Pensata

Magaly Prado

10/01/2004

Record e América

Sai mais um resultado do Ibope. Período de férias e compras, o mês de dezembro geralmente perde ouvintes. O número total de quem ouve AM, por exemplo, diminuiu mesmo. Mas não foi o que aconteceu com a Capital, Bandeirantes, Tupi e CBN, por exemplo (falo dentre as dez primeiras do ranking). Globo, Imaculada e América desceram pontos e Record ficou na mesma.

Na verdade, a diminuição da quantidade de ouvintes da América fez com que ela ficasse atrás da Record.

As duas mudaram radicalmente a programação no segundo semestre de 2003. Até outubro, elas estavam trocando comunicadores.

A Record, que estava com a programação quase toda evangélica (na época só restavam Paulinho Boa Pessoa, ainda o mais ouvido da emissora, e Fiori Gigliotti) voltou a ter programação variada comercial.

A América demitiu comunicadores populares como Paulo Barboza, Roberto Losan, Kaká Siqueira, Nelson Rubens e João Ferreira para colocar no lugar uma turma de estudantes da Cásper Líbero.

Liderados por Emanuel Bonfim e Sílvia Sibaldi, o projeto começou com a intenção de levar apenas música de qualidade para os ouvintes dos 1.410. Os programadores musicais Irineu Franco Perpétuo e Alexandre Pavan trouxeram refinamento e cuidado ao mostrar o melhor da música brasileira. Porém, segundo Emanuel Bonfim, os primeiros resultados da audiência fizeram com que fossem acertando a programação de acordo com o gosto de seu ouvinte antigo.

Hoje, a rádio está voltando a popularizar seu playlist. Primeiro foi o horário das 4h às 8h, com o "Alvorada", que passou a atender a preferência da Rede Paulus Sat, que prefere músicas populares mais conhecidas e, depois dobraram a "Hora do Ouvinte", que hoje vai das 9h às 11h, com os pedidos dos ouvintes ao vivo.

Com todas essas alterações, ambas estão esperando os números, que depois de março vão mostrar se os rumos estão dando certo.

Marcos Calazans, diretor comercial da Record, ressalta que a programação que conta é a que chegou a partir de 20 de outubro, e que, portanto, os números deste mês são apenas sinalizadores. Mas avisa que "as baterias estão sendo viradas para a rádio Record". Não quis destacar nenhum comunicador em crescimento, disse apenas que "houve uma homogeneidade nos dados de todos eles. Ninguém estourou ou caiu. O bacana foi justamente isso."

Já na América, Bonfim citou a equipe de Juarez Soares que levou o programa de esporte , das 18h às 19h, a crescer nos últimos três meses.

Semana que vem dou mais detalhes das demais rádios. Inclusive em relação às FMs.

TRIBUNA DO LEITOR-OUVINTE

Olá Magaly !!

Meu nome é Alexandre Luppi , sou programador musical a apresentador da Eldorado FM. Sempre que posso leio sua coluna e nela, muitas vezes, me deparo com comentários pertinentes, outros não.Gostaria de esclarecer que nem todas as rádios funcionam da mesma maneira, ou seguem o mesmo pensamento.

Aqui na rádio Eldorado FM sempre tomamos o maior cuidado quando colocamos uma música na programação, seja ela conhecida ou não. Consultamos os apresentadores, estagiários, pessoas de outros departamentos e principalmente OS OUVINTES. Sabemos que nossa programação tem falhas também e diariamente trabalhamos para tentar corrigi-las.

Gostaria de deixar muito claro que, apesar do ótimo relacionamento que temos com todas as gravadoras, multinacionais ou as "pequenas", não existe e nem nunca existiu a menor possibilidade da prática do tal jabá. Se tocamos algumas "faixas de trabalho" , levamos em conta sempre que muitas delas são adequadas ao nosso playlist. E muitas vezes, nós tocamos antes mesmo de receber as músicas das próprias gravadoras .

Como assim? Pesquisamos e compramos muitos CDs, a maioria deles na Laserland ( dou a fonte para ficar bem claro). e nem por isso a Eldorado FM trabalha no "vermelho". O nome disso talvez seja INVESTIMENTO CULTURAL.

Se as outras rádios só tocam uma ou duas músicas da Maria Rita, por exemplo, nós tocamos pelo menos seis músicas deste disco além de mais duas com o Chico Pinheiro e Milton Nascimento.

Se por aí só tocam do novo disco do Skank Dois Rios e Vou Deixar, aqui

tocamos Amores Imperfeitos e Pegadas na Lua. Nós já tocávamos Ben Harper 'MUITO' antes das rádios. Sem falar de Mark Knopfler, Dianna Krall, Norah Jones, Paul Simon, Everything But theGirl, Paulinho da Viola, Maurício Pereira, Style Council, Macy Gray, Prefab Sprout, Jack Johnson, Vanessa da Mata e tantos outros.

Temos também no nosso "playlist" Jazz, Blues , Rock, Pop, Lounge, R&B, MPB, o 'alternativo' etc etc.

Damos também oportunidade para os novos nomes da música brasileira, aqueles que muitas vezes nem gravadora ou um selo tem.

Falar sobre reciclagem no rádio, mobilizar ouvintes para pressionar os governantes sobre a necessidade de despoluição do Rio Tietê, a luta contra a Voz do Brasil, são todas iniciativas da Eldorado FM.

Acho que colocar todo mundo no mesmo bolo e dizer que não há novidade no meio rádio FM, é talvez, falta de prestar atenção nas rádio que não figuram entre as primeiras do IBOPE.

Obrigado pela atenção e estou aqui para responder qualquer pergunta pertinente a programação da Eldorado FM

Alexandre Luppi

Locutor e Programador Musical

(11) 3274-6839

***

Resp.: Que bom, Alexandre, que a Eldorado tem o intuito de levar boa música ao ouvinte. Claro que quando eu falo, eu generalizo, é sobre a grande maioria que assola o dial perturbando meus ouvidos. Espero que vocês continuem assim, investindo e preocupados com um projeto cultural. Eu confesso que muitas vezes gosto do que ouço na Eldorado. Posso só fazer uma observação? Vários locutores imitam o jeito de falar de Daniel Daibem, ou seja, principalmente nos sons de X e J, que ficam meio encorpado, não sei explicar, só ouvindo... você já prestou atenção nisso? Aliás, não é só na própria Eldorado que isso acontece, locutores de outras rádios também pegaram o jeito dele falar.... engraçado isso, ne?

IMITAÇÕES

Falando em imitação no dial, é impressionante como nada se cria mesmo e tudo se copia, não é? Acho o fim da picada a falta de criatividade de muitos radialistas que não possuem o menor traço de personalidade e saem copiando frases (com o mesmo jeito de falar), slogans, e até quadros de programas alheios.

Por um lado, a pessoa copiada fica com a absoluta certeza que o que ela bolou dá certo, tanto que pegam suas idéias. Por outro lado, vira tudo uma grande mesmice....

Não falo de quadros de saúde ou culinária, que sempre existiram em rádio AM. Falo da cópia descarada das idéias atuais dos outros. Às vezes fico triste com isso. O meio rádio carece de mais profissionalismo e respeito, não acham?

***

Querida Magaly:

Desejo a você muito mais sucesso em 2004 e agradeço por oferecer a todos um espaço muito importante e que deveria ser cada vez mais divulgado. Venho através desta mensagem expressar minha reflexão quanto às informações em sua retrospectiva. Acredito que 2003 foi o início do fim de uma era no rádio - a era da gestão norte-americana de marketing (lista de trabalho + playlist + verba + execução) adotada pelas gravadoras aqui no Brasil. Nos estados unidos ela segue firme e forte com várias vantagens. O dial norte americano é multi-formato e possui uma série de selos e gravadoras que desenvolvem essa gestão e oferecem múltiplas possibilidades aos ouvintes.

No Brasil o funil foi ficando cada vez mais popular onde hoje apenas as rádios populares (brega + pagode + romântico + trilha novela + sertanejo + axé) e as rádios pop que brigam no IBope com as populares conseguem morder algum investimento. Com isso, o maior número de emissoras adota ou o popular ou o pop na esperança de estar no bolo deixando poucos donos de emissora abnegados que decidem bancar do bolso a emissora para oferecer um formato diferente. Com a pirataria e a crise artística os populares e os pop estão numa briga de foice pelo pouco de investimento que existe e isso apenas nas grandes praças como Rio, SP , BH e Salvador. Culpam a pirataria pelo estrago mas a dimensionam mais do que é. Encobrem a crise artística que cada uma das gravadoras enfrenta - afinal quando o artista lança algo de qualidade, as vendas mesmo com a pirataria são interessantes como a trilha de Mulheres Apaixonadas (700 mil) e Tribalistas (quase 1 milhão de cópias) . As vendas da maioria das gravadoras e artistas estão baixas porque o produto já nasce praticamente morto. Pergunto - qual artista terá inspiração e dedicação em compor e produzir boas músicas se sabe que bom ou mal se a gravadora não investir não vai rolar no rádio? Se o mercado é ' vale quanto pesa' não precisa se esforçar. Por essa razão, os CDs são feitos sem a mínima vontade de inovar e criar uma vez que o artista sabe que seu peso na gravadora é grande e boa ou não a música de trabalho vai rolar. Está explicada a crise artística . Só precisam avisá-los que o cd hoje não é barato e o povo não é bobo - música ruim não vende e não dá audiência - resultado - as vendas despencaram e a audiência do rádio FM vem caindo drasticamente.

O outro lado da moeda é o lado comercial. Nesse ponto é que digo que é o começo do fim. As emissoras acostumaram com o investimento das gravadoras e deixaram de lado o lado comercial. Resultado - começam a enxergar que o mercado publicitário nos últimos 10 anos aprendeu a vencer sem o rádio (Nos Estados Unidos só perde para a TV e no Brasil perdem até para outdoor!)- por essa razão as emissoras começam do zero sua maneira original da concepção de gerar lucro : vender comerciais e tentar atrair a atenção e o investimento de quem eles nos últimos 10 anos pelo menos desdenharam ou simplesmente atuarem com má fé (furando clientes das agências,etc..) espero que a partir de 2004 as gravadoras e as emissoras de rádio fechem os olhos por 5 minutos apenas e voltem a qualquer ano da década de 70 ou 80 e vejam como se fazia o negócio - não do jeito norte americano e sim do brasileiro - criando diferenciais, descobrindo e lançando artistas talentosos e inspiradores com produção que encha de orgulho qualquer ouvinte e oferecendo nas emissoras de rádio variedade com qualidade onde sempre se lança e se toca os melhores e mais talentosos. Com certeza as audiências e as vendas aumentarão e a indústria fonográfica e o rádio voltarão ao posto e posição de lideranças que estavam.

Grande abraço a todos que "visitam" sua coluna semanalmente!

Ricardo Santos- CEO SuaveJazz- Consultoria- Vitória-ES

Resp.: Valeu pelo seu desabafo, Ricardo! Também lhe desejo sucesso! Também concordo que o negócio hoje em dia é ir atrás de diferenciais e não ficar dependente de gravadoras.

Pessoal, até semana que vem! Beijos sonoros!
Magaly
Magaly Prado é jornalista e radiomaker. Escreve para a Folha Online aos sábados

E-mail: magalyprado@uol.com.br

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