Pensata

Lúcio Ribeiro

31/03/2005

Não significa não

"I keep on playin our favorite song
I turn it up while you're gone
It's all I got when you're in my head"
Queens of the Stone Age, em "In My Head"

"Heeeeeeeeeeeeeeeey Lyla
The stars are about to fall
So what'd you say, Lyla"
Oasis, em "Lyla"


Então.
Não estranhe. A coluna está entrando adiantadinha, no meio da quinta, mas não é culpa minha. É tudo por causa dos Monstros.

* Vai. Sem muito lero inicial nonsense, vamos entrar logo na coluna.




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O MAIOR DJ DO MUNDO

Engraçado: o maior DJ do mundo não é mais de música eletrônica.
Agora que o conceito de "superstar DJ" não goza de prestígios de outrora, uma outra estirpe de disc-jóqueis reclama o título: o velho DJ de rádio. Mais precisamente, um DJ de rádio em especial, no caso o neozelandês Zane Lowe, 29 anos, da Radio One inglesa, a emissora pop da BBC.
Zane Lowe tem chacoalhado a música pop britânica com seu jeito "diferente" ou "antiinglês" de apresentar. Escrachado, festeiro, Lowe (1) anuncia cada banda como se estivesse chamando a nova dos Beatles, (2) mexe muitas vezes nas introduções de canções para ficar falando em cima e (3) frequentemente abre seu microfone na hora de alguma música que o esteja empolgando, para cantar o refrão junto do vocalista. Esses números entre parênteses não param por aí.
Arrancado a peso de ouro da XFM (outra rádio pop inglesa) pela BBC, em 2003, Zane é considerado o sucessor do lendário John Peel, morto em 25 de outubro de 2004. Não no estilo, mais no importante papel de incendiário da nova música.
A Radio One já está pequena para Zane. O DJ foi contratado para dois programas semanais, mas desde o ano passado entra no ar de segunda à quinta das 19h às 21h. No ar, lançou a bandeira do "In New Music We Trust" (Nós Acreditamos na Nova Música), parodiando a mensagem bíblica ("God") da cédula de dólar.
O mote pauta o programa e virou até turnê itinerante pela Inglaterra, em novembro passado, juntando bandas novas bacanas como Kasabian, Kings of Leon, Razorlight, Dizzee Rascal.
Zane Lowe carrega seu programa para todo lugar. Já transmitiu de Nova York, durante show do Yeah Yeah Yeahs, botou ele do ar de clubes de várias cidades inglesas e recentemente foi realizado direto do Texas. E, para inglês ouvir, instalou sua aparelhagem num hotel de Austin, onde aconteceu o gigantesco festival indie South by Southwest, e conversou com bandas, mostrou trechos de show, tocou suas músicas "da hora" e fez sessões ao vivo exclusivas, como uma com o impressionante Queens of the Stone Age.
Zane Lowe é um furacão. Toca desde o conhecidíssimo Beck até a revelação Tom Vek. De drum'n'bass, eletrônico e rap à excelente banda punk teen Be Your Own Pet. Deu uma alavancada na audiência da Radio One e ganhou em fevereiro, pela segunda vez consecutiva, o prêmio de melhor programa de rádio da Inglaterra, no NME Awards.
Como se não bastasse, é VJ da MTV européia desde 1998. Em 2002, largou a "matriz" para ajudar na implementação da MTV2, onde hoje empresta seu carisma para o programa "Gonzo", que entre outras coisas reúne um quadro de "plágios" musicais bem-humorados e um Top 10 de música independente com clipes pedidos por leitores do semanário "New Musical Express".
"Um monte de emissoras de rádio, hoje, preferem não arriscar em nada sua 'segurança', escolhendo um playlist pequeno e 'seguro', baseado em pesquisas. Mas ficam todos pobres e iguais. O que eu venho tentando fazer é colocar a nova música numa plataforma. E gritar bem alto para chamar a atenção para ela. Eu sempre fui aquela criança que cantava ou rapeava em todas as músicas que escutava. Era o air-guitarrista da turma", disse Zane Lowe em entrevista a este colunista, de Londres.
"E esse sentimento eu tento passar pelo ar. Para mim, rádio é um veículo tão poderoso e direto que é preciso passar emoção para atingir quem está do outro lado, ouvindo. Não dá para ser mecânico. E eu sei que muita gente que está ouvindo o programa sente e vive música do mesmo jeito que eu sinto e vivo."
Você pode ouvir pela internet o Zane Lowe bombar a nova música em seu programa ao vivo ou gravado, através do site www.bbc.co.uk/radio1/alt/zanelowe.

O FURACÃO ZANE - "Eu nasci em Auckand, Nova Zelândia, onde vivi e trabalhei com música e com músicos durante 10 anos. Lancei alguns discos com um projeto de hip hop que eu tinha chamado Urban Disturbance. Produzi e remixei um monte de gente por lá. Também trabalhei de graça para um canal musical de TV chamado Max TV. Quando percebi que não tinha mais o que fazer e aprender na Nova Zelândia, peguei o avião. Vivi um pouco em Nova York e logo me mudei para Londres. Lá, consegui um emprego na MTV, em 1998. Dois anos depois, a rádio alternativa XFM me ofereceu um programa para apresentar um Top 20 semanal. Logo eu troquei isso por um programa à noite, de segunda à quinta. Em 2002, mudei da MTV para a implantação da MTV2 européia. Estou lá, apresentando um programa diário chamado 'Gonzo' e fazendo o âncora de coberturas de festivais e premiações. Finalmente, em 2003, eu sai da XFM em direção à Radio One, da BBC, onde eu comando um programa que antigamente era chamado de 'Evening Session'. Pronto, minha vida profissional em um parágrafo."

O NOVO JOHN PEEL - "Se eu sou o novo John Peel? Uma resposta rápida é 'não'. Ele é insubstituível. Eu sou, sim, bastante influenciado pelo amor e pela dedicação que o John tinha pela nova música. Sinto me afortunado por me envolvido profissionalmente de modo forte com ele nos últimos anos. É muito importante que nós, que fomos tocados por seu legado, continuemos nessa mesma trilha, embora eu queira fazer isso de meu jeito próprio. É um jeito bem diferente do de John, mas eu sei que ele sempre entendeu."

MODO EXPLOSIVO DE SER DJ - "Em TV, é muito claro que você está ali, dentro de um estúdio. Já no rádio, parece que você subiu ao palco. É a mais verdadeira e imediata forma de se comunicar dentro da mídia e eu estou bem focado nisso. Eu penso que é importante hoje usar instrumentos como telefone, email, message boards, salas de bate-papo, tudo para construir uma comunidade onde todos ficam à vontade para se envolver. Isso quebra a barreira entre o programa e a audiência. Estilisticamente eu procuro usar o máximo que o estúdio me oferece para manipular essa energia do rádio em si e da música em direção a algo novo. Eu realmente faço uma interação com a música em meu show, apenas para servi-la ao público de um modo diferente. É um programa de duas horas devotado à mais excitante e diversamente misturada nova música do mundo."

A MÚSICA EM 2005 - "O ano está muito vibrante. Aqui o Bloc Party vendeu mais de 50 mil cópias na semana de lançamento. O garoto americano Willy Mason entrou fácil no Top 20. O Kaiser Chiefs, no começo do ano, esgotou os ingressos de sua primeira turnê como atração principal em tempo recorde. Eu ando bem entusiasmado com uma jovem banda de Nashville chamada Be Your Own Pet. Eu acredito que um cara chamado Kano vai lançar o álbum de rap mais rapidamente vendido do Reino Unido. O Bright Eyes vai ficar mosntruoso. O islandês AMPop vai quebrar tudo. O Magic Numbers vai ser o Flaming Lips deste ano. Tirando todas essas previsões, eu não tenho idéia do que vai acontecer. É sempre bacana ser surpreendido."




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NOVAS REVISTAS


* Esta coluna recebeu a notícia que uma editora brasileira comprou o título "Time Out" e pretende lançar o principal guia de entretenimento do mundo ainda este ano em São Paulo. A "Time Out", de matriz inglesa e muito forte em Nova York, cobre a programação de shows, cinema, teatro, TV, restaurantes, lançamento de discos, livros, exposições, lazer. Varre tanto os principais eventos mainstream como entrega o que fazer dentro da cultura alternativa. Lá fora, é como se fosse a "Vejinha" vezes 100. São Paulo há tempos já está do tamanho de uma "Time Out".

* Já a revista "Bizz" volta à ativa no dia 14 de abril agora, chegando às bancas com a revelação das 100 principais capas da história do rock. Em centésimo lugar, veja você, está a capa de "O Blesq Blom", dos... Titãs. Deixaram a Popload revelar o segundo lugar das capas mais marcantes de todos os tempos, segundo a revista: "London Calling", do Clash, que "imita" um disco do Elvis e traz a famosa pose do baixista Paul Simonon em vias de estourar seu instrumento no chão do palco, durante show em Nova York. A foto é da famosa Pennie Smith.
Depois das capas, a "Bizz" pretende contar, em alguns números ainda especiais, a história do rock.




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E O NEW ORDER DISSE "NÃO"

A capa do disco que marcou a volta à ativa do histórico New Order parece ser um recado direto ao Brasil. Este mediano "Waiting for the Siren's Call", ainda inédito por aqui, traz um "No" enorme estampado
A veterana banda que sucedeu o Joy Division recebeu uma generosa oferta para estrelar a edição 2005 do Curitiba Pop Festival, que estaria disposto até a mudar sua data (suas outras duas edições foram realizadas em maio) para se adequar à agenda do grupo inglês.
O agente do New Order disse que a banda considerava a oferta baixa e pediu uma nova proposta, bem maior. Essa proposta foi feita.
O CPF ficou por algum tempo sem ouvir resposta nenhuma da banda, até que por insistência o grupo mandou sua decisão. "Obrigado pela oferta, mas o New Order não está interessado em tocar no Brasil este ano".

* O Curitiba Pop Festival deve acontecer, em sua terceira edição, em julho. Sem o New Order.




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WHITE STRIPES NO BRASIL

Para não deixar dúvidas, vou transcrever direitinho alguns trechos da nota oficial divulgada nesta semana pelo duo-banda White Stripes.
"O quinto álbum do White Stripes ganhou, como data de lançamento, o dia 14 de junho. Começou a ser gravado há cinco semanas e não tem a seleção das músicas nem nome. Não terá participações especiais: é só Jack e Meg.
Sobre shows, nenhuma turnê americana está confirmada. O White Stripes vai excursionar primeiro no Leste Europeu e na AMÉRICA DO SUL. Antes, se apresentam três vezes no México, em maio."

* O bombástico (todos são) show do White Stripes no Rio, no Tim Festival de 2003, começa a aparecer em comunidades que trocam arquivos em vídeo.





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NOVA DO OASIS VAZOU


Xi. Foi para os ares a música nova do Oasis, o grupo mais fervorosamente adorado do planeta. Direto de uma rádio polonesa, fez se conhecida "Lyla", o primeiro single do próximo CD da banda dos Gallagher, a ser lançado em 16 de maio. O álbum, "Don't Believe the Truth", sai duas semanas depois.
O já famoso bootleg que circula na real velocidade do som traz a voz do DJ polonês anunciando a música e depois de seu final falando sobre ela.
Foi instantâneo. Quando o primeiro email chegou à minha caixa postal, terça à noite, ele logo foi seguido por pelo menos outros seis "avisos" da música nova em um espaço de duas horas. Agora, pela quantidade de mensagens sobre Lyla que se acumula, parece que o mundo inteiro já ouviu a música.
"Lyla", numa definição rasteira, é bem... Oasis. Aí vai toda a sonoridade de rock inglês clássico, tipo The Who, mais a voz esgarçada de Liam Gallagher.
A música parece ótima para ser ecoada nesses estádios e ginásios que a banda vai tocar, na Inglaterra e nos EUA.
"Lyla" é boa, mas não caberia nos dois primeiros discos do Oasis, por exemplo.
Se bem que o próprio Noel Gallagher disse que, no álbum, tem umas cinco músicas melhores que o single.




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BRIGHT EYES

Já que nenhuma gravadora brasileira teve a dignidade de lançar, a gravadora-importadora Peligro (www.peligro.com.br) foi buscar lá fora os dois discos lançados neste ano pelo Bright Eyes. E bota para vender, via site, a "módicos" R$ 35.
Folk indie minimalista, "I'm Wide Awake, It's Morning" é uma das duas graças em forma de CD soltas neste ano pelo menino-prodígio de Nebraska, Conor Oberst, 24 anos, o Bright Eyes ele mesmo. Enquanto o outro álbum, "Digital Ash in a Digital Urn" é, hum, digital, este aqui é total analógico. O primeiro moderno, o outro indie campestre.
"I'm Wide..." é um apanhado de dez belas canções íntimas acústicas sobre solidão e busca de identidade e desencontro amoroso deste jovem trovador da música independente americana, que geme enquanto canta. Considerado um míni-Bob Dylan, é engraçado ver Oberst se libertar ao cantar, compor, tocar vários instrumentos e lançar seus próprios CDs. E ao mesmo tempo se retrair em lindas letras confessionais cantadas por uma voz tímida.
"Digital Ash..." é mais, digamos, moderno. Um pop eletrônico encapando sua simplicidade country. E está lá também uma coleção de baladas e quase-baladas de se admirar. Umas mais que as outras.
Ambos os discos do Bright Eyes tem um elogiável time de colaboradores, que vai do guitarrista Nick Zinner (Yeah Yeah Yeahs), em "Digital Ash...", até a cantora musa country Emmylou Harris, em "I'm Wide..."




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POPICESSSS


Hoje, quinta, a Popload Brasil Tour 2005 leva muita disco music para rolar em Goiânia, na terra do rock. Brincadeira. Mais ou menos brincadeira. Este colunista é convidado da festa de lançamento do festival Bananada, tradicional evento do calendário indie, organizado pelo povo da Monstro Discos. No site deles tem a info da balada. // Mais Popload BT05: dia 16 de abril em Brasilia, no Gilbertinho (acho), e no dia 6 de maio em Vitória, ES, no aniversário do projeto Antimofo.// Fui informado de que os Rolling Stones devem anunciar seus shows de outubro na América do Sul agora em maio. Escrevendo melhor: anúncio em maio, shows em outubro.// O cavaleiro solitário do rock gaúcho, mister Wander Wildner, assume residência em São Paulo, em todas as quintas de abril, portanto a partir da próxima, no Café Camalehon, um bar na rua Piauí, 103, em Higienópolis. Será só o Wander, suas letras amorosamente malucas, a guitarra e o chimarrão.// Os pôsteres que ilustram esta coluna estão à venda no site GigPosters.com, americano, que tem uma infinidade ótima destes pôsteres artísticos de show de banda de rock. Adoro.//




LOGO MAIS

Nesta sexta, tipo meio-dia, entra mais uma batelada de popices, com as baladas do final de semana. Mais: um outro carregamento de prêmios lindos, o nome dos vencedores das promo passadas, talvez uma pequena bomba e o que eu mais lembrar. Venham nessa, compañeros!




PROMETI, MAS NÃO CUMPRI

Opa. Sem mais popices. Me enrolei aqui. E a Folha Online deve estar mais ocupada com papices, para parar e dar atenção a esta coluna. Então, mais, só na semana que vem. Por enquanto, à sorteio vai mais um par de ingressos para ver o Mylo, o Faithless, High Contrast e tal no Skol Beats. Mais um CD campeão do Interpol, o recém-lançado (aqui) "Antics". Na semana que vem eu capricho (ainda mais) nos prêmios. A lista atrasada de gravadores vai estar aqui, quando você acordar na manhã da segunda. Sobre a bomba que eu prometi falar, é o seguinte...




LISTA DE VENCEDORES

* um par de ingressos para o Skol Beats (16 de abril), em SP.
Juliana Barreto Bellusci
São Paulo, SP

* o CD "Hotel", do Moby, recém-lançado
Edson Leite Valentino
Santos, SP

* uma camiseta da Cuma?
1. Lucas PP
Garibaldi, RS
(quer a I see Dead People M)
2. Camilla Conti
São Paulo, SP (acho)
(quer a Trapalhones)

* Uma cópia "amiga" do CD "Silent Alarm", do ótimo Bloc Party
William Yutanaka
São Paulo, SP

* DVD "Live at Somerset House", do grupo britânico Snow Patrol.
Patrícia Pereira
Fortaleza, CE

* o CD "Antics", do maravilhoso Interpol
Jerry Neto
Londrina, PR

* Um CD contendo os três episódios da fabulosa "Lost", a nova série.
Juliana F. Lemos
Rio de Janeiro, RJ

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  • Erramos: "Não significa não"

    Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

    E-mail: lucio@uol.com.br

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