Pensata

Lúcio Ribeiro

06/10/2005

Não acredite no hype

"I'll be waiting for you, baby
cos I'm through
sit me down, shut me up
I'll calm down
and I'll get along with you"
Strokes, em "You Only Live Once"

"Well I bet that you look good on the dancefloor
Dancing to electro-pop like a robot from 1984
FROM 1984!"
Arctic Monkeys, em "I Bet You Look Good on the Dancefloor"


Opa. Certs?
Coluna miserê nesta semana, porque eu tive que ir ali um pouco fazer um negócio.
Na semana que vem já vou estar de volta.

* Mas, para falar bem a verdade, o que tem que ser falado vai ser falado.
Tipo sobre "I Bet You Look Good on the Dancefloor", do quarteto inglês Arctic Monkeys, pela décima vez.

* Agora, vídeo caseiro pornô da Britney Spears, não. Por favor. Mas parece que é sério. Britney vs. Kevin.

* Só para constar, já tem em cópia brasileira nas lojas brasileiras e a preços brasileiros, desde ontem (quinta), o disco do ano.

* Veja como são as coisas: a música mais bacana hoje, entre tantas bacanas, é "Never Be Alone", que tem a seguinte assinatura: Justice vs. Simian. Justice é uma dupla francesa de eletrônico cool, mas que é capaz de animar com rock qualquer festa chata de formatura (li essa definição em algum lugar e adotei). O Simian é um charmoso grupo inglês de um pop tipo Beta Band. E "Never Be Alone" é música velha do Simian. Velha e até bem mais ou menos, no original. Reza a lenda que o Simian, quando lançou seu simpático álbum "We Are Your Friends", lançou um concurso para escolher o melhor remix para "Never Be Alone", para botar no lado B do single da original. E o Justice concorreu. E perdeu. Isso tipo em 2002. Só que a espertíssima gravadora electro-dance Internationa DeeJay Gigolos lançou a música no ano passado, na Alemanha. Agora não há pista bacana na Europa que não toque a música. "Never Be Alone", esta do Justice vs. Simian, é um tecnopop delicioso com um vocal rock mais que decente. É como se o Iggy Pop fosse cantar uma música do Depeche Mode. Pensa você, em alto astral, numa pista dançando uma música sacolejante em que um refrão gritado é repetido toda hora dizendo "Porque nós somos seus amigos, você nunca vai se sentir sozinho de novo. Então vamos aê".
E quer saber? Eu acho que você fica bem em uma pista de dança.


* Pode ser que eu tenha me enganado sobre essa história de "a música mais bacana hoje". É que "You Only Live Once", nova dos Strokes, vazou.


* O cão Vitório, que aparece em foto na coluna da semana passada naquele item que falava sobre apoio a essas pessoas que recolhem e ajudam animais desamparados e largados e machucados das ruas, precisou ser sacrificado. Tadinho do Vitório. Esta coluna é para ele. O "Funeral", do Arcade Fire, é para ele.




ACREDITE NO ARCTIC MONKEYS

O guitarrista e vocalista Alex Turner já não aguenta mais. A pressão está muito grande e ele já sente o peso de ser uma grande estrela do rock.
Alex Turner não é Bono, não é irmão de nenhum Gallagher e nem toca no Coldplay.
Sua banda chama Arctic Monkeys e seu primeiro disco "para valer", um single com três músicas, só vai ser lançado daqui a dez dias, em Londres.
Até o ano passado, ia com os colegas de faculdade ver os shows do Reading Festival. Neste ano, seu grupo era "o" show do Reading Festival, o mais cotado como "must-see" dentre as mais de 100 bandas do talvez mais importante evento musical do planeta.
"Não somos de Nova York, não tem essa de 'o novo Libertines'", brada Turner, recém 19 anos, reclamando das pegajosas comparações. Ele não entende por que está virando rotina a demanda louca de público para ver o barulhento Arctic Monkeys ao vivo obrigar os shows a mudarem de lugar. Para uma casa maior. Foi assim em Londres, em Manchester, em Sheffield, de onde eles vêm.
"Não acredite no hype", diz Turner, do nada, com cara de saco cheio, na abertura do novo videoclipe dos Monkeys, o da extraordinária "I Bet You Look Good on the Dancefloor", o tal single de estréia, que sai no dia 17.
Mas ninguém está ligando muito para a mensagem de Turner. Há três semanas "Dancefloor" é o primeiro lugar da parada de vídeo da MTV2 européia, em programa dedicado à música independente.
A rigor, essa não é a primeira vez que o Arctic Monkeys chega ao público. Em maio, foi lançado um single caseiro, edição limitadíssima, feito por uma gravadora que eles inventaram na hora de produzir o CD. É o já hino "Fake Tales of San Francisco". Desnecessário dizer, hoje só dá para achar e comprar esse single no eBay. Por uma fortuna.
Mais comparações que irritam Turner: Franz Ferdinand e Mike Skinner, o rapper mentor do The Streets.
Franz Ferdinand porque a emergente Domino viu o potencial explosivo do Arctic Monkeys e já derramou um bom dinheiro para gravar seu primeiro álbum, previsto para
Fevereiro. Mike Skinner porque Alex Turner é considerado um poeta do cotidiano urbano de um moleque inglês.
"I Bet You Look Good on the Dancefloor" é uma algazarra juvenil de guitarras que dá som à tentativa de Turner, na letra, impressionar uma garota com quem está flertando numa balada roqueira.
"Ouvi dizer que você fica linda na pista de dança. Eu não sei se você está procurando por um romance ou... Eu não sei o que você está querendo", diz no começo da música. "Aqui não há amor, essa coisa de Romeu e Julieta, apenas músicas bombando e sets de DJ, pista imunda e desejo de botar pra quebrar."
Pode escrever: a música que vai bombar nas pistas de rock e vai estimular meninos e meninas a botar para quebrar, a partir de agora, é "I Bet You Look Good on the Dancefloor". Turner enxerga na frente.
A Radio One, da BBC, levou ao ar nesta semana uma apresentação do Arctic Monkeys em Manchester, em que o público gritava mais os refrões que o próprio Alex Turner. Ontem à noite, o grupo tinha show marcado no famoso Astoria, em Londres, lugar de banda grande tocar.
Em novembro agora, o Arctic Monkeys tem compromissos sonoros na Europa, de Paris a Berlim, e depois Canadá, e EUA, Costa Leste e Oeste.
Quem diria, lá vai o pequeno Alex Turner tão cedo levar sua mensagem "Não acredite no hype" mundo a fora.

Reprodução

O Arctic Monkeys acha que ela fica bem numa pista de dança


* Tática do poeta Alex Turner para fazer músicas cativantes: escolha um nome bombástico. Daí desenvolva o tema. E bote um rock nervoso em cima. Só para lembrar, o single limitado do Arctic Monkeys é "Fake Tales of San Francisco". O lado B desse single é "From the Ritz to the Bubble". O novo, "I Bet You Look Good on The Dancefloor", é o nome de música mais legal deste ano. Neste single tem ainda a inspiradora "Bigger Boys and Stolen Sweethearts" e "Chun Li's Spinning Bird Kick".

* Turner, que se mostra claramente inconformado com o sucesso de seu grupo de nenhum disco, iria pensar seriamente no Kurt Cobain se ele soubesse que já existe num país tão longe e nada a ver (para ele) como o Brasil um site caprichado dedicado ao Arctic Monkeys. É o www.inacabada.com/arcticmonkeys. Lá tem o clipe de "I Bet You Look Good on the Dancefloor", músicas, história da banda e tudo mais.




O DISCO DO ANO

A pequena gravadora independente Slag Records, paulistana, dá uma linda espetada no "ass" das grandes gravadoras ao lançar ela no Brasil o álbum mais recomendado, adorado e emotivo do mundo do rock, hoje. Chegou nesta última quinta-feira (hoje? Ontem?) o maravilhoso CD "Funeral", do grupo canadense Arcade Fire.
Para aqueles que não estiveram dentro da órbita do planeta rock no último ano, o Arcade Fire, que faz turnê no Brasil daqui a uns dias, dentro do Tim Festival, é a banda predileta do David Bowie, da Sheryl Crow, da Kate Moss, do Arctic Monkeys, minha e sua.
Você leu aqui, é a atração mais desejada do supersemestre de shows brasileiro, numa temporada que tem/teve Strokes, Weezer, Pearl Jam, Iggy Pop, Sonic Youth, entre outros.
Você vai ler aqui, é a banda que produziu o hino deste ano, segundo votação disputada dos leitores deste espaço. O Arcade Fire estimulou votos para DEZ músicas suas diferentes. Os Strokes tiveram 13 canções votadas, concorrendo ao "hino" dos shows no Brasil. O Pearl Jam teve 15. Só que o Pearl Jam tem quase dez discos lançados. Os Strokes, dois e umas músicas novas. E o Arcade Fire só um.
Arcade Fire é interessante para quem gosta de música independente americana, indie inglesa, new folk, som australiano, pop, ópera, teatro, Roxy Music, Belle & Sebastian, Radiohead e Jeff Buckley. "Funeral" é som de velório que transmite uma incrível sensação de felicidade, principalmente quando tocado ao vivo. Win Butler, 25 anos, é gênio. "Funeral" em edição nacional com a capa-arte respeitada. Culpe o Canadá. E culpe a Slag.




A MÚSICA MAIS DESEJADA

A pergunta da nova enquete era: "dos vários grupos legais que estão vindo ao Brasil para tocar, qual a música que você mais quer ouvir ao vivo? Qual você elegeria o 'hino' da temporada?"
De cara, toma o resultado, um top 10:

1º. "Rebellion (Lies)", Arcade Fire, 41 votos.
2° "Last Nite", Strokes, 38 votos
3° "Black", Pearl Jam, 26
4º "Reptilia", Strokes, 20
5° "Hard to Explain", Strokes, e "Alive", Pearl Jam, 17
6º "Wake Up", Arcade Fire, 16
7° "I Wanna Be Your Dog", Iggy Pop, 14
8° "Even Flow", Pearl Jam, 13
9° "Juicebox", Strokes, "Bucky Done Gun", M.I.A., 12
10° "Closer", Nine Inch Nails, "Teenage Riot", Sonic Youth, 10 votos

* No décimo lugar, entrariam mais músicas de Strokes, Arcade Fire e Pearl Jam. Optei por deixá-las fora. Na soma dos votos, os Strokes ganharam.
Repetindo, o Pearl Jam teve 15 canções votadas, os Strokes, 13, e o Arcade Fire, 10. O engraçado é que, em número absoluto de votos, acho que deu Strokes. Mas não contei.

* Da série "curiosidades", Kings of Convenience e Television tiveram três votos, cada um para uma música diferente. O ator, modelo e músico Vincent Gallo teve um voto, para "Lonely Boy". Tirando a tríade Strokes/Arcade Fire/Pearl Jam, o grupo nova-iorquino Sonic Youth foi o que teve mais músicas mencionadas




O ROQUEIRO DA BOLHA DE PLÁSTICO

Pode preparar seu bichinho de pelúcia, sua luva verde do Caco o Sapo, o sangue de mentira. Wayne Coyne afirmou à produção do festival Claro Que É Rock (26 e 27 de novembro) que o Flaming Lips vem com seu show inteiro, o que significa toda a bizarrice acima mais o telão engraçado, a chuva de confetes e ela, a enorme bolha de plástico em que Coyne entra e caminha sob o público.
Essa "extravagância ao vivo", no caso da bolha, começou no show do Coachella 2004 se eu não estou enganado. O show que este colunista teve a oportunidade de conferir e de ser "pisado" por Coyne.
A coisa toda é uma farra, mas traz um problema. Toda essa zona tocada por Coyne faz da apresentação, digamos, musical do Flaming Lips um show bem curto.
Se o Claro Que É Rock, diferentemente do Coachella no ano passado, não for muito rigoroso com o tempo de palco dos Lips, teremos mais que seis músicas no show.

* A idéia de convidar os Lábios Flamejantes de Oklahoma nasceu por sugestão de Brian Molko, o vocalista do Placebo. Numa conversa entre a galera da banda inglesa e a produção do festival brasileiro, em abril, Molko sugeriu o Flaming Lips para o line up do festival de novembro o tratando como "o melhor show que já vi na vida", falou o dono do Placebo. "É como ir numa festa de aniversário de criança viajando de ácido!"




STROKES SÓ VIVE UMA VEZ

Vazou a segunda música do álbum "First Impressions of Earth", o terceiro CD dos Strokes, que será lançado só no começo do ano que vem. Já corre veloz na rede de computadores a ótima "You Only Live Once". Ótima porque lembra muito Strokes, daquelas com a guitarrinha viajando no fundo e o vocal de Julian Casablancas sendo expelido direto do coração. Lembra mais coisas, até. Se "Juicebox", o single já vazado, parece ter a introdução do tema do Batman, "You Only Live One", quando começa a ser tocada, dá a impressão de que o que vem é "I Want to Break Free", do Queen. Que ótimo.
* Se nada deu errado enquanto você lê estas linhas, na semana que vem eu trago novas dos Strokes direto de Nova York.




MAIS

Então. Não rolou a continuação. Vou botar o que eu tinha de botar na próxima quinta-feira, desta semana. O não-anúncio de prêmios desta vez me dá fôlego para o correio e para a minha caixa postal. Está tudo fora da ordem. A gente se fala. Agora engole esse ódio. Acontece. Stay cool.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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