Pensata

Lúcio Ribeiro

14/07/2005

Weezer e Mozart

"If you want to destroy my sweater...
Hold this thread as I walk away...
Watch me unravel, I'll soon be naked"
Weezer, em "Undone - The Sweater Song"

"This is the modern way
faking it every day
taking 'em as they come
we're not the only ones"
Kaiser Chiefs, em "Modern Way"

"You are my drug boy you're real boy speak to me
And boy dog dirty numb cracking boy
You get wet boy big big time boy
Acid bear boy babes and babes and babes and
Babes and babes and remembering nothing boy"
Underworld, em "Born Slippy!


Fala aí.

Tão longe, tão perto.

* Prometi que ia escrever, e aqui estou eu. Bota um Dvorák no som e boa leitura.

* Se você não lê a Folha de S.Paulo, você perdeu a segunda grande notícia pop do ano, dada por este colunista, com exclusividade, na capa da Ilustrada. Mas a esta altura a história já reverberou e você deve estar sabendo. Se não estiver, vai ficar agora...




MOZART É POP

A bela Praga, capital da República Tcheca, de onde acontece de esta coluna ser escrita, está livre dos anos 80, aparentemente.

O negócio aqui é anos 90. O problema é saber se isso é um revival ou se os tchecos ainda não conseguiram chegar a música pop tal qual a vivemos hoje.

A única rádio rock de música "contemporânea" que sintonizei por algumas horas tocou de Alice in Chains, Mudhoney, Pearl Jam, Stone Temple Pilots, REM, Sonic Youth, Oasis e Blur. De vez em quando a programação ficava "estranha" e ouvi-se coisas deslocadas do tempo como Franz Ferdinand e Killers.

Achei que podia ser coincidência e tal. Não dá para flagrar uma cena estrangeira com apenas algumas horas de observação, pensei. Aí, num dos cantos da cidade passei por um bar chamado Nirvana, com uma foto gigante de Kurt Cobain na fachada. Hum.

Numa das livrarias mais moderninhas da cidade, na parte de "bestsellers", repousava majestoso um exemplar do gigante "Kurt Cobain Journals", o diário do líder-mártir do Nirvana, originalmente lançado em 2002. Hum.

* Em Praga, deu para notar ainda que uma coisa forte na cidade são as bandas "revival". Nada mais do que as nossas famosas "bandas cover". Com uma diferença. No último sábado, por exemplo, teve show da banda Black Sabbath Revival. Com ninguém menos que mister Ozzy Osbourne nos vocais, como "convidado". Nesta semana outro velhusco, desta vez o Eric Burdon, de passagem com turnê pela República Tcheca, fez uma apresentação nos vocais da The Animals Revival, banda local. Os caras daqui jogam para ganhar. Ainda nesta semana, teve Nirvana Revival (lógico) e Janis Joplin Revival, cujos vocalistas originais obviamente não puderam estar presentes.

* Tal qual qualquer moderna cidade grande do mundo, Praga tem sua noite movimentada muito por causa da entrega dos flyers. Em qualquer lugar, num ponto turístico, porta de catedral, restaurante ou loja de discos, dá para fazer sua programação baseada pelas famosas filipetas, colocadas em stands próprios ou entregue de mão em mão pela rapaziada local. O único problema (?), talvez, é que 90% dos flyers locais passam longe de informar sobre os shows de rock ou as baladas eletrónicas locais. Os flyers contemplam, em sua esmagadora maioria, a programação de... música clássica. Praticamente todos os dias e várias vezes durante esses dias, a Praga musical balança ao som de Bach, Vivaldi, Mozart, Tchaikovsky e outros "astros pop".

* Sorte de turista acidental, encontrei em Praga com o show do maravilhoso Underworld, entidade britânica que ajudou muito na popularização da musica eletrónica nos meados dos anos 90, graças muito ao filme "Trainspotting". A apresentação foi num terreno feio, a beira de uma avenida qualquer de um bairro da periferia de Praga e ao lado de um barranco onde no alto ficava passando trens barulhentos de subúrbio. Nem tava tão cheio. Mas, para quem estava no local, nada disso importou muito. Foi impressionante o show como um todo e a catarse esperada na hora de "Born Slippy", musica que insiste em resistir (tem mais de 10 anos) ao tempo, a queda da eletrónica, ao que for. "Born Slippy" começou uns 15 minutos antes de seu toque mais característico aparecer. O Underworld sabe do potencial do hit e fica esquentando a galera, ameaçando que a canção vai começar, mas ela nunca começa. Ai, quando ela vem mesmo, não tem uma mão que não é levantada para o alto. No meio da musica, um detalhe. Por alguns minutos, "Born Slippy" foi levada apenas por um piano. Luxo.




WEEZER NO BRASIL

Esfregue os olhos e lê de novo. O Weezer vem ao Brasil. Segue abaixo o texto que este colunista publicou na Folha de S. Paulo, na última segunda-feira.

* Está oficialmente aberta a porteira dos shows pop internacionais que vão chacoalhar o Brasil no segundo semestre. A cultuada banda americana Weezer, será a grande estrela do Curitiba Rock Festival, em setembro.

Aberta, não. Escancarada. O Weezer se junta a Strokes, Wilco, Kings of Leon, Moby e MC5 entre as já sabidas atrações que vão deixar bem barulhentos os últimos meses do ano aqui no país. E muito mais vem por aí. Além do evento paranaense, serão realizados entre agosto e novembro o Tim Festival, o Claro Que É Rock, Quimera Festival, Campari Rock, Sonarsound Brasil, Nokia Trends (veja um "desenho" do segundo semestre pop mais para baixo).

Hoje uma das megabandas do rock e conhecidíssima da "geração MTV", o Weezer arranca suspiros da música underground brasileiro há mais de dez anos, desde que lançou o famoso "Álbum Azul", em 1994.

O grupo de Los Angeles trará ao Brasil, para o show de 24 de setembro, provavelmente na belíssima Pedreira Paulo Leminski, a turnê de seu novo álbum, "Make Believe". O CD, o quinto, lançado em maio passado, botou o quarteto de volta ao estúdio depois de três anos sem gravar. O disco é puxado pela música "Beverly Hills", que toca bastante em rádio e tem o videoclipe em alta rotação no canal musical brasileiro. O clipe foi gravado entre loiras na famosa Mansão Playboy, na Califórnia.

Mas mesmo com o artifício "loiras da "Playboy", o Weezer está longe de ser uma banda sexy. Pelo contrário, seu líder, River Cuomo, é talvez o sujeito mais nerd do rock e suas letras, invariavelmente, versa sobre dor-de-cotovelo e a sensação de ser um zero à esquerda. "O estranho mundo do Weezer", foi título de capa da revista "Rolling Stone" de final de abril, véspera de a banda lançar seu "Make Believe" e de ser uma das maiores atrações do gigante Coachella Festival. "River Cuomo não faz sexo há dois anos, mas ele está pronto para botar pra quebrar", era a chamada da "Rolling Stone", zoando o notório cantor e guitarrista que tem 35 anos, mas ainda se expressa como um adolescente.

Cuomo merece o rótulo e não é de hoje. Um ano depois de ter vendido cerca de 6 milhões de cópias com o álbum de estréia, em 1995, o dono do Weezer deixou a cena perplexa quando resolveu interromper as turnês e botar a banda na geladeira para a voltar a estudar.

O Weezer vai cumprir intensa agenda de shows antes de desembarcar no Brasil. A banda de River Cuomo está no meio de uma tour pela América do Norte. No final do mês, estrela o Lollapalooza em Chicago, parte para tocar em dois festivais japoneses e encara ainda um giro de apresentações pela Europa, que só vai acabar no final de agosto.

* Tradicionalmente em maio, o Curitiba Rock Festival quase não aconteceu em 2005. Esta sua terceira edição esteve ameaçada depois que o evento perdeu o apoio da prefeitura local. Graças a novo patrocínio, mudou de nome (era "Pop", não "Rock") e de data, tentou as superbandas New Order, Strokes e Weezer e fechou com a última.

O festival nasceu independente em 2003 e trouxe para o Paraná as bandas Breeders e Stereo Total. Atraiu 4 mil pessoas, que couberam no teatro Ópera de Arame. No ano seguinte, ousou bancar um dos shows da turnê da grande volta dos Pixies. E virou megaevento.

A expectativa criada em torno da única apresentação dos Pixies na América Latina fez o festival ser transferido para a enorme Pedreira Paulo Leminski e mais que dobrou o público em relação ao ano anterior.

A correria aos ingressos foi insana. À princípio para 4.000 pessoas e para o Ópera de Arame, o festival vendeu 2.500 entradas em duas horas. A carga restante, colocada na internet, acabou em 20 minutos, e derrubou os servidores por causa do enorme número de acessos. O furor obrigou o então Curitiba Pop Festival a ser transferido para a Pedreira. E transferiu também o festival para a categoria dos grandes eventos de música jovem no Brasil. Daí a necessidade da busca por um grande nome do rock.

O Curitiba Rock Festival 2005 será realizado nos dias 24 e 25 de setembro. A questão do local, a Pedreira Paulo Leminski, depende ainda da viabilização técnica do local, que no dia 23 abriga um show da cantora teen Avril Lavigne. A proposta do festival paranaense é fechar de 15 a 20 bandas, entre as internacionais e a do novo rock nacional. Outra banda cultuada, mas só no âmbito do rock independente, o Fantômas, pode ser a atração do domingo do CRF, o dia 25. O grupo é um projeto de rock experimental do excêntrico Mike Patton, que já comandou as massas na música pop nos anos 90, quando liderava o Faith no More.




O QUE VEM POR AÍ

Confira

* Campari Rock
Quando: 8 a 14 de agosto
Onde: Fábrica Lapa (av. Mofarrej, 1.267, Alto da Lapa, SP), e em 11 clubes da cidade
Atrações: MC5 (EUA), Optimo DJs (GBR), The Kills (EUA/GBR), Berg Sans Nipple (FRA), Alan McGee (GBR), Forgotten Boys, Cansei de Ser Sexy, Objeto Amarelo e outros
site: www.camparirock.com.br

* Brasília Music Festival
Quando: 9 e 10/9 (em Brasília), e 9/9, em São Paulo
Onde: estádio Mané Garrincha (Brasília), a definir em São Paulo
Atrações: Tiga (CAN; também em SP), Paul van Dyk (ALE; também em SP), Christopher Lawrence (GBR; também em SP), Jon Carter (GBR; também em SP), Derrick May (EUA), Scratch Perverts (GBR), Dilinja (GBR), Ritchie Hawtin & Ricardo Villalobos (CAN e CHI), Valentino Kanzyani (ESL), DJ Craze (EUA), Slam (GBR), Skazi (ISR) e outros DJs, além de bandas como Plebe Rude e Capital Inicial

* Slipknot e Papa Roach
Quando: 16 e 17/9, em São Paulo e no Rio (enquanto uma banda toca no Rio, a outra se apresenta em São Paulo)
Onde: Pacaembu (Slipknot) e Via Funchal (Papa Roach) e a definir no Rio

* Moby
Quando: 16/9 (São Paulo), 17/9 (Rio), 19/9 (Porto Alegre), 21/9 (Belo Horizonte)
Onde: Espaço das Américas (SP), Riocentro (RJ), Espaço Condor (RS), Marista Hall (MG)
Atrações: além de Moby (EUA), alguns DJs brasileiros
site: www.moby.com

* Curitiba Rock Festival
Quando: 24 e 25/9 (a definir)
Onde: pedreira Paulo Leminski, em Curitiba
Atrações: Weezer (EUA; toca no dia 24) e outras bandas a confirmar
site: www.curitibarockfestival.com

* Nokia Trends
Quando: 24/9
Onde: simultaneamente em São Paulo e no Rio; locais a definir
Atrações: Carl Craig (EUA) e Ellen Allien (ALE); outras atrações ainda não foram definidas
site: www.nokiatrends.com.br

* Tim Festival
Quando: de 21 a 23/10
Onde: MAM do Rio de Janeiro
Atrações: Confirmados, Strokes, Kings of Leon, M.I.A., Diplo, Wilco, Kings of Convenience. Mais por vir. Pode ser: Morrissey e Nancy Sinatra, Outkast e... ARCADE FIRE!!!

* Claro Que É Rock
Quando: 19 e 20/11
Onde: em São Paulo e no Rio, simultaneamente (quem toca numa cidade num dia, vai à outra no dia seguinte); locais que comportem 30 mil pessoas, ainda não definidos
Atrações: a definir. Pode ser: System of a Down, Interpol, Garbage, Foo Fighters, Oasis, White Stripes... Se alguma atracão não for confirmada para o CQÉR, pode ser para o Tim Festival. E vice-versa.
site: www.claro.com.br/hotsites/claroqerock/hotsite.html




POPICES

O grupo norueguês de rock fofo Kings of Convenience entrega em seu website que é atracão confirmada para o Tim Festival 2005. Delicia. Dupla capitaneada pelo sensível Erlend Oye, o KoC é um Radiohead quando este caminha por uma trilha pop que parece trilha do "Arquivo X". Show obrigatório (mais um).// Está chegando as lojas brasileiras o álbum de estréia do excelente Kaiser Chiefs, um dos grupos favoritos desta coluna, saído da nova fornada do rock inglês. Chama "Employment" e carrega pelo menos cinco pequenos hits maravilhosos. Em especial "Modern Way", citada na epígrafe lá em cima. O Kaiser Chiefs, de Leeds, e o novo Blur. O Liam Gallagher não vê isso com bons olhos, mas o resto do planeta, sim. O Kaiser Chiefs excursionará em setembro pelos EUA com Foo Fighters e Weezer. Sá isso. Podia estar num dos nossos festivais, não?// O White Stripes vai imortalizar o famoso show brasileiro do Teatro Amazonas, que aconteceu em junho. Jack White resolveu colocar no lado b do próximo single do WS, a incrível "My Doorbell", as versões ao vivo de "Same Boy You`ve Always Known" e "Screwdriver", tiradas do concerto de Manaus. O single sai em Agosto.// Esta coluna ganhou voz no site da Trama Universitário, que junta um monte de outros colunistas bambas, noticias de relevo pop e o escambau. Dá uma olhada (e uma ouvida) nisso. Esta no www.tramauniversitario.com.br. Perdoe-me pela voz de Pato Donald.// Vem, Arcade Fire. Vem!// Próxima parada: Budapeste.




PROMOÇÃO DA SEMANA

Segura. Os sorteios, no lucio@uol.com.br, vão seguir. A entrega dos prêmios e o anúncio geral dos ganhadores, só daqui a duas semanas. E, para esta semana, temos.

* a edição nacional de "Employment", do Kaiser Chiefs.

* A edição nacional de "Don`t Believe the Truth", o grande álbum do Oasis. É que ouvi na viagem "Keep the Dream Alive" umas dez vezes, fiquei emocionado e resolvi sortear de novo o disco, mesmo sem lembrar se eu tenho uma copia extra. Qualquer coisa eu dou a minha.




TCHAU

Até a próxima parada.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca