Pensata

Lúcio Ribeiro

13/05/2005

Olhando para a frente

"Your eyes they follow my every move
You make me nervous
can't you see I'm not in love with you"
Departure, em "All Mapped Out"

"Eterno aprendiz, das escolhas que fiz,
Sem amor eu nada seria,
Ainda que eu falasse a língua de todas as etnias"
Gabriel O Pensador, em "Palavras Repetidas"

"C'mon baby now
Come with me
You don't come, you don't come
You don't come
You'll die alone"
Mudhoney, "Touch Me I'm Sick"


Opa!

Saludos.

Está todo mundo aí? Então vamos!

* Vi o filme de terror da Paris Hilton. Um que um monstro de cera quer pegá-la. E ela sai em disparada saltitando engraçado, de lingerie vermelha. Já falo mais do filme, se é que precisa mesmo falar.

* Leitor me descasca por causa da história do New Order e do teleprompter lamentável usado no Coachella, para cantar as músicas novas da banda. "Diz que o Rush, banda aclamada pelo ultra-perfeccionismo e por não errar uma nota sequer em três horas de show, também usa teleprompter". É o que eu digo. Como o New Order pôde?

Outro leitor, também decepcionado (como eu, não como o moço do Rush), disse que se lembra de entrevistas de Bernard Summer de 1985 em que ele dizia sobre a dificuldade de tocar e cantar ao mesmo tempo. Talvez por isso o teleprompter.

* Me contaram a seguinte história. Diz que o Humberto Gessinger, ele mesmo, estava caminhando dia destes pelas ruas de Porto Alegre e encontrou um velho amigo.

- Opa, e aí?

- Beleza. E tu?

- Está sabendo que eu tô com uma banda nova bem legal?

- Não. Que bacana! Quem toca nela? Tem nome, já?

Daí o sujeito descreveu o som, falou quem tava na banda e disse o nome dela:

- A banda se chama Pires!

O papo continuou, o Humberto ouviu tudo bonitinho, mas uma hora não aguentou e teve que dizer pro amigo:

- Escuta. Você tem que mudar esse nome. Pires não dá. Não pega bem como nome de grupo.

O líder da banda chamada Engenheiros do Hawaii se mostrou chocado porque o amigo estaria usando um sobrenome para batizar seu grupo novo.

- Não, Pires não é sobrenome. É do verbo "pirar". Tipo "quero que tu pires". Não achou legal?

* Pode beirar ao insólito e ao improvável o que eu vou falar. Não sei nem se é novidade: ouvi estes dias. Mas não ficou ruim a sampleada de Legião Urbana que o Gabriel O Pensador fez no rap "Palavras Repetidas", recriando a quixotesca "Pais e Filhos", um dos maiores hinos do rock nacional da história (O "quixotesca" é homenagem a Cervantes, tal). Até que enfim alguém dentro da tosqueira da música mainstream brazuca fez com certa decência o que os Racionais MCs ensinaram no magistral "Sobrevivendo no Inferno".

* Correção de rota. Música da semana: "Radio/Video", do System of a Down. Reggaezinho dos infernos. E eu tinha esquecido como essa canção do Departure, que está na epígrafe, é genial.

* Aviso sério. Dentro de um mês, dois no máximo, esta coluna vai ter seu podcast. Pode cobrar.




LOUCURAS DE SETEMBRO

E de agosto e de outubro.

O bastidor da música está pegando fogo. Esta coluna já vem cantando a bola. Se tudo sair como programado, vamos ter o melhor ano de shows de todos os tempos. Só em setembro serão quatro festivais. Agosto vai ter o evento indie mais bem-concebido da história, se nada der errado. E em outubro...

Você soube dos discos que estão sendo/serão lançados por aqui nas próximas semanas?

O que dá para falar de tudo é o seguinte:

Na semana que vem, o Campari Rock, festival altamente conectado a esta coluna e que acontece de 8 a 13 de agosto em São Paulo, deve anunciar seu line-up oficial. E uma pequena superbanda, que tocou no último Coachella Festival, pode aparecer na lista.

A coisa foge do controle em setembro e vira uma guerra de celulares. O querido festival de Curitiba assume nova data e novo nome e abre a folia rock do mês logo no dia 2 e 3. Atrações em breve. O Nokia Trends escanteia a parceria com o Sonar, se posiciona na segunda semana e, parece, fechou com o DJ americano Moby. O Claro Que É Rock trabalha com duas linhas de bandas, uma consagrada tipo Foo Fighters, uma de nomes emergentes tipo Bloc Party, e deve acontecer nos dias 17 e 18. Na mesma data, provavelmente, a capital federal vê o Brasília Rock Festival. E, quietinho, o Tim Festival (final de outubro/começo de novembro), prepara o melhor: já teria asseguradas as presenças da ótima M.I.A. (junto com o DJ parceiro Diplo), Franz Ferdinand, Interpol e Kasabian.

Está bom ou quer mais?

Isso sem falar dos shows do White Stripes por aqui, daqui a três semanas.

* Acaba de sair, via Warner, o álbum "Silent Alarm", que já valeria todos os tostões só por ter "Banquet", uma das três melhores músicas deste ano. E a Warner anuncia para junho o lançamento do disco homônimo e de estréia do fantástico The Futureheads, que toca como se fosse 1978. O CD já valeria todos os tostões só por ter "Decent Days and Nights", uma das três melhores músicas deste ano. A SUM Records também prepara para junho duas pérolas de lançamento. Primeiro o álbum "Arular", tão-falado primeiro disco da tão-falada M.I.A., nova rainha do hiphopelectrofunk(carioca) étnico que nasceu em Londres, mas é produto exportação do Sri Lanka e foi um dos grandes shows do Coachella 2005. Também com o selo da Sum Records chega o CD da excelente dupla Dresden Dolls, de Boston. Ópera rock sem guitarras, ou com pouquíssimas guitarras, que já valeria todos os tostões só por ter "Girl Anachronism", uma das melhores músicas do ano passado. E a Universal prepara a edição nacional de "Up All Night", do já indie-mega inglês Razorlight, disco que só por ter "Rip It Up"...




LEMBRANÇAS DO FUTURO

Um passo para trás, dois para a frente. Alguém na Inglaterra teve a genial idéia de armar a turnê "Don't Look Back", uma série de shows em duas casas de Londres mostrando uma banda bacana tocando ao vivo um álbum clássico de sua discografia, da primeira à última faixa. O lendário Stooges, de Iggy Pop, abre a série no dia 30 de agosto, com a performance de cabo a rabo do discaço "Fun House", de 1970. Na sequência, o grande Mudhoney, um dos pilares do som de Seattle, lembra ao vivo o disco "Superfuzz Bigmuff", clássico do começo dos anos 90. Para você ter uma idéia, o show abre com o hino "Touch Me I'm Sick". No dia 17 de setembro, a fofa Cat Power vai desfilar todas as músicas de seu "The Covers Record", disco em que ela fez versões "gata" para canções famosas dos Stones, Dylan e Velvet Underground. O show de 25 de setembro é de chorar. O amado grupo escocês Belle & Sebastian toca da faixa 1 à 10 as músicas de seu segundo disco, "If You're Feeling Sinister", o da capa vermelha. Em seu site, o grupo afirmou que a performance ao vivo de tais músicas do final dos 90 soa bem melhor hoje do que como está no CD.

Já pensou alguém pegar esse projeto e abrasileirá-lo?

Imagina um show dos Secos & Molhados tocando o primeiro disco na Funhouse. Ou os Mutantes tocando o álbum de 1978 na Obra, em BH. Ou o Jota Quest fazendo um faixa a faixa do "Oxigênio" no Bar Avenida.
Bizarro.




A FALÊNCIA DAS RÁDIOS ROCK: BOA OU MÁ NOTÍCIA?

Não as rádios rock daqui. Essas vão muito bem, programação sacada, esperta, sempre atenta ao que realmente interessa ao ouvinte.

O negócio é lá nos EUA, que discutem a falência instantânea de quatro grandes rádios roqueiras em pouco tempo: uma de Miami, uma de Seattle, uma na Filadélfia, a última em Nova York.

O rock em questão é o "nosso" rock, o modern rock, alternativo. E estas rádios falidas são de emissoras de grandes corporações.

Essas rádios trocaram o novo rock ou por aquele feito nos anos 80 e começo dos 90 ou até por rap and R&B.

Segundo o "New York Times", os executivos da música dizem que uma das razões para o malogro do formato é a falta de "verdadeiras" estrelas. "Desde que rap-rock astros como Kid Rock e Limp Bizkit saíram de cena, nenhum outro nome dos badalados novos grupos do rock de garagem (Strokes e Vines) ou emo (Dashboard Confessional ou Thursday) está conectado com o ouvinte de rádio ou comprador de CDs assim como seus predecessores estiveram."

O que teria acontecido com o rock independente, darling das rádios há uma década (college radios)? Onde está o público que lota festivais indies como o Coachella, com 50 mil pessoas por dia indo ver nomes da nova música no meio do deserto de uma cidade chamada Índio? É o que se pergunta o maior jornal americano e é o que ele mesmo responde: o novo rock em si e quem consome novo rock está na internet e nas satellite radios.

O público da nova música é, segundo aponta pesquisas, o mais antenado para modernidades e mais exigente para o seu gosto. E vai atrás da música que gosta, não engole qualquer coisa.

Isso está claro na Filadélfia, por exemplo. Dois meses atrás, morria a gigante WPLY, a última rádio rock da cidade. Hoje, três rádios rock virtuais tocam seu Interpol e Queens of the Stone Age e navegam em ondas tranquilas, com boa audiência. Shows independentes lotam na região. E a maior loja independente do mundo, a Amoeba, pensa abrir uma filial na Filadélfia e mais duas cidades.

* É mais ou menos como cantava o R.E.M. na época em que as rádios convencionais eram tudo: este é o fim do mundo como o conhecíamos e eu acho bom.

* Na Inglaterra, a indústria da música local está comemorando a ressurreição dos singles, que caminhavam a passos largos à extinção. Mas não é que o CDzinho começou a vender às pencas. O single foi salvo pelo download legal em lojas como o iTunes e o Napster, segundo estudo publicado no "Guardian". E o crescimento do download legal (legal de lei, não legal de legal) rejuvenesceu o mofado Top 40. A indústria começa, devagarinho, a saber conviver com a revolução virtual.

* E a revolução virtual, parece, não comove as mulheres. 96% dos downloads legais diários são feitos por homens.




WHITE STRIPES

Para quem é cliente Credicard, os ingressos para o show em São Paulo da ótima dupla de Detroit já estão à venda. Na internet pela ticketmaster, "ao vivo" nas lojas FNAC, entre outros lugares. Para quem não tem o cartão Credicard (o show é no... Credicard Hall), que ainda por cima da um desconto de 25% no preço do ingresso, o dia da caça é 16, próxima segunda.

O ingresso mais barato, o de pista, custa "só" R$ 120. Meia, quando dá para achar, sai R$ 60, mas aí o estudante fica um mês sem comer. Mas vê o White Stripes...

Na verdade tem um ingresso mais barato, "platéia superior", que sai por R$ 90. Mas lá o som é pior que na pista e a visão do palco é bem esquisita. Então esqueça.

Agora, se você quiser ir ver o White Stripes em Porto Iguaçu, na Argentina, tem o seguinte: é muuuuito mais bizarro, o som não deve ser tão quadrado quanto o do Credicard Hall e o ingresso custa 30 pesos, tipo R$ 30.

Fica ao lado de Foz do Iguaçu e vai acontecer no bar La Reserva. Segundo o leitor Hedryk Daijo, na travessia para o país vizinho, não esquecer de trazer a o RG original. Caso contrário, não tem com passar na Aduana. Se vierem de carro, ultimamente tem sido solicitado seguro internacional.




POPICES

Popload Brasil Tour 2005. Próximas paradas: Ribeirão Preto, Maringá (PR), Belém (PA) e Brasília (DF). As datas marcadas pintam aqui semana que vem.// Então, o filme da Paris Hilton. Chama "Casa de Cera" é é refilmagem de um clássico de terror dos anos 50, estrelado pelo Vincent Price. Estréia dia 3, não é uma m* completa e toca até Interpol na trilha. Em entrevista recente no David Letterman, o apresentador pergunta qual é melhor: o filme original ou essa refilmagem. Ela: "A refilmagem, claro. O elenco é muito 'hotter' do que o do original." Não dá para dizer que a trilionária está errada. "Casa de Cera" é estrelado por ela e pela "baby" Elisha Cuthbert, a filha de Jack Bauer em "24". Ah, sabe qual é o nome do novo namorado da Paris? Paris.// A banda E.S.S., de Curitiba, é atração desta sexta na Funhouse. A discotecagem é do Henrique, Bezzi e Fabrício. //




Quando você pensa que já viu tudo... O gigante Credicard Hall estará reservado, nos dias 16 e 17 de junho, para um show da banda Australian Pink Floyd. Pensa: importaram uma banda cover australiana de Pink Floyd.

Sobre o lance do "Don't Look Back", projeto inglês de bandas clássicas tocando seus discos clássicos, uma galera escreveu falando do "Disco de Ouro", projeto do Sesc Pompéia que também tocam discos clássicos nacionais. Só que, aqui, não é necessariamente com a banda que lançou o álbum. O primeiro show do projeto do Sesc foi da Nação Zumbi, sem o Chico Science, tocando o importante "Da Lama ao Caos".

Falando em projeto e no Sesc Pompéia, quarta que vem tem show do Guitar Bizarre lá. O Guitar Bizarre é o projeto do João Erbetta, guitarrista do Los Pirata. Ouvi falar que no repertório tem "Airbag", do Radiohead. A apresentação do Guitar Bizarre é de graça.

É oficial: o Curitiba Pop Festival agora é Curitiba Rock Festival.




PROMOÇÃO DA SEMANA

Segura aí. Só CDs. E-mails para a coluna vão concorrer a:

* um CD "Silent Alarm", do ótimo Bloc Party
* um preparado M.I.A., com faixas do álbum "Arular", remixes do parceiro (dela) Diplo e uns sons ao vivo. Como eles dizem lá, esse prêmio é "huge".
* o novo CD do New Order, "Waiting for the Sirens' Call"




VENCEDORES DA PROMOÇÃO


* Kit White Stripes (4 CDs e o DVD)
- Geilson Nascimento,
Fortaleza, CE
- Emerson Fritsch Perazolo
Brasilândia do Sul, PR

* Um DVD-documentário sobre o álbum "Nevermind", do Nirvana, da série "Classic Albums"
Elisa Pereira Sé
São Paulo, SP

* Uma camiseta oficial do Coachella Music Festival.
Vinicius Bianco
Rio de Janeiro, RJ

* Uma lembrança do Coachella 2005 (outra camiseta)
- Pedro Gabriel Coutinho
São Paulo, SP

* O CD "Aha Shake Heartbreak", recém-lançado (aqui) discos dos meninos bacanas do Kings of Leon.
- Karina Fincato
Santos, SP
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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