Pensata

Magaly Prado

25/01/2003

Rádio Planalto vira evangélica

A Igreja Universal fechou contrato de arrendamento por três anos com a rádio Planalto (50.000 watts), de Vinhedo (SP), 75 km da capital. Segundo informações de funcionários da emissora, o contrato é de R 50 mil mensais. A decisão de entregar a emissora aos religiosos acabou provocando uma revolta nos ouvintes da cidade. Os responsáveis da igreja Universal de Jundiaí já arrendavam a rádio Difusora AM, na mesma cidade.

COMO ERA
A rádio Planalto seguia uma programação popular, com horários desde sertanejo até rock e música eletrônica, principalmente nos finais de semana.

Durante a semana a rádio era no estilo da Sucesso FM, de São Paulo, com um pouco mais de música pop, do que popular.

O aviso da "nova rádio" foi dado dois dias antes da nova programação entrar no ar. Agora a rádio "gospel" durante 24 horas, está com programação local, mas com poucos horários em rede (cerca de 1h30 diária, no total)

A rádio Planalto era arrendada até o final de 2004, mas o contrato com os antigos "arrendatários" foi quebrado por motivo deste novo arrendamento.

Os locutores foram obrigados a virar operador dos novos "locutores" ou a saírem da rádio.

A rádio Planalto possuía vários contratos comerciais e também com programas terceirizados, os mesmos foram totalmente rescindidos sem nenhum aviso.

Quanto aos terceirizados não foi pago nenhuma multa, pelo fato de não possuírem contrato, mesmo estando alguns há 13 anos no ar.

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Rede Jovem Pan FM Sat passa a contar com nova afiliada, a Jovem Pan Mercosul. Falam agora para a Argentina e Paraguai, com sotaque castelhano. Opera na cidade de Puerto Iguazu, na Província de Missiones (Argentina). A rede possui agora 41 emissoras, e segundo Sérgio Cunha, Diretor Comercial Jovem Pan FM: "a maior rede de rádio jovem do Brasil".

As emissoras de rádio comemoram os 449 anos da cidade. Colocam na programação de amanhã, dia do aniversário, músicas que falam de São Paulo.

O programa "Made in Brasil" (domingo, das 10h às 12h), da Kiss FM, mostra seleção de clássicos de bandas paulistanas do rock nacional que falam do tema. Ira!, com "Pobre Paulista", "Pânico em SP", dos Inocentes, e "Santa Rita de Sampa", de Rita Lee, são algumas escolhidas por Morcego.

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Já a rádio Cultura AM vai rechear a programação de amanhã com uma série de depoimentos de músicos, artistas e profissionais liberais sobre a cidade de São Paulo. Entre eles falam: Lobão, que declara o seu amor pela cidade, e Maria Bethânia, que em seu disco "Maricotinha", fala de como Sampa a acolheu, recém-chegada da Bahia.

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"Porque hoje é sábado" homenageia São Paulo

No aniversário de São Paulo o " Porque hoje é sábado" , da rádio Bandeirantes AM, homenageia a cidade. Lourival Pacheco apresenta um programa especial, com canções que falam de São Paulo. Entre as atrações, Adoniram Barbosa e Demônios da Garoa. Hoje, a partir das 21h.

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"Você é curioso?" mostra personagens curiosos de São Paulo

No dia do aniversário de São Paulo o programa "Você é Curioso?" mostra personagens diferentes da cidade. Marcelo Duarte e Silvânia Alves entrevistam gente que ganha a vida de forma inusitada, como um animador de velório e um especialista em fotografar confusão. O programa revela também curiosidades do Museu Erótico de São Paulo e do Museu do Crime da Polícia Civil. O "Você é Curioso?" vai ao ar aos sábados às 10h e em horário alternativo, às 20h.

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Aniversário da Rádio Capital

Hoje, a rádio Capital AM (1040 kHz) comemora 27 anos de existência. A emissora com sede em São Paulo, na av. 9 de Julho, 3939, figura em segundo lugar no ibope e mantém em seus quadros os principais comunicadores: Eli Corrêa, Zé Béttio, Paulo Lopes, entre outros.

Musical fecha

Cem por cento MPB, a Musical FM funcionou no dial até 1999. De lá para cá estava operando apenas na internet e também fechou, pois o portal dependia de patrocínio. Rádio online- Gerou extenso conteúdo sobre MPB com músicas e informações.

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Rádio pirata é fechada e volta a funcionar

Agentes federais fecharam a Planeta 90 FM, famosa rádio pirata de São Paulo pertencente a Francisco Sales Silva, que comanda a Igreja Católica das Santas Missões, conhecido como padre Chico.

Na Igreja, além de equipamentos e material da rádio, foram encontradas e apreendidas armas, mas por conta de uma viagem ao sul do País, o "padre" não foi preso. Já sua esposa Maria Amorim da Silva foi presa em flagrante e responderá processo por ferir a Lei das Telecomunicações e por porte ilegal de armas.

O transmissor não foi encontrado. A suspeita é que "padre" Chico utiliza um transmissor móvel, pois a rádio ilegal já voltou ao ar.

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O programa "São Paulo Capital Nordeste", na Capital AM (1040) do poeta Assis Ângelo de hoje na Capital AM presta homenagem ao aniversário de São Paulo. Uma das trilhas do programa será a belíssima toada São Paulo de Todos nós, de Peter Alouche e Téo Azevedo, interpretada por Téo. Depois vem uma crônica de Assis, sobre a cidade e um pequeno texto também sobre a cidade assinado pelo paraibano poeta Arnaldo Xavier.

Conheça algumas das músicas que vão tocar pelo próprio Assis:

"- dobrado de Amor a São Paulo, do carioca Vinícius de Moraes e do pernambucano Antônio Maria, interpretado por Aracy de Almeida (única gravação é a dela, em disco de 78 rpm) - Vinícius, quem diria, hein declarando amor a São Paulo, antes de dizer anos depois que São Paulo é o túmulo do samba... só podia estar bêbado...

- Você já foi a São Paulo, samba de Wilson Batista e Jorge de Castro, na interpretação mais do que perfeita do bom Rolando Boldrin.

- São Paulo meu Amor, do baiano Tom Zé, que ganhou com essa música o primeiro lugar do terceiro festival de música brasileira promovido pela Record em 68.

- Ronda, de Paulo Vamnzolini, em japonês

- Charlie Brown, de Benito de Paula, em alemão

- Lampião de Gás, em japonês

- São Paulo dos Lampiões, maxixe de Victor Simon com Carlos Galhardo

- Baião no Brás, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, com Isaurinha Garcia

- Quarto Centenário, dobrado de Mário Zan e JM Alves, com a banda dos fuzileiros da Inglaterra; em japonês e em português, com o próprio Mário falando sobre essa música, que vende na época mais de 6 milhões de discos de 778 rpm

- Capital Gigante, moda de viola de Raul Torres e Sebastião Teixeira, com Raul Torres e Florêncio

- Saudação a São Paulo, cateretê de Ado Benatti e Serrinha, com Serrinha e Caboclinho

- Porque Amo São Paulo, samba de Nelson Gonçalves, com Nelson

- hino a São Paulo, de Júlio Revoredo, com o grupo Titulares do Ritmo

- O parabéns São Paulo, de Rutnaldo, com Emilinha Borba

e participarão Paulo Vanzolini, Demônios da Garoa, Inezita Barroso e o poeta Paulo Bonfim"

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Dei no Agora

Estréia "Meu Rico Dinheirinho"

O objetivo é dar um panorama geral da economia aqui e no exterior com linguagem fácil. Denise Campos de Toledo, repórter e comentarista da Jovem Pan AM há dois anos, é quem comanda o programa de segunda a sexta-feira, das 5h10 às 5h20.

"Meu Rico Dinheirinho" pretende trazer o "economês" para o dia-a-dia. "Não adianta só dar os números da inflação ou simplesmente falar que os juros estão em alta. Não é burocrático, faz a tradução e explica como administrar isso. O programa dá dicas quando a notícia é negativa ou como utilizá-la quando é positiva", diz Denise, que acumula as demais funções que já faz na Pan: participa dos jornais da emissora. E em épocas de reformas do Congresso ou eleições, quando a política se mistura à economia, também é escalada.

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Deu na Reuters

GM quer rádio digital em todos os veículos Detroit - A General Motors anunciou na terça-feira que vai oferecer um serviço de rádio digital via satélite como opcional na maioria de seus modelos de carros e utilitários em 2004.

A maior montadora de automóveis do mundo já oferece o serviço da XM Satellite Radio como opcional em 25 veículos desde o início do ano-modelo 2003, incluindo toda a linha Cadillac.

Para os modelos 2004, no entanto, a GM disse que estará expandindo sua oferta a fim de incluir 44 modelos, ou mais de três quartos de toda a sua linha de carros, caminhões, minivans e utilitários esportivos.

A GM e a XM não revelaram os termos financeiros dessa transação conjunta.

Para a instalação do serviço XM básico, Mike Merrick, porta-voz da GM, disse que os compradores de carros pagarão 325 dólares pelo equipamento e instalação e mais uma assinatura mensal de 9,99 dólares.

A XM e a rival Sirius Satellite Radio, as duas principais redes de rádio digitais dos Estados Unidos, têm cada uma cerca de 100 canais de música, notícia, programas de entrevistas, esportes e entretenimento. Este conteúdo pode ser transmitido a motoristas de maneira ininterrupta enquanto dirigem em qualquer parte do país, afirmam as empresas.

Boa parte da programação não tem comerciais e, além do som digital, as empresas alegam superioridade sobre as frequências tradicionais de rádio AM e FM porque seus sinais de rádio não seriam perturbados por estática.

Merrick disse que a GM quer ampliar sua fatia de mercado com a tecnologia e oferecerá rádios via satélite em toda sua linha de modelos em 2005, nos Estados Unidos.

A XM anunciou na Consumer Electronics Show de janeiro de 2003 que já tinha mais de 360 mil assinantes do serviço, mas a expansão de seu acordo com a GM certamente gerará crescimento ainda maior em sua base de clientes.

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Deu no radios.com

Rádio Sucesso 969 continua com todo gás no rádio paulista.... Em consulta ao Depto. de Marketing da Rádio, a Sucesso 969 não pretende sair, ceder, vender e muito menos está negociando sua frequência 96,9 Mhz de São Paulo com qualquer outro grupo de rádio. Segundo Mariângela Ribeiro, Diretora de Marketing da Rádio, a Sucesso não está negociando com ninguém seu canal, muito menos uma parceria com a Rádio O Dia FM do Rio de Janeiro, como foi publicado anteriormente aqui nos 'Bastidores do Rádio'. Pelo contrário, a Sucesso 969, busca com todas as suas forças, a liderança no Ibope em São Paulo. Agradecemos a atenção da Sucesso 969 em corrigir a nota publicada em nosso espaço. O espaço 'Bastidores do Rádio' tem esse objetivo, publicar, discutir, e até, retratar-se em situações delicadas, como esta. Estamos á disposição, não só da Sucesso 969, mas á todos os radiodifusores de todo Brasil.

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Deu no Comunique-se

Rádios comunitárias têm que ter autorização, diz TRF. O Poder Público afirma que qualquer emissora de rádio, mesmo comunitária, que opere só com fins sócio-educativos, só poderá funcionar com sua autorização. Esta conclusão é da 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, que recebeu o pedido da Anatel contra a Fundação Obra Assistencial para Integração Social da Comunidade (Fundação Oásis), que é responsável por uma rádio comunitária em São Vicente, Rio Grande do Norte.

Apesar da emissora funcionar apenas em caráter experimental, a Anatel interrompeu os serviços da rádio em março de 1999. A Fundação Oásis entrou com mandado de segurança alegando ter habilitação com data anterior à medida da Anatel.

O Tribunal Regional Federal da 5ª Região confirmou a sentença, alegando que o funcionamento da rádio comunitária para fins educativos, socioculturais e religiosos, independentemente de permissão, autorização ou concessão do poder público, não constitui ilegalidade.

Ao contrário das emissoras que exercem atividades comerciais, o TRF entendeu que as rádios comunitárias com fins educativos não poderiam ser incluídas no artigo 223 da Constituição Federal. A decisão ressaltou que, na época da interrupção dos serviços, a lei 9.612/98 ainda não estava em vigência.


TRIBUNA DO LEITOR OUVINTE

Oi, Magaly. Estava lendo sua coluna sobre rádio e concordo com a crítica sobre alguns ( a maioria) locutores de FMs. Sou radialista e jornalista há 33 anos. Comecei no rádio AM - aliás, o rádio verdadeiro -, e também não consigo entender o que alguns locutores dizem; na verdade querem passar um ar de intimidade com o microfone e o ouvinte, e partem para os desconexos às raias do retardo mental, sem informar.E parece regra entre esses meninos que pensam que aprenderam algo de bom para mostrar.E os donos das emissoras acreditam que fazem o certo e não parecem preocupados com o nome da emissora que está em jogo e a ponto do descrédito.

Mudou muito desde o meu tempo. Sem saudosismo barato, mas o rádio de 'ontem' era para quem conhecia. Hoje...

E tem mais: o número de emissoras evangélicas e ou religiosas, povoou o dial de tal maneira que sobram três ou quatro emissoras audíveis, como a Antena 1, a que ouço entre as FMs. Das antigas, sobram Jovem Pan 1, Bandeirantes e Eldorado. Não vejo outras que possam ter crédito, principalmente no jornalismo.

No geral, você tem toda razão. E suas críticas são oportunas.

Um abraço e sucesso.
José Netto

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ALGUÉM SABE RESPONDER?

Magaly, Boa tarde! Li (como sempre) sua coluna na Folha e observei que essas mudanças da Sucesso 96,9 também afetaram um locutor que já estava acostumado a ouvir. Você sabe pra onde foi o Robson Ramos que trabalhava no horário da manhã (de 6h as 10h) todos os dias? Bem é isso, um grande beijo. Daniel Neves

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Olá Magaly, gostei de ler na Folha Online do dia 8/1/3, seu ponto de vista a respeito das programações de emissoras de rádios no brasil. Meu nome é Julio Cesar Coelho (castelo), moro no extremo sul de Santa Catarina, no município de Balneário Gaivota, temos em nossa cidade uma rádio comunitária, da qual faço parte da diretoria, venho lutando pela democratização do sistemas de comunicação desde 1987. Em nossa rádio comunitária a gente deixa bem claro a importância de de se passar a mensagem clara para os ouvintes. Temos também a consciência de termos orientações de profissionais da área de jornalismo para melhorar nossa programação. E através da criação dessa emissora gerou interesse na juventude em cursar jornalismo. Magaly, gostaria se possível, que você escrevesse algo a respeito das emissoras comunitárias dentro projeto do atual governo federal. Atenciosamente, Julio Cesar Coelho.

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oi magaly, prazerosamente estou lendo sua coluna. sobre a nota, REPÓRTER ESSO, que você, fala que o pessoal, da CASPER LÍBERO, fez com os radialistas, NICOLAU TUMA, e, DALMÁCIO JORDÃO, porque você não transcreve para a sua coluna esta reportagem? quem não tem acesso, a este jornal editado pela Casper Líbero, fica na saudade.

por favor se der faça,isso.

um amante das coisas do rádio,

atenciosamente

jose antonio lopes

Resposta: ai vai uma delas, a outra coloco semana que vem

Um beijo a todos e fiquem com a matéria do jornal Esquinas, da Cásper Líbero

Entrevista: Dalmácio Jordão

Repórter Esso

Locutor conta histórias sobre sua vontade de ser locutor antes de entrar para o programa e como a censura agiu sobre o noticiário carioca

Dalmácio Jordão começou sua carreira de radialista na Rádio Clube da cidade de Marília, interior de São Paulo. Apresentava um programa de auditório chamado "A Tribuna dos Estudantes" que ia ao ar à noite, uma vez por semana. Era um espaço para jovens estudantes discutirem seus problemas e apresentarem canções, poemas, entre outras atividades artísticas. Segundo Jordão, "eles tinham liberdade para fazer aquilo que quisessem". Mais tarde, ingressou no radiojornalismo, sua grande paixão. Hoje, aos 72 anos, o ex-repórter Esso fala sobre momentos de sua trajetória jornalística.

Esquinas de S.P. - Quando o senhor começou a carreira de radialista?
Dalmácio Jordão
- Minha carreira começou em 1948. Eu era estudante em Marília e participava de um programa de calouros na Rádio Clube da cidade. Levava meus colegas, uma verdadeira torcida organizada, para me aplaudir e ganhar todos os sábados cinqüenta cruzeiros, a moeda daquela época. A nossa turma se reunia no principal bar da cidade e gastava o dinheiro do prêmio. E um dia fui revelado. Chamaram-me devido à ausência de um locutor da rádio. A partir daí, teve início minha a carreira de radialista. Logo optei pelo radiojornalismo. Já ouvia freqüentemente o Heron Domingues apresentar o Repórter Esso, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. O meu desejo era chagar lá, ser também locutor do Repórter Esso. Montei um jornal junto com um radiotelegrafista da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Naquela época, toda comunicação era feita através do código morse, não havia teletipos nem satélites. Nós interceptávamos as notícias do Repórter Esso dadas na Rádio Nacional e dávamos com meia hora de antecedência. Violávamos tudo quanto era regra jornalística, até porque nós ignorávamos isso.

ESP - Então, o senhor era o "primeiro a dar as últimas", antes mesmo do próprio Repórter Esso?
Jordão
- Exatamente, meia hora antes nós irradiávamos tudo. Nosso programa era muito ouvido e comentado.

ESP - Apenas a cidade de Marília tinha acesso ao noticiário?
Jordão
- Cidades vizinhas também. A imprensa comentava bastante sobre isso. Falava-se: como pode o Repórter Esso lá do Rio de Janeiro ser "o primeiro a dar as últimas" se o Dalmácio Jordão, aqui em Marília, transmite as mesmas notícias meia hora antes? Um dia, resolvi escrever uma carta para a Esso. Na minha ignorância e simplicidade caipira, escrevi contando meu desejo de ser locutor oficial do programa, pois eu já fazia o noticiário em Marília. A Esso entusiasmou-se com a idéia, mas em primeiro lugar mandou suspender o programa "clandestino". Mesmo assim, pediram-me que enviasse uma gravação do noticiário para analisar meu timbre de voz, entre outras coisas. Passado um ano, enviaram uma carta dizendo que o programa sairia da Rádio Record e passaria para a Tupi. Era preciso um novo locutor. Para isso foi aberto um concurso do qual fui convidado a participar.

ESP - Isso em São Paulo?
Jordão
- É. O Repórter Esso começou em São Paulo em 1942, na Rádio Record. Em 1950 foi para a Tupi.

ESP - Antes do concurso, quem era o locutor oficial?
Jordão
- Era o Casimiro Pinto Neto, apelidado de Bauru. Apresentou o programa por bastante tempo, mas preferiu não sair da emissora Record. Participei do concurso, ganhei e permaneci de 1950 até o final de 1968, com interrupção de um ano - em 1964, quando me dediquei exclusivamente à propaganda. Na verdade, eu era jornalista e publicitário, trabalhava na agência MacCann-Erickson. Depois, tive uma desavença com a direção da Rádio Tupi, que foi um dos motivos do meu desligamento da Rede Associada. Em 1964 um novo locutor trabalhou durante cerca de dez meses. Pouco tempo depois, o programa saiu da Tupi e foi pra Rádio Nacional, de propriedade do Vítor Costa. Nessa ocasião, ano de 1965, pediram para eu voltar. Voltei. Um ano mais tarde a Nacional foi comprada pela Globo e passou a ser a Rádio Globo de São Paulo. Eu fiquei até 1968. Esse ano marca o fim da minha carreira como locutor titular do Repórter Esso.

ESP - O senhor trabalhou no noticiário televisivo também?
Jordão
- Trabalhei como substituto titular nas folgas e emergências, especialmente do Kalil Filho. E, reciprocamente, o apresentador da TV substituía-me no rádio.

ESP - Como era o modelo de radiojornalismo feito pelo Repórter Esso, quais as inovações trazidas? O que fez dele um programa com grande credibilidade e influência na sociedade?
Jordão
- O Repórter Esso era transmitido por cinco emissoras no Brasil. Os estados eram Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Recife. Tinha uma audiência enorme, bem superior a do Jornal Nacional de hoje, por exemplo. O programa começou em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial. Foi idealizado para ser um noticiário com o propósito de cobrir apenas os acontecimentos desse conflito. No início, não havia um horário determinado, ele entrava no ar a medida em que as batalhas aconteciam, cidades eram tomadas ou caídas. A qualquer momento, o Repórter Esso tinha a prioridade de furar qualquer outro programa e transmitir notícias extraordinárias. Uma característica marcante foi o prefixo do programa. É uma grande música, creio que não foi criado nada igual ate hoje.

ESP - Parece que ela foi criada pelo maestro Carioca, e era uma mistura de fanfarras e clarins.
Jordão
- Na verdade, o maestro Carioca dirigia a fanfarra. Quem criou a "característica" do Repórter Esso foi o maestro Pixinguinha. Sobre a credibilidade do programa, vamos voltar um pouco no tempo. Quando a guerra terminou esperava-se o fim do noticiário. Mas, houve uma grita geral. O Brasil inteiro reclamou. Os jornalistas e os críticos eram contra o fim de um radiojornal tão importante. Após uma reunião com redatores, com a UPI [agência de notícias United Press International], a Esso e a agência MacCann-Erickson decidiu-se pela continuidade do noticiário.

ESP - Qual foi a mudança na programação, já que antes as notícias eram exclusivamente internacionais?
Jordão
- A equipe se reuniu e foi elaborado um manual de produção. Como não noticiávamos apenas fatos internacionais, discutimos o quê e como seria noticiado. Quarenta por cento das notícias eram locais, outros quarenta destinados às nacionais e vinte por cento para as internacionais.

ESP - As reportagens internacionais eram produzidas pela UPI ou por redatores brasileiros?
Jordão
- As notícias chegavam prontas e à noite eram traduzidas e distribuídas aos jornais.

ESP - Sendo assim, para a o noticiário nacional foi necessária a criação de uma equipe de redação aqui no Brasil?
Jordão
- Exatamente. Usavam-se também as fontes das próprias emissoras. As "Associadas", por exemplo, utilizavam a Rede Associada de Jornalismo, algo muito grande. O Assis Chateubriand tinha um poder jornalístico muito grande, em suas mãos estava o poder da comunicação. Em alguns casos, o locutor também participava da redação do jornal.

ESP - Quando foi elaborado o Manual de Redação do Repórter Esso?
Jordão
- O Manual foi escrito logo após o fim da guerra. Já que uma empresa estrangeira era a patrocinadora do programa, teria de haver um certo cuidado com a transmissão de notícias e preocupação em não ofender o Brasil. Quando "falavam mal" do país, quando não eram fatos de interesse dos brasileiros, tratávamos as notícias com cuidado, mas não as retirávamos do noticiário.

ESP - A UPI mandava reportagens desse tipo?
Jordão
- Sim. Do mesmo modo como até hoje falam mal do Brasil lá fora.

ESP - E quanto aos EUA, também se evitava notícias contrárias ao país?
Jordão
- Jamais houve interferência. Eu participei da cobertura da Guerra da Coréia e da Guerra do Vietnã, por exemplo.

ESP - Fale sobre alguns fatos históricos importantes narrados e vivenciados pelo senhor
Jordão
- A Guerra da Coréia foi cruel e danosa para a humanidade, principalmente para os EUA que perderam muitos de seus soldados. O mesmo pode ser dito sobre a do Vietnã. Eu dei a notícia do fim do conflito na Coréia, foi um alívio para todos, pois parecia que ela seria o estopim de uma Terceira Guerra Mundial. Depois disso tudo, veio a Guerra Fria. Mais tarde veio o lado bom da história: as descobertas. A exploração do universo, a chegada do homem na Lua, a vacina contra a paralisia infantil e tantas outras coisas boas que ocorreram nesses quase vinte anos em que narrei o Repórter Esso.

ESP - De que forma o noticiário foi afetado pelo Golpe Militar de 1964? Houve censura?
Jordão
- Passamos por um período de grande preocupação. Durante um tempo, nada mudou. Até o dia em que a censura bateu à nossa porta. Cheguei a narrar a edição das 20 horas - a mais ouvida - cercado por dois soldados armados com fuzis, além do censor do exército. Rabiscavam o noticiário e eu redigia novamente para apresentar ao censor. Depois se fechou um acordo entre o Repórter Esso, a UPI e a censura, uma vez que aquele aparato era desnecessário. Apenas servia como meio de constranger locutores e redatores. O censor não ia mais até a rádio, mas nós tínhamos uma forma de redigir, às vezes, ser menos contundente, de modo a não ferir os interesses militares.

ESP - Quais os assuntos mais censurados?
Jordão
- Principalmente notícias que versavam sobre atitudes do presidente e das forças armadas. Amenizávamos os relatos ou, em última instância, cortávamos do programa - ao invés de durar cinco minutos, somente três iam ao ar.

ESP - Tais práticas comprometiam a imparcialidade jornalística?
Jordão
- Eu diria que sim, porém, em determinados jornais. O Repórter Esso nunca foi parcial. Ou riscava, ou amenizava a notícia, somente isso.

ESP - Qual o legado deixado pelo Repórter Esso Jornal e por seu concorrente, o Grande Jornal Falado da Tupi, ao jornalismo brasileiro?
Jordão
- Em primeiro lugar, o Esso nunca teve concorrente. Ele era um noticiário curto, com cinco minutos de duração. Já o da Tupi era um "senhor" radiojornal apresentado por quase uma hora. Abria espaço para comentários, às vezes jocosos ou hilariantes. Enquanto que o Repórter Esso restringia-se a noticiar a informação. Nada de comentários, o ouvinte ou telespectador que fizessem a análise dos fatos.

ESP - Esse era o modelo proposto pela UPI?
Jordão
- Sim, pela UPI. O manual dizia para nunca comentar a notícia. Era função do ouvinte comentar e refletir. Quanto à credibilidade, nós tínhamos um slogan em nossa redação: "O programa nunca deve informar algo sem antes apurar. É preferível ser furado a ser desmentido". E por isso, o Repórter Esso nunca precisou desmentir informações.
Magaly Prado é jornalista e radiomaker. Escreve para a Folha Online aos sábados

E-mail: magalyprado@uol.com.br

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