Pensata

Lúcio Ribeiro

25/11/2005

A festa pré-fim do mundo

"I hate them all
I hate myself for hating them
So drink some more
I love them all
I'll drink even more
I'll hate them even more than I did before"
Strokes, em "The Other Side"

"Do you realize
That you have the most beautiful face
Do you realize
We're floating in space"
Flaming Lips, em "Do You Realize?"


Ei.

Certo?

* "Walk Away", do Franz Ferdinand, é a música do ano ou o quê? Vídeo do ano com certeza é. Mas a dúvida está em "música". Vai pensando aí que mais lá embaixo eu pergunto mais sério.

* Sabe o que é legal sobre os Strokes? É que nos últimos meses a gente foi bombardeado tanto com informações sobre a banda, shows, disco novo. E, na real, o bombardeio mesmo só está começando. Quer ver?

* A Argentina sopra que o anúncio oficial da turnê latina da banda do Bono em 2006 será feito na segunda semana de dezembro. E que os ingressos já começam a ser vendidos no Natal.

* Mais U2. Está sentado? Parece que três bandas amigas nossas serão espalhadas na função de abrir as oito apresentações do U2, da Cidade do México a Buenos Aires. Franz Ferdinand, Interpol e Killers. Franz Ferdinand é o mais cotado para o Brasil, extraoficialmente marcados para 20 e 21 de fevereiro. E o grupo britânico Keane pode tirar o lugar do Killers.

* Ei, não tenho nada a ver com um texto falso que simula uma notícia da Folha Online, assinada por "Luciano Ribeiro", dizendo que o show do U2 no Brasil foi cancelado. Pela quantidade de emails que eu recebi nesta quinta, o troço está rodando veloz pela internet.

* Nesta semana a coluna recebe a honrosa visita de mister Wayne Coyne, mais conhecido como o maluco do essencial Flaming Lips. Mais abaixo ele fala com a gente.

* Chegou o Claro Que É Rock. Flaming Lips, Nine Inch Nails, Sonic Youth, Iggy e os Stooges, Mike Patton e o Fantômas. Todos aqui pertinho. Tocando para a gente na mesma balada. Estamos bem mal-acostumados.

* Essa eu conto conforme li. Dizem que na semana passada, durante um show na Inglaterra, a veterana banda farofa Twisted Sister estava mandando seu rockão quando o vocalista Dee Snider, parou para discursar. Contra uma galera que ficava em uns camarotes. "Os camarotes são onde os verdadeiros doentes filhos-da-p* ficam. Eles nem se dignam a levantar para dançar, aplaudir... Vamos botar luz lá em cima para vermos as caras deles."

E aí as luzes foram acesas na parte de cima. E o que a banda e o público viram nos camarotes, para onde Dee Snider apontava, era a parte da platéia reservada para os fãs em cadeira de rodas.




ONDE VOCÊ VAI, CHRIS?

Lá vem o Chris Martin e suas coisas, hum, bem próprias.
Ele decididamente ficou maluco.

Está saindo o single da maravilhosa "Talk", do Coldplay. Com ela, vem o vídeo da música, à disposição na internet.

Estiloso e patético, nele Chris Martin faz o que sempre quis fazer. Conversar com alguém de outro planeta.

No caso, um robô. Que traduz o que ele fala em uma linguagem interplanetária. Coldplay falando ao Universo.
No fim, o robô come a banda.
E foi isso.




O "DISCO DO ANO"

Está em aspas porque, enfim, é uma mera conjectura. Mas as movimentações pop apontam que o músico americano Sufjan Stevens deve ganhar altos lugares nas listas de "melhores do ano" de jornais e revistas, quando este 2005 acabar.

O disco em questão é "Illinoise" e Sufjan Stevens, um músico indie que tem as mãos (guitarra, baixo, banjo) e o sopro (trompete) no folk rock. E você já deve ter percebido: nove entre dez revistas/sites de música jovem elegem o namoro entre rock independente e o novo folk como a atual alta-cultura da música pop. Nessa, Stevens é o cara: poderia aparecer tanto em showzinhos no seriado teen "The O.C." quanto na capa da revista "Wire".

Mas o que encanta em Stevens, além de o disco ser realmente bom, é que ele faz parte de um projeto ousado: "Illinoise", cujo título completo carrega antes um "Come on Feel the...", é o segundo CD de uma série de 50 (cinquenta!!!) que o músico pretende lançar, um por ano. A série de álbuns representa cada um dos estados americanos. É uma grande maneira de um artista novo chamar atenção, mas também prende por completo sua carreira num tema.

O primeiro CD da maratona saiu em 2003 e foi batizado de "Greetings from Michigan", o estado natal de Sufjan Stevens. Entre vinhetas rápidas e instrumentais longos, trazia algumas gemas pop sobre poetas locais, lendas urbanas, belezas de pontos turísticos e outras coisas relativas a Michigan.

"Illinoise", por sua vez, empresta lirismo a temas como serial killers e ao Superman, com uma sonoridade que ora lembra Belle & Sebastian, ora Arcade Fire, ora... Caetano Veloso.

O disco de 2006 do projeto de Stevens deve ser Rhode Island ou Oregan, dependendo de como andar suas pesquisas. No site oficial do cantor (www.sufjan.com), você consegue ouvir os temas e saber muito sobre Michigan e o disco sobre. Músicas e o "diário de viagem" de Stevens sobre Illinois deve subir ao site até o final do ano.

Sufjan Stevens já é querido entre fãs de Devendra Banhart e Belle & Sebastian. E por moleques que iam a seus shows só para ver a boneca Katrina Kerns, inventada como backing vocal de Stevens e hoje categorizada como a "indie rock babe" da hot list da revista "Rolling Stone". Pensa: indie rock babe. Ela, que não é boba, já armou banda própria.

* "Se eu me preocupo se o conceito pode ofuscar o conteúdo?", pergunta Stevens à revista inglesa "Plan B". "Bom, essa é a grande tragédia da civilização moderna, não é?".

Vá atrás de Sufjan Stevens e abra um espaço em sua estante para a coleção dele. Daqui a 48 anos ela vai estar completinha.




A MÚSICA DO ANO

Agora sem aspas.

Prepare-se. A primeira das famosas enquetes de final do ano começa agora.
A lista de prêmios lá embaixo vai para quem mandar seu voto de melhor canção de 2005.

"Walk Away"? "Fuck Forever"? "Juicebox"? "Best of You"? "Bucky Done Gun"? "Blue Orchid"? "Meeting Paris Hilton"? "Work Work Work (Pub, Club, Sleep)"?, "Hippipolla"? "Hand That Feeds"? "I Shot You Down"? "Gasolina"? "Anacrônico"?

Diz aí.

* Se você é uma pessoa meio nervosa, antes de o ano acabar devia ouvir "You Could Easily Have Me", do Metronomy. Ou "Frontlaine", de um tal Captain. Talvez você votasse numa dessas.

* Uma das minhas (várias) músicas do ano, com história apetitosa (que eu não vou repetir agora), é a dance alegre "Never Be Alone", linda de morrer. Falei entusiasmado sobre ela, várias colunas atrás. É de uma dupla francesa chamada Justice, da renomada instituição electro alemã Deejay Gigolo Records. Então...

O Justice está em São Paulo. E toca neste sábado no Ampgalaxy (Fradique Coutinho). A balada rola depois do Claro Que É Rock. Quem for com ingresso ou pulseira do festival, paga R$ 10 consumíveis.




FLAMING LIPS E A FESTA ANTES QUE O MUNDO ACABE




Se a banda americana Flaming Lips é pouco familiar a você, dá para começar a apresentando da seguinte maneira. Já que o Coldplay é considerado o grupo "sensível" e o Weezer é o "nerd", então combinemos que os Lips são os "esquisitos" do rock.

Uma das grandes atrações do festival Claro Que É Rock, que acontece neste sábado em São Paulo e domingo no Rio, o Lábios Flamejantes de Oklahoma construiu uma cultuada trajetória na música underground americana à custa de uma música em que a menina usa vaselina no pão em vez de manteiga, de um álbum quádruplo que o bom era ouvi-lo em quatro aparelhos diferentes e ao mesmo tempo, de shows com ursinhos, telão interativo e gongo no palco e de um bizarro prêmio Grammy em 2003 pela "melhor performance instrumental do rock".

Ah! Tem a bolha de plástico gigante também, em que o vocalista e figurinha carimbada Wayne Coyne entra e caminha sobre as cabeças de quem está na platéia. Cantando.

"Definitivamente não somos uma banda que você possa chamar de convencional", afirmou Coyne à Folha, de Nova York, onde o Flaming Lips, 22 anos de carreira e 11 álbuns lançados, já prepara seu 12º. "Tem lá a guitarra, o baixista, o tecladista, mas tudo isso está dentro de um conceito próprio artístico e filosófico que até eu às vezes me pergunto 'o que diabos estamos fazendo, para quem estamos tocando'. Por isso, quando vemos que lotamos shows em festivais, ganhamos prêmios como o Grammy e somos convidados para tocar em lugares como o Brasil, penso que de algum modo devemos fazer sentido para alguém", diverte-se Wayne Coyne.

A música do Flaming Lips, que junta ardorosos admiradores como Beck, Noel Gallagher, David Bowie e Bono, funciona porque ela é capaz de alguma forma combinar elementos de saga fantástica com o mais puro e grudento pop, realizado por uma banda de malucos que cria punk psicodélico dentro do quintal de um dos estados mais conservadores da região conservadora americana.

"Foi o nosso meio que nos fez assim. Embora eu adore morar onde moro, foi preciso criarmos o nosso mundo dentro de Oklahoma para podermos sobreviver àquelas pessoas do tipo que acham George W. Bush um deus", dispara Coyne, que muitas vezes gasta bom tempo de seus shows fazendo discursos contra a "estúpida" administração do presidente americano. "Costumamos tocar até a cover de 'War Pigs' [Black Sabbath] em homenagem a ele em shows na América. Talvez a toquemos aí no Brasil também." Recado mais direto, impossível.

Sim, os shows no Brasil, promete Coyne, serão a famosa "Flaming Lips live experience", e contará com covers (Talvez "Bohemian Rapsody" [Queen], talvez "Seven Nation Army" [White Stripes]), muita psicodelia, muito sangue falso, platéia convidada a se vestir de urso de pelúcia e a bolha gigante, que foi usada pela primeira vez no festival de Coachella (Califórnia) neste ano, presenciado por este colunista. A foto desta página traduz mais que palavras.

"A bolha é meu modo mais simples de me aproximar de uma experiência interplanetária, tema que é recorrente nas minhas letras", explica Coyne. "É como se eu andasse na Lua, mas também é um modo de estar mais próximo da maior parte do público possível. Mais próximo que isso ninguém chegou."

"Na verdade é assim. Todos esses elementos que compõem nossa apresentação pode ser esquisita, mas costumo dizer em shows dos EUA que esta é a nossa mais sincera maneira de oferecer uma grande festa
'pré-fim do mundo' para as pessoas. Porque, não sei se isso acontece no Brasil, mas nos EUA muitas vezes tememos que o mundo acabe no dia seguinte. Quem viveu o 11 de Setembro e os furacões entende o que a gente quer dizer", resume o vocalista e líder do Flaming Lips.

Ainda há tempo de Coyne dizer o que achou de uma banda tão "maluca" como o Flaming Lips ganhar um prêmio tão "sério" quanto o Grammy: "Entre tantas coisas absurdas que nos cercam, essa foi a maior. Quando fomos indicados, disse aos outros da banda: 'Oba, temos uma festa engraçada para ir'. Não esperávamos ganhar, e isso não é cinismo. Como um grupo tão desconectado da indústria da música podia ser indicado para um prêmio desse. Perto de termos ganhado o prêmio, andar sobre a platéia numa bolha gigante não é um ato tão estranho..."

O Flaming Lips mostra sua aventura sônica em São Paulo às 22h10 do sábado. Aproveitando a visita da banda, a Warner correu para botar no mercado nacional o último lançamento em CD do coletivo liderado por Wayne Coyne: "Yoshimi Battles the Pink Robots", de... 2002. Ainda este mês está prometido a edição brasileira do DVD "Flaming Lips -1992-2005", com videos "remixados", extratos bizarros de internet e capa com uma língua lambendo um olho. Enfim, bem Flaming Lips.




STROOOOOKES

* Vômitos, a velha e o cachorro, o traveco-surpresa, os beijos femininos, os beijos masculinos, Agora que você já viu o vídeo de "Juicebox", está na hora de ver então o vídeo de "Juicebox" sem cortes. Uma tal de "versão do diretor", que pode ser pega aqui: http://s25.yousendit.com/d.aspx?id=2Y9UJ6K8NG5L31LHDXJW5RNSNL
O clipe na íntegra vem sem cenas cortadas, sem língua cortada, sem orgasmo cortado, sem calça e cueca cortadas.

* Na próxima terça, 29, a Radio One inglesa vai transmitir um show dos Strokes em um lugar pequeno, na ULU (Universidade de Londres). Pelo que parece, o disco novo, "First Impressions of Earth", vai ser tocado na íntegra, adicionado dos hits dos dois primeiros CDs. A banda nova-iorquina tem feito shows pequenos depois que deixou a América do Sul. Tocaram para poucos em clubinhos de Tokyo e Sydney. A apresentação da Autrália teve na platéia mister Noel Gallagher, que estava com o Oasis no país. O show de Tokyo rendeu um bootleg com 11 músicas do novo álbum, que já corre a rede de computadores.

* A íntegra da capa da Bizz, o relato "interno" da turnê dos Strokes no Brasil, sai aqui na íntegra na semana que vem. Ou na ooooutra. Com fotos. Para quem quiser ler antes, está na Bizz.




NIRVANA DE NATAL

Para quem não torrou uma grana maluca na caixa luxuosa e histórica do Nirvana, que saiu em 2004, vem aí o disquinho de Natal do Kurt Cobain, "Sliver", com o melhor de "With the Lights Out". Mas esse CD, batizado e palpitado pela filha de Cobain, a teen Frances Bean, traz canções inéditas e de valor infinito para fãs. Tipo a que abre o CD, "Spank Thru", considerada a primeira música da vida do Nirvana.

A canção, em versão podre de crua, estava na verdade na Fecal Matter, a banda embrionária do Nirvana. Tem participação de Dale Crover, do Melvins. E, nela, o Cobain está com uma voz que parece de gripe.
Nem dá para acreditar que uma banda que começou com a tosqueira como "Spank Thru" poucos anos depois ia mudar a história da música pop.




OS COOL

Sabe as listas das pessoas cool, não? Aquilo lá de sempre. A revista americana "Rolling Stone" deu capa pra dondoquíssima Evangeline Lilly, de "Lost", dizendo que ela é a melhor fantasia da ilha deserta da história. A "hot band" é o Franz Ferdinand, e deve ser assim todo ano que eles lançarem discos. O "hot indie" é o grupo bacana Clap Your Hands Say Yeah, de Nova York. A "hot indie-rock babe" já falei quem é. A mais quente coisa a se prever é o sucesso do disco do Jack White com o Brendan Benson. A "hot next big thing" da música pop é... Tego Calderón, o rei do reggaeton.

O semanário inglês divulgou também sua lista de cool na música: o moleque espenhudo Alex Turner, que lidera o Arctic Monkeys, lidera a parada. Liam Gallagher, ele, é o segundo.




POPICES

Duas coisas sobre "Futebol é Pop". Morreu o grande George Best, jogador inglês que está na capa do melhor disco do Wedding Present. E isso, se você não conhece essa antiga (90's) banda de Leeds, não é pouca coisa. A segunda coisa decidi de repente não falar mais. Não quero mais apitar sobre esse assunto.

Nesta sexta tem uma festança do programa Garagem no Lugar 166 (www.garagem.net). Chama Festa Especial Claro Que É Rock, vai sortear ingressos para os presente e, de repente, terá mais convidados ilustres do que a DJ Lorena Calábria. Popload Brasil Tour 2005: a discotecagem indie disco deste colunista chega a Franca, nesta sexta, em mais uma das famosas festas da trupê do programa Studio 11. O show é da banda "inglesa" Wry. Na sexta que vem, no Killer Cat, vem a mensal Popload Night, com convidado a ser definido neste final de semana. Em dezembro tem ainda as quinzenais do ótimo Vegas (8, 15 e 22). Tem Belém (10), Recife (16) e Fortaleza (17). Os planos para 2006 são bem ousados, depois eu falo.




PREMIAÇÃO DA SEMANA

O que vai ser dado em sorteio, para os que votarem na enquete da "música do ano", inclui o seguinte:
* O CD "Sliver", o "novo" do Nirvana
* O DVD quádruplo "Live 8", do concerto dos dois milhões de espectadores, que traz aparições de Kaiser Chiefs até Pink Floyd.
* O CD "Generation", edição nacional do ótimo disco do Audio Bullys, a dupla que mais entende de misturebas sonoras na música hoje.




VENCEDORES DA PROMOÇÃO

* ingresso pista para o Claro Que É Rock
Daniela Trevisan
São Paulo, SP
(instruções de entrega por telefone neste sábado)

* o álbum "Yoshimi Battles the Pink Robots", do fantástico Flaming Lips
Arthur "Yorke" Silva
Santos, SP

* Dois kits livro+camiseta do "Poptogramas", livro do Daniel Motta.
- Maria Tereza Novo Dias
Belo Horizonte, MG
- Roner Marques da Fonseca
Niterói, RJ




BOLHA

Tchau aí, que a bolha do Flaming Lips vai passar.


Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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