Pensata

Lúcio Ribeiro

02/12/2005

Vida ou morte

"Come on, baby, now come with me
If you don't come
If you don't come
You'll die alone"
Mudhoney, em "Touch Me I'm Sick"

Where, oh where, can my baby be?
the Lord took her away from me
She's gone to heaven, so I've got to be good
So I can see my baby when I leave this world"
Pearl Jam, em "Last Kiss"


Boas.

Tem uma certa história que eu conto abaixo que você pode até achar que é brincadeira, zoeira, modo de falar. Mas ela é séria.

* Curtiu o Claro Que É Rock? Vai se jogar (ou já se jogou) no Pearl Jam e no grande Mudhoney? Quem é o show internacional gigante que vamos ver na outra semana, hein? Agora tem que ter.

* Sabe aquele sol do lado direito do palco do Flaming Lips? Então, era para ser eu. Afinei. Aí, eu ia ser o ET verde da segunda metade do show. Desisti na hora. Precisava ver o show inteiro, fiquei com medo de perder coisas dentro daquelas roupas. Única participação, efetiva, no grande show dos Lábios Flamejantes foi ajudar a atirar bolas gigantes para a platéia. Mas tem hora que eu penso ter perdido uma chance dessas de entrar para a história. Pelo menos para a minha.

* A galera do Franz Ferdinand disse "pra nós", nesta quinta, lá em Londres, que o Brasil está na rota da banda em 2006. "Provavelmente sim. Falta acertar só algumas coisas da nossa agenda", disse o baterista Paul Thompson, respondendo se vem com ao país com o U2. E um dos maiores sites que servem ao grupo escocês informa isso, numa seção de "não-confirmados":

FEB 21 BRA SAO PAULO - Supporting U2
FEB 22 BRA SAO PAULO - Supporting U2

* Sobre a votação da melhor música de 2005, teve gente que escolheu "Break the Light with Colour", novíssima do Richard Ashcroft, ex-Verve, uma das vozes mais lindas da música pop. Canção que aparece neste finalzinho de ano e já é bem escolhida por quatro votantes. Já ouviu?

* Então. Sobre o grande Sufjan Stevens, objeto da coluna passada, o cara que está lançando o segundo dos prometidos 50 discos sobre cada um dos estados americanos. Então, a sempre esperta Peligro Discos (www.peligro.com.br) vende aqui no Brasil, por Correio e a um preço bem amigo (R$ 35), o disco "Illinoise". E já que estou falando na Peligro, mais um toque. Nesta semana eles receberam o ótimo álbum "Apologies to the Queen Mary", do Wolf Parade, banda que mostra que o Canadá também vai bem além do Arcade Fire. Outro que sai R$ 35, mais barato que o CD da Maria Rita no shopping.

* Não. Não tenho nenhuma coisa engraçada para falar do Chris Martin, hoje.

* "22 Grand Job", do Rakes, é uma das músicas mais sujas e punks de 2005. Aí o rapper Lethal B pegou e fez dela um... rap. "Blue Orchid", do White Stripes, é uma das músicas mais cruas e gritadas de 2005. Aí o DJ High Contrast pegou e fez dela um... drum'n'bass.

* Sangue, suor e lágrimas. Se você não tem acompanhado a série "Lost", em sua segunda temporada, a culpa não é minha. Nem vem.
Nos EUA e na nossa amiga internet, está no episódio 9. Aqui no Brasil, a segunda temporada começa só em março.

O episódio desta semana se chama "What Kate Did", que é nome de música do Libertines. Kate é a dondoca da série (a maravilhosa Evangeline Lilli), que, como se sabe, tem um passado barra-pesada e fora-da-lei, mas depois que caiu do avião, é a fofa da ilha. Aí a chamada da TV para o capítulo é: "Você pensa que conhecia mesmo o passado dela?" Tipo isso.

* A coluna está meio lotada, hoje, portanto a novela das 200 horas com os Strokes, capa da última Bizz, aparece na íntegra aqui na semana que vem. Possa ser?




PAPO DE VIDA OU MORTE

Uma dúvida. Dá uma olhada na data da página, lá em cima. Você está vendo dia 2 (ou 3, ou 4) de dezembro, certo? Mas o ano é 1993? Estamos no meio da era grunge? Seattle é a cidade mais incrível do universo?

* Nesta semana, aqui no Brasil, só se fala na presença do grupo americano Pearl Jam. Em 1993, o mundo pop só falava em Pearl Jam. A banda estava no topo da "Billboard" havia oito semanas com o single da música "Daughter" e fechava o ano como o "top pop group" de 1993. O segundo álbum, "VS", tinha entrado em primeiro nas paradas e o CD de estréia, "Ten" (1991), conquistava o sexto "disco de platina" (6 milhões de cópias vendidas).

* Hoje, em São Paulo, outro histórico grupo de Seattle, o Mudhoney, faz o show de abertura para o Pearl Jam. No dia 2 de dezembro de 1993, no estado de Nevada, em sua primeira e única excursão com o Pearl Jam antes desta tour sul-americana, o Mudhoney abria uma apresentação da banda de Eddie Vedder. No final do show do Pearl Jam, aconteceu uma raríssima reunião no palco do Green River. Vedder na bateria. O Green River é considerado o marco zero da era grunge. Sua cisão deu no Mudhoney e levaria mais tarde à formação do Pearl Jam.

* 1993, foi também o ano em que o Nirvana tocou no Brasil. O trio liderado por Kurt Cobain era o principal responsável por Seattle dominar o mundo. Banda fã de Mudhoney e banda ídolo do Pearl Jam, o Nirvana fez um show em São Paulo, outro no Rio. O do Rio, transmitido pela Globo, foi histórico. O de São Paulo, mais histórico ainda.

A fantástica apresentação no Morumbi, 16 de janeiro, foi considerada por Dave Grohl a pior apresentação da carreira do Nirvana. Grohl disse a este colunista que Cobain, no dia do show, mal conseguia se levantar, de tão lesado. As drogas compradas pelo guitarrista na lojinha de presente do hotel Maksoud Plaza, segundo palavras do baterista, deixaram Cobain numa rotação diferente das outras pessoas do planeta. Ele estava devagaaaaaar.

E o show foi assim. Grohl e o baixista Novoselic gritando para Kurt acelerar, ele viajando, a banda tocando várias covers de hits dos anos 80, Queen, Iron Maiden, trocando de instrumento para zoar, apresentando pela primeira vez músicas do álbum que não tinha saído, o sucessor do apocalíptico "Nevermind".

Essa apresentação de São Paulo é considerada "o mais procurado show do Nirvana" no mundo, pela ainda enorme legião de fãs da banda. De tempos em tempos, recebo e-mails de gente dos EUA e da Europa atrás de um possível vídeo da íntegra do show, que não se sabe se existe.

A Globo (ou o canal Globosat) transmitiu o show do Rio, ao vivo, na semana seguinte. Comprei uma fita dessa apresentação em Londres, por um dinheiro alto. Sobre imagens do de São Paulo, nada consta, a não ser alguns trechos, já postados on line em 2003. Amigo "bem colocado" na emissora carioca já vasculhou os arquivos atrás da íntegra do show paulistano e nada encontrou.

A MTV, que não tinha o direito de transmissão, realizou filmagens "jornalísticas" do concerto de SP. Amigos "bem colocados" na emissora paulista já vasculharam os arquivos atrás de uma possível íntegra-pirata do show paulistano e nada encontraram.

Há dois anos, um certo garoto de São Paulo me escreve insistentemente atrás de ajuda para encontrar o tal show do Nirvana do Morumbi. Oferece qualquer dinheiro. Dá em troca imagens de praticamente qualquer apresentação do Nirvana em qualquer outro lugar do planeta. Vem sempre com uma "pista incrível" que vai levar ao paradeiro das imagens raras do Morumbi-93.

Esse menino havia sumido dos meus emails. E reapareceu agora, com tudo, nesta semana grunge de dezembro de 2005, Pearl Jam e Mudhoney.
Há dois anos digo a ele que meus contatos nada descobriram, que eu sou maior interessado neste show (eu estava lá), que também pago bom dinheiro e que nunca soube ao certo se esse vídeo existe. Repeti tudo isso, inclusive, umas três vezes só nos últimos quatro dias. Ele nunca aceita um "não" como resposta.

Paralelo a isso tudo, recebi na última quarta um email de um amigo do Rio de Janeiro, jornalista de futebol, que sabe tanto de bandas de rock quanto eu sei sobre a produção de chumbo da Namíbia.

"Lúcio, você que manja de música, precisa me ajudar a achar um vídeo."

"Que vídeo?", perguntei, curioso.

"Um sobre um show do Nirvana em 1993. Encontrei um velho amigo ontem e ele estava desesperado. Chorou copiosamente na minha frente. Disse que o filho dele o inferniza atrás desse show e ele não sabe mais o que fazer. O menino está ameaçando se matar".

Quem tiver alguma informação que leve ao possível vídeo do show do Nirvana no Morumbi pode entrar em contato com esta coluna.




A MÚSICA DO ANO

Você escolheu. "Walk Away", do grupo escocês Franz Ferdinand, foi eleita a melhor música deste 2005 cheio de músicas boas. Confesso que esperava uma vitória ou de "Rebellion (Lies)" e "Wake Up", do Arcade Fire (a primeira é a minha escolha), ou "Juicebox", dos Strokes, que ficou em segundo lugar.

Mas Alex Kapranos, com sua canção extraordinária, letra boa e vídeo espetacular, faturou.

Olha a lista das dez músicas que abalaram nosso 2005.

1. "Walk Away", Franz Ferdinand, 52 votos
2. "Juicebox", Strokes, 40
3. "Fuck Forever", Babyshambles, 28
4. "Best of You", Foo Fighters, 25
5. "I Bet That You Look Good on the Dancefloor", Arctic Monkeys, 22
6. "Wake Up", Arcade Fire, 19
7. "Graffiti", Maximo Park, 16
8. "Blue Orchid", White Stripes, 15
9. "The Importance of Being Idle", Oasis 14
10. "Rebellion (Lies)", Arcade Fire, e "Work Work Work (Pub, Club, Sleep)", Rakes, 12




BANDA DE 2005

Agora vai esquentar. A nova enquete, entre os leitores desta coluna, vai apontar qual a principal banda deste ano. Arctic Monkeys, Oasis, Cansei de Ser Sexy, Radiohead, que sempre ganha, mesmo sem ter dado as caras? Strokes, FF (Franzzz) ou FF (Foos)?

Quem mandar seu voto concorre a:

* CD "Sliver", do Nirvana

* Pacote Sum Records, com Basement Jaxx ("The Singles") e Devendra Banhart ("Bajo Rojo")

* Pôster lindo do Franz Ferdinand

* Nas próximas semanas, enquetes "Disco do Ano" e "Show do Ano"




PEARL JAM - PORTO ALEGRE

"...Logo depois, Eddie Vedder, conversando com o público, conta: 'A primeira vez que eu vim ao Brasil foi com o Joey Ramone. E, assim como eu, ele também gostava muito de vocês...' (fala isso tudo em português). Depois fala sobre a morte do ramone e do quanto ficou triste. E o que ele faz então? Convida o senhor Marky Ramone para tocar com eles em 'I Believe In Miracles'.

Quer mais, né? Tem 'Alive'. 28 mil braços ao ritmo da canção. Não teve uma alma que não cantou junto. É verdade, juro. A música foi cantada até pelos seguranças da área vip, que ao fim do show bebiam e cantavam emocionadíssimos."

Márcia Lima




PEARL JAM - CURITIBA

"Vinte e três mil pessoas não podem estar erradas. Essa foi a principal sensação pós-Curitiba, a segunda parada do Pearl Jam na turnê brasileira. Claro que - mesmo depois de ouvir 'Even Flow', 'Alive', 'Jeremy', 'Once', 'Black' e até 'Last Kiss', teve gente que ainda saiu reclamando que faltou 'aquela' (a falta mais comentada foi a de 'Daughter'). Mas, verdade seja dita, os caras compensaram com energia e um repertório redondo, que ainda teve covers de 'Interstellar Overdrive' (do Pink Floyd, em um trecho pequeno, abrindo o show a partir do elevador que dá acesso ao palco!), 'I Believe in Miracles' (Ramones), 'Kick Out the Jams' (MC5, em uma reunião do seminal Green River, com Mark Arm e Steve Turner). Os mais radicais babaram com a climática 'Indifference' (tocada pela primeira vez na América do Sul) e o b-side 'Down'. Teve para todo mundo."




O SENSACIONAL MUDHONEY

Máxima do "quem é vivo sempre aparece" aplicada ao rock, os grupos americanos Pearl Jam e Mudhoney chegam hoje a SP com a série de shows mais aguardada de um ano cheio de shows aguardados. Sobreviventes da revolução grunge que balançou o pop nos anos 90 e espécie de primo rico e primo pobre da famosa turma de Seattle, a primeira banda vem pela primeira vez ao Brasil e a segunda, a segunda.

"Não sei bem exatamente por que eles resolveram botar a gente nessa turnê, mas nos ligaram há mais ou menos um mês convidando e eu disse: 'Pearl Jam, Brasil, shows lotados? Claro que vamos'", afirmou a este colunista o vocalista Mark Arm, do Mudhoney, em entrevista na sexta-feira passada direto da Argentina, dia em que aconteceria a terceira apresentação da turnê sul-americana.

"Fizemos dois shows em Santiago e foi inacreditável. A platéia tem demonstrado um nível de entusiasmo incrivelmente alto, até mesmo para nós", deleitava-se àquela altura Mark Arm, que já veio ao país com o Mudhoney em 2001 e lembra já ter excursionado com o Pearl Jam em 1993, época em que a barulheira punk metal pop de Seattle comandada por Kurt Cobain (Nirvana) liderava as paradas do mundo inteiro.

A ligação entre Pearl Jam e Mudhoney, resgatada agora na turnê latina, é de muito tempo atrás. No começo dos anos 80, Mark Arm já cantava no Green River, a primeira banda da famosa cena de Seattle e embrionária dos dois grupos que vão embora do Brasil só depois dos shows do domingo, no Rio.

Mark Arm é o cara que inventou o termo grunge ("Foi um termo que eu tirei do rock australiano sujo"), foi reconhecida influência de Kurt Cobain ("Ele estava em todos os meus shows"), mas nunca conseguiu com o Mudhoney vender milhões de disco, tal qual Nirvana e Pearl Jam.

"Nosso apelo às massas era outro. Seria esquisito saber que músicas como 'Touch Me I'm Sick' faria um disco vender milhões. Mas não sou nada infeliz com o que conquistamos, não", disse Arm, que fora a vida com o Mudhoney tem um "trabalho normal" como gerente de estoque da gravadora Sub Pop, o selo que provocou o estouro grunge e incomodou toda a grande indústria da música.

"Meu trabalho é ótimo. Em qual outro emprego eu poderia dizer 'Vou faltar por algumas semanas porque vou a uns shows de rock' e não ser demitido?", falou Arm.

No ano passado, em Londres, o Mudhoney participou dos concertos da espetacular série "Don't Look Back", que convida uma banda veterana a tocar na íntegra um grande álbum do passado. O Mudhoney mostrou ao vivo, da primeira à última faixa, o álbum "Superfuzz Bigmuff", de 1988, seu disco de estréia e uma homenagem ao pedal de distorção de guitarra que resume o espírito de uma era do rock.

"Os shows foram ótimos. Foi bem engraçado reaprender a toca músicas antigas, algumas das quais nem lembrava mais. Parecia que estávamos fazendo covers de banda famosa. Mas o mais incrível é que o público parecia conhecer as músicas mais do que nós mesmos", disse o líder do Mudhoney.

Em março, a banda lança pela Sub Pop seu nono álbum de estúdio, "Under a Billion Suns".

"O disco está pronto, só falta a capa", revelou um entusiasmado Arm. "Como é o álbum? Bem... Mudhoney. Nossos discos vão sempre soar como um disco do Mudhoney, não importa as direções que o rock ou até mesmo nós tomamos."

Para promover o CD novo, o Mudhoney já tem marcadas turnês na Europa e no Japão/Austrália, onde são, hum, bem famosos. Mas antes de tudo isso eles passam aqui no Brasil.

Mark Arm, na verdade, está virando frequentador do aeroporto de São Paulo. Ele esteve cantando na cidade em agosto último, no festival Campari Rock, como vocalista convidado do lendário grupo MC5, a atração principal do evento.

"Foi como um sonho virando realidade", disse Arm. "Foi mais que um sonho, porque eu nunca nem tinha imaginado que isso poderia acontecer um dia."




POPLOAD TOUR

Ainda abalado com a festa classe que aconteceu em Franca na semana passada, produzida pelo combo agitador do Studio 11 e os shows de Wry e Telepatas, esta coluna engata nesta sexta mais uma Popload Night, no novo Killer Cat.




A partir desta festa, rola assim. Quinta, dia 8, este colunista toca em sua residência na noite RockFellas, no clube Vegas. Dia 10, a balada é um pouco mais longe: Belém do Pará. Discotecagem e show do Los Pirata. Dia 16 a festa é em Recife, acompanhado do show do inglês-sorocabano Wry, no local onde era a famosa boate Irmã Bertrice. O agito é responsabilidade do coletivo Coquetel Molotov. No dia seguinte, em Fortaleza, a parada é no clube Noise 3D, com bandas da cena local.




CLARO QUE É FLAMING LIPS

Iggy Pop foi bom. Sonic Youth começou lindo. Mas o Flaming Lips foi assim.

Tudo bem, o mundo ainda não acabou, afinal você está lendo esta coluna. Mas não dá para dizer que a banda americana Flaming Lips falhou ao promover no Claro Que É Rock uma espetacular festa pré-apocalipse, como andou propagando o líder Wayne Coyne. O Flaming Lips, esse sim, fez a parte que lhe cabia.

Delícia para os olhos e os ouvidos, o veterano grupo de rock psicodélico de Oklahoma talvez tenha feito o show mais bem-sucedido do evento, levando em conta que ganhou por completo a platéia de um lugar em que seus vídeos não passam na MTV local, suas músicas não tocam nas rádios e só na semana passada as lojas do país receberam uma edição nacional de um de seus 11 álbuns.

O Flaming Lips já seria uma ótima banda de quatro integrantes tradicionais para um show de rock (guitarra, bateria, baixo e teclados), mas o que se viu no sábado é tudo menos um show tradicional de rock.

Primeiro porque a banda começa seu show bem antes de o som sair de seus instrumentos, em forma de música. O Flaming Lips entra no palco, toma suas posições, Wayne Coyne caminha de um lado para o outro, conversa com a platéia, afina a guitarra, ajuda a orientar um exército de ursinhos, vaquinhas e esquilinhos gigantes que transforma o quarteto em um grupo de 30 integrantes. O telão gigante é armado, balões enormes são inflados, armas de jogar tiras coloridas de papel às alturas são preparadas, papais-noéis correm de um lado e de outro cuidando da tumultuada logística maluca de uma apresentação lipiana. Aí, todo mundo percebeu, o "show" do Flaming Lips já tinha começado havia tempos.

Coyne entrou numa bolha inflável, caminhou (modo de dizer) sobre o público, voltou ao palco e começou a parte sonora com "Race for The Prize", canção sobre dois cientistas que disputam uma corrida para salvar a humanidade. Trouxe uma inspirada cover da ópera-rock do Queen, "Bohemian Rapsody", que serve perfeita para o lado orquestral do Flaming Lips. Emocionou ao narrar a luta da pequena Yoshimi contra os robôs rosa. Tocou com um órgão de brinquedo a música que fala da jam entre a vaca e o pato, com direitos a muito "mus" e "qués".

Acredite, até ali a doideira de Wayne Coyne fazia todo o sentido mesmo para os que no começo do show esboçaram algum "claro que não é rock" para o Flaming Lips.

Mas ainda estava por vir o final arrebatador, com a música da menina que usa vaselina e não geléia no pão ("She don't Use Jelly"), a emocionante "Do You Realize" e a panfletária-gozada cover que encerrou o show, "War Pigs" (Black Sabbath), dedicada "às besteiras" de George W. Bush. Você sabe, o presidente do país que, se de um lado tem um líder que tenta acabar com o mundo, do outro tem uma banda que sempre que pode faz uma maravilhosa "última festa" para o caso de este mundo acabar mesmo.




DE LONDRES, O WRY

Circula pelo Brasil a turnê da banda "inglesa" Wry. Até pouco mais de dois anos atrás, o Wry seria anunciado como uma banda de Sorocaba, de certo destaque na rota alternativa nacional. Mas, depois de uma temporada em Londres entre trabalhos chatos de imigrantes e atuante intromissão na pulsante cena musical da Inglaterra, o hoje encorpado e experiente Wry faz por onde ser chamado de "mais uma atração musical" no supersemestre de shows.

As apresentações deste final de semana em Goiânia e Brasília fazem parte da turnê Wry em Chamas no Brasil, que está percorrendo 16 cidades e só termina 18 de dezembro em Aracaju. O nome da tour tem a ver com o CD "Flames in the Head", que está sendo lançado.

O álbum foi inteiro gravado em Londres e tem dedo na produção de Gordon Raphael, que já trabalhou com os Strokes. O estúdio usado foi o mesmo onde bandas como Futureheads e Razorlight, destaques do novo rock inglês, gravaram seus discos. O líder do grupo irlandês Ash, Tim Wheeler, produziu três faixas. Cópias do single "Come and Fall" podem ser encontradas à venda na destacada loja Rough Trade.

"Flames in the Head" deve ter distribuição na Inglaterra. A banda paulista negocia, via seu empresário, o americano Tom O'Connor, com a gravadora Fierce Panda, importante na cena independente britânica. O lançamento inglês do álbum, ou mais provavelmente, um single, traria na carona uma turnê pela Inglaterra.

Mario Bross, guitarrista e vocalista do Wry, comanda duas noites de rock em Londres, a Goonite (quartas, no Buffalo Bar) e a Take Me to the Other Side (mensal, sexta, no importante clube Garage).

"Tenho mais alguns convites para promover outros lugares. Aos poucos estamos criando uma identidade forte do Wry com Londres. Já temos um público por lá. Às vezes estou na porta do clube ou na cabine de DJ e vem um e diz 'Você é do Wry, não'", diz o vocalista.

"Desde março de 2003, quando entramos nesse circuito difícil londrino, temos nos dado bem. Estamos fazendo nosso nome por lá e construindo uma história aproveitando o bom momento da cena inglesa de bandas novas. Estamos vivendo o melhor tempo de nossas vidas. Meu sonho é colocar o indie brasileiro no mapa mundial. Quem sabe eu consigo."

Cate o Wry:

Sexta-feira, 2 de dezembro
GOIANIA NOISE FESTIVAL

Sabado, 3 de dezembro
BRASILIA - SUPER NOITES SENHOR F

Domingo, 4 de dezembro
GUARAMIRIM - CURUPIRA

Quinta-feira, 8 de dezembro
PORTO ALEGRE - NOISY/GARAGEM HERMETICA

Sexta-feira, 9 de dezembro
CURITIBA - DIGITAL ROCK

Sabado, 10 de dezembro
SOROCABA - BIER

Quinta-feira, 15 de dezembro
RIO DE JANEIRO - TEATRO ODISSEIA/

Sexta-feira, 16 de dezembro
RECIFE - COQUETEL MOLOTOV INDEPENDENTE III

Sabado, 17 de dezembro
SALVADOR - MISS MODULAR (RIO VERMELHO 32354950)

Domingo, 18 de dezembro
ARACAJU - TEQUILA CAFE

Depois, só na Inglaterra.




LOGO MAIS

A incrível mostra Rock Neles!, vencedores da promo e mais blablablá importantíssimo para a vida de todo mundo. Tô voltando.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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