Pensata

Lúcio Ribeiro

30/09/2005

Foi bom pra você?

"Desculpe por isso, chefe"
Maxwell Smart, em "O Agente 86"

"I can hear your voice from here, girl
And I can't hear no other sound
No need to spend anymore time apart
That's it"
Tom Vek, "Nothing But Green Lights"

"Oh, Yoshimi, they don't believe me
But you won't let those robots eat me"
Flaming Lips, em "Yoshimi Battles the Pink Robots"


Buenas.

Vai ser bom para você?

* Sim, vai ter Pearl Jam em São Paulo. Agora pára de chorar. Pára.

* A primeira grande maratona da música pop acabou na madrugada de domingo quando o Mercury Rev saiu do palco de Curitiba deixando um zunido bem simpático que permaneceu na orelha de quem estava no Master Hall. Até que um cara da equipe da banda foi lá e desligou os amplers de uma vez. Então, as melhores coisas que aconteceram entre o momento em que o baixista-DJ do Chk Chk Chk botou a agulha para funcionar em festa desta coluna na pista do Vegas em SP e a hora em que o vocalista Jonathan Donahue (Mercury Rev) desistiu de voar e saiu do palco em Curitiba vão ser tratadas mais lá embaixo.

* Faz tempo que eu queria fazer algo do tipo, mas o inspirador telão que deu imagem ao espacial som do Mercury Rev deu o empurrão que faltava. Ali, no meio de colagens de capas de discos, frases edificantes de filósofos bambans, fotos de músicos e do Einstein criancinha, do espaço sideral, pintou a de um cão triste. Com a frase embaixo: "Support your local animal shelter". Então, toma a versão brasileira. Apoie as associações protetoras dos animais do seu pedaço.

Reprodução






O FATOR PEARL JAM

A orelha do prefeito Serra nunca ferveu tanto na vida dele, nem quando ele era ministro e brigou com o Felipão por causa do Palmeiras. A história de que a prefeitura vai fechar o Pacaembu e com isso o show do Pearl Jam em dezembro vai ser cancelado ou realizado em BH e Brasília em vez de São Paulo rendeu milhares de emails para mim, imagine para ele ou para o setor oficial de emails-bronca do município.

A gota d'água teria sido o show da Rádio Mix, no último dia 18, que varou a madrugada e causou a ira dos moradores de Higienópolis e região.
O Serra não tem idéia em que se meteu. Petições, abaixos-assinados e pedidos de audiência direta com o prefeito é o mínimo que está sendo produzido diariamente pelo assombroso número de fãs do Pearl Jam que esperam a banda há quase 15 anos. Só na comunidade Pearl Jam no Brasil Eu Vou, no orkut, tem quase 72 mil pessoas cadastradas.

"Claro que vai ter show em SP", disse uma das pessoas responsáveis pela vinda do grupo de Eddie Vedder. "Não há como deixar São Paulo fora das apresentações do Pearl Jam. Ainda aguardamos a resposta do Pacaembu e ela deve ser favorável ao show".

A configuração da passagem do Pearl Jam por São Paulo é a seguinte. Se o Pacaembu for liberado, serão dois shows. A data do dia 2 de dezembro está assegurada. Resta confirmar se o segundo espetáculo acontece no dia 1° ou 3.

Pacaembu interditado, o Pearl Jam toca ou uma vez só no Morumbi ou duas vezes na Arena Skol, no Anhembi. A variável do número de shows é por causa da capacidade do lugar, que não pode ultrapassar os 40 mil lugares, por ordem da banda.

* Viajei na semana passada ao afirmar que a segunda data do Pearl Jam em São Paulo seria no dia 30 de novembro, já marcado para acontecer em Curitiba.




OS BOCUDOS ATACAM NOVAMENTE

Não sei se foram o Coldplay e seu bom-mocismo que despertaram alguma coisa maligna de dentro das pessoas, mas de repente o negócio no pop virou achincalhar. Recebi uma mensagem recentemente de uma leitora dizendo: "Você precisa ouvir 'tal banda'. Corre lá no Trama Virtual, não perde por nada". Pensei se tratar do novo White Stripes, o Queens of the Stone Age brasileiro, mas a mensagem seguinte da menina entregou a real: "Vai lá ver que porcaria. A 'tal banda' é um absurdo de ruim..."
Perguntei por que a menina perdia tempo escutando uma banda de que ela não gostava, ainda mais falando sobre ela e, pior de tudo, recomendando a "ruindade" para mim!! Imediatamente veio outra peça típica das cantigas de maldizer: "Ué. Por que não? Tem que escutar coisas ruins também. E justo você, que adora banda ruim".

Já que o papo agora é falar mal e expor o ódio do coração indie, compilei as melhores lenhas que vi alguém descer nas últimas semanas.

* Courtney Love na revista "Spin" de outubro. Pergunta da revista: "Tem 11 anos desde que você lançou o álbum 'Live Through This' [o disco que saiu dias depois do suicídio do marido Kurt Cobain e deu fama ao grupo de Love, o Hole]. Você ainda fica ofendida com os rumores de que você não escreveu a maioria das músicas do disco?" Resposta de Courtney Love: "Estou me lixando para isso. A primeira coisa que eu penso é não reagir. Mas isso nem sempre é fácil. Uma das razões pelas quais eu odeio o Dave Grohl [líder do Foo Fighters e ex-Nirvana] com todas as minhas forças é que ele foi no programa do [radialista] Howard Stern e disse que gostava de 'Teenage Whore' [música do disco anterior do Hole] porque essa eu escrevi. Que filha-da-**** estúpido. Ele sabe exatamente o que eu escrevi. Ele sabe a força que eu dei para que aquele terceiro álbum do Nirvana saísse. Na época Kurt veio para o nosso estúdio tocar com o Hole mais do que ele foi para o dele tocar com o Nirvana. Ele gostava mais da gente".

* Foi dito aqui, já, mas vale o repeteco. Chamada de capa da última "Rolling Stone" para o VMA, a festa do vídeo da MTV americana: "VMA: a mais chata festa de premiação de todos os tempos". De capa.

* Crítica, na mesma "Rolling Stone", da nova temporada de seriados. Sobre "Commander in Chief", estrelado por Geena Davis. "Repita comigo. Geena Davis é presidente. Eu acredito nisso. Eu acredito nisso. Davis é uma vice-presidente que sobe no cargo quando o presidente vacila. Não tenho certeza do que acontece depois, porque eu cometi suicídio para ver se conseguia arrancar todos os traços desse seriado da memória." E sobre "Ghost Whisperer", estrelado pela atriz e dondoca Jennifer Love Hewitt: "Hewitt faz uma vidente gostosona que ajuda as pessoas mortas a fazer contato com seus entes queridos... Eu pensei que, se eu fumasse crack pudesse aliviar o trauma de ver essa série, mas eu não tinha crack, então eu toquei fogo no meu próprio corpo e inalei a fumaça. Paz. Alívio. Hewitt não pode me machucar agora".

* Já o esperto site Pitchfork Media recentemente ficou em dúvida se o último álbum do Weezer, "Make Believe", por ser tão ruim, tão ruim, destrói por completo tudo o que a banda construiu de bom no passado, principalmente seus dois adorados primeiros álbuns. "(Isso) eu não sei", diz a resenha. "(Depois de ouvir 'Make Believe') eu estou muito assustado para escutar de novo os dois primeiros álbuns."

O mesmo site levanta outra dúvida, desta vez sobre a deliciosa música nova dos Strokes, "Juicebox", o primeiro sinal do muito aguardado terceiro CD da banda. "Você está pronto para os Strokes?. Ou melhor: eles estão prontos para voltar?", lança sua desconfiança o texto, antes de dar sua opinião sobre a letra da canção: "Trechos como 'Por que você não vem aquiiiiiiii' parecem ter sido tiradas de um desses geradores-de-letras-dos-Strokes da internet."




OS TRÊS DIAS QUE ABALARAM O BRASIL

Não o Brasiiiiil, entende? Mas um certo Brasil que se alimenta de e alimenta a música. Deu tontura a correria para ver, estar e ouvir falar de Curitiba Rock Festival e Nokia Trends Rio e SP, neste último final de semana. Do que eu vi com os próprios olhos e de acordo com relatos de amigos, tudo isso abaixo aconteceu no Brasil em três dias e em três lugares diferentes.

* Na sexta-feira, a trupe do grupo americano !!! (Chk Chk Chk) invadiu a estrondosa pista do clube Vegas, em festa armada por esta coluna. O baixista da banda, Justin Vandervolgen, tomou para ele as picapes do lugar e se revelou um ótimo DJ de um som que vagou entre a house cool e o dance-punk que corre na veia nova-iorquina. A horas tantas, em uma certa música, quando todo mundo achava que estava numa festa no Brooklyn (NYC), Justin foi questionado sobre que som espetacular era aquele que ele tocava. "Não tenho a menor idéia. O disco não tem rótulo."

* Segundo antes de o Audio Bullys chegar ao palco do Armazem 5, no Rio, uma galera em número surpreendente (para mim) se amontoava perto do palco. Aí começou a tocar, sem que a dupla inglesa estivesse no palco, o hit "Bang Bang". Tocou metade dela, logo mixada com outras. Nenhuma música do AB, nem as novas, nem as velhas, estavam como as originais. Todas totalmente mexidas. E a toda hora, o MC Simon Franks falava, tipo zoando, tipo intimando: "Can You Feel It? Can You Feel It?". A singela "I'm in Love", do disco novo, dance-balada no CD, parecia tocada pelos Chemical Brothers lá no Nokia Trends. Para acabar o set, tocaram a metade que faltava de "Bang Bang". Luxo.

* O Human League começou em São Paulo com gente pensando: "Lá vem mais um daqueles shows meia-boca com cheiro de velho que vai dar vergonha só de assistir". Ouvi de muita gente boa que o Human League foi "A" apresentação do Nokia Trends SP. Nunca a pergunta "Don't you want me baby?" fez tanto sentido.

* O duo Alter Ego fez o público paulistano ir da euforia ao ódio. Por problemas técnicos, a dupla teve seu set terminado depois de só meia hora de som. Mas, nessa meia hora, o hit "Rocker" balançou o lugar em uma versão suja e tão barulhenta que muita gente acha que pensar em set curto é besteira.

* Lá em Curitiba, enquanto o Audio Bullys fazia "bang bang" com a música moderna, o Weezer justificava toda sua ausência de 13 anos sem pisar no Brasil. Fez um encantador show de hits. O público, 3500 pessoas, cantava tudo e todas mais alto que o Rivers Cuomo. Sem falar da cover de Foo Fighers, a surpresa da noite foi Cuomo desaparecer do palco e aparecer com seu violão no meio da galera, num dos balcões superiores do lugar, e cantar a fofa "Island in the Sun". Catarse. Até quem não gostava de Weezer e estava lá pela balada amou o show do grupo da Califórnia.

* Nunca ninguém chegou tão perto de Jesus & Mary Chain do que o grupo dinamarquês Raveonettes, no animado show de domingo no Master Hall, em Curitiba. Isso é um grande elogio. A dupla, completada por um baixista com a cara do Beck, o guitarrista que "era" o Fabrizio Strokes e um baterista de jazz, mostrou com quanto barulho e distorção se faz pegajosas e deliciosas canções de amor. Claro, fica fácil quando a vocalista é a angelical Sharin Foo, que no final do show desceu do palco e ficou abraçando a galera. Quase arrisco a dizer que "Great Love Sound" foi a música mais legal do superfinal de semana. Quase.

* Aí, depois do Raveonettes, o Mercury Rev começou seu show sound&vision. Lembra que o guitarrista Grasshopper veio com o papinho de que o Mercury Rev seria um cavalo branco e levaria o público brasileiro para uma volta por uma floresta escura? Foi isso mesmo que aconteceu. O vocalista Jonathan Donahue, certeza, ficava cantando olhando para lugar nenhum, abrindo os braços como se fosse bater asas. O som estava tão denso que dava para cortá-lo com uma faca (adoro essa construção). Como essa "Vermillion", do disco novo, é bonita ao vivo... Já tinha visto o Mercury Rev em duas outras ocasiões, antes, em dois shows bem legais. Esse show de Curitiba superou.




SHOW DO ANO NO BRASIL: ARCADE FIRE

Os históricos Iggy Pop e Sonic Youth? Os megas Nine Inch Nails e Pearl Jam? Os amados Strokes, Flaming Lips e Wilco?

Na enquete da semana passada, que instava o leitor a dizer qual o show vindouro no Brasil que causa maior expectativa, a relativamente novata banda canadense Arcade Fire foi a mais votada.

É impressionante o culto instantâneo que virou o Arcade Fire, que nem tem disco oficial lançado por aqui (dá para comprar pela Peligro). A banda ganhou apertada dos Strokes e de longe dos poderosos Pearl Jam, Nine Inch Nails, Iggy Pop.

Sem mais lero, confira o resultado da enquete "qual a banda/artista que você mais quer ver".

1. Arcade Fire 160 votos
2. Strokes 141
3. Pearl Jam 102
4. Iggy Pop 75
5. Sonic Youth 55
6. Flaming Lips 38
7. Nine Inch Nails 30
8. Kings of Leon 13


* Apareceram, conforme eu pedi, votos para as bandas do fim de semana passado. Como achei que elas foram bem prejudicadas pelo tempo de votação, não as considerei. O Weezer, mesmo assim, chegou perto do Sonic Youth, com 50 votos.

* Até o dândi Vincent Gallo entrou na disputa. Teve honroso um voto.




POPICES

Pensei que eles já tinham parado com esse tipo de show, mas não. O Flaming Lips vai trazer sua "extravagância ao vivo" como tem feito há três anos. Palco com gongos, sangue falso, telão engraçado, essas coisas da cabeça do malucaço Wayne Coyne. E o site dos Lips recomenda: vá ao show do Brasil com sua luva de bicho de pelúcia. Não esqueça.// A Popload Tour 2005 passa nesta sexta-feira (30) por Recife. O som acontece numa casa no bairro de Santo Amaro, onde funcionava a famosa boate Irmã Bertrice (Na rua do Lima, 100, Santo Amaro). Tem mais discotecagens, de Daniela Arrais e Luana Pontes x Schneider Carpeggiani, além do show de lançamento do disco de Chambaril. Dá uma olhada no cartaz da festa:

Reprodução



O engajamento da música nacional nas causas da humanidade é de emocionar. Depois de os Titãs mostrarem toda sua "indignação" com a bandalheira de Brasília, é a vez do KLB vir com uma nova música sobre o... 11 de setembro.// Ainda sobre o maravilhoso Arcade Fire, o "campeão" da enquete, recebi um email de leitor que explica um pouco porque a banda é a mais desejada, à frente de grupos como Pearl Jam, Strokes e Nine Inch Nails: "O mundo vai acabar quando eles tocarem 'Wake Up'", disse o rapaz.// A banda sem-guitarras Rádio de Outono, de Recife, é o destaque da festa Revolution, nesta sexta na Funhouse. Domingo, o Rádio de Outono segue turnê paulistana tocando no Milo Garagem.// Voltando à Funhouse, sábado, na Delicious, tem show do Morrissey. Cover.// Futebol é muito pop: o filme britânico "Gol", falado aqui em coluna recente, um sobre o moleque mexicano ilegal que acaba jogando no milionário futebol inglês, estréia no dia 14 de outubro no Brasil. Tem o Beckham no elenco e Oasis, Happy Mondays e mais gente boa na trilha. Futebol é fashion: o Palmeiras, que hoje usa roupas da marca Diadora, a partir do ano que vem vai vestir Adidas. Acontece que o time já teve seu uniforme bancado pela Adidas nos anos 80. Então, agora, talvez por causa do novo contrato, começou a aparecer camisas e blusas desta época nas arquibancadas do Palmeiras, em locais de trabalho e em baladas. Roupa vintage do Palmeiras virou master. Futebol é tudo: o esperto site Trivela entrou no ramo de revistas e lançou o "Guia da Liga dos Campeões". Para as meninas, a capa é do Kaká. Para os meninos, o guia completo do mais importante torneio do mundo. O que a revista da Liga dos Campeões tem a ver com cultura pop? Os caras no comendo do Trivela são todos indies.//Nesta primeira semana de outubro chega às lojas o CD de nome mais sugestivo da história. É o sexto CD da banda. Chama "Até Onde Vai?"// Recebi um aviso engraçado, que me deixou intrigado. Vê só: "Não haverá apresentação do show "Milton e Caetano" dia 2 de outubro, na Via Funchal, devido à participação dos artistas no lançamento do filme "O Coronel e o Lobisomem". // Música para já: "Nothing But Green Lights", do Tom Vek. Cover para já: Kaiser Chiefs fazendo versão brit nova para "I Heard Through the Grapevine", que vai estar no disco beneficente da Warchild, que está saindo. Revival para já: "Apply Some Pressure", do Maximo Park. Esse deve ser o revival mais rápido da história. Essa música é de fevereiro e meio que lançou o Maximo Park na cena. Voltou a tocar sem parar nas rádios inglesas. //




PREMIAÇÃO DA SEMANA (+ ENQUETE)

Enrolado com prêmios e correio e entrega e acerto, vou maneirar nas próximas semanas com os prêmios da coluna. Nesta aqui, serão "apenas" dois pacotes Popload, contendo o seguinte:

* Um CD do Mercury Rev, o lindo "The Secret Migration"
* Uma revista "Bizz", o número 1 da volta às bancas
* A revista de futebol "Liga dos Campeões", do Trivela.
* Uma camiseta oficial do Curitiba Rock Festival

Para concorrer ao pacote, precisa enviar email a lucio@uol.com.br respondendo à seguinte enquete: qual é a música que você mais quer ouvir nesses shows que estão vindo para o Brasil, dentre as bandas que vão tocar? Vale escolher uma só. Vamos ver se a gente consegue eleger um "hino" da temporada.




VENCEDORES DA SEMANA

Segunda-feira, no comecinho da tarde, a lista nova e a atrasada estarão aqui. Atrasei. Foi mal. Até mais.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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