Pensata

Lúcio Ribeiro

29/07/2005

Tocando o terror

"Cosi cominciava la festa
E gia ti girava la testa"
Pepino di Capri, em "Champagne"

"You know it's turning me on
Riot on the radio
Riot, Riot!
Won't you gimme some more!
Riot, Riot!"
Dead 60's, em "Riot Radio"

"I wanna stand up, I wanna let go
You know, you know - no you don't, you don't"
Killers, em "All These Things That I've Done"


Então.

É que... Não fui ao show do U2, em Roma.

Basicamente, troquei o Bono pelo Pepino di Capri. No bom sentido.
Mas, para quem concorreu na promoção, tenho lembranças importantes da Vertigo Tour.

* A citada música do Dead 60's merece ser ouvidas umas dez vezes sem parar. Vai lá que eu te espero.

* Não tenho idéia como está a série "Lost", aqui no Brasil. Parece que no finalzinho. Lá na Inglaterra, por exemplo, o seriado nem está. Só vai ser exibido a partir de setembro. Mas o atraso absurdo inglês foi compensado por um spot luxuoso sobre a série que está passando no Channel 4, anunciando a estréia em breve de "Lost". Com a assinatura do descolado fotógrafo-diretor David Lachapelle e com fundo sonoro de "Numb", do Portishead, o filminho mostra os personagens principais do seriado bailando sobre os destroços do avião. Dança tão sexy quanto mórbida. Todos estão lindamente maquiados e vestidos como... defuntos. De arrepiar.

* Em 2001, na semana dos eventos terroristas que abalaram os EUA e representaram o fim do mundo com o conhecíamos, uma dupla eletrônica era uma das apostas da famosa maratona de shows do CMJ Music Marathon e ia fazer recomendadíssimo show no dia 8 de setembro. Seu nome: I Am the World Trade Center.

Agora em 2005, de novo o pop roça os acontecimentos macabros, desta vez na Inglaterra. Três dias antes do pânico nas ruas de Londres, foi entregue às lojas de discos o CD de estréia do simpaticíssimo e festejado Hard-Fi, grupo novo britânico que fez a música mais alto astral do verão inglês, a deliciosa "Hard to Beat".

O disco do Hard-Fi é batizado de "Stars of CCTV". CCTV é o sistema de câmeras espalhadas por toda Londres, nas ruas, no metrô, nos ônibus. Tipo um "big brother", (quase) nada escapa às câmeras. No ano passado, elas ajudaram a resolver um assassinato de uma moça num beco escuro do subúrbio ao reconstituir todo o dia da garota pegando ônibus para ir trabalhar, andando na rua, pegando ônibus para voltar para casa...

Uma das intenções do Hard-Fi com a história da CCTV era mostrar o quanto as bandas novas, que demoram a chegar na MTV, viram estrelas das câmeras da vigilância londrina por tocarem sem aviso no metrô, em porta de pub.
Acontece que agora nunca se falou tanto nas câmeras da CCTV. Só que não pela música. Não pelo Hard-Fi. As verdadeiras "estrelas da CCTV", hoje, são os terroristas que explodiram e os que ameaçaram explodir Londres em julho e que as tais câmeras conseguiram mostrar a cara.

* Dia destes um leitor escreveu perguntando por que se falava tanto em iPod nesta coluna e nunca num outro tocador de MP3 tal qual o Creative Zen 40 GB como o dele (ou era um Sony Vaio?).

Lembro que, em viagem, respondi rapidamente e com outras palavras que a constante citação ao ipod, o aparelho da Apple, não era pela marca em si, mas sim por causa da história.

História mesmo. Foi inevitável não recordar do leitor quando, perambulando por Roma, era comum ver um número razoável de pessoas com o moderno foninho branco à mostra indo visitar o ancião Coliseu, do 80. Do ano 80, veja bem, não dos "anos 80".

Enquanto gente com a "little white box" pendurada entrava e saia do Pantheon romano, na Inglaterra era visto nas livrarias o livro "iPod, therefore I am", de Dylan Jones, que traz no título uma corruptela do "Penso, logo Existo", frase do filósofo francês René Descartes. Não deixa de ser cartesiano dizer que a jukebox que mudou o planeta e revolucionou o modo de escutarmos e vermos e pensarmos a música hoje.

A capa de "iPod, therefore I am" é uma foto que busca inspiração na mistura das famosas propagandas das sombras da Apple e na suprafamosa escultura "O Pensador", de Rodin: vê-se a silhueta escura de um sujeito sentado, em posição de... pensador, e os fones brancos saindo da orelha.


Pelo que eu li num extrato, Dylan Jones conta a história do aparelhinho branco "mágico", eleva o designer inglês Jonathan Ive, da Apple, à categoria de deus (o "Armani da Apple", o "Beckham do design") e, à la Nick Hornby, mistura suas memórias pessoais e uma visão divertida da "nova era da apreciação musical".

Jones chega a sugerir uma comunhão entre sua existência e um iPod. Ele era um cara que cresceu ouvindo punk, curtia Nirvana e Sinatra, hoje adora hip-hop. E no livro fez uma lista das 175 melhores músicas dos Beatles e o 100 melhores discos de jazz de todos os tempos. Tudo isso, que faz parte de sua memória, cabe na memória de um iPod.

* Já, já começam os grandes festivais. O Campari Rock, evento a qual esta coluna está atrelado, vem primeiro, daqui a duas semanas. Os ingressos para o sábado, o do MC5 e da pancada de bandas brasileiras legais, estão vendendo como água. E eu que, honestamente, lendas à parte, acho que a sexta-feira, com os ótimos Optimo (hum) e o nervoso Kills, vai ser melhor... Mas, enfim. Info do Campari Rock no www.camparirock.com.br.

* Os Strokes já falam em seu site sobre a turnê sul-americana. E entregam as datas dos shows no Brasil em outubro. Dia 21 é no Rio, no Museu de Arte Moderna, dentro do Tim Festival. Dia 23 é no Sambódromo, no Anhembi, em SP. Dia 25 é no Gigantinho, em Porto Alegre. O negócio é que a banda coloca os shows de SP e de Porto Alegre como "Tim Festival". Já a bombada M.I.A., funkeira do Sri-Lanka, anuncia em seu site que toca no Tim no dia 22, no Rio. Até aí tudo bem. Mas logo abaixo diz: e no dia 25 no Tom Brasil, em São Paulo, no Tim Festival. Vai ter Tim Festival por todo o lugar, parece.

* Site não-oficial do sensacional grupo canadense Arcade Fire, recomendado pela banda, confirma o adiantado por esta coluna. O octeto se apresenta, sim, no Tim Festival e está negociando a data do dia 22 de outubro. Mais: diz o site arcadefire.net que a banda toca seu pop geleado no festival carioca junto com The Strokes, Kings of Leon, M.I.A., Diplo, Wilco, Kings of Convenience, Morrissey, Nancy Sinatra e Outkast.

* O Curitiba Rock Festival revelou de modo oficial 20 bandas de sua edição 2005, que rola no final de setembro. Weezer e Fantômas entre eles. Mais atrações internacionais serão anunciadas nesta próxima semana, provavelmente. A escalação nacional, que inclui a brasiliense Móveis Coloniais de Acaju e a paulistana Biônica, está no site do evento, www.curitibarockfestival.com.

* Prestatenção. Uma pessoa de muita confiança me contou a seguinte história. A superbanda Pearl Jam foi anunciando os shows de sua turnê de outono (lá) da seguinte maneira. Cada vez que eles iam confirmar alguma cidade na tour, o site oficial da banda de Seattle, quando acessado, tocava uma canção insólita que dava a dica de onde o Pearl Jam ia tocar. Tipo quando confirmaram o show de Atlantic City e o site abria com a música "The Gambler", do farofa Kenny Rogers. Para a data da Filadélfia, foi postada a música-tema do filme "Rocky, um Lutador". Agora o site do Pearl Jam está tocando "Garota de Ipanema". É sério. O que se fala é que a veterana banda de Eddie Vedder pode fazer shows por aqui pela primeira vez antes de 2005 acabar. Ficou claro?

* Popload Brasil Tour 2005 recomeça no final de agosto. Este colunista deve levar seus discos a Londrina, no dia 27. Será na festa Alta Fidelide, que terá show do Grenade e do Bad Folks. Curitiba deve ser a balada seguinte. Neste final de semana, este colunista estará em Belém, Pará, para ver a tal guitarrada. Será na Ilha do Algodoal, onde acontece o Festival Cultura de Música.

* A coluna da semana que vem, diferente da desta, será escrita totalmente em São Paulo.

* Prêmios da semana. Emails pidões enviados para lucio@uol.com.br concorrem em sorteio ao CD nacional do ótimo Kaiser Chiefs, "Employment"; a um single de "Beverly Hills", do Weezer; e a outra lembrança do não-visto show do U2. Vem que tem. Os ganhadores desta semana serão anunciados na próxima coluna, quando eu parar quieto em São Paulo. Tchau aí.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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