quem diria... E não é que o Beck tá salvando a honra da galera veterana (Moby, New Order) e fazendo um disco decentíssimo. Depois de uns álbuns bem chatinhos, o loser faz seu melhor CD desde "Odelay". Chama "Guero". Vá atrás de "E-Pro", "Hell Yes", "Go It Alone", "Girl" e "Que Onda Guero". Esperto, suingado e bem-humorado. Beck is back. Nas lojas no começo de abril. Na internet, faz tempo.

* Outro que está de volta e em forma é o Weezer. Reapareceu parecendo o... Kiss.

* Amigo meu viu na MTV... Rolando especial do Black Sabbath. Ozzy diz "I was happy: I had money, I had a house, I had a chick". A legenda: "Eu era feliz: tinha dinheiro, tinha casa, tinha uma GALINHA". Na Music Television brasileira. Mais da MTV ali embaixo.

* Quer outra canção nova bem boa? "In the Morning", do Coral, alegrinha, para cima. É uma versão fofa para "Alright", do Supergrass.

* É impressão minha ou esta coluna está oferecendo os prêmios mais bacanas que um espaço pop já concedeu na história. Vê lá se eu estou mentindo. Que onda, guero. Boa Páscoa.




TORNANDO MAIS CLARO

Um email chegou nesta semana a este colunista contendo a seguinte informação:
"Dentre as bandas que estão em negociação para tocar no Claro Que É Rock", em setembro, estão Audioslave, Foo Fighters, Franz Ferdinand, Green Day, Radiohead, System of a Down e Strokes".

* A data do show do Placebo em Salvador, parte das seletivas que mistura a bombada banda indie a vários grupos nacionais, mudou do dia 16 para o dia 17 próximo. E, depois de algumas reclamações quanto às datas de início de venda dos ingressos para o Placebo nas seletivas, a Claro divulga agora uma lista mais, digamos, correta que a da semana passada. Confira:

Datas e locais dos shows:
15/04 (sexta) - Recife (Centro de Convenções)
17/04 (domingo) - Salvador (Concha Acústica)
19/04 (terça) - Porto Alegre (Galpão em Frente ao Aeroporto)
21/04 (quinta) - Florianópolis (El Divino Club)
23/04 (sábado) - Brasília (Concha Acústica)
26/04 (terça) - Campinas (Usina Royal)
27/04 (quarta) - São Paulo (Credicard Hall)
29/04 (sexta) - Rio de Janeiro (Claro Hall)

Início da venda de ingressos
Desde 20/03 - Recife
26/05 - Salvador
Desde 23/03 - Porto Alegre
25/03 - Florianópolis e Curitiba
28/03 - Brasília
31/03 - São Paulo
31/03 - São Paulo
02/04 - Rio de Janeiro




ELE PERDEU O CONTROLE

O fantasma atormentado de Ian Curtis volta a assombrar o pop. O líder-mártir do abençoado Joy Division, banda de Manchester do pós-punk, está muito entre nós, embora há muito não esteja entre nós.
Em maio próximo é lembrado os 25 anos da trágica morte do cantor, considerado o Jekyll e Hyde do rock. Curtis se enforcou aos 23 anos. Foi encontrado morto no dia 18 de maio de 1980, um dia antes de o Joy Division partir para sua primeira turnê nos Estados Unidos.
A efeméride funestra, a volta agora do New Order (a continuação do Joy Division sem Curtis), um filme sobre sua vida e a influência de sua banda sobre algumas das principais bandas novas recolocam seu nome na ordem do dia.
Nos próximos dias devem ser anunciados o elenco, o título e os detalhes da produção de "Control", ou "Touching from a Distance", que vai levar às telas a curta e marcante história de Ian Curtis. O ator Jude Law pode interpretá-lo. Outro cotado a reviver a vida do garoto tímido de família que às vezes se transformava em um sujeito violento (e, doente, muitas vezes teve ataque epilético em pleno palco) é Sean Harris, que já foi Curtis no filme "A Festa Nunca Termina" ("24 Hour Party People", 2002).
"Touching from a Distance" é o nome da famosa biografia de Ian Curtis lançada em 2001, a vida do cantor sob a perspectiva de sua viúva, Deborah, que concordou com o filme desde que seja realizado pelas pessoas que conviveram com o ex-marido.
Tony Wilson, importante agitador da cena de Manchester do punk até o Happy Mondays, vai co-produzir o filme com Deborah. O notável fotógrafo do rock Anton Corbijn assinará a direção.
O músico e produtor americano Moby, fã declarado de Joy Division, terá seu nome envolvido com o filme, foi revelado. Duas trilhas sonoras chegarão às lojas junto ao lançamento de "Control". Uma com músicas do Joy Division. Outra com outras bandas interpretando Joy Division.
Parece que Tony Wilson já enviou músicas da banda de Ian Curtis para U2, Morrissey, Doves, Kraftwerk, Marilyn Manson e o próprio Moby, entre outros. E só o grupo alemão negou o projeto, alegando incapacidade de mexer com uma música do Joy Division.
Enquanto isso, o novo rock reverbera Joy Division por vários poros. A revista britânica "Q" mapeou a influência do grupo da nova música deste modo:
* a voz de barítono: o cantor do Interpol, Paul Banks, incorpora Curtis no tom de voz e na capacidade de cantar situações de desespero.
* a bateria seca e quebrada: o ótimo Bloc Party reproduz hoje nas batidas o que Stephen Morris fez lá em 1978.
* o baixo marcante: A pulsação de Peter Hook pode ser ouvida nas boas músicas do grupo americano The Killers.
* a barba: O Peter Hook de 1980 e Jimi Goodwin, do Doves, entram em qualquer seção de "separados no nascimento".
* a roupa "militar chic": A excêntrica banda British Sea Power, tal qual Curtis e Hook lá atrás, adoram se vestir como um capitão do exército alemão.




JOY DIVISION - AMOR E MORTE

A história é velha, e foi reproduzida na "Q" e na "Mojo", nas últimas edições de dessas famosas revistas de música do Reino Unido.
Em 17 de maio, por volta das 17h, depois de um ensaio que visava já a turnê americana, Peter Hook deu carona para Curtis até a casa dos pais do cantor. "A gente voltou falando sobre a excitante expectativa de tocar nos EUA."
O que se sabe é que mais tarde Curtis teria ido para sua casa e viu "Stroszek", filme do diretor alemão Werner Herzog (em que um músico de rua da Alemanha vai para os EUA viver o sonho americano e acaba achando melhor ver o suicídio).
Tarde naquela noite, Deborah chegava em casa, vindo da disco onde trabalhava. O casamento dos dois estava terminando em divórcio, depois que Deborah descobriu que Curtis tinha uma amante. Uma groupie belga chamada Annik.
Naquela noite, Curtis não deixou Deborah entrar em casa. Pediu para ela ir dormir nos pais. Cansada do trabalho e das brigas, Deborah concordou. Depois que a mulher se foi, Curtis fez um café, botou "The Idiot" (Iggy Pop) para tocar e se enforcou com os lençóis da cama. Como bilhete de despedida para Deborah, deixou a música "Love Will Tears Us Apart" ("O Amor Vai Nos Dilacerar"), que viria ser a mais famosa música do Joy Division.




A HISTÓRIA DE "LOVE WILL TEARS US APART"

"Por que o quarto está tão frio? E você deitada ao meu lado, virada para a parede."
A música escrita por Ian Curtis à beira do suicídio trazia na letra uma mensagem final para seu casamento com Deborah e até para sua própria vida. "É isso. Algo tão bom simplesmente não pode funcionar mais."
"Love Will Tear Us Apart" virou o hino mais bem-sucedido da banda, ao chegar ao número 13 na parada inglesa. Para uma banda pós-punk "difícil" e mesmo impulsionada pelo apelo da morte de Curtis, a música foi longe no chart, dado o perfil vendedor da época.
Escrita em setembro de 1979, ela começou a aparecer ao vivo e foi imortalizada numa famosa session para o programa do DJ de rádio John Peel.
Numa primeira gravação de estúdio, já em janeiro de 1980, a música acabou com uma levada bem mais rápida. A banda odiou o resultado.
Em março, nos arranjos finais para o que seria o segundo e último CD do Joy Division, "Closer", o grupo regravou uma versão mais devagar de"Love Will Tear Us Apart". Mas a música acabou fora do CD.
Ainda assim a banda achou uma boa idéia, com o sucesso da versão para a Peel's Session, que a canção saísse como um single de "aquecimento" para o disco, sem que depois fosse preciso colocá-la no álbum.
Quando perceberam que "Love..." poderia virar um hit, chegaram a esquematizar um videoclipe para ela. Mas Ian Curtis estava numa péssima fase de sua epilepsia e logo depois morreria.
Um mês depois do suicídio do cantor, "Love Will Tear Us Apart" era lançada. E o título da música foi escrito na lápide de Ian Curtis.
Em 1983, o New Order, sucessor do Joy Division, tocou "Love..." ao vivo pela primeira vez. A comoção foi tanta que o single foi relançado na Inglaterra.




NIN

Não sei se eu fui claro quando disse, na semana passada, que a música nova do Nine Inch Nails, "The Hands That Feeds", é boa. Acho que me expressei mal. Ela é muuuuuuito boa. A música vai ser lançada em 19 de abril como o primeiro single de "With Teeth", o álbum, que chega em maio junto com a volta do NIN às massas. A banda torta de Trent Reznor é grande atração do Coachella Festival 2005, na Califórnia. Acha que é pouco? Recentemente Reznor viu relançado o famoso CD "Downward Spiral", em edição "deluxe" e remasterizada, com um disco extra carregado de 13 faixas de remixes, demos etc. Parece improvável pensar nisso hoje, mas há dez anos o "Downward Spiral" atingiu o segundo lugar na parada da "Billboard". Vendeu 6 milhões de cópias. Trent Reznor, pensa nisso.




WEEZER

Tem cara de hit instantâneo a nova música do Weezer, "Beverly Hills", que começou a tocar nas rádios (de fora) nesta semana e instantaneamente foi parar na rede.
Tem cara de hit e tem cara de Kiss. O começo parece "I Love It Loud", da turma do Gene Simmons. Mas depois fica bem bubblegum, bem Weezer.
"Beverly Hills" vai estar no quinto álbum da banda, esperado para o dia 10 de maio. O Weezer toca no dia 1º de maio no Coachella Festival. Depois roda um pouco pela América. E, aí, quem sabe...




SHOW DE QUEM?

Não era difícil prever, a grande notícia da passagem do farofa Lenny Kravitz pelo Brasil não estava em cima do palco. E sim na área VIP.
A Folha tinha já entregado no show de São Paulo que o ator global Henri Castelli carregou seu iPod para o Pacaembu, para ouvir Ramones na hora em que a apresentação do guitarrista estivesse chata. "Não gosto de Lenny Kravitz. Só vim para acompanhar um amigo."
Já o paulistano "Jornal da Tarde", sob o engraçado título "Show de quem? É na área VIP? Então tá", identificou dois tipos de VIP. O VIP que paga (R$ 800) por tal ingresso e o VIP VIP, que entra na faixa. Era uma área VIP dentro da área VIP. No reservado do reservado, onde estava a Sandy e Junior, eram servidos uísque Red Label com energético e cerveja Itaipava. Para os VIPs menos VIPs, cachorro quente e pão com carne louca.
Sério...




10 SONGS

A pedido desta coluna, um amigo fez comparação nas programações das MTVs a que temos acesso (mais ou menos): a Brasil e a Latina. Em um horário aleatório, destacou dez clipes seguidos exibido em uma e na outro. Veja as diferenças por você mesmo.

MTV Latina, 23/3
1. Audio Bullys
2. Kings of Convenience
3. Sondre Lerche
4. Thrills
5. Modest Mouse
6. Interpol
7. VHS or Beta
8. Radio 4
9. Phoenix
10. Scissor Sisters

MTV brasileira, 24/3:
1. Detonautas
2. Evanescence
3. Calhamblack
4. Ivete Sangalo & Gilberto Gil (MTV ao vivo)
5. Natasha Thomas
6. 50 Cent
7. Vinimax & Sandra de Sá
8. Engenheiros do Hawaii (acústico MTV)
9. Keane
10. Lenny Kravitz




POPLOAD BRASIL TOUR 2005

* Na próxima quinta, 31, este colunista toca em Goiânia, na festa da Monstro Discos para o lançamento do festival Bananada, versão 2005. A balada, que vai ter ainda discotecagem de Oric, Outsider, o nervoso Fabrício Nobre e Rodrigo Feoli, vai rolar na London ("um lugar muito louco", segundo fui informado).

* Próximas paradas: Vitória (ES), no dia 9 de maio, festa de aniversário do projeto da Antimofo; Brasília (DF), em data a confirmar.

* Sábado 19 último a Popload passou por Belo Horizonte, no superclube indie A Obra. Perto de 400 pessoas circularam pelo lugar onde cabia umas 200. Eu que fico pensando que vou levar a "nova música" para todo lugar, vi uma menina local chamada Nina sacudir a pista com uma discotecagem em que a banda mais velha dos CDs dela era o Franz Ferdinand. Fina.




POPICES

* É uma pena, mas este deve ser o último Skol Beats. Tiveram uma brilhante idéia em colocar um trio elétrico no evento em que Carlinhos Brown vai se apresentar, fazendo algum tipo de parceria improvável com o DJ argentino Dero. Música eletrônica misturada à timbalada. E você sabe: onde a maldição do Brown passa... Mas, em compensação, no trio vai ter também a presença de Rogério Flausino... O que está acontecendo?!? A Scotland Yard devia mandar um helicóptero para resgatar o Mylo do Anhembi.//A rádio inglesa Virgin botou para tocar o hit atual do Green Day, "Boulevard of Broken Dreams", em cima de "Wonderwall", a música suprema do Oasis. Uma sobreposta à outra. É impressionante como elas se... encaixam..// Nesta sexta feriado a festa Revolution (Funhouse) recebe a dupla goiana insana Réu e Condenado. Teclado de zueira, teen spirit e letras improváveis. É o que eles têm a oferecer. E isso, acredite, não é pouco.// Na mesma sexta, no Atari, o DJ Mark, do ótimo programa de rádio Studio Eleven, de Franca, faz dupla com o Paulão do Garagem nas picapes. Para não perder.//




PROMOÇÃO CAMPEÃ DA SEMANA

Segura aí. Quem mandar email nesta semana para o lucio@uol.com.br vai concorrer às seguintes dádivas pop.
* um par de ingressos para o Skol Beats (16 de abril), em SP. Chance de ver grátis o grande Mylo, Faithless, Carlinhos Brown. Que beleza!
* o CD "Hotel", do Moby, recém-lançado
* uma camiseta da Cuma?, nova marca. É só ir ao site www.cumavirtual.com (sem br) e escolher a sua, para concorrer. Eu tenho a dos quatro rapazes do Slayer.
* DVD "Live at Somerset House", do grupo britânico Snow Patrol.




RESULTADO DA PROMO

Semana que vem. Pode ser?




TCHAU

É isso aê!
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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