Pensata

Lúcio Ribeiro

11/11/2005

Espíritos "assombram" o pop

"It was me on that road
But you couldn't see me
And then flashlights and explosions
and flashlights and explosions"
Royksopp, em "What Else Is There"

"Why don't you walk away?
No buildings will fall down
Don't you walk away
No quake will split the ground"
Franz Ferdinand, em "Walk Away"

"Oh, you're so clever,
But you're not very nice
So fuck forever
If you don't mind"
Babyshambles, em "Fuck Forever"


Oi!

Um pedido simples. Pelo amor de Deus, alguém já achou "Sexy Boy", do Air, na cover do Franz Ferdinand?

* É engraçado ver que virou questão nacional saber como foi parar na mão do presidente um filme pirata. O filho do Lula tem uma empresa de informática. Vivemos na era iPod. Computador hoje é eletrodoméstico. Em que século essas pessoas vivem?

* I see dead pop people.

* Agora esquentou. Conforme esta coluna revelou em agosto, a banda irlandesa U2 já está com datas arranjadas para tocar no Brasil em 2006. Reportagem da Folha Online desta semana já até cravou as datas: 21 e 22 de fevereiro, um em SP, outro no Rio. Só que a Argentina dá como certos dois shows em março, dias 1 e 2 , então as datas podem mudar. Mais: a nova passagem da banda de Bono pelo Brasil deve ainda ter um terceiro show, de graça, na praia, com o ministro-cantor Gilberto Gil de convidado especial. Na apresentação da banda em San Francisco, na última quarta-feira, nos bastidores, amigo desta coluna viu o argentino Daniel Grinbank, empresário de shows responsável pela maioria das grandes turnês na América do Sul. Grinbank está nos EUA alinhavando as datas da tour do U2 por aqui. O amigo viu ainda mais duas coisas no show do U2 em San Fran. A atriz Winona Ryder bem alegre e a produção da banda do U2 bem zangada, com o roubo de dois computadores. Hum...

* Em 2006 o absurdo de shows no Brasil vai continuar: Stones, Franz Ferdinand, Coldplay e, para quem gosta, Santana (4 shows em março). Você quer as datas do Oasis?

09/03 - Santiago (Chile) - Estádio San Carlos Apoquindo
11/03 - Buenos Aires (Argentina) - Estádio Obras
12/03 - Buenos Aires (Argentina) - Estádio Obras
18/03 - São Paulo (Brasil) - Estádio do Pacaembu
19/03 - Rio de Janeiro (Brasil) - Apoteose

26/03 - Cidade do México (México) - Estádio Foro Sol

É o que dizem.

* Sobre o Franz Ferdinand, já "prometido" para 2006, vem a história mais bizarra. Eles vêm ao Brasil JUNTO com o U2, para abrir as apresentações do grupo do Bono. Aí a coisa vai ficar bem bizarra. O Franz Ferdinand, consultando seus compromissos de shows, têm as datas bem vagas...

* E tem a história de que o Pearl Jam JÁ se encontra no Brasil. Alguém viu o Eddie Vedder por aí?




ESPÍRITOS

De novo, I see dead pop people.

Talvez assombrado pelos três seriados novos "do outro mundo" que acabaram de estrear na TV paga brasileira, comecei a ver umas coisas do além.

* Tipo o fantasma do delinquente Beavis e de seu parceiro torpe Butt-Head. Foi lançada anteontem nos EUA a fantástica caixa de DVDs "Beavis & Butt-Head - The Mike Judge Collection", com três discos com cenas inéditas e 40 episódios escolhidos a dedos pelo criador do desenho da MTV que, no mínimo, foi retrato da geração dos 90.

Símbolos da "cultura da ironia" que marcou o pop americano na década passada, tanto quanto o hino em que Beck cantava "I'm Loser, Baby" e o tiro nos próprios miolos dado por Kurt Cobain, Beavis e Butt-Head foram assassinados em novembro de 1997 pela MTV de lá com o último episódio "Beavis e Butt-Head Estão Mortos". Lembro de ter escrito um choroso obituário no caderno Ilustrada, da Folha. Como diz a propaganda da caixa, em inglês para fazer mais sentido, "This collection doesn't suck".

* Se alguém um dia viesse com a verdade de que Thom Yorke, o vocalista do assombroso Radiohead, fosse um morto-vivo, ninguém iria se espantar. Pois uma espiada no site oficial da (talvez) banda mais querida do mundo você encontra divagações de Yorke e fotos do estúdio onde está sendo gravado agora o sétimo e desesperadamente aguardado álbum do Radiohead. Yorke e amigos fazem menções às músicas novas e passeios solitários na floresta. Depois de um post sobre uma tal música suave, o vocalista estranho do Radiohead bota um "ps": "Sim, este estúdio é mal-assombrado. Sinto como se estivesse sendo observado. Ou seja, mais um dia normal no mundo do Radiohead".

* Sobre os seriados, pessoas mortas e pessoas que vêem e conversam com pessoas mortas, os primeiros episódios de "Ghost Whisperer" (Jennifer Love-Hewitt, Sony), "Medium" (Patricia Arquette, Sony) e "Supernatural" (Warner) não decepcionaram. A famosa crítica da "Rolling Stone", pelo menos no que se viu no primeiro episódio, era "um pouco" exagerada. Lembra qual? "Eu pensei que, se eu fumasse crack, pudesse aliviar o trauma de ver essa série, mas eu não tinha crack, então eu toquei fogo no meu próprio corpo e inalei a fumaça. Paz. Alívio. Hewitt não pode me machucar agora." "Supernatural", hoje, funciona melhor: mistura teens lindos e descolados, rock bacana, poltergeist e "Sexto Sentido".

* Duke Spirit é o nome de um quinteto de Londres, bom representante do novo rock inglês e liderado por uma loira chamada Leila Moss (nenhum parentesco), que dizem ser o fantasma da Nico (Velvet Underground) possuindo o corpo da PJ Harvey. Quem "dizem" na verdade foi um amigo que viu a banda no Canadá nesta semana e ficou, digamos, assustadoramente fascinado com o Duke Spirit ao vivo. Ao vivo? Procure ouvir "Dark Is Light Enough".

* Espirituosidade é isso aqui. A Conrad está lançando, dentro de um interessante pacote de livros sobre crítica de rock, a obra "Reações Psicóticas", escrita pelo maior deles, o americano Lester Bangs. É uma grande chance de ter contato direto com a escrita de Bangs por aqui, muito falado e pouco lido, pois é a primeira edição em português do jornalista que bem podia ter sido um excêntrico rock star dos bons. Bangs morreu em 1982, aos 33 anos. Tem um sarcástico e maravilhoso texto seu na internet (não está no livro) que se chama "How to Be a Rock Critic", em que ele faz um ensinamento final: "Você vai ser um jornalista famoso e morrer aos 33". Bangs sabia das coisas. Mais Bangs lá embaixo.




A ALMA DE PETER DOHERTY

Outro espírito a vagar de modo errante pela Terra, embora tecnicamente seja correto afirmar que ele ainda está vivo, é o do garoto difícil Peter Doherty, que já foi do Libertines, ameaçou fazer do Babyshambles a banda mais legal do planeta, namora a maneca Kate Moss, é dono de metade do crack da Europa e tem a Inglaterra jovem a seus pés de um modo mais apaixonado do que o Renato Russo tinha a juventude brasileira cantando coisas como "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã". Mas a poesia de Doherty brinca com a eternidade gritando "Fuck Forever". Enfim.

A gravadora Trama botou no mercado brasileiro faz poucos dias o single "Fuck Forever", com quatro músicas. "Fuck Forever" é a canção que quase virou o hino deste novo século.

Na Inglaterra, segunda que vem (14), sai "Down in Albion", o primeiro álbum da banda, o disco que quase virou o álbum do ano.

Todos os quases deste texto é porque, na real, Pete Doherty virou um morto-vivo. E aquelas gravações do começo da banda, maravilhosas e cheias de energia em valiosas sessions de rádio, não vingaram no estúdio. A vida barra pesada de Doherty fez o menino se entupir de remédios, para ele não acabar perdendo o pouco que lhe restava. E ele virou um ser de altos e baixos. E, quando ele gravou o CD, devia estar nos "baixos". E não vingou.

* Na semana passada, o jornal inglês "The Guardian" fez uma rara entrevista com Doherty. O clima foi meio punk. Primeiro o título é "Wasted", com a sequência: "Peter Doherty fala sobre morte, amor e como não pode ficar um dia sem drogas".

O jornalista do "Guardian" começa o texto contando que ficou esperando Doherty no saguão do hotel. Depois, foi avisado que ele estava limpando o quarto, e que ele poderia subir em QUARENTA minutos.

O resto da banda estava no saguão, também esperando o cantor. Menos o guitarrista, que ligou se desculpando. "Ele não vai poder vir. Não pode sair de casa. Deve muito dinheiro para muita gente", passou o aviso o baterista do Babyshambles.

Quase uma hora depois, subiram. E o jornalista descreveu o quarto: "Parafernália de drogas e CDs espalhados pela cama, muitas garrafas miniaturas de bebida pelo chão e as palavras "rough trade" escritas na parede com sangue fresco". E aí, depois de ver tudo, ele ficou imaginando como estava o quarto 40 minutos antes.

* Pete alternava momentos angelicais e nervosos, disse o jornalista. Antes, conversando com o baterista, disse que via a morte muito presente como tema do disco. Que parecia um álbum conceitual, tipo "The Dark Side of the Moon". O baterista achou graça e disse que então ia chamar o disco de "The Dark Side of the Spoon". Spoon, em português, é colher. Depois, perguntado sobre a história da morte acompanhando as músicas do disco, Doherty foi lembrando as faixas e concordando. Mas no fim disse que tinha menos menções à morte do que os discos do Libertines. Tocou Smiths para o jornalista. E acabou dizendo o que ele já havia falado uma vez. Que seus problemas não eram as drogas. Mas os demônios que vivem dentro da cabeça dele.

PROMO BABYSHAMBLES - A coluna tem para sortear três singles de "Fuck Forever", edição nacional. A marcante música do Babyshambles, que já viveu versões melhores, sai para quem se inscrever no lucio@uol.com.br




BALADA INDIE DISCO

Esta coluna, metida a discotecagens e falar de nova música, vai ter sua própria noite a partir desta sexta (11), no Killer Cat (Consolação, 2627, perto da Paulista), um novo clube da cidade com uma pista bem, hum, vibrante.

A festa Popload, mensal, contará com discotecagens amigas e algumas promoções para quem for não só ouvir a nova música, mas também levá-la para casa. Essa é a idéia.

Nesta sexta, tocam o Fabrício Miranda, que já tem a iPop! e vai segurar a onda comigo, e o DJ dgdgd, de Porto Alegre, o maior agitador do rock gaúcho.

Divulgação






O SHOW DO IGGY POP FOI ASSIM

O relato do show de Iggy Pop e os Stooges no festival Claro Que É Rock, no final do mês, poderia ser mais ou menos dessa maneira:

"Segundo todos os padrões normais, o show de Iggy Pop na Chácara do Jockey, em São Paulo, sábado passado, foi um triunfo. O próprio Iggy estava em perfeita e feroz forma, e a multidão estava febrilmente entusiasmada. Ele poderia dar quantos bis quisesse. Mas padrões nunca foram muito relevantes para Iggy. Desde os primeiros tempos, quando os Stooges entravam no palco mal sabendo tocar os instrumentos, até hoje, quando ele finalmente parece estar no ponto de se tornar uma das estrelas mais estranhas que já vimos.

"...Ele é o performer mais intenso que eu já vi. E essa intensidade vem de um impulso assassino que, no passado, também fez dele o mais perigoso artista vivo: os mergulhos de cabeça na terceira fileira, cortando-se e rolando em cacos de vidro no palco, entrando em brigas verbais e ocasionalmente físicas com seu público."

"...Taí uma pessoa que se sente profundamente não-viva, ou, inversamente, tão cruamente viva, e tão prisioneira disso, que todo sentimento é percebido como dor."

* Mas tal relato dificilmente vai rolar. Não porque Iggy não seja tão mais assim. Mas porque esse é um texto típico de Lester Bangs, que escrevia com tanto sentimento e entrega quanto o demostrado por Iggy no show. Estes são trechos de um capítulo especial para Iggy Pop, entitulado "Maçarico Masoquista", que faz parte do livro "Reações Psicóticas", que está sendo editado no Brasil. Fala ainda de Lennon a Kraftwerk.




CENTRO CULTURAL INDIE

Seguinte. Nasceu em São Paulo, na última terça, uma idéia inspirada em modelo francês que de um modo geral vai dar um gás nas manifestações culturais da cidade. De um modo geral , é um espaço novo chamado Studio SP, que vai mexer com artes plásticas, literatura, moda, cinema, dança, arte multimídia e teatro . Mas, na parte que nos toca (a mim e a você), vai promover também a cena musical independente.
A idéia é apoiar financeiramente e de modo estrutural as manifestações alternativas dos artistas de São Paulo. O Studio SP vai ceder suas dependências, seu estúdio e seu bar dia e noite através de residências mensais.
Por exemplo. Uma banda é escolhida para pegar a residência em determinado dia da semana no Studio SP. Como o grupo Instituto, que vai começar a parte musical do projeto, nos sábados de novembro.
Durante o dia, o Instituto vai ter a sua disposição o espaço para performances, ensaios, receber convidados, fazer gravações no estúdio. Nas suas noites de sábado, o Instituto pode armar festas, shows, performances sob sua curadoria. Vai contar com o aparato de divulgação do Studio SP e de seu próprio. E vai ficar com a renda da venda de ingressos. É essa a idéia inicial, mas o projeto do Studio SP tem pretensões de crescer a ponto de oferecer um mecenato mais direto (dinheiro) para os artistas residentes.

* O Studio SP vai criar um banco de projetos para receber propostas de artistas e bandas interessados em pegar uma residência. Informações com Leandro Matulja, no email leandro@agenciacartaz.com.br. Mande um projeto com idéias para sua banda.

* O Studio SP fica na Vila Madalena, em São Paulo, na rua Inácio Pereira da Rocha, onde funcionava o bar Bop. É realizado por quatro sócios e coordenado por um deles, o agitador Alexandre Youssef, que dirigiu a Coordenadoria da Juventude na prefeitura de São Paulo na gestão passada.





A TURNÊ DOS STROKES

Lembra que eu venho anunciando a história das "200 horas com os Strokes - Bastidores de uma turnê"?
Ela está chegando... Aqui e aqui:

Reprodução






MAIZ FRANZ

Além do "Sexy Boy", do novo single e da história de vir abrir os shows do U2 no Brasil, tem mais para ser falado da espertíssima banda escocesa. Sai lá fora primeiro, no final de novembro, e depois no Brasil via Trama o primeiro DVD do FF, carregado com mais de 50 músicas, dois concertos inteiros, cenas de bastidores e vários extras. Delícia.

* Dois sensacionais remixes do hino "Do You Want to", o primeiro single do disco novo, apareceram na internet e devem entrar como lado B dos singles vindouros. Um é remix do grande Erol Alkan, o DJ que comanda a festa rock mais bacana (ainda) do planeta, a Trash (Londres). A música chega a incomodar de tão boa. Toquei ontem na pista cool do Vegas e ninguém entendeu nada. Nem eu. Um outro remix é do ótimo Whitey, e chama "Do You Wanna", tipo batidão.




POPICES

DVD do show dos Strokes no Brasil já se encontra à venda em um espaço roqueiro tradicional de São Paulo. E no "New Musical Express" desta semana veio a chamada de capa: "The Strokes Go Nuts in Brasil - First Live Report". // Quer ser feliz? Então encontre "What Else Is There", na versão do Thin White Duke, para a ma-ra-vi-lho-sa música do Royksopp. De chorar de boa.// Interessante documentário sobre punk passa domingo, às 19h, na TV de quem tem o canal GNT. É um vídeo, hum, oral. Chama "Punk: Atitude!", é dirigido pelo músico/DJ/produtor/film-maker Don Letts e carrega depoimentos de gente como Mick Jones (Clash), Jello Biafra (Dead Kennedys) e Wayne Krammer (MC5), entre bons outros.// Miguelito Cochabamba e mais 47 bandas são as atrações do XI Goiânia Noise Festival, um dos festivais indies mais legais do Brasil, que acontece de 1 a 4 de dezembro. Ó lá: www.monstrodiscos.com.br.// O canal musical VH1, braço da MTV americana, estréia na TV brasileira no dia 21 de novembro. Mais na semana que vem.//




MAIS PROMOÇõES

Além do single do Babyshambles, a coluna bota a sorteio nesta semana o DVD "Iggy Pop, Live at the Avenue B", show do roqueiro (atração do CQÉR) na Bélgica em 1999, um que começou com "No Shit" e acabou com "Louie Louie". Mais o CD novo do fantástico Depeche Mode, "Playing the Angel". Devo confessar que achei o disco assim, assim. Mas é um Depeche Mode e tal.




INGRESSOS DO CLARO QUE É ROCK (SP)

Vê aí se seu nome está na listinha.

* Sideto Futatsugi
São Paulo, SP (acredito)

* Márcia Bley
Curitiba, PR




CHEGA

Até maiz!
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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