Pensata

Lúcio Ribeiro

02/09/2005

Música é meu sexo ardente

"You try so hard to be cool
You try so hard to not show
I give you nothing to doubt, and you doubt me
I give you all that I have, but you don't see"
Black Rebel Motorcycle Club, em "Howl"

"I try to make you late
but you fighting me off like a fire does
you try making me wait
but it feels alright as long as something's happening"
LCD Soundsystem, em "Tribulations"

"Music is my boyfriend
Music is my girlfriend
Music is my imaginary friends
Music is where I meet my friends
Music is my hot hot sex"
Cansei de Ser Sexy, em "Music Is My Hot Hot Sex"


Alô.

Firmeza?

* Arcade Fire em São Paulo, as datas do Pearl Jam, a programação completa do Tim Festival, uma preocupação séria com o Weezer, jabá no pop, o fantástico Projeto Genôma de Música, como são/estão os shows de alguma das bandas que você vai ver aqui em breve, mais ingressos a sorteio e o ato revolucionário do Cansei de Ser Sexy.
T-u-d-o o que você quer ver está aqui. Ou quase tudo. Ou quase nada.

* Você vem?




DISPAROS DO FRONT DA CULTURA POP

* Todo o Tim Festival 2005 está aqui.

Tim Club: 20h
21/10 - Bob Mintzer, Big Band, Russell Malone & Benny Green, Wayne Shorter Quartet
22/10 - Spok, Frevo Orquestra, Enrico Rava, John Mc Laughlin: Remember Shakti
23/10 - The Conga Kings, Dona Ivone Lara, Dr. John

Tim Main Stage; 22h
21/10 - Mundo Livre S/A, Kings of Leon, The Strokes
22/10 - De La Soul, M.I.A., Dizzee Rascal
23/10 - Television, Elvis Costello and the Imposters

Tim Lab: 23h
21/10 - M. TAKARA 3, Autechre, Vincent Gallo
22/10 - Lado 2 Estéreo, The Arcade Fire, Wilco
23/10 - Vanessa da Mata, Kings of Convenience, Morcheeba

Palco Motomix: 1h
21/10 - Arthur Baker, PERETZ, Nego Moçambique
22/10 - KL Jay, Cut Chemist, Diplo
23/10 - Frankie Knuckles, Body & Soul

* Pode levantar as mãos para o céu, você de São Paulo. O fantástico grupo canadense Arcade Fire vai tocar na cidade, junto com Strokes, Kings of Leon e M.I.A., dentro do tal Tim Festival Special Edition. Acontece no Anhembi, na Arena Skol. Quem entrega é o site da empresa Ticketmaster, que já programou a data de início das vendas dos ingressos: dia 8 de setembro. Aliás, para a grande edição do Rio de Janeiro, as entradas começam a chegar às mãos do público no mesmo dia. Para o Anhembi, os ingressos custarão de R$ 100 até R$ 250.

* O Pearl Jam, a princípio, fica assim: dia 28 de novembro a banda toca no Gigantinho, em Porto Alegre. Dia 30, na Pedreira, em Curitiba. Dia 2 de dezembro, no Pacaembu, em SP. Dia 4, na praça da Apoteose, no Rio. Os lugares e uma outra data em São Paulo (dia 1) dependem de acertos, ainda.

* Você sabe quando tudo anda muito bem no quesitos "shows do Brasil" quando nem bem o ano esquentou e já tem atrações confirmadas para o ano que vem. Não estou nem falando dos Stones. Para quem possa interessar (not me), o guitarrista Santana fechou turnê brasileira passando por Porto Alegre (Olímpico), São Paulo (Pacaembu) e Rio (Apoteose) em março do ano que vem. Eu sei, é o Santana, mas o calendário está se organizando.

* A casa está caindo para os jabazeiros. Por enquanto, nos EUA. Há aproximadamente um mês, a Sony-BMG teve que pagar U$ 10 milhões de multa por ter sido considerada culpada na Justiça por causa da prática de "táticas nefastas", leia-se pagamento de propina para que programadores de rádio beneficiem seus artistas na hora de planejar as músicas que vão ao ar. "O que eu preciso fazer para que o Audioslave seja tocado na WKSS?", esse email foi mostrado na audiência por um programador de uma FM de Connecticut. "Pensa aí numa coisa que você quer. Eu posso tornar isso possível."

O dinheiro, ou melhor, "incentivo financeiro", é sabido, escoa na chamada "promoção para ouvintes". Assim, programadores e diretores de rádio justificam o dinheiro que entra na tal área de "promoção" e assim conseguem viagens aéreas, presentes diversos, equipamentos novos, em troca de uma musiquinha tocada bastante. Numa dessas "promoções para ouvintes", foi revelado, um representante da Celine Dion ligou p*** para algumas rádios, porque a música "I Drove All Night" só era tocada nas emissoras de madrugada. E ameaçou, em nome da Sony, de tirar a promoção de viagem para ver a cantora em Las Vegas do ar e não dar prêmio nenhum. Isso porque a promo já estava em curso havia semanas.

Agora a Epic americana, ligada à Sony, está sendo investigada por ter oferecido viagens gratuitas a (ouvintes de) emissoras de rádio EM TROCA de tocarem... Franz Ferdinand. Mais especificamente o hit "Take Me Out", a mais famosa música do grupo.

O sucesso de "Take Me Out" fez a banda escocesa vender nos EUA, no ano passado, mais de 200 mil cópias em três meses.

Toda vez que rola essa história de jabá, eu me lembro do caso de uma banda paulistana do rock independente levando seu disco a uma grande rádio rock de SP. "Cara, a gente já tem seu disco. A galera daqui é fã de vocês, já viram bastante shows. As músicas são ótimas. Mas o problema é que vocês não têm gravadora, né? Não dá para fazer o acerto para tocarem suas músicas aqui. Pena."

* A Trama planeja um lançamento de gala para as próximas semanas. Dois singles indo para as lojas no mesmo dia. "Do You Want to", do Franz Ferdinand, e "F*** Forever", do Babyshambles. Luxúria.

* São devastadoras algumas das canções do novo álbum do Black Rebel Motorcycle Club. "Howl", o terceiro CD do trio californiano, foi lançado na semana passada. Lento, sombrio, melancólico, country, pesado, experimental. Qualquer dessas coisas cabem dentro da definição próxima do que é o disco. É tipo Jesus & Mary Chain e Bob Dylan misturado. O engraçado é que eu tinha o disco em meu iPod já há algum tempo, tinha ouvido uma ou outra vez, mas nunca tinha dado muita bola para ele. Só que umas gravações ao vivo e em sessões de rádio que foram tocadas nestes últimos dias mostram que o álbum cresce absurdardamente ao vivo. Fica mais pesado, denso. Experimente: ouça a fantástica "Sympathetic Noose" e a faixa-título, "Howl".

* Este colunista bateu um papo com Rivers Cuomo, o líder da banda Weezer, que no final deste mês se apresenta em Curitiba e só em Curitiba. Cuomo me deixou preocupado. Ele quer fazer uma homenagem ao Brasil em seu show. Ai. E ainda tocar uma cover de banda indie "que os brasileiros gostam".

A entrevista de Cuomo, ou o "tratado da nerdice", aparece inteira aqui na próxima semana.

* Esta é quente. Projeto Genôma de Música. Site: www.pandora.com
O PGM (ou GMP em inglês) é resultado de cinco anos de pesquisa ouvindo mais de dez mil bandas e artistas do mundo. O objetivo, bem ousado, é o de traçar o "DNA" de uma música até extrair suas qualidades únicas, sua "essência musical".

O site vai funcionar como um hóspede de estações musicais, no qual você digita o nome de um artista qualquer e sua pesquisa o levará à estação desse artista. Todos os outros artistas que possuam uma "essência musical", ou um "DNA" semelhante ao da sua banda preferida, estarão lá!

O site será pago --12 dólares por 3 meses--, mas as suas primeiras 10 horas saem de graça. E são horas que rendem. Facilita muito a vida de quem tem sede por música nova, mas tem preguiça de buscar na net. Ou de quem ama Radiohead, mas nunca ouviria uma banda parente que vem lá da Islândia.

É interessante descobrir uma linha "evolutiva" de um tipo de música, se você tiver paciência de ouvir por um bom tempo.

Digitando "Radiohead", por exemplo, você recebe uma breve descrição do DNA da banda, e daí a estação começa com "Knives Out", passa por Snow Patrol, David Bowie ("I've Been Waiting for You"), Dredg ("Planting Seeds"), Vanishing Kids ("Tell Me") e The Killers ("Jenny Was a Friend of Mine"). Aí, quando chega em Duran Duran ("What Happens Tomorrow"), é hora de parar e buscar outras coisas.

Você pode criar outras estações, que são salvas. Digitando Arcade Fire, começa com "Vampire Forest" e pula pra Flaming Lips. Depois cai em PedroThe Lion. O Interpol te leva a Sonic Youth e ao Sparta, por exemplo.

Tem que vasculhar mais. Tem que ter tempo e paciência, mas a idéia é muito boa pra conhecer coisas inusitadas.

Você pode opinar se gosta da seqüência, se ela é coerente etc. E pode também ter no máximo até 100 estações. Querendo mais uma, é só deletar uma das anteriores.

Se você acha que David Bowie e Radiohead não são parentes nem de longe, é só clicar em "Why Did You Play That Song?" e eles te explicam, musicalmente, qual o grau de parentesco. Se joga.

* Popload Brasil Tour 2005. Rave rock animadíssima aconteceu sábado passado em uma chácara de Londrina, no aniversário da festa Alta Fidelidade. Discotecagens master, shows excelentes (Bad Folks, Grenade e o surpreendente Mudcracks).

Agora a vez é de São Paulo e Curitiba. Este colunista bota som sábado, 3, no clube Outs, onde acontece também show da banda carioca Autoramas.
Na próxima quarta-feira, feriado do dia 7, na festa In New Music We Trust, no conhecido bar James. O bom é que dia 8 é feriado em Curitiba. Pena que não para mim.

* PRÊMIOS - Repara só no que você vai concorrer se mandar aquele email esperto para lucio@uol.com.br:

- um par de ingressos "casados" para o Curitiba Rock Festival, no final do mês.. Um para o sábado (Weezer), outro para o domingo (Mercury Rev).

- esse são para os meninos malvados (ou meninas idem): um kit Slipknot, que tem CD, DVD e dois (2) ingressos para o show do dia 23 de setembro, no Pacaembu.

- dois pares de ingressos vip para a noite de sábado do Outs, com discotecagem deste e show da banda Autoramas.

* Láááá embaixo, a grande lista de vencedores atrasados. Desculpe a bagunça.




ENQUANTO ELES NÃO VÊM

Já não aguenta mais esperar para ver por aqui, em ação, todo o exército de grandes atrações internacionais que está vindo aí nas próximas semanas? Então, para aumentar sua ansiedade, dá uma olhada em relatos das últimas apresentações de algumas dessas bandas/artistas em festivais e concertos pela Europa e EUA.

* Moby - O próprio DJ americano conta sobre seu último show, no Fuji Rock Festival, no Japão, em 31 de julho. "O show do Japão foi muito divertido, embora essa diversão tenha sido parcialmente comprometida pelos insetos gigantes que estavam nos atacando no palco. Nós tocamos à noite e com chuva, então as únicas luzes e proteção da água estavam no palco. Logo, insetos gigantes, besouros gigantes e todos os bichos gigantes estavam nos atacando enquanto tocávamos. Não estou brincando, mas não choveu um só segundo durante todo o final de semana do festival. Mas foi só a gente começar a tocar "Raining Again" que os céus se abriram e caiu a maior tempestade. Eu sempre sou especialmente grato à platéia que suporta chuvas torrenciais para nos ver tocando. E aquela foi TORRENCIAL."

Moby inicia no próximo dia 16, em SP, uma excursão de quatro shows no Brasil.

* Pearl Jam - No último domingo a superbanda de Seattle abriu com um show político beneficente em Missoula (EUA) a nova fase dessa turnê que no embalo vai passar por quatro cidades brasileiras, em cinco apresentações. No fórum do site oficial, a discussão era a seguinte: "Depois de tanto tempo na estrada, o Pearl Jam já treinou bem os fãs: nunca tente saber como vai ser o setlist do show seguinte. O show de Missoula teve o mesmo gostinho de susto que o grupo causa a cada apresentação. Eles abriram com uma energia incrível, com 'MFC' [do disco 'Yield'] e continuaram assim até o fim, com 'Yellow Ledbetter'. Também entraram a obscura 'Bee Girl' (homenagem à menina abelha do clipe do Blind Melon, que só tinha sido tocada DUAS vezes antes). Os saudosistas não podem reclamar: tem 'Alive', 'Even Flow', 'Black'... Todos eles estavam muito bem. O Ed está com o mesmo cabelo de 95."

O Pearl Jam inicia a tour pelo Brasil em Porto Alegre, no dia 28 de novembro. Passa por Curitiba (30), SP (2) e termina no Rio dia 4.

* Arcade Fire - Tal qual no americano Coachella Festival (maio), o adorado grupo canadense roubou toda a atenção do final do semana no último Reading Festival, e suas mais de 100 atrações. "No segundo palco, o Arcade Fire iniciou seu show para uma platéia quieta, mais curiosa que empolgada. Mas logo o que se viu dentro da tenda parecia com a passagem de um furacão barulhento. Eles fecharam com 'Rebellion (Lies)', indo embora deixando uma sensação de aperto na garganta, daquelas de vontade de chorar. Foi o surpreendente grande momento do festival.", reportou o respeitável jornal "The Independent".

O Arcade Fire toca no Tim Festival, no Rio de Janeiro, no dia 22 de outubro. No dia 23, vem com seu show de chorar para São Paulo.

* Raveonettes - A banda dinamarquesa foi uma das atrações do festival de Benicàssim 2005 (Espanha), três semanas atrás. "E, no palco principal, que parecia enorme para uma banda ainda pequena, o duo se deu muito bem, produzindo um grande som rock'n'roll e esbanjando estilo. Centrado na coisa macho-fêmea entre Sharin Foo e Sune Rose Wagner, os Raveonettes são todo escuridão e sombras e Velvet Underground. A resposta do público foi um silêncio compenetrado, atento, até vir 'That Great Love Sound', a música mais conhecida da dupla. Com um enorme e ensolarado coro vindo do público, Benicàssim viu a celebração do amor", foi a resenha do site Sound Generator.

O Raveonettes toca no dia 24 de setembro no Curitiba Rock Festival, no Paraná.

* Kings of Leon - O relato mais legal que eu li sobre a apresentação do Kings of Leon no Reading Festival 2005 foi de um blogger inglês espantado com o que viu fora do palco. "O show foi tão bom que não parou de ter gente surfando (crowd surf) na galera. Pensa: estamos falando de um show do Kings of Leon."




CANSEI DE SER INDIE

Adoro matérias polêmicas. Não pela polêmica em si. Mas para medir o quanto a música pop pode interferir furiosamente no humor das pessoas. Para o bem e para o mal.

Essa que eu escrevi para a Folha de S.Paulo na última terça-feira, sobre o ele mesmo polêmico sexteto paulistano Cansei de Ser Sexy, rendeu reclamações ao ombudsman do jornal e elogios rasgados de "acadêmicos". O Cansei de Ser Sexy é isso: ele não passa despercebido.

Para quem não viu na Folha, porque não é de SP, porque não assina, porque não compra a Folha ou porque simplesmente não viu, vou repetir a matéria agora.

E foi assim.

* A cena musical independente brasileira vai ser sacudida na primeira semana de outubro, quando a banda-fenômeno paulistana Cansei de Ser Sexy (finalmente) lança em grande estilo seu primeiro álbum, depois de dois anos de superutilização da via internet, farra em eventos de moda, shows bizarros em pequenos bares sem palco e apresentações debochadas em palcos gigantes de grandes festivais. Mas, mais do que o revolucionário lançamento de um disco (um disco, não: dois! Dois discos, não: três!!!), o interessante é perceber que o CSS já há algum tempo botou em curso um involuntário plano de... dominação mundial.

Não tem duas semanas, o Cansei de Ser Sexy, combo de electropunk que canta em inglês e português, ganhou entusiasmada resenha de página inteira no prestigioso jornal britânico "Observer", a edição dominical do grupo que edita o diário "The Guardian".

A incrível menção de uma banda nacional que nem álbum lançado tem ganhou tintas inglesas para registrar as observações do crítico de música Peter Culshaw, depois de o jornalista ver, em julho passado, uma apresentação do Cansei de Ser Sexy no pequeno clube paulistano Jive. "Satânico samba", categorizou o "Observer" em título. "Tem muito mais coisa no Brasil do que bossa nova", seguia a manchete.

"Assim que eu ouvi o Cansei de Ser Sexy pela primeira vez, através do site do TramaVirtual, cheguei ao meu editor e disse: 'Preciso ir a São Paulo para ver um grupo feminino que me empolgou, chamado Tired of Being Sexy'. Ele respondeu na hora: 'Vai lá. Com um nome desses, deve ser bom mesmo'", falou à Folha o jornalista britânico, que viaja o mundo atrás de novidades musicais e colabora também com outro grande jornal de Londres, o "Daily Telegraph".

"Depois que os vi ao vivo, posso dizer tranquilamente que eles são minha banda nova favorita no mundo", enfatiza Culshaw, que já entrevistou e escreveu artigos sobre Caetano Veloso e Gilberto Gil, artistas brasileiros "um pouco diferentes do Cansei de Ser Sexy".

Tod Seelie



Peter Culshaw veio ao país a convite da gravadora Trama. Ele prepara um vasto material e uma compilação sobre o som da Amazônia, em especial a guitarrada e o tecno brega, interessantes movimentações musicais de Belém (PA). Mas durante suas pesquisas teve os olhos (e ouvidos) atraídos para a cena de São Paulo, em geral, e para o CSS, em particular.

"Estou muito excitado com São Paulo, ultimamente. A cidade está produzindo extraordinárica música pop contemporânea. Nos anos 60, o Brasil produzia o mais sofisticado som pop, com bossa nova e a tropicália. Agora entendo que está onda fértil está voltando", acredita Culshaw.

"Há dez anos, a música pop mundial feita nas principais metrópoles era só rock ou só hip hop. Agora São Paulo consegue produzir rock, hip hop, eletrônica tudo junto, misturado e com qualidade, e ainda dar sua cara a tudo isso. Hoje, na Inglaterra, as bandas novas só fazem emular o punk rock. Isso pode ser bacana para eles, mas para quem tem mais de 30 anos é déjà vu. Enquanto eles se levam muito a sério, o Cansei de Ser Sexy tem senso de humor. Eles estão no meio do caminho entre uma banda-bobagem como as Spice Girls e um grupo revolucionário como os Sex Pistols", se entusiasma Culshaw, que acredita que uma faixa como "Meeting Paris Hilton", um dos hits do CSS, entraria fácil no Top Ten britânico.

Mas o Cansei de Ser Sexy não chega a ser uma novidade para os ingleses. No ano passado, a rapper britânica e DJ Princess Superstar tocou a canção "Ódio, Ódio, Ódio, Sorry, C." em um programa seu de rádio, na Kiss FM.

A "carreira internacional" do Cansei de Ser Sexy passa pela TV e pelo mundo dos games.

A canção "Meeting Paris Hilton" foi colocada recentemente pelo canal Fox como trilha sonora das chamadas promocionais para a América Latina da terceira temporada do seriado "The Simple Life", estrelado pela celebrity americana.

E a música "Computer Heat", outra faixa que estará no CD début do CSS, vai virar trilha do famoso do novo game da série The Sims, da Electronic Arts, que se autoconclama o jogo mais vendido da história. A canção entrará com uma versão diferente da do álbum e foi finalizada anteontem. Ela será cantada em simlish, idioma próprio que é falado no jogo. A faixa será gravada em CD promocional que será distribuído como brinde para quem comprar o jogo no Brasil, além de poder ser baixada da internet e inserida no jogo através de um site do Sims.

Pelo encanto gringo demonstrado, não vai demorar muito para os artistas pop estrangeiros que excursionarem pelo Brasil, em suas tradicionais visitas às Grandes Galerias, em São Paulo, saírem procurando por discos dos Mutantes e do... Cansei de Ser Sexy.

* O esquema da estréia em disco do Cansei de Ser Sexy é tão ousado quando a banda. O sexteto demorou praticamente dois anos para lançar seu primeiro álbum, mas agora que finalmente vai sair ele vem triplo. Mais ou menos.

O CD com selo da TramaVirtual e nome "Cansei de Ser Sexy" que atinge as lojas nacionais no comecinho de outubro vem com o disco em si, oficial, de 14 faixas. Na mesma caixa, um CD-R, gravável, em branco, para o comprador do disco descarregar as músicas no computador, gravá-lo no CD virgem e presentear um amigo.

A iniciativa da banda e da gravadora bota o dedo na ferida da grande indústria da música, em guerra na Justiça contra garotos que usam computador para compartilhar músicas "roubadas" na internet. Mas significa uma volta e um tributo da banda ao mundo que fez sua fama na cena indie nacional: o virtual.

Filhote legítimo da geração internet, o CSS, assim que formado, virou fotolog, causou agito em e-mails, blogs e foi parar na TramaVirtual, divisão online da Trama que serve como uma grande vitrine para bandas novas botarem suas músicas em arquivos MP3s e tentarem a sorte.

O TramaVirtual tem cadastradas quase 15 mil bandas independentes, o que gera cerca de 30 mil canções à disposição para audição.

O Cansei de Ser Sexy, que desde 2003 quase sempre frequentou o Top 10 das mais ouvidas do site, em meio a um exército de bandas de emo e hardcore melódico, representa o primeiro disco da nova empreitada da subdivisão da Trama, de chegar ao CD físico com seus frutos virtuais.

O terceiro disco do "megalançamento indie" do CSS é o CD "CSSSuxxx", um extra de sete faixas (de inéditas e de algumas canções em versões mais pesadas que no álbum) que será vendido a preços camaradas nas apresentações ao vivo da banda.

O CSS conta com Ana Rezende, Luiza Sá e Carol Parra nas guitarras, Ira Trevisan no baixo, a ótima Luíza Lovefoxxx no vocal e o único homem da banda, Adriano Cintra, nas baterias e às vezes guitarra.

E olhar estrangeiro em cima das estrepulias dessas cinco meninas e um menino não vem só da Inglaterra. O crítico musical Simon Reynolds, nascido no Reino Unido, mas colaborador das revistas "Spin", "Rolling Stone" e dos jornais "New York Times" e "Village Voice", viu a apresentação da banda paulistana no último Campari Rock e gostou.

"Eles começaram sendo um grupo indie barulhento e terminaram completamente pop, divertidos. A banda tem algumas músicas candidatas a hits, deu para notar numa primeira ouvida. Achei engraçado perceber, conversando com algumas pessoas depois do show, que o CSS ofende eles de alguma maneira, por ter uma certa falta de grandes habilidades musicais", afirmou Reynolds.

"Mas eu não liguei muito para isso. A banda é muito boa e cabe dentro da tradição de grupo de garotas punk onde há sim um 'truque' sonoro envolvido. As Runaways, o antigo grupo onde Joan Jett, começou, também era assim. As Shonen Knife, do Japão, é assim também hoje. Posso imaginá-los um sucesso absoluto no Japão. Não só pela cantora bonitinha japonesa bonitinha, mas ainda por essa combinação deliciosa de girl-punk com alguma sonoridade confusa, mas com canções muito divertidas e de uma força pop tão deliciosa quanto apaixonante."

Adriano Cintra, baterista do CSS, diz não assimilar esse interesse estrangeiro em sua banda tão indie e paulistana. "Acho isso muito surreal. A gente nem comenta entre si essa coisa toda de sair em jornal inglês. A banda ainda não entendeu direito o que está acontecendo", falou.

As próximas estripulias ao vivo do Cansei de Ser Sexy se darão longe de São Paulo. Perto do lançamento de seus discos todos, o oficial, o virgem e o "para shows", a banda se apresenta no Sul, com datas marcadas para o final de setembro em Porto Alegre e Florianópolis.

* Botar uma música em patamar alto das paradas britânicas, como imagina o crítico inglês Peter Culshaw, pode soar exagero, mas o Cansei de Ser Sexy pelo menos planos mais reais de entrar, isto sim, no disputado circuito de shows do Reino Unido. A Trama pretende armar apresentações ou showcases do CSS em Londres em novembro, mostrando o "cartão-de-visitas" do "Observer" e principalmente aproveitando uma outra ação de Peter Culshaw.

O jornalista mostrou músicas do Cansei de Ser Sexy para o produtor Malcolm McLaren, que entre muitas "obras" dentro do pop inglês foi o criador do fenômeno Sex Pistols e por consequência famoso inventor do punk, nos anos 70.

"McLaren amou o que ouviu", disse Culshaw. "Ninguém melhor na música para inventar do que Malcolm McLaren. Acho que foi isso que fez os olhos deles brilharem assim que botei um CD do Cansei de Ser Sexy para tocar."

De acordo com Culshaw, McLaren disse estar ajudando na criação de um sub-selo dentro da gravadora Interscope (Eminem, 50 Cent) para novos hypes eletrônicos e "quem sabe pode ter algo a oferecer ao grupo de São Paulo".
Pelas mãos de McLaren ou por suas próprias, a Trama tem planos reais de lançar o álbum do CSS no mercado inglês, no primeiro semestre de 2006.

* As músicas do CD do Cansei de Ser Sexy:

01- Fuck Off Is Not The Only Thing You Have to Show
02- A-La-La
03- Let's Make Love And Listen To Death From Above
04- Meeting Paris Hilton
05- Alcohol
06- Bezzi
07- Off the Hook
08- Art Bitch
09- Acho um Pouco Bom
10- Computer Heat
11- Music Is My Hot Hot Sex
12- This Month, day 10
13- Superafim
14- Pony Honey Money

* As músicas do CD-R que acompanha o CD oficial
(...)

* CSSSuxxx - o disco "rocker" que será vendido em shows
01- CSS Suxxx
02- Patins
03- Party Animal
04- Fuck Off Rock
05- Meeting Paris Hilton II
06- Art Bitch II
07- Ódio, ódio, ódio, Sorry, C.




MUITOS GANHADORES

* ingressos para o sábado (1) e domingo (1) do CRF
- Fabiano Pures
Gravataí-RS

* edição importada do EP raro do Arcade Fire
- Paola Kraus
Santos, SP

* um CD da rapper M.I.A, o ótimo "Arular". M.I.A. é atração master do Tim Festival.
- João Carlos Portugal
São Paulo, SP

* CD do Magic Numbers
Bárbara Rodrigues
Maringá, PR

* CD "OC - Mix 4"
Mauro Gnacarini Azevedo
Santos, SP

* O exclusivo CD do show do White Stripes em Manaus
Tuta Xavier
São Paulo, SP

* O disco do British Sea Power
Paulino Molko
Belo Horizonte, MG

* CD do Kaiser Chiefs
- Bruno N. Nagabi
São Paulo, SP
- Gino Andrade Coutinho
Belo Horizonte, RJ

* Single do Weezer, "Beverly Hills"
Eugênia Nogueira da Silva
Osasco, SP

* Revista "Q" inglesa, capa Oasis e com CD
Élcio Krein
Salvador, BA

* Duas lembranças do show do U2 em Roma (o que eu não fui)
- Fernanda Paula Fiano
São Paulo, SP
- Túlio Felipo Sanches
Niterói, RJ

* CD do Oasis
Rafael Godinho Filho
Campinas, SP

Acho que é isso, então. Taí a lista toda. Se estiver devendo mais alguma coisa, dá um grito. Até a Outs. Até Curitiba. Ou até!
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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