Pensata

Lúcio Ribeiro

28/04/2006

Como uma virgem

"Come with me, come with me
We'll travel to infinity
I'll always be there for you
my future love"
Klaxons, em "Gravity's Rainbow"

"When you're a famous boy, it gets really easy to get girls.
But, when you try to pull a girl, who is also famous too,
it feels just like when you wasn't famous"
The Streets, em "When You Wasn't Famous"

"Ooh, baby
Can't you hear my heart beat
For the very first time?"
Madonna, em "Like a Virgin"


Here we go.

Coluna arquitetada de Los Angeles, em compasso de espera para cair no deserto e acompanhar o Coachella 2006. Aquilo de sempre: um milhão de bandas legais tocando ao mesmo tempo e todo mundo correndo de um lado para o outro, calorzaço de matar durante o dia, frio polar à noite. Mas, fora isso, "até" que não é ruim, não.

* Eu sei, essa história é velha. Mas o New Order está confirmado, fechado, assinado para tocar no Brasil em novembro, espetáculos sob a responsabilidade da CIE.

* O "Los Angeles Times" soltou uma matéria sobre o impacto da chegada "apocalíptica" do 6 de junho de 2006, data do mal, no mundo pop. Na terça 6 de junho, e não numa sexta, estréia o remake de "The Omen" ("A Profecia"), com Julia Stiles e Mia Farrow , na reformulação do clássico de horror de 1976. Como o diabo é o pai do rock, em disco sai "Strummin' with the Devil", do figuraça David Lee Roth (ex-Van Halen) e "The Stench of Redemptino", da banda de death metal Deicide, que prega o sacrifício animal.

* Popload também é bobagem. Sabe aquelas horas que você está ouvindo uma música gringa, não entende a letra, mas acha as palavras parecidas com alguma frase desconexa em português? Vá ao http://cognatas.dromma.org, veja, ouça, chore de rir e contribua.

Lá tem o Clash cantando "Charlize, que saudadeeeees" no refrão de "Rock the Casbah". Ou o Billy Idol mandando "Feche os olhos e aaaaaaaah, vai enxugar o peixe", em "Eyes without a Face". O Nirvana berrando "Ah, não, os avião..." em "All Apologies" e o espetacular achado em música da banda indie nova-iorquina Yeah Yeah Yeahs: "Eu fissurada, eu fiz suruba, eu fissurada, eu fiz suruba. Uêi, au. Ei, menino, onde o índio sai, cuspiu, quem quer que tome".

* Deixa eu citar mais duas, por favor. "Eu estudo e me formo", canta o Sting em "King of Pain", do Police. Só não é melhor que "Roubaram a mãe, no Paraguai, não pára mais", como canta Joey Ramone em "Teenage Lobotomy", dos Ramones. A besteira é tanta que a "tradução" na verdade são três variações da palavra "lobotomy"

* Mais uma, a última, juro. De novo os Ramones. Joey Ramone falando igual paulista a frase "O que se tá fazendo, hein, André?", numa música que eu sinceramente não tenho idéia qual é.

* O mais legal é que tem um monte de música em português que eu não entendo o que, em muitas partes, o cantor está falando. O Legião Urbana tinha várias. O Charlie Brown Jr. tem uma música boa que até hoje eu não sei o que o refrão do Chorão diz. Esqueci o nome da música agora...

* E, numa tarde (tarde?) dessas, durante uma demonstração de uma luta de sumô no programa "Charme", da Adriane Galisteu (SBT), tocou... Arctic Monkeys.

* Come with me, come with me.




POR ENTRE OS SEUS RINS

Um outdoor na saída do LAX, o aeroporto angelino, quebra o clima sisudo para quem quer fugir daquela área feia de hotéis e aluguéis de carro o mais rápido possível para chegar a uma praia qualquer. O cartaz mostra o astro extracool francês Serge Gainsbourg e sua musa, Jane Birkin, num fundo preto. É a capa do CD "Monsieur Gainsbourg Revisited", uma homenagem inglesa ao cantor, compositor, ator, autor, agitador francês, que saiu na frança em março, mas chega às lojas agora em maio nos EUA.

No Reino Unido, já é segunda-feira próxima. Nnão há notícias do lançamento do disco no Brasil, não é, Universal?

O CD é um modo anglo-americano (no caso, de artistas da língua inglesa) de mastigar a atmosfera chic-cabaré francesa das músicas de Gainsbourg e devolvê-las em forma de rock ou eletrônica soft para inglês ver (ouvir). E, por mais obsceno que isso possa parecer para o "obsceno" Gainsbourg, o resultado ficou bom de lascar.

O novo rock britânico, nomes do indie americano, artistas de estirpe como Jarvis Cocker (ex-Pulp) e Michael Stipe (REM) e Tricky, entre vários outros, prestam essa homenagem musical que vem para lembrar os 15 anos da morte do homem que botou Catherine Deneuve, Brigitte Bardot e Isabelle Djani (entre outras) para cantar (sim, a frase tem algo de obscena).

O grupo escocês de alma francesa e nome alemão Franz Ferdinand traz a senhorinha Birkin como convidada especial em "Sorry Angel", que virou "A Song for Sorry Angel". A doce Cat Power faz duelo lesbo chic com a modelo Karen Elson (que casou com Jack White na Amazônia) na mais-que-famosa "Je T'aime Moi Non Plus", anglotravestida como "I Love You (Me Either)".

A sussurrada "Je T'aime Moi Non Plus" foi a primeira canção de língua não-inglesa a cravar o número um nas paradas britânicas, apesar de ser proibida na BBC, excomungada pelo Vaticano e por, quase acima de tudo, ser... uma música francesa. Pelos idos de 1970, a frase "Eu vou eu volto, por entre seus rins" causou. Com Cat Power/Karen Elson virou algo menos, hum, explícito: "Eu vou e volto por entre você".

O fantástico grupo de moleques The Rakes, de Londres, está no disco. Assim como a dupla The Kills. Mas o toque mais "gainsbourg" do disco vem das versões de Jarvis Cocker e do assombroso (nos dois sentidos) Portishead, que finalmente reaparece ao pop com algo "novo.




COACHELLA 2006

Como assim Madonna?

Acontece neste final de semana na cidade de Índio, Califórnia, o gigante, peculiar e, neste ano, polêmico Coachella Valley Music and Arts Festival, um dos mais excitantes eventos de rock (não só) do calendário musical do planeta.




Esta edição 2006 do festival, que é erguido em um lindo e arborizado campo de pólo encrustado no tórrido deserto de Coachella, calor intenso de dia, frio incômodo à noite, reúne amanhã e domingo cerca de 100 atrações, 100 mil pessoas interessadas em música alternativa e uma intrusa neste meio: a cantora megastar Madonna, rainha do mainstream, dona de uma coleção de 12 singles que chegaram ao primeiro lugar nas paradas britânicas e a mais famosa artista feminina da história do pop.

Fora o ruído em torno da convidada especial, o Coachella 2006 segue sua tradição de juntar nomes reluzentes do novo rock (Yeah Yeah Yeahs, Clap Your Hands Say Yeah, Franz Ferdinand, Sigur Rós), promover grandes voltas (Depeche Mode e Tool), escalar astros da eletrônica (Massive Attack, Paul Oakenfold, Mylo), não dar as costas ao forte hip hop americano (Kanye West), incentivar cenas "fora-do-eixo" (Wolfmother, Austrália), apresentar uma dezena de bandas bem iniciantes e espalhar instalações artísticas por todo o seu espaço, que abriga dois palcos ao ar livre e três tendas (duas de rock/hip hop e a dance orquestrada por DJs).




Neste ano o festival caprichou na peculiaridade. Além de Madonna, o evento californiano tirou da França os ermitões da eletrônica Daft Punk, convidou o já notório rapper judeu ortodoxo e reggaeman Matisyahu e arrumou bom lugar para o brasileiro Seu Jorge mostrar como faz sambinhas de clássicos de David Bowie.

Madonna realmente tem roubado a atenção dos indies caça-novidades do Coachella. A cantora, que abre no Coachella sua esperadíssima e mundial Confessions Tour, escolheu fazer uma apresentação "especial" no festival do deserto: escalada para o domingo, não cantará no palco principal e sim na tenda dance do evento, que tem uma capacidade de 8.000 pessoas.

Enquanto Madonna estiver se apresentando na tenda, o palco principal do Coachella estará vazio. A ironia é que, entre as "vítimas" que vão estar tocando no mesmo horário da cantora, nas tendas menores, está o Seu Jorge.

"Estávamos procurando alguém grande e diferente para fechar a tenda dance no domingo", contou a este colunista, por email, o produtor Paul Tollette, da Goldenvoice, empresa responsável por organizar o Coachella. "Depois de alguns telefonemas e conversando com as pessoas certas, chegamos eu alguém MUITO grande. Digamos que a maior das atrações possível."

Desnecessário dizer, os ingressos para o domingo já estão esgotados.

Tollete confirmou a tentativa de bancar o impossível, que foi tentar reunir para um show no Coachella o lendário grupo inglês The Smiths, ao qual foi oferecido a quantia de US$ 5 milhões por uma única apresentação.

"A gente tentou, achamos que seria uma boa hora, mas eles não quiseram", disse o organizador do festival. A resposta do Morrissey foi um não categórico. "Não é uma questão de dinheiro. Hoje eu preferiria comer meus próprios testículos a voltar com os Smiths. E olha que eu sou vegetariano."

Esta é a sétima edição do festival que mais cresce no mundo. Por olhar direto para o rock, mas abrir seus ouvidos para o principal de todas as vertentes (a camiseta mais vendida do evento diz "Coachella : breaks, beats, riffs, melodies, hip hops, hooks"), ter um cenário paradisíaco, promover shows inusitados (em 2004, trouxeram os Pixies de volta à ativa), armar todo ano alguma grande apresentação-surpresa, ser prestigiado por um sem-número de vips hollywoodianos e, neste ano, ousar botar Madonna para abrir sua turnê mundial numa "tendinha".

Mais do que isso: em nenhum momento de sua carreira, Madonna sequer se aproximou de um festival de música, para cantar.
Como assim, Madonna?

* Semana que vem, a cobertura e alguns causos do que deu pra ver no Coachella.

* Coisas que eu não queria perder, mas em festivais assim nem me iludo mais de ver o que eu programo: Kanye West (yo!), Daft Punk (puts, é quase no mesmo horário que o Rakes), Rakes (você não imagina a minha felicidade quando vi que eles foram colocados de última hora no festival. Isso porque acabei de vê-los no Texas), Madonna (por que não?), Franz Ferdinand (minha vingança por ter perdido os três shows deles no Brasil), Seu Jorge (to zoando, óbvio...), YYYs (oi, Karen), Giant Drag (oi, Annie), Mylo (para dançar um pouquinho), Eagles of Death Metal (Josh Homme é deus), Clap Your Hands Say Yeah, Audio Bullys (pela décima vez), Infadels (o disco punk não morreu), Ladytron, Cat Power, Animal Collective (para ver se eu vi mesmo aquele show do Texas ou estava imaginando) e mais umas dez outras. E, óbvio, Depeche Mode.




MY FUTURE LOVE

K-L-A-X-O-N-S. Vai buscar no myspace, vê o vídeo no site deles. Disco punk daqueles de o baixo não combinar com a guitarra. E os dois não ter nada a ver com a bateria. O melhor: o vocal às vezes parece Bee Gees!!!! O povo do Cansei de Ser Sexy logo deve fazer uma música sobre eles.

Quem tem saudade do Rapture? O Klaxons é um trio do circuito Londres/Birmingham que não é um caso isolado. Existe um levante de grupos-djs-animadores-de-festinhas que estão balançando o underground britânico no quarto andar da escala indie de lá. Klaxons, Infadels, Justice, Hot Chip, ShitDisco, diferentes entre sim, mas no mesmo registro. Para você ter uma idéia de o quanto a coisa é séria, os caras dos Klaxons usam camiseta pólo. Não preciso dizer mais nada.

O primeiro single deles, o delicioso "Gravity's Rainbow", lançado no final de março em edição limitada, não existe mais, ouvi dizer. Quem tem tem. "I'll always be there for you, my future love", diz a letra. Nesta segunda-feira, eles tocam na noite Trash, do clube The End, a famosa festa do DJ Erol Alkan e a balada de rock mais legal do planeta. Isso incluindo as noites de quinta no Vegas.

* Falando em Vegas, a festança de aniversário do primeiro ano do clube mais bacana de São Paulo vai contar ainda, além do DJ e produtor Juan MacLean, com a apresentação de Tim Sweeney, outro nobre integrante da espetacular DFA, de Nova York. Dia 2 de junho, espalhadas pela rua Augusta, cinco festas ao mesmo tempo para comemorar o primeiro aniversário do clube paulistano. Para, depois, tudo acabar no Vegas.




POPICES

* Um dos nomes mais legais da música eletrônica fazendo cover de uma das bandas mais legais do rock. Já ouviu o Royksopp fazendo cover de "Go with the Flow", do Queens of the Stone Age? Wow.

* Desta vez parece que vai. Se você ainda respeita os caras pelo seu passado magistral, tem Echo & The Bunnymen neste sábado em São Paulo. A turma do Ian toca nesta sexta em Curitiba e domingo no Rio.

* Futebol é pop. Vocês viram a "guerra" entre bandas inglesas por causa da música para a Copa do Mundo na Alemanha? Pede para o Ian McCulloch contar. E, se nos shows do Brasil, ele cantar "Come on, come on, you fucking England", feita para "motivar" a seleção deles, o ingresso já estará valendo.

* Mais futebol. Nunca teve tantas e tão boas propagandas sobre futebol na TV. Qual a sua predileta?

* O veterano músico gênio americano Scott Walker, espécie de Ronnie Von do rock britânico (ele mora há muito em Londres), está de volta. Vendo o culto às suas canções aumentar, decidiu se mexer e mostrar que ainda está vivo e com lenha para queimar.

"The drift", seu primeiro disco de inéditas desde 1995, sai pela não menos cultuada 4AD mês que vem. Barítono, bonitão e artista predileto dos caras do Radiohead, Walker lançou quatro discos solo sensacionais no final dos anos 60, que chamaram a atenção de gente como David Bowie e do britpop classudo de Divine Comedy, Pulp e Suede, antes de virar apresentador de programas para donas de casa e ganhar status de cult. "Big Louise" e "My Death" são para agora. Já.

* E, para quem leu a coluna na semana passada, o produtor recifense Paulo André, que banca o festival indie Abril pro Rock, ouviu os Playboys. Por falar em banda do Recife, o grupo de bossa Rádio de Outono se apresenta como convidado do Ludov neste domingo, às 18h, no Centro Cultural São Paulo.

* Depois do sucesso com o Cansei de Ser Sexy, a Trama Virtual assina contrato de lançamento de discos "reais" com a segunda banda indie: a Zefirina Bomba, da Paraíba.




PREMIAÇÃO DA SEMANA

Em viagem, é aquela coisa. Quem escrever para lucio@uol.com.br vai concorrer a:

* uma "lembrança" do Coachella 2006

* o DVD oficial do Coachella, com a história do festival e cenas de shows de artistas que estiveram no evento nos últimos anos, de Pixies a Árcade Fire.

* um pacote trama espetacular, com o DVD do Franz Ferdinand e o disco do nosso grupo predileto, o Arctic Monkeys.

Vai lá.




RESULTADO DAS PROMO

Um ingresso para o Skol Beats (Prodigy, LCD Soundsystem, Tiga), que acontece dia 13 de maio, no Anhembi, São Paulo.

- Ludmila Alves
São Paulo

- Marcelo "Destroy"
São Paulo

* Um DVD do Franz Ferdinand
Elisa C.
Campinas, SP

* O CD "Road to Rouen", da banda inglesa Supergrass
Júlio Gomes
Rio de Janeiro, RJ

* O exemplar do semanário "New Musical Express", com um especial dos Strokes, mais sete pôsteres, não vai rolar. Perdi a revista. Foi mal.

* Tchau aí. Desculpa qualquer erro, mas essa saiu no gás. Agora vou ver o que tem lá na Amoeba. Até semana que vem.

Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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