Pensata

Lúcio Ribeiro

19/05/2006

O maior festival de (?) do mundo

"Skip to the last paragraph
Before we start
Is it a happy ending or a broken heart?
Happy ending or a broken heart?"
Futureheads, em "Skip to the End"

"You can do anything you want
As long as it makes sense"
Mystery Jets, em "You Can't Fool Me Dennis"

"So we kick, push, kick, push
kick, push, kick, push
And the way he roll
just a rebel to the world
with no place to go"
Lupe Fiasco, em "Kick, Push"


Alô, music lovers!
Na paz?
Então é porque você não é de São Paulo.

* Você não pode me zoar, Dênis

* Coluna meio Brasil, meio México. Pode usar de intimidade e chamar de colunita, porque nem vai ser tão grande.

* Pode dar os parabéns para este bravo espaço, o primeiro e hoje o mais bem-sucedido canal pop do Brasil, graças a você. A coluna acaba de completar 6 anos. As comemorações, turbinadas, mudanças vão vir antes de você dizer "O Brasil é hexa".

* Ah, o (novo) rock...
Enquanto em sua última edição o Skol Beats, que aconteceu sábado em São Paulo, se autoproclamava o "maior evento de música eletrônica do mundo", o que se viu e ouviu de destaque no festival foi o show 100% punk da banda inglesa Prodigy, a apresentação rock-tosco do combo americano de disco punk LCD Soundsystem e a discotecagem do canadense Tiga, cujo melhor momento de seu set foi os remixes para "Skip to the End", nova música do grupinho indie inglês Futureheads, e "Banquet", de outro brit-indie, o Bloc Party. Skol Beats, o maior evento de rock do mundo?
Seguindo no raciocínio e seguindo ao aeroporto, esta coluna foi convidada para ir à Cidade do México conferir o novo formato do festival Nokia Trends, que será apresentado lá neste final de semana, está sendo formatado para agosto/setembro no Brasil e vai ter na escalação mexicana o grupo de disco punk nova-iorquino Rapture, o indie-dance Kasabian e o indie-punk Art Brut, os dois últimos da nova safra britânica.
Quem tem ido aos cinemas recentemente deve ter visto a propaganda da nova coleção da marca de roupa jovem Ellus, em cujo comercial a banda que se apresenta e serve de trilha sonora é a indie Wry, oriunda de Sorocaba e hoje baseada em Londres.

* Smack my bitch up!
Nem o próprio Prodigy deve ter acreditado no que aconteceu no último sábado, no Skol Beats. Grande parte dos aproximadamente 60 mil presentes ao festival enfrentou o maior acotovelamento da história recente em shows no Brasil e ondas humanas para gritar as letras do histórico "The Fat of the Land", disco de quase dez anos atrás.
Está certo que, quando "The Fat of the Land" foi lançado, em 1997, seu sucesso foi tão impressionante que quebrou barreiras na música e virou o grande responsável pela massificação da música eletrônica. Mas muito tempo se passou e o furacão Prodigy já nem tem nem mais sua força destruidora. A banda até já tocou aqui, em 1999, no mesmo Anhembi, no calor do auè provocado pelo "The Fat of the Land", mas a "loucura" não foi nem de longe como o que aconteceu no sábado passado.
Então por que todo esse tumulto tardio para ver o Prodigy, que nem mais é banda de primeiro escalão e como se "The Fat of the Land" tivesse sido lançado em abril?

Resposta fácil: o democrático mundo novo da Internet e de todas as suas possibilidades. Este mesmo que as gravadoras acham que deve ser exterminado.

* Então. No You Tube (óbvio) tem vídeo de até 9 minutos do show da volta do Guns N' Roses, do último dia 12, em Nova York, no Hammerstein Ballroom. Só para avisar. Lá tem até vídeo de uma catarse coletiva, na hora em que a banda tocou "Welcome to the Jungle". Absurdo eles botarem essa música para abrir o show. A moçada pirou. O Guns tocar no Ballroom equivale ao, tipo, Oasis tocar na Funhouse.

* Então 2. Tenho ouvido bastante o novo Primal Scream, este "Riot City Blues", que chega às lojas (inglesas) em junho. E o disco até agora me trouxe sentimentos confusos. O Primal Scream é uma das bandas indies mais espetaculares do planeta, mas fiquei com impressão, ouvindo o disco, que eles perderam o bonde. Ou eu perdi. Uma banda tão sempre-à-frente como o Primal Scream não deveria estar fazendo um disco assim, pensei. Li críticas do tipo: "O CD é o mais coeso de toda a história do grupo. E o melhor, menos complicado, mais eufórico e festeiro disco já feito em muitos anos". Mas ainda assim acho que, quando "Riot City Blues" é bom, ele me lembra... Forgotten Boys.
Um amigo meu, que não perde a fé, fica repetindo: "Ouve alto, Lúcio. Ouve alto".

Vou ouvir. Espero escrever algo diferente sobre o disco na semana que vem, na linha "eu estava enganado".

* Lógico, "Country Girl", o single que sai na segunda-feira agora, é bacana, já disse aqui. Entra no rol de músicas legais com "country" no nome, tipo "North Country Boy" (Charlatans) e "Country House" (Blur). O clipe é "louco". Mostra uma loira dessas do interior se aprontando para se divertir. E depois se divertindo. Como só as loiras do interior se aprontam e se divertem.

* Em compensação (compensação?), um pacote de músicas novas ótimas está sendo derramado pelo pop, se espalhando pela internet, reverberando nas rádios (da internet, óbvio) e enfeitando os iPods (ou onde quer que vc escute música). São muitas, acredite. Vou citar pelo menos cinco:
- "You Can't Fool Me Dennis", Mystery Jets
Chame como você quiser. Indie-soul, guitar-spirit...
- "Skip to the End", Futureheads
Jogral cool entre voz e guitarra repetitiva, música deliciosa puxando disco novo, que sai no final do mês
- "Kick, Push", Lupe Fiasco
Hip hop malandro, na manha, do rapper de Chicago amigo do Kanye West.
- "Atlantis to Interzone", Klaxons
Sirenes, descontrole, falsete. Klaxons é oficialmente mais excitante banda do rock hoje.
- "In the Morning", Razorlight
Essa música foi ouvida pela primeira vez em um desfile da Dior, em Paris. Tá?

* Nesta semana, nos EUA, em episódio de duas horas de duração, será mostrado o final da temporada de "Lost". Nele você vai saber que tudo o que aconteceu não passou de...

* Oooooops.
A Apple, gigante dos computadores e hoje gigante da música, inaugura nesta sexta-feira na luxuosa Quinta Avenida, em Manhattan, mais uma de suas famosas tecnolojas brancas. Para a festa de inauguração, está sendo esperado um convidado "especial", é o boato que corre: a megabanda U2.
Enquanto isso, na Inglaterra, e ainda à respeito da briga judicial entre a Apple (Beatles) e a Apple (iPod), um jornal de TV da BBC discutia o assunto. E chamou um respeitado expert, Guy Kewney, para uma entrevista no programa. Por algum motivo, o produtor do jornal errou a recepção onde Kewney esperava para entrar no ar e chamou por "Guy" em voz alta. Um outro Guy, de sobrenome Goma, imigrante africano recém-chegado do Congo, esperava sua vez para uma entrevista de emprego na BBC e respondeu: "Estou aqui".

Goma foi levado ao ar para responder sobre a pendenga legal entre as Apple e, sim, mesmo com uma cara de "passado", disse o que achava deste louco mundo de downloads musicais.

O vídeo da errata da BBC está aqui: www.youtube.com/watchv=zj65znF5gNI&search=bbc%20news.

* Cabia tudo no último Coachella 2006: rock, eletrônico, rap, Madonna. Por que não uma formação bizarra de uma dupla fantasiada de "Mágico de Oz", em que um cara é DJ emulando as batidas à lá Gorillaz enquanto o cantor de voz anasalada parece ter acabado de sair de um coral gospel?
O show da dupla Gnarls Barkley no deserto da Califórnia, no final de abril, foi isso mesmo: um show. Cee-Lo consegue não parecer estranho fazendo discurso alegre para depois emendar cantando soul music triste. Danger Mouse tira de letra a tarefa de orquestrar, com seus beats de hip hop underground, uma banda de apoio que toca o que vier da dupla, seja soul mesmo, algo mais eletrônico, um quase rap e até rock.

"Vocês querem um pouco de rock'n'roll? Afinal, este não é um festival de rock'n'roll", lembrou Cee-Lo ao público que lotou a tenda onde tocou a dupla, curioso para ouvir ao vivo o marcante e recordista single "Crazy", uma espécie de "Hey Ya" (Outkast) destes tempos.

Mas a hora era de rock e viria "Gone Daddy Gone", a cover do Violent Femmes, grupo do underground americano dos anos 80 que misturava indie music com folk. Só que, em vez de um vocal nerd, Cee-Lo põe ginga no rock e transforma a tenda em um bailão.

Gnarls Barkley representa um frescor diferente na música pop, esta que balança entre o rock e o hip hop e flerta com soul e r&b. Esse melê sonoro é enfeitado pela voz própria de Cee-Lo, que realmente passa sinceridade no que está cantando, seja nos momentos animados ou como em trechos amargos do tipo "I have tried everything but suicide/ and it`s crossed my mind / but I`m fine", da canção "Just a Thought", suíngue de batidas quebradas.

O hit "Crazy" ao vivo veio acelerado, mais rock que soul, no final da apresentação. Lá o jogo estava ganho. Para quem só conhecia o Gnarls Barkley pela música estilosa que é sucesso em rádio de rock, e por uma ou outra que foi colocada na página da banda no site My Space, a platéia mostrava uma cumplicidade impressionante, como se a dupla estivesse para lançar seu sexto disco, e não o da estréia.

Por um momento, ao sair da tenda na qual se apresentou a dupla de Cee-Lo e Danger Mouse, ainda com "Crazy" na cabeça, a pergunta era diferente da do começo do texto: quem eram todas aquelas bandas de rock, hip hop, eletrônico e Madonna naquele festival do Gnarls Barkley?

* Tudo isso para falar que o álbum do Gnarls Barkley, "St. Elsewhere", carregado de "Crazy", está chegando às lojas brasileiras, via Warner.

* Na chegada ao México, ainda no aeroporto, como de hábito fui correndo comprar jornais locais para ver o que acontece na cidade. Em um caderno de entretenimento de um deles, uma página anunciava um show do fim de semana em página inteira: Guns N' Roses. Quase engolia a tortilla inteira que eu estava comendo. Aí, num olhar mais bem apurado, enxergo entre parênteses, pequenininho, no canto superior: "tributo". Ainda assim, está dando vontade de ir ver o Axl Rose mexicano. Hard Rock Live, $ 100 pesos.

* Igualzinha à esperteza e agilidade da MTV do Brasil, a music television mexicana, assim que eu liguei a TV no hotel, me mostrou um especial com a banda americana Death Cab for Cutie. Assim que acabou, três vídeos na seqüência do Arctic Monkeys, dois clipes e um ao vivo sensacional de "Fake Tales of San Francisco" que eu não entendi de onde era. Mais, todas as vinhetas da MTV local e 80% das propagandas veiculadas são sobre Copa do Mundo. Futebol é pop.

* Para um Via Funchal com um público em torno de 4 mil pessoas, a banda daaaaark Sisters of Mercy solta seus demônios hoje em concorrido show em São Paulo. Só os pedidos de credenciamento de imprensa ultrapassaram 150. First and last and always.

* PROMOÇÃO DA SEMANA - rapidinho, o que tem para sortear, aos que pedirem no lucio@uol.com.br, é o seguinte: um DVD do Franz Ferdinand, o disco novo do Vines ou uma "Rolling Stone" mexicana, com os Chili Peppers na capa. Quer?

* E, finalmente, a lista (atrasada) dos vencedores da promo é esta:
- Edição especial da "Rolling Stone 1000"
Fabiano Vox
Vitória, ES

- Cópia de um disco de bandas legais fazendo covers legais, que veio na última edição da revista "Q"
Janice A. Silva
Osasco, SP

- Single importado do Raconteurs
Marcelo Albuquerque
São Paulo, SP

- Um exemplar da revista "Filter", com o disco "Welcome to the Desert 2006", distribuído no Coachella
Paulinho Reis
São Paulo, SP (talvez)
Lúcio Ribeiro, 41, é colunista da Folha especializado em música pop e cinema. Também é DJ, edita a revista "Capricho" e tem uma coluna na "Bizz". Escreve para a Folha Online às quartas.

E-mail: lucio@uol.com.br

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