Pensata

Lúcio Ribeiro

04/11/2005

Indie disco

"The point is that
There ain't no romance around there
And there's the truth that they can't see
They'd probably like to throw a punch at me"
Arctic Monkeys, em "A Certain Romance"

"My brain is f***** up
but that's the way I like it
that's the way I like it"
Audio Bullys, em "My Brain's F****d Up"

"Why is that we stand so still?
People gonna start thinking we're statues"
Cansei de Ser Sexy, em "Off the Hook"

"Entrei no seu site ontem
Como você me comove
Eu sei que aquelas canções
Você armazenou num iPod"
Noêmia Duque, em "Entrei no Seu Site Ontem"


Alô.

Ó só. Desculpa o mau jeito. Não estou podendo, então a coluna vai sair rapidinho. Isso significa que ela só vai ter uns dois quilômetros de texto, não os usuais 25. Botei até uma epígrafe para "encorpar" mais o espaço. Mandracaria, você sabe, é comigo mesmo.

* O mundo é um lugar mais feliz, percebeu? É que saiu na Inglaterra o CD "Generation", o disco novo do Audio Bullys. E a coisa ainda vai ser mais linda, porque o disco chega às lojas brasileiras na semana que vem, via EMI.

* Dá uma boa lida na epígrafe do CSS aí em cima. Então, vou falar um negócio já já.

* Vem aí, algum dia, "200 Horas com os Strokes", bastidores de uma turnê. Tem umas coisas que não ainda não foram contadas.

* A banda certa com a cover certa. O Franz Ferdinand vai botar sua versão de "Sexy Boy", sensacional canção dos franceses do Air, no "lado B" do próximo single, "Walk Away", que chega às lojas inglesas dia 5 de dezembro.

* Duran Duran no Brasil. Nos ares do Brasil. A histórica banda dos anos 80 passa pelo espaço aéreo brasileiro, mas só aterrissa em Buenos Aires, onde toca nos dias 2 e 3 de dezembro. Parece que o Chile também vai ter show do grupo inglês. Aqui, nada consta. Não que seja um concerto de outro mundo, mas por que não? Temos que aproveitar a maré. Se o Devendra Banhart acaba show dele na Califórnia com cover do Caetano e a dupla Roxette grava em disco "Alfabeto do Negão".

* Até que fim o Oasis fez um clipe bom. Se não bom, pelo menos não horrível. Eles pegaram trechos do show lotadaço da banda em Glasgow, na Escócia, aqueles momentos insanos de fãs pulando por causa do grupo e botaram tudo em câmera lenta, para combinar com a música do vídeo, a baladosa "Let There Be Love". Ficou classe.

* A promoção da semana já rola aqui em cima. Com uma antecipação razoável, a coluna dispõe para sorteio de dois pares de ingressos para o festival Claro Que É Rock, a próxima imperdível maratona de bandas boas que acontece no fim do mês no Rio de Janeiro e em São Paulo. O esquema, básico, é mandar email para lucio@uol.com.br, para concorrer à chance de ver (acompanhado) as apresentações de Iggy Pop, Flaming Lips, Sonic Youth, NIN etc. Mais: a promoção inclui ainda o disquinho mais falado e pelo menos um dos mais representativos na nova ordem musical nos últimos tempos. É o "I Bet That You Look Good on the Dance Floor", do incrível Arctic Monkeys. Desse single, eu falo mais já, já.




EU AMO MP3

Toda semana tem um assunto novo sobre a revolução musical na era digital. Aí na semana seguinte o tal assunto novo fica velho, porque um outro mais novo apareceu.

Embarca aí, que eu vou contar a última das novidades, que já deve ser notícia com validade vencida quando você alcançar minha foto manjada lá embaixo.

"MP3? Eu amo MP3! É com ele que eu posso encher meu iPod de músicas legais", é o que acha o baterista do Arctic Monkeys, a banda-sensação da Inglaterra.

MP3 é a música comprimida em arquivo, inventada por cientistas alemães em 1997. O Arctic Monkeys é grupo de quatro moleques amigos de escola de Sheffield, Inglaterra, que vem provocando programas de rádio e artigos de jornais na Europa, por causa desse negócio de MP3, internet e essas coisas que devem dar um nó na cabeça dos caras do Metallica, que já mandou prender o inventor do Napster sem saber que estavam dando um tiro no próprio pé.

Acompanha o que está acontecendo na nova música. Há dois anos, o Arctic Monkeys, já destaque neste espaço, gravou suas demos no quarto de um de seus integrantes. Postaram as músicas em MP3 na internet, que eram o que dava para fazer. Criaram forum de discussão, entraram no My Space, uma espécie de Orkut para quem gosta de música.

Viraram o show mais disputado do Reino Unido, superlotados, com gente cantando todas as músicas, mesmo com o detalhe que nenhuma canção do Arctic Monkeys tinha sido oficialmente lançada. Banda de internet, enfim.
Aí no começo de outubro, o primeiro single oficial deles foi lançado. E virou o disco físico mais vendido da semana, a música mais comprada em loja na Inglaterra, o número 1 da parada.

Aí as grandes gravadoras se perguntam. O supergrupo Coldplay gravou seu protegido (em vão) terceiro álbum pagando semanalmente cerca de R$ 200 mil de aluguel de estúdio e não conseguiu atingir a performance de uma bandeca desconhecida que trouxe o disco pronto de casa e se fez à custa da cultura de MP3 e de conversas com fãs na internet?

* Enquanto isso, no Brasil, uma gravadora independente e virtual (lógico), a Peligro, importa o tal single-bomba do Arctic Monkeys e passa a vender HOJE para todo o país, a precinho camarada estimado de R$ 12. Isso no mesmo período em que o Cansei de Ser Sexy, banda que se fez na internet, lança seu primeiro disco dando de bônus um CD virgem, para ser devidamente "queimado" com suas músicas e distribuído a amigos.

* Ainda enquanto isso, no site da Trama Virtual, depósito de músicas novas de bandas novas sem nenhum vínculo com grande gravadora, virou hit uma música chamada "Entrei no Seu Site Ontem", de uma cantora baiana independente que até outro dia botava voz no Olodum, e que agora vem com uma música romântica cuja letra fala de iPod, o aparelhinho "mágico" da Apple que virou instrumento oficial da revolução do MP3.

* De novo na Inglaterra, outra banda pequena que em show arregimenta uma multidão entusiasmada de fãs (criada na internet) lançou nesta semana um single que deve vender bem. É o Rakes e o single é o "22 Grand Job". No "lado B", eles "dão" a música "iProblem", excelente rock de garagem com levada dance que conta a historinha de um cara ligando para o serviço de atendimento da loja onde ele comprou o iPod dele. Para reclamar de um problema com a bateria do aparelho, que não segura a carga prometida na caixa. Assim, diz ele na música, não está dando para ouvir Babyshambles, Bloc Party, Futureheads, todos grupos da nova geração britânica que viraram "mega" graças à internet.

* Coisas que dá para saber: em 2004, cerca de 6 milhões de músicas "sofreram" download no mundo todo. Agora em 2005, até setembro último, esse número já chegava a 7 milhões.

Coisas que não dá para saber: onde isso vai parar e quais serão as dimensões do impacto desta revolução musical, que ainda está em pleno curso. Estamos aqui para ver o que acontece.




INDIE DISCO


* Por que você está tão paradão, paradona. As pessoas vão pensar que você é uma estátua. Essa é a mensagem de "Off the Hook".

* Talvez por causa da excelente onda nova de bandas inglesas, da confirmação do Franz Ferdinand como o novo U2, do ótimo disco dos Strokes que vem por aí, dos incríveis 200 shows bons no Brasil em tão pouco tempo, de toda essa história acima de MP3, tudo está conspirando para que a ferveção do rock em pistas de dança volte aos níveis de 2001, 2002. Lá fora e aqui.

Jornais ingleses, revistas francesas e uma nova seção semanal do "New Musical Express" evidenciam essa história de indie disco, seja com festas novas, festas de bandas e festas já tradicionais, como a Trash, do clube The End (Londres), que nunca perdeu o charme e o porteiro indie da frente nunca perdeu a mania de aterrorizar a galera na fila de entrada. Na pista, de rock tosco estilo Rakes até remixes dance amigos das guitarras.

O "NME" traz agora, semanalmente, o calendário de festas rock do período e sempre destaca a balada da semana, seja em um clube de Leeds, seja em um pub de Liverpool, que rola som de discman.

Pelo que eu vejo em discotecagens pelo Brasil, festas rock bombam de Norte a Sul.

A Popload Brazil Tour 2005, que sempre foi encarada como uma zoeira rock, ouve reclamações de amigos de bandas. A discotecagem viaja mais e tem uma programação mais constante que a dos grupos deles.
Só nos próximos meses, a Popload encara residência quinzenal na nova festa rock do ultracool clube multiestilo Vegas, de São Paulo, começando na próxima quinta e indo até o Natal.

Na próxima sexta, 11, estréia a festa Popload, mensal, no novíssimo clubinho garagem Killer Cat (Consolação 2620, quase na Paulista), a pista mais alta de SP (até que enfim). Festa com DJs convidados e futuras bossas.

Hoje, sexta, 4, este colunista toca na megafesta da tradicional Funhouse, migrada para as dependências do enorme Blue Space (Barra Funda) para absorver um público 10 vezes maior do que cabe no seu espaço, no sobrado da Bela Cintra.

São Paulo fora, a Popload Tour tem agendada festas de rock até janeiro. No dia 25 agora toca numa superfesta em Franca, que terá como atração a banda "inglesa" Wry, entre outras. Dia 10 de dezembro, a balada é em Belém, no Norte do país. No final de semana seguinte, a parada é no Nordeste, em discotecagem dupla. Dia 16 em Recife, dia 17 em Fortaleza. No dia 6 de janeiro, o som acontece em Curitiba, no reformado bar do badalado James, um dos muitos redutos de rock da capital do Paraná.

* Por que você está tão paradão, paradona. As pessoas vão pensar que você é uma estátua.




SHOWS LÁ

O amigo e sempre colaborador desta coluna Paulo Terron está dando um rolê em terras californianas, e tem coisas bem boas para contar do que viu até agora. E o que ele viu foi assim:

* Foo Fighters em Oakland foi f*+%. Comecou com o Hot Hot Heat, meio decepcionante. Os caras tocaram para pouca gente e pareciam uma Bidê ou Balde sem gás. Mas tudo bem, nao chegou a ser entediante nem nada. O Weezer fez um lance bem parecido com o de Curitiba, que todo mundo estava falando que tinha sido exclusivo para a cidade. Foi um set de hits, o Rivers tocou "Island in the Sun" no meio da galera... As diferencas que contaram: o palco completo, com um peixe japonês que servia de base para a bateria, um fundo de luzes imitando um céu estrelado e o W gigante que aparece na última música.

Detalhe: na hora de chamar alguém para tocar violão em "Undone", puxaram um carinha de capuz que se apresentou como Billy Bob. A música começou e o moço nem segurava o instrumento direito. De repente ele joga o capuz para trás e a galera delira: Dave Grohl. Como era o último show da turnê conjunta, o ex-Nirvana ainda colocou --de surpresa-- seis strippers para dançar na última canção do Weezer. Strippers homens... Ah, e ainda teve "Song #2", tipo show da Avril Lavigne. Aí parecia que ia ser difícil superar o show do Weezer. Mas o FF é o FF. O palco dos caras tinha telões que se moviam (uns 5 ou 6!) e uma pilha de amplificadores vintage como decoração. O som era perfeito e tão alto que fazia o crânio vibrar por dentro. A banda não alivou e mandou um set pesado, com músicas do CD novo - "DOA", "In your Honor", "Best of You" - e uma seleção perfeita de material antigo. "Stacked Actors" parecia uma apresentação do Led Zeppelin. Tanto que o Grohl desceu do palco e foi correndo, no meio da galera, até o fundo da arena. De lá ele começou um duelo de guitarra com o Chris Shiflett que durou vários minutos. Dave Grohl chegou a dizer que o Taylor Hawkins era o melhor baterista no mundo, mas quando o cara assumiu o vocal em "Cold Day in the Sun" e o Grohl assumiu as baquetas, deu para ver claramente quem era mesmo o melhor baterista do mundo. Timpanos foram danificados naquela noite.

* O Devendra Banhart foi outra história. Lugarzinho pequeno, lotado. O cara tem uma banda fo#$na - baixo, bateria e guitarra (Andy Cabic, companheiro do Devendra no Vetiver), a Hairy Fairy - que pega pesado quando quer. A verdade é a seguinte: Devendra é o Caetano Veloso. Não o Caetano chato que a gente conhece, mas o Caetano que a gente queria que existisse. É impressionante, mas o cara tem trejeitos que lembram bastante o brasileiro - o jeito de cantar, os movimentos de mão... Para confirmar isso tudo, rolou ate uma cover de Cae no final: "Nine Out of Ten" (de "Transa", 1972).




AOS VENCEDORES

...As batatas. Na semana que vem tem a lista. Tô indo aí.


Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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