Pensata

Lúcio Ribeiro

21/04/2006

O pop come a si mesmo

"Se ela dança, eu danço
Se ela dança, eu danço
Eu falei com o DJ"
MC Leozinho, em "Se Ela Dança, Eu Danço"

"Não leio jornal a dois anos e não assino a "Veja"
mas posso fingir que sei
se você pagar uma cerveja"
De Leve, em "México"

"Se eu não tocar no Abril pro Rock
Como eu vou sair na MTV"
The Playboys, em "Paulo André Não Me Ouve"


Buenas.
Demorô.

Só epígrafe nacional, sente a rima. Eu sei, ando meio funky. O DJ americano Diplo está na área e sair da noite dele e do Marlboro, no Lov.e, direto para fazer a coluna dá nisso.

* Diplo virou mesmo o embaixador da música (indie) brasileira no exterior. O cara já vai levar pelo braço o combo paulistano Cansei de Ser Sexy e o trio curitibano de funk carioca Bonde do Rolê para 30 shows nos EUA, em julho. Agora, foi anunciado, antes carrega o Bonde para dar um rolê (hummm!) na... Escandinávia. E na Inglaterra. E na França. Diplo + BDR iniciam turnê européia rápida dia 12 de maio em Estocolmo (Suécia) e acabam o giro no dia 19, em Paris. Tem gente que acha que Arctic Monkeys é hype, imagine. Hype é Bonde do Rolê. Os caras estão no top 10 mundial de bandas novas da "Rolling Stone", saíram no "New York Times", "New Musical Express" e, em breve, "Blender". Fora o baile.

* Hype é Klaxons. Isso sim é coisa séria, urgente e merece o maior blablablá que, parece, deixa a galera nervosa.

* O carioca De Leve, rapaz de Niterói mais conhecido (acho que só por mim, na verdade) como o Mike Skinner (The Streets) brasileiro, já está causando com suas músicas novas. O "México", da epígrafe acima, não é bem o nome do país da Copa de 70. Física quântica, "Veja", Pedro Bial, Kant, Paulo Coelho, jornalistas. Todos bem representados nas letras. Em www.deleve.com.br.

* Falando em The Streets, só eu gostei de "The Hardest Way to Make an Easy Living"? Baita disco bom, todo mundo achincalhando.

* Nome de disco cool da hora (ou nome cool de disco da hora): "Are You Thinking What I'm Thinking?", do trio de babes californianas The Like.

* Música da hora: "You Fucking Love It", Dirty Pretty Things.

* Um Sonic Youth novo e "sequinho" pulula desde quinta passada na rede. Vários rockinhos de três minutos. Nada de divagações espaciais de sete longos minutos. Experimente a belezura "Jams Run Free", cantada pela Kim Gordon.

. * Senta aí um pouquinho para eu contar uma coisa. O Radiohead está fechado, Tim Festival e tal. O festival quer eles na edição 2006. Eles querem vir na edição 2007. Ai.

* Vem aí, em julho, todo reformulado, com idéias indies ousadas, o Curitiba Rock Festival 2006. Em pleno inverno. Delícia.




O POP COME A SI MESMO




O pop é uma coisa adorável. Principalmente quando ele se auto-reverencia, dialoga entre si, se enche de citações próprias, se canibaliza e, assim, se torna mais pop ainda. E mais adorável. Então.
Neste final de semana Recife é sacudida por mais uma edição do famoso festival Abril pro Rock, um dos principais eventos da música independente nacional, que aborda os indies em suas várias camadas. Sim, a música independente, se você não percebeu, há algum tempo tem várias camadas. E o produtor do festival, o conhecido Paulo André, um dos heróis da música independente nacional da época em que a música independente nacional precisava de heróis, está atento a isso.
O Abril Pro Rock 2006 vai ter atrações gringas (o alemão Stereo Total, o ótimo DJ americano Diplo), os indie-cult Cidadão Instigado (CE) e Orquestra Imperial (RJ), os "populares" Cachorro Grande (RS) e Angra (SP) e o indie-da-hora Montage (CE), também alguns nomes da ceninha local. Mais umas 20 outras atrações espalhadas em seus tradicionais dois palcos.
O Abril pro Rock vai ter tudo isso, mas não vai ter os The Playboys.
Os The Playboys são um sexteto punk-zoeira de Recife que já foi falado aqui na coluna uma vez, depois de uma viagem minha à capital pernambucana.
E, numa das (re)ações mais legais do cenário nacional nos últimos tempos, o "desprezado" The Playboys vai lançar amanhã no próprio Abril pro Rock o single "Paulo André Não Me Ouve", já exposto na internet há algumas semanas (www.theplayboys.com.br).
Punk pegajoso com tecladinho, sons de brinquedo e vozes sampleadas, "Paulo André Não Me Ouve" é um libelo bem-humorado "revanchista" contra a não-escalação do Playboys, banda indie da cena recifense, no gigante (padrões underground) festival recifense de Paulo André, como se fosse mesmo um absurdo o produtor não escalá-los. Mas para a banda é.
"Paulo André, não me ouve/ Paulo André, não me ouve/ Não presta atenção no meu release e CD/ Se eu não tocar no Abril Pro Rock, como vou aparecer na MTV", diz a longa letra, que cita as "intenções" da banda em fazer sucesso, outros produtores de Recife, jornalistas pop locais.
"Paulo André, vamos ganhar dinheiro juntos, cara/ A gente faz uma música de vanguarda para você/ Mas por favor me exporta para a Europa/ Eu quero ser exportado, cara", continua a letra, que conta com um padrinho da velha-guarda local, no caso Rogê, lendário agitador do mangue bit (ou beat) que está até em título de música de Chico Science. É de Rogê a engraçada voz "Paulo André foi ontem pra Nova York", sampleada, que permeia e finaliza a música, indicando a possibilidade (ou desculpa) de não se conseguir encontrar o Paulo André.
"A gente sabe que o Paulo André não consegue ouvir os milhões de CDs de bandas novas que mandam para ele. Mas é nossa função tentar chamar a atenção dele do modo que dá", diz João Neto, vocalista e tocador de brinquedos. "Ele sabe que a música não é para achincalhar ele. Me disse uma vez que não ficou chateado. Até achou legal."
No ano passado, em outro legítimo ato de guerrilha indie, o então não-convidado The Playboys conseguiu alugar uma tenda "para vender coisas" na edição 2005 do Abril pro Rock e participar de algum modo do festival. Alegaram que iam levar uma caixa acústica para mostrar uns instrumentos de brinquedos que iam vender.
Acabaram levando amplificadores e improvisaram um show repentino e não avisado, na área comercial do Abril Pro Rock. Conseguiram atrair até o roqueiro gaúcho Wander Wildner para uma participação especial, ali, na hora. O lugar ficou conhecido como "Palco 3". Esse tal de palco 3 virou onda, está citado na música ("Paulo André, esqueça aquele negócio de palco 3"), e já foi devidamente banido do Abril pro Rock deste ano, em palavras usadas pelo próprio Paulo André em um programa de rádio..
"Na hora em que o Wander cantou, tinha até mais gente que o palco dois, lá", diverte-se João Neto.
O Abril pro Rock, neste fim de semana, deve ser novamente "invadido" pelos The Playboys, que vão levar cem cópias prensadas às pressas do single "Paulo André Não Me Ouve" para vendê-los. Paulo André vai ouvir, enfim, os The Playboys.

Divulgação
Os The Playboys, de Recife, com Julian Casablancas (segundo, vindo da esq.) na formação. Casablancas mantém ainda seu projeto paralelo, os Strokes


* A coisa não pára por aí. Os The Playboys, em seu site, botam disponível uma versão karaokê, para todas as outras bandas recifenses "desprezadas" pelo APR poderem cantar a letra. Mais: a banda planeja fazer de "Paulo André Não Me Ouve" um clipe com bandas indies pernambucanas, na linha "We Are the World".

* Zeitgeist indie é isso. The Playboys/The Rakes musicando a própria cena. As guerrila gigs, os famosos shows repentinos "onde dá" para fazer.

* Essa história do pop se comer me veio à cabeça ao escrever um texto, nesta semana, sobre o single "Smells Like Teen Spirit". Citei um show de dia do Nirvana no Reading Festival de 1991, tipo duas, três semanas antes de o single ser lançado e fazer o que fez na música. Naquela vez, lembrei, o Nirvana tocou de dia, sol na cara, antes até da banda Pop Will Eat Itself. O PWEI era uma banda-sarro britânica bem legal, animadíssima para pista, que arregimentou até uma multidão de fãs por um curto período. Mas ela era tão banda-sarro que o Nirvana tocar antes dela só podia ser piada. Mais um exemplo de como o pop come a si mesmo.

* Pop is eating itself. A nova onda das crônicas americanas sobre a tal banda inglesa Arctic Monkeys está engraçada. Primeiro amaram. Depois a voz forte era a de que a banda era muito barulho por nada. Agora a revista "Blender" dá uma tarja preta no alto de sua capa e diz: "Bananas. Arctic Monkeys, Best Band of 2006!" Enquanto isso, aqui no Brasil, o disco chega enfim às lojas, via Trama. E um verdadeiro leilão brasileiro tenta trazer a banda para o Brasil, do gigante Tim Festival à casa de espetáculos CIE.

* ALGUÉM AÍ: essa coisa de fazer referência à cena tem dois pilares lindos. O primeiro é o grupo nova-iorquino LCD Soundsystem, que faz uns quatro anos veio com "Losing My Edge", que narra a aventura de um indie pelo pop desde 1968. Mas a mais legal é a brasileira "Alguém Aí", de um grupo misterioso chamado Ponto Chic. Que até agora ninguém sabe quem é tal banda, trio, dupla, solo. A música, conhecida na época como "Hino Indie", era um balancinho ótimo, que citava a cena indie paulistana da época, o rock gaúcho, cidades, Strokes, Sonic "Iuti", pessoas, blogs, zines, jornais, programas de rádio e até este colunista. Procurei hoje. Dá para achar "Alguém Aí" na internet. Olha a letra:


"Alguém Aí", Ponto Chic

Alguém aí conhece o Lariú
Alguém aí se chama Billy Buddy
Alguém aí assina mailing list
Alguém aí já recebeu o Next
Alguém aí já comprou na Velvet
Alguém aí conhece Cigarrettes
Alguém aí é de Piracicaba
Alguém aí sonha em ser DJ
Alguém aí já foi no London Burning
Alguém aí é membro do Maybees
Alguém aí já tocou com Pullovers
Alguém aí tem o CD do Strokes
Alguém aí assiste Lado B
Alguém aí já fez seu próprio zine
Alguém aí conhece algum Custódio
Alguém aí lê os contos do Takeda
Alguém aí curte rock gaúcho
Alguém aí escuta o Garagem
Alguém aí lê o Folhateen
Alguém aí sabe do Lúcio Ribeiro
Alguém aí assiste seriado
Alguém aí fala "tu" e não é gaúcho
Alguém aí já foi no show do Stellar
Alguém aí curte Sonic "Iuti"
Alguém aí já fez um democlip
Alguém aí já foi na Galeria
Alguém aí tocou no Alternative
Alguém aí sonha com o Retrô
Alguém aí já vomitou na Torre
Alguém aí sabe onde é Goiânia
Alguém aí conhece o Mario Bros
Alguém aí ainda compra K7
Alguém aí cadê a Showbizz
Alguém aí já morou em Porto Alegre
Alguém aí sonha em ir pra Londres
Alguém aí curte post rock
Alguém aí já leu Cardoso Online
Alguém aí conhece o James Iha
Alguém aí tem seu próprio blog
Alguém aí paga consumação
Alguém aí gosta de Belle & Sebastian
Alguém aí grava CD-R
Alguém aí compra ingresso antecipado
Alguém aí já leu Trabalho Sujo
Alguém aí compra single em vinil
Alguém aí conhece o Pimpão
Alguém aí se considera indie
Se considera indie (8x)

* Como o pop se come e "Alguém Aí" está meio datada, defasada pela rápida evolução dos tempos modernos, uma urgente "Alguém Aí 2" precisa ser feita para retratar nossa cena. E, estou sentindo, a nova versão logo vai estar por aí.




FESTENHAS

* O principal clube de São Paulo hoje, o Vegas, prepara festança de arromba para comemorar seu primeiro aniversário. A idéia é fechar cinco put... casas de "tolerância" da rua Augusta no dia 2 de junho, sexta-feira, e em cada uma delas reproduzir uma das noites da casa. Tudo simultaneamente. A de quinta-feira, a da noite RockFellas, da qual este colunista é residente, está programada para acontecer na boate Balneário, pelo que eu sei. Esse RockFellas especial vai contar ainda com show do grupo Forgotten Boys e discotecagem de João Gordo, entre outros. A festança toda, com as noites reunidas, vai acabar perto da manhã do sábado no próprio Vegas, que terá como "grand finale" três atrações internacionais, entre elas a presença do grande Juan MacLean, músico "maquinal" e produtor que pertence ao selo DFA, o mesmo do LCD Soundsystem. Mais do Vegas 1 Ano a ser divulgado em breve.

* Nesta sexta, feriado, no Studio SP (Pinheiros), acontece a retomada da festa "A Moda É Rock", com show do grupo Borderlinerz e discotecagem deste colunista. Vamos lá?

* Ainda nesta sexta, a boa notícia é a utilização da nova e ótima Casa Belfiori (o melhor hambúrguer da cidade) como balada. Graças ao projeto novo de rock do Tchelo Strike e da Lu Riot. No palco bacana da CB (Brig. Galvão, 871, na Barra Funda), tem ainda shows do Seychelles e do Mama Cadela.




MULDOONS, UMA BOA E UMA MÁ

* A banda mais bizarra do planeta hoje (vocalista de 8, guitarrista de 11 e o pai dos dois na bateria) agora tem músicas na internet, finalmente. Então sua missão é caçar o Muldoons, grupo apadrinhado de Jack White. Busque a tosca "Driver's License", citada aqui semana passada. A voz do garotinho é demoníaca. Depois imagine que ele é um mini-Iggy Pop.

* Pisada. Na coluna passada, por um erro na edição final da foto dos menininhos dos Muldoons, esta abaixo, o crédito da imagem foi exterminado. A foto foi tirada do delicioso blog The Modern Age, de Nova York. Foi mal, Laura.

www.themodernage.org






IN MY HOUSE! MY HOUSE

Uma das principais atrações do Skol Beats 2006, a banda norte-americana LCD Soundsystem pediu para chegar ao país uma semana antes do evento, que acontece dia 13 de maio no Complexo do Anhembi, em São Paulo. O quinteto pediu indicações de praias e alugou uma casa no litoral paulista para relaxar (quem sabe até ter idéias), uma vez que já estão totalmente envolvidos na pré-produção do novo álbum. Por conta disso, o grupo só fará dois shows em 2006, um deles em São Paulo.




PROMOÇÃO DA SEMANA

Só dois, porque a situação de escoamento de prêmios está brava. Vencedores, uma hora eles chegam. Direto ao papo, lá vai o que você pode ganhar nesta semana, mandando e-mail para lucio@uol.com.br.

* a edição nacional do Arctic Monkeys (Trama), o tão-falado "Whatever People Say I Am, That Is What I Am Not" * um show em DVD do grupo americano Raconteurs, de Jack White, som e imagens tirados de espetáculo no clube Astoria, em Londres, no final de março.




VENCEDORES DAS PROMO

Promessa. Até sábado à tarde as listas atrasada e atual de
ganhadores de prêmios vão estar divulgadas aqui. Falei?
Não me olha assim.
Vou ali.
Fui.
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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