Pensata

Lúcio Ribeiro

07/04/2006

Bata palmas e diga "Sim"

"Who do you
Who do you
Who do you think you are
Hahahaaaaaa"
Gnarls Barkley, em "Crazy"

"I'm worse at what I do best
And for this gift I feel blessed"
Nirvana, em "Smells Like Teen Spirit"

"She's a woman
You know what I mean,
You better listen, listen to me
She's gonna set you free
Oh oh yeah...."
Wolfmother, em "Woman"


Bom te ver!
Vai no Campari Rock, né?

* Então, estou aqui agora. Me entretenha...

* Estava ouvindo a nova do Primal Scream, "Country Girl", o single que puxa o novo álbum do grupo escocês e sai no final de maio. Rockinho meigo, delicioso, que dá as mãos a "Country House", do Blur, e "North Country Boy", do Charlatans. É música para pegar a estrada, ir em direção ao interior e não voltar tão cedo.

* A lição é: não pode desistir, nunca. Jamais.
Conheci um cara, há muito tempo, que era fã do Guilherme "Planeta Água" Arantes. Fãzão mesmo. Não perdia um show no estado, sabia tudo sobre o cara e até era responsável por um fã-clube do cantor pianista. Agora, nesta semana, aaaaaanos depois, chegam DOIS emails informando sobre o fato de o Guilherme Arantes estar participando dia destes do Programa Raul Gil. Um deles, oficial, de assessoria de imprensa. O outro, desse cara fã. Essas histórias parecem bobas, mas me comovem.

* Cada coisa no seu lugar. Enquanto a Marisa Monte e a EMI instalam dispositivos anti-qualquer coisa para evitar alguma coisa que eles nem entendem o que é, com resultado duvidoso que só enerva as pessoas que têm coragem de comprar um disco (dois) desse, o soul-pop Gnarls Barkley entra para a história com o sensacional single "Crazy", que só foi lançado na internet e entrou em primeiro lugar da parada de singles geral.

* O delicioso álbum do Raconteurs, banda um quarto indie, um quarto Led Zeppelin, um quarto Beatles e um quarto Doors do fantástico guitarrista Jack White (Stripes), já se encontra na rede. E, você sabe, caiu na rede... Steady as it goes. O álbum do Raconteurs, "Broken Boy Soldiers", sera lançado em maio. A capa é cool. Traz o quarteto liderado por Jack e seu parceiro Brendan Benson todos com a cara quebrada.

Reprodução



* TIM FESTIVAL URGENTE - Bata palmas e diga "Siiiiiiiim". A sensacional banda americana Clap Your Hands Say Yeah já está entregando seus passaportes para ganhar carimbo brasileiro. O ótimo show deles, visto este ano por este colunista no festival texano South by Southwest, engrossa o rol de apresentações imperdíveis que já está formando o Tim Festival 2006. Então já temos o fabuloso Radiohead, Devendra Banhart, CYHSY e, parece, a roqueira Patti Smith e os gipsy-punks Gogol Bordelo.

* TIM FESTIVAL URGENTE 2 - O Radiohead vai causar uma mudança na estrutura do principal festival de música jovem (não só) do Brasil. O exigido para ancorar uma apresentação da banda cult de Thom Yorke é um lugar com capacidade para 20 mil pessoas.

* No Brasil, em maio, Sisters of Mercy, o gênio Ian Brown, Dandy Warhols... Fora o Prodigy e LCD Soundsystem no Skol Beats. E lá vamos nós.

* Neste sábado, Supergrass, hein? Não tenha a coragem de perder isso...
Fora o entorno brasileiro, com Montage, Ludovic, Digitaria etc.
Esta coluna, é bom esclarecer, está oficialmente envolvida na curadoria do Campari Rock.




GRUUUUUUUNGE

Reprodução



Kurt Cobain está morto, Layne Staley também. Mas, dá uma olhada, o grunge está bem vivo.
O líder do Nirvana foi encontrado morto em 1994, 12 anos neste sábado, depois de cometer suicídio (há controvérsias) em sua casa, em Seattle. E a primeira homenagem sabida deste aniversário do óbito do líder de uma revolução roqueira aconteceu no final de semana passado, no... "Domingão do Faustão".
Vou contar como me venderam: a horas tantas, entre a apresentação de uma atração popular, uma patetada gravada por câmera amadora e o blablá de algum figurão de novela, as dançarinas do programa estavam bonitinhas e ensaiadamente dançando "Smells Like Teen Spirit", o hino da geração 90, na versão original e tosca do Nirvana. Entre uma perna erguida, uma voltinha em si mesmas e um gestinho insinuantes, ouvia-se a voz de Cobain gritando "I feel stupid and contagious/ Here we are now, entertain us".
Por outro lado, outra coisa que Cobain desaprovaria se vivo, nos EUA acaba de ser lançado o bonequinho Kurt Cobain, que morreu por ser atormentado pela idéia de "se vender". O roqueiro de plástico, da marca Reel Toys, simula Cobain em ação tal qual no famoso vídeo de "Smells Like Teen Spirit". Sobreposição de camisetas, cara sofrida. Até um pedacinho do chão da quadra de ginásio foi lembrada. No eBay, o Cobain de plástico é vendido com um aviso: "O boneco de Courtney Love é vendido separadamente". Piada grunge.
Outro "herói grunge" que tem morte lembrada nesta semana é Layne Stanley, que foi vocalista do Alice in Chains. Stanley, um dos melhores amigos de Eddie Vedder (Pearl Jam), foi encontrado morto no dia 19 de abril de 2002, mas a data de sua morte é calculada para o dia 5, tal qual a de Cobain em 1994.
No dia 25 de maio próximo, um redivivo Alice in Chains, obviamente sem Stanley, começa uma turnê de 25 shows pela Europa.
Também para maio a revista de música "Bizz" programa lançar com seu selo o DVD do documentário "Hype", o mais representativo já feito sobre o "fenômeno de Seattle", que chegou a sair por aqui em VHS.
De volta a Cobain, o cantor/guitarrista do Nirvana é divertidamente lembrado pelo novo vídeo do grupo Red Hot Chili Peppers, "Dani California". O novo trabalho dos Chili Peppers acaba de aparecer na internet e conta a história do rock em performances da banda (tem no site oficial deles). Na hora de emular o grunge, Anthony Kiedis se traveste de Kurt Cobain no famoso acústico do Nirvana para a MTV, ambiente iluminado por velas, de peruca loira e cara de desespero, e segue sua historinha.
Se quiser ver rapidinho, o vídeo dos Chili Peppers tem no You Tube (.com), assim como no You Tube tem milhares de homenagens a Kurt Cobain editada por fãs. Tem a primeira notícia na TV da morte do ex-Nirvana. Tem o filminho de terror que o Cobain teen fez com uma super-8, aos 15 anos.
No orkut, a comunidade Nirvana-Bootlegs discute o vazamento de músicas ao vivo do raríssimo e histórico (para o bem e para o mal) show do grupo de Cobain em São Paulo, em 1993, a apresentação mais caçada no mundo por fãs do Nirvana.
Um certo revival grunge na Austrália faz soprar pelos EUA e Europa um monte de notícias sonoras novas. O disco novo do nirvaninha The Vines já está nas rádios e na internet. E a banda indie mais falada do momento (Arctic Monkeys quem?), a Wolfmother, causa frisson ao traduzir em música o black metal que saiu do Black Sabbath para assombrar o grunge nos anos 90. O Wolfmother, veja você, vai ser lançado em breve pela Universal, que tem o Morrissey novo e nem tem planos para editá-lo.
Até o dia 23 deste mês, dá para fazer lances do eBay para adquirir uma casa em Raymond, Washington, que um esperto está vendendo como a casa em que o Nirvana "fez um de seus primeiros shows", em 1987. Parece que ela vale pouco mais de U$ 60 mil e, até semana passada, já tinha uma oferta de US 165 mil.
Aí, por fim, divulgaram nesta semana quem é a atração principal do principal festival de música do mundo, o Reading Festival, que acontece em agosto na Inglaterra. Vai ser o grunge-mór Pearl Jam. Já buscou sua camisa de flanela no armário?




O IMPERADOR

O "maior ser britânico inglês vivo hoje" agora é também o "novo imperador romano". Para um senhor de 46 anos, o cantor inglês Morrissey está em pleno gás juvenil.
"Acusado" de um dia ter fundado os Smiths e ter salvo milhares de jovens tristes, miseráveis e incompreendidos (como ele se autoproclamava) que viviam trancados em seus quartos cinzentos, Morrissey voltou ao ao pop nesta semana com o triunfante e oitavo CD solo "Ringleader of the Tormentors", gravado na Itália, para onde se mudou.
"Nesta semana" é modo de dizer. O disco ganhou lançamento físico nos EUA e na Europa há apenas alguns dias, mas, moderno, Morrissey já havia lançado seu primeiro single, "You Have Killed Me", no site MySpace (www.myspace.com/morrissey). A esta altura, o álbum já circulava na internet.
Independente (leia-se sem grande gravadora por trás), foi à vitrine do festival americano South by Southwest, no Texas, mostrar ao vivo suas novas músicas e praticamente roubou a cena no evento de 1400 bandas.
Um famoso "boca grande" do rock, suas entrevistas, suas opiniões sobre tudo e todos vêm ganhando manchetes na imprensa musical desde que 2006 começou. Cansado de Bush e da "falsa democracia" americana, foi morar em Roma atrás de felicidade, amor e luxúria, segundo ele. Botou sua língua ferina a desancar personagens britânicos como o primeiro-ministro Tony Blair, o jogador David Beckham e a modelo Kate Moss. Atacou o sucesso repentino da banda-coqueluche inglesa Arctic Monkeys, arrumou briga com o astro Noel Gallagher (Oasis) por isso e pediu desculpa para os meninos do pequeno grupo de Sheffield.
"O que aconteceu com eles foi exatamente o que aconteceu com os Smiths. Eu realmente deveria calar essa minha boca", afirmou Morrissey à imprensa do Reino Unido.
Essa boca do Morrissey semanas antes, durante conferência no South by Southwest, havia dito que ele havia recusado uma oferta de US$ 5 milhões (mais de R$ 10 milhões) para reformar os Smiths e tocar em apenas um show no festival californiano Coachella, agora no final de abril. A platéia que lotava o auditório, formada por jornalistas e pessoas ligadas à música, que mais reverenciavam o cantor do que meramente assistiam à entrevista pública regida por um jornalista da revista "Rolling Stone", coletivamente engoliu a seco com o assunto da possível volta da mítica banda dos anos 80.
"Não é uma questão de dinheiro. Hoje eu preferiria comer meus próprios testículos a voltar com os Smiths. E olha que eu sou vegetariano...", falou, para uma sequência de "Oooooh"s no auditório.
"Os Smiths foram uma viagem fantástica. E então acabou. E na época eu não achava que deveria acabar. Eu queria continuar aquilo. Mas ele [o guitarrista Johnny Marr] quis terminar. E foi isso. Já faz 18 anos. Eu não conheço mais eles, eles não me conhecem mais. Eles não sabem mais nada sobre mim. Eu não sei mais nada sobre eles. O pouco que eu sei sobre eles é bem desagradável. Então por que nós iríamos querer estar juntos no mesmo palco, fazendo música?"
"Ringleader of the Tormentors" tem um futuro nebuloso no Brasil. Lançado lá fora pelas pequenas Attack (Inglaterra) e Sanctuary (EUA), o disco, em edição nacional, acaba de ir por questões contratuais das mãos da Sony/BMG às da Universal, que não tem idéia de quando vai botar os discos nas lojas. Nada está programado para este ano. Este ano.
É uma pena, porque o álbum novo de Morrissey é de emocionar, seja os velhos fãs dos Smiths à nova garotada emo, atrás de fortes letras tristes.
O cantor ainda carrega o brilho vocal e único que lhe deu fama. Sua voz e sua performance no palco está longe de mostrar algum sinal da corrosão da idade, que infelizmente afeta a grande maioria dos cantores/bandas veteranos que voltam à ativa ou ainda insistem em não acabar.
Hospedado há um ano no Hotel de Russie, frequentador do Caffé Greco e devorador de spaguetti al pomodoro, Morrissey foi fundo nas novas canções a respeito de Deus, morte e amor.
Se no álbum anterior, "You Are the Quarry" (2004, editado no Brasil pela BMG), ele havia perdoado Jesus ("I Have Forgiven Jesus"), neste agora ele vai católico e pede ajuda a Deus, na linda balada "quase-brega" "Dear God Please Help Me".
O papo dele com Ele ocorre nas ruas de Roma, com o cantor vagando e divagando sobre um certo amor, cansado de ser punido por "ter feito as coisas certas". "Agora eu estou abrindo suas pernas com as minhas por dentro. Por favor, Deus, se eu pudesse eu ajudaria você", suplica Morrissey.
A Itália e o amor trágico estão por todo lugar. O cantor diz que é Visconti e Pasolini no single "You Have Killed Me". "Piazza Cavour, qual o sentido da minha vida?", pergunta ele a uma praça romana que costuma visitar. Ou em "Life Is a Pigsty", meio pop, meio orquestral, de mais de sete minutos de duração, em que Morrissey fala: "Cada segundo da minha vida eu vivi para você. E você pode atirar em mim, pode me jogar para fora de um trem. Eu ainda assim manterei esse sentimento".
"Ringleader of the Tormentors" foi gravado no Forum Music Village de Tony Visconti (produtor de David Bowie) e tem cordas de Ennio Morricone em "Dear God Please Help Me". Morrissey, ou agora "Il Mozalini", fez um perfeito "italian job".




MORRISSEY NO TEXAS

Eu disse que o South by Southwest rendeu. O show do Morrissey no Austin Music Hall, dentro da programação do festival de música nova e de novas-músicas-de-gente-não-tão-nova Sxsw, teve pelo menos três finalidades: sentir o quão vivo e intenso e fiel anda o culto ao ex-líder dos Smiths não só pelo trabalho dele nos Smiths (1); arrepiar boa parte do público presente cantando canções do finado grupo e estimular o arremesso de flores ao palco, na hora de "How Soon Is Now" e "Girlfriend in a Coma" (2); e mostrar a forma atual do músico: letras fortes entupidas de poesia pop, voz intacta para quem o ouve nos 80 e ouve agora, músicas novas emocionadas (3).
E Morrissey, com a bandeira da Itália na bateria de sua banda, com a constante troca de camisas, com o balanço do fio do microfone como se fosse um chicote, e com os agradecimentos verdadeiramente emocionados para um público tanto quanto, passou nas três "provas".
Do momento em que entrou no palco para contar "First of the Gang to Die", seu último sucesso solo, até o final, com "Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me", outra desencavada dos Smiths, ele não desapontou quem espera que Morrissey seja... Morrissey.
Isso significa que o breve discursinho pré-música dele é quase tão esperado quanto a música que vem a seguir. Todos querem ouvi-lo falar à noite, como se ele já não tivesse falado bastante à tarde, na conferência.
"Hello Texas. Ouvi dizer que os EUA seguem bombardeando o Iraque e matando pessoas. Eles estão procurando por armas de destruição em massa", alfinetou, antes de cantar a linda "I Will See You in Far Off Places", que carrega a linha "...If the US doesn't bomb you".
Morrissey consegue. Seus shows trazem repúdio a governantes, perda de fé na humanidade, canções tristes e desoladoras. Mas, no fundo, é uma alegria só.




O ROCK É O TERROR

Vou reproduzir aqui, direto, a mais sensacional história pop desta semana, em relato da agência de notícias Reuters. Vê só:

LONDRES (Reuters) - Detetives antiterrorismo britânicos prenderam um homem em um avião após um motorista de táxi ter suspeitado dele quando começou a cantar canções da banda punk The Clash em seu carro, informou a polícia nesta quarta-feira.
Detetives pararam o vôo com destino a Londres no aeroporto de Durham Tees Valley, ao norte da Inglaterra, e Harraj Mann, 24 anos, foi preso.
O motorista de táxi ficou preocupado no caminho para o aeroporto quando Mann começou a cantar "London Calling", do The Clash, que contém em sua letra a frase "Now war is declared --and battle come down" (Agora a guerra foi declarada --e a batalha começa).
Mann disse a jornais britânicos que o táxi tinha um sistema de som que permite a ele conectar seu mp3 player no carro e começou a ouvir The Clash, Procol Harum, Led Zeppelin e Beatles.
"Ele não gostava de Led Zeppelin e The Clash, mas não acho que precisava ter chamado a polícia", disse Mann ao Daily Mirror.
Uma porta-voz da polícia em Durham afirmou que Mann foi solto após interrogatório. Entretanto, ele perdeu o vôo.




PROMOÇÃO DA SEMANA

Vamos a ela.
E-mails para lucio@uol.com.br concorrem, nesta semana, a:

* Um ingresso para o Skol Beats 2006, que terá Prodigy, LCD Soundsystem e Tiga

* O recém-lançado (aqui) "Road to Rouen", da banda inglesa Supergrass, atração do Campari Rock deste sábado.

* Um exemplar do semanário "New Musical Express", com um especial dos Strokes, mais sete pôsteres

Vem que tem.




RESULTADO DAS PROMO

* os vencedores de ingressos para o Campari Rock deste sábado estão sendo avisado por telefone.

* CD "Virgin Recommends" (We Are Scientists, Devendra Banhart, Giant Drag, Broken Social Scene, Magic Numbers, She Wants Revenge)
- Cristiane "Diesel"
São Paulo, SP

* Pacote trama (Belle & Sebastian + Babyshambles)
- Claudia A. Pires
Santos, SP




Poim!
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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