Pensata

Lúcio Ribeiro

28/10/2005

Annie

"Three sixty five
seven fifty
you are all I need
you are all in me"
Giant Drag, em "Kevin Is Gay"

"Whether we're drunk or stoned
or we're sober and old
If I'm with you I'm a happy man"
Strokes, em "Hawaii-Aloha"

"Hoje eu vou ficar ouvindo música
Hoje eu vou ficar dançando
Hoje eu vou ficar aqui na minha
Eu vou ficar sozinha"
Cansei de Ser Sexy, em "Acho um Pouco Bom"


Acabou?

* Esta coluna acompanhou de perto a turnê dos Strokes pelo Brasil. Desde um certo e-mail em junho deste ano até às seis da manhã de quarta-feira passada, em um bar em Porto Alegre. Alguma hora dessas o material que rolou desse registro vai vir à tona.

* Você não achou sensacional o show do Kings of Leon em São Paulo?

* O Tim Festival foi sensacional do começo ao fim. Do Rio a Porto Alegre. Muitos shows maravilhosos, outros nem tanto. Os únicos senões foram bem nas apresentações de Rio e São Paulo do Arcade Fire, o atual melhor show de rock da Terra. Que aqui no Brasil foi "só" um excelente concerto. Pouco para o que a banda é capaz. Tudo por causa daquele som de televisão que saía das caixas, principalmente aqui em SP. E até o som forte do show dos Strokes foi um fiasco para quem não estava com o ingresso VIP em São Paulo.

* Você já tem os MP3 de "Strokes Live in Rio", não?

* Até que em fim saiu o delicioso disco do Cansei de Ser Sexy. Agora muitas pessoas que odeiam a banda vão poder falar mal dela conhecendo ela.

* Mas e então? Cansou da maratona? Calma, que em novembro tem mais. Vai ter Nine Inch Nails, Flaming Lips, Iggy Pop e Sonic Youth. E vão ter os shows do Pearl Jam. E vai ter a histórica banda americana MUDHONEY, também de Seattle, abrindo todos as apresentações do grupo de Eddie Vedder no Brasil. Eu sei, não é fácil...




O NOME DELA É ANNIE

Faço minhas as palavras da "Rolling Stone". Às vezes você escuta uma banda nova tão bacana que na hora você deseja muito poder ser o novo melhor amigo da pessoa que canta. No caso, a banda californiana Giant Drag. NO CASO, a vocalista e guitarrista Annie Hardy.

Annie é a metade da banda que é uma dupla, coisa em voga no rock atual. Giant Drag é novo exemplar dessa safra de deliciosas bandas de dois que reúnem nomes como White Stripes, Death from Above 1979, The kills e Dresden Dolls. Seu parceiro é o baterista-tecladista Micah Calabrese (ótimo nome).

Talvez o Giant Drag seja um sinal de que, depois do domínio dos anos 80 no rock atual, seja a vez agora dos 90. A voz de Annie é linda como eram lindas as vozes das cantoras das bandas femininas americanas da década passada. O som é algo entre grunge e My Bloody Valentine. Inclusive, as melhores definições que ouvi do Giant Drag, sem contar "Rock Lolita", é "My Bloody Valentine com Kim Deal (Pixies) no vocal" e "Mazzy Star para pervertidos".

Dá para ouvir todas as músicas do CD de estréia do Giant Drag no site oficial da dupla. Dá para ver os dois clipes. Ou seja: dá para ver e ouvir a Annie. Pena que não dá para conferir a matadora cover de "Wicked Game", de Chris Isaak, que ela costuma cantar em shows e ainda não apareceu na internet, por mais que eu olhe lá todos os dias.

Sobre os nomes das músicas que a Annie canta docemente: "Kevin Is Gay", "You're Full of Shit (Check Out My Sweet Riffs)", "My Dick Sux" e "YFLMD" (you f*ck like my dad). Tudo bem não traduzir, né? Sobre os discursos de Annie em shows, acredite: você ainda vai ouvir falar.
Mais uma história sobre a cover de "Wicked Game": nos shows, antes de cantá-la, Annie tenta convencer o público de que, na verdade, a música é dela e Chris Isaak a roubou quando os dois eram namorados (ela tinha 8 anos na época).

Divulgação

Leitor, esta é a Annie. Annie, este é o leitor


* O amigo Marco Lockmann, de Londres, fez muito mais do que me mandar um single do Giant Drag autografado. Ele mandou um relato do show da banda americana semana passada em Londres. Lê aí.

"Giant Drag é o duo boy-girl de LA. Com um EP ("Lemona") e dois singles absolutamente brilhantes ("This Isn't It" e "Kevin Is Gay") e talvez o melhor álbum de estréia deste ano ("Heart and Unicorns") a dupla tem deixado louca a imprensa musical americana e inglesa "Nouveau Grunge" e "Mazzy Star for Perverts" têm sido as comparações mais frequentes ...

No palco do minúsculo Barfly, em Camden (este é um dos primeiros shows deles na Inglaterra), Annie e Micah estão absolutamente à vontade -- enquanto ele toca bateria com a mão direita e teclado com a esquerda (!!!), Annie no palco parece uma versão "Lolita" de Chan Marshal (Catpower) sem a timidez de Chan e criando o guitar-chaos de J.Mascis (Dinosaur Jr.)... Abrem o show com "YFLMF" ("You Fuck Like My Father").

As letras são sempre politicamente incorretíssimas, onde Annie invariavelmente destrói todos os seus ex-namorados(as) num estilo PJ Harvey, mas substituindo o tom amargo por ironia.

O show segue com o arrebenta-quarteirão "My Dick Sux" (!!!??) e "Swan Song", lado B do novo single, "Kevin Is Gay", onde sobre um oceano de
microfonia ela lembra o Sonic Youth de "Beauty Lies in
the Eyes" ou o My Bloody Valentine de "Sometimes". Em Londres todo mundo que viu o show ficou querendo ser bem mais que que o "new best
friend" da vocalista...




STR...

Para encerrar o assunto Strokes, um pequeno relato de Porto Alegre. Os shows do grupo nova-iorquino e da apaixonante banda canadense Arcade Fire, na terça-feira, não foram piores nem melhores que os de Rio e São Paulo. A não ser pelos finais, diferentes.

No do Arcade Fire, quando a última música "Rebellion (Lies)" estava acabando, um dos integrantes subiu com um bumbo numa das altas armações laterais do galpão onde ocorria o show. E ficou tocando de lá, por cima do público, bem longe do palco. Até que uns meninos da platéia subiram também e ficaram dançando com o canadense lá em cima do estreito corredor que ligava os pilares de sustentação do galpão. Enquanto o músico não descia, o resto do Arcade Fire ficou segurando a música só nos "Uhhhhhhhs" e "Ohhhhhhhs", para que ela não acabasse enquanto o cara não tivesse fora do palco.

Já os Strokes terminaram a apresentação com "Reptilia", a grande explosão popular da noite, mais que "Last Nite". Julian saiu tonto, com a mão na garganta. Fabrizio quase caiu ao descer da bateria. Nick destruiu sua segunda guitarra. Albert desceu à platéia e entregou a sua guitarra para o público, que a destruiu em segundos. Foi assim lá.




DIG

Sete anos de produção, 1500 horas de filmagens e um grande prêmio do júri de Sundance depois, chegou ao Brasil, via Mostra de Cinema, o documentário "Dig" (2003), que tem sua terceira exibição no festival neste sábado, às 19h30, no Cine Bombril. Nesta temporada de shows de rock no Brasil, "Dig" pode ser considerado mais uma grande atração.

O filme traça a trajetória na cena pop de dois bons amigos (e depois amargos rivais), Anton Newcombe e Courtney Taylor, músicos iniciantes, talentosos e de gênios diferentes. "Dig" mostra, no paralelo, e tendo o mesmo ponto de partida, o nascer e a ascensão da banda Dandy Warhols, de Taylor, e o nascer e a desgraça do Brian Jonestown Massacre, de Newcombe.

Como em vários cenários musicais jovens de diversas épocas e diversas cidades do planeta, o Brian Jonewstown Massacre e o Dandy Warhols iniciam a carreira em clubecos sujos de Portland, Oregon, com a mesma sensação e o mesmo propósito: "Sinto que há uma revolução acontecendo. Vamos dominar o mundo com nossa música". Sensação e propósito que também podem ser traduzidos como "detonar todas as drogas" e "sair todas as noites".

A diretora Ondi Timoner, amiga de Taylor e Newcombe, acompanha os dois músicos através de shows e gravações, altos e baixos, amores e obsessões, prisões e ameaças de morte, tudo em seu limite. Sempre tendo como pano de fundo a indústria da música no geral e a cena independente em particular.

A câmera de Timoner é mais focada em Newcombe, um pouco porque ele é mais talentoso que Taylor, mas principalmente porque o sujeito é bem mais explosivo, furioso, "incompreendido". Newcombe é o próprio rock star, mesmo que ninguém de fora do circuito indie de Portland saiba disso.

Enquanto Newcombe trata seus companheiros de banda como imbecis e quase não conseguem terminar um só show sem o pau quebrar, mesmo que esse show seja para mostra a banda para jornalistas e selos, Taylor segue na paz com seus amigos de Dandy Warhols, e parte para assinar o primeiro contrato e gravar o primeiro CD.

Claro, "Dig" não quer passar a mensagem de que um comportamento "família" é meio caminho para o sucesso de uma banda de rock, e que a autodestruição não está com nada. Mas é interessante ver, através do olho de sete anos de Timoner, como o acaso e os meandros da indústria da música podem levar duas bandas pequenas que faziam shows conjuntos em bares quaisquer de cidade qualquer à seguinte cena, lá para a parte final do filme: na mesma época em que o Dandy Warhols chega a tocar no palco principal do britânico Reading Festival, talvez a principal reunião de bandas do mundo, com uma multidão cantando a uma só voz seu principal hit, o documentário flagra mais uma explosão de raiva de Newcombe com seus companheiros de Brian Jonestown Massacre, chegando de um show em um boteco americano vazio qualquer, abrindo a porta da van e jogando todos os instrumentos do grupo na rua.

A ironia da história toda é que, hoje, com "Dig" lançado nos cinemas, o Dandy Warhols amarga as piores críticas ao seu quinto álbum, recém-lançado. E o Brian Jonestown Massacre, que só seus integrantes sabiam que a banda não tinha acabado, encerrou turnê lotada nos EUA e agora vai tocar na Ásia e na Europa. Graças a 'Dig".

* Dentro da linha "filmes para ouvir", a Mostra exibe nesta sexta às 16h10, na Sala UOL de Cinema, a excelente produção anglo-holandesa "Festival Express" (2003), o documentário perdido do rock que também é conhecido como o Woodstock sobre Trilhos, em relação ao festival da era hippie que marcou a música pop no final dos anos 60.

Estrelando Janis Joplin, The Grateful Dead, Buddy Guy, The Band e Flying Burrito Brothers, "Festival Express" mostra uma pouco lembrada excursão de astros da hora pelo Canadá por cinco dias no verão de 1970. Não só a música acontecia em festivais nas três cidades em que o trem parou durante o dia, como o documentário mostra que o som bombava à noite dentro da locomotiva, onde os músicos se reuniam no vagão-restaurante para beber, tocar e fazer festa, mesmo que na época muitos dos músicos não tinham idade para a bebida.

"Festival Express" tem seu charme não só por ser uma impressionante janela de uma época bem particular da história da música e do comportamento jovem. Também porque o festival foi financeiramente um desastre (os hippies faziam motim e pregavam entrada grátis para os shows) e a idéia da filmagem foi tão tumultuada que as gravações ficaram perdidas por 30 anos.

O momento alto do filme, entre alguns outros, é o de Janis Joplin cantando e discursando sobre o homem de sua vida durante a canção "Cry Baby". A turnê de "Festival Express" aconteceu poucos meses antes de sua morte.

* Também dentro da programação sonora da Mostra, o filme americano "Ponha a Agulha sobre o Registro" (2004), que passa segunda-feira às 19h no Cineclube Vitrine 3, põe a agulha sobre o registro da música eletrônica. Filmado numa conferência sobre o estilo em Miami, traz mais de 40 entrevistas sobre o fenômeno da figura do DJ como ídolo popular e é recheado por cena de bastidores de clubes e discotecagens. Nomes como Mark Farina, Josh Wink, Danny Tenaglia e Paul Oakenfold participam do filme.

* Confira o site da Mostra para saber mais dias e horários sobre os filmes.




GARAGEM NOVO

Talvez você não saiba, mas o fim da rádio Brasil 2000 está sendo desenhado. A coisa ferve ainda dentro das entranhas da emissora, mas esta coluna apurou que a rádio vai mudar totalmente seu rumo e virar algo como "Esporte 24 Horas", com a assinatura da Band. O veículo rock havia muito já não andava entusiasmando com sua programação, até que, umas semanas atrás, abriu mão do programa Garagem, um dos principais canais de música nova da história recente do rádio brasileiro. O Garagem, agora, vai ser exibido na internet, via UOL. Exibido é a palavra, porque agora o programa dos chapas André Barcinski, Paulo César Martin e Álvaro Pereira Júnior vai ter som e imagem. Barcinski conta o que aconteceu e o que vai acontecer com o Garagem, agora.

* Sobre a saída da Brasil 2000

"Há cerca de um mês, o diretor da rádio, Antonio Carvalho, e um dos programadores, Osmar Santos Jr., nos chamaram para uma reunião para avisar que o Garagem "não cabia" mais na grade de programação da Brasil 2000. Eu achei estranho, já que nossa audiência sempre foi grande e nossos ouvintes, muito fiéis. Mas nós já estávamos detectando problemas na emissora há um tempo, e já tínhamos acertado com o UOL nossa mudança para lá. O Garagem estréia no UOL segunda, 7 de novembro, às 21h.

Acabamos saindo na hora certa porque, logo depois, foi anunciado que um grande grupo (fala-se no grupo Band) havia comprado a emissora, e a Brasil 2000, como nós a conhecíamos, acabou. Parece que vai virar uma rádio de esportes. Eu acho inaceitável que uma cidade do tamanho de São Paulo fique sem nenhuma rádio de sons mais alternativos. É a vitória do jabá, infelizmente."

* Sobre o programa no UOL

"Estamos muito contentes. Nossa audiência no UOL vai crescer muito. Os números não mentem: a Brasil 2000 era uma rádio restrita a São Paulo, com uma antena fraca, e que estava nas últimas colocações no Ibope (entre 27º e 30º lugares), com uma média de cerca de 8 mil ouvintes. Agora, vamos transmitir o Garagem pela Internet, ou seja, qualquer um, em qualquer lugar do mundo, poderá ter acesso ao programa, e o que é melhor, a qualquer hora do dia, já que o Garagem estará disponibilizado. Quem perder o programa ao vivo, pode ouvi-lo depois, quando quiser."

* As mudanças no programa

O Garagem vai se tornar um híbrido de programa de TV e rádio. O UOL montou um estúdio muito legal, com três câmeras, de onde vamos transmitir o Garagem ao vivo, pela TV UOL. O bacana disso é que poderemos exibir DVDs, e não apenas tocar discos. Quem tiver acesso ao UOL (1,4 milhão de assinantes), poderá assistir ao programa. Quem não for assinante do UOL terá acesso ao áudio do programa, ou seja, vai poder ouvi-lo como um programa de rádio, como ele sempre foi.
Temos certeza de que isso vai ampliar muito nosso público, que não ficará mais restrito a São Paulo. É um novo começo para o Garagem. Dia 12 faremos uma festa para celebrar a estréia do programa no UOL, no Lugar 166 (rua Helena, 166, Vila Olímpia)."




PEARL JAM

Parece que os ingressos para os shows no Brasil da banda Pearl Jam, agora muito bem acrescidos da presença do Mudhoney, não devem durar muito, apesar da farta quantidade. Depoimentos das filas nas lojas Fnac e no Pacaembu dão conta de que a coisa está absurda. Algumas frases de fila:

* Conversa homem+mulher:
H - "Que fila é essa?"
M - "Devem estar dando algo de graça"

* "A fila na Fnac Pinheiros está impressionante, nunca vi uma coisa assim"

* "Meu primo não comprou hoje, vai se ferrar. Hoje acaba, certeza"

* "Você não comprou ainda? Compra hoje, vai acabar"

* "Ontem (quarta), com chuva, tava uma fila gigante na Fnac da Paulista. Parece que está o dobro hoje (quinta). Vou correr e comprar hoje, senão acaba."




PREMIAÇÃO DA SEMANA

O que temos para a semana é o seguinte: lá e cá, os dois dos melhores discos do ano. Só isso.

Franz Ferdinand, "You Could Have It So Much Better", edição nacional com DVD
Cansei de Ser Sexy, "Cansei de Ser Sexy"

3 ingressos para a festa de aniversário de 3 anos da Funhouse, no clube Blue Space, na Barra Funda. É sexta próxima, dia 4. Shows das bandas Forgotten Boys, Grenade e a nova Haxinxins. Discotecagens dos DJs da casa e convidados, tipo este colunista. Vamos lá?




VENCEDORES DA SEMANA

* Um kit Sum Records, com um CD da M.I.A. e outro do Dizzee Rascal, atrações bambas do Tim Festival.
Julia Freire Santos
São Paulo, SP


* Um DVD Iggy Pop Live San Fran 1981.
Roger Macca
Porto Alegre, RS


* Uma blusa lindona azul e verde do Coldplay, tamanho L. Eu sei, tá calor, mas...
Flávia Faccini
São Paulo, SP


PS: ei, Flávia. Não vou mandar a blusa pelo correio. Entra em contato para combinarmos a entrega.

* O transcedental CD "Funeral", do Arcade Fire, a banda mais adorada do planeta.
Márcio Parada
Rio de Janeiro, RJ


* Um CD importado e especial do Maximo Park, o ótimo "A Certain Trigger", com um CD bônus recheado de faixas ao vivo de um show no Japão.
Talita Menezes
Santos, SP


* Um CD importado do novíssimo Clap Your Hands Say Yeah, deliciosa banda de Nova York.
Maurício A. Pegorinni
São Paulo, SP





NO POPICES

Esta semana, vou falar: cansei.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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