Pensata

Magaly Prado

06/07/2002

Nota 10 para o Museu da Pessoa na Cultura AM

Que bom ver programa inteligente, interessante no rádio! Sinto que às vezes vale a pena insistir em girar o dial e me deparar com um trabalho como o do Museu da Pessoa, comandado por Karen Worcman e José Santos, tendo como parceiro o Paulo Marra e sua assessoria, unidos ao Batista Torres, diretor da rádio Cultura (AM e FM), apaixonado pelo veículo como é notório no meio. Não poderia triangular combinação melhor. E dá no que deu. Não perca a estréia na segunda.

Anônimos contam no rádio histórias que marcaram suas vidas

O Museu da Pessoa e a rádio Cultura AM lançam hoje o programa "Museu da Pessoa - A Memória do Cidadão". Na semana de estréia, os depoimentos são sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, iniciada há 70 anos.

Trata-se de programetes de dois a quatro minutos de duração que formam uma série de módulos diários, nos quais as pessoas anônimas contam episódios marcantes da história de suas vidas.

O programa será veiculado inicialmente em dois horários, a partir das 8h55, com reapresentação às 20h55, e trará a cada novo dia um depoimento diferente.

Serão três por dia e 90 por mês, segundo José Santos, só para começar, obviamente, pois depois a captação dos relatos vai se estender aos ouvintes da cultura e, com certeza, não haverá parada, pois todo mundo tem algo pra contar.

Esta semana, que coincide com os 70 Anos da Revolução Constitucionalista, serão veiculadas histórias contadas por homens e mulheres que assistiram aos acontecimentos, combates e manifestações que fizeram parte desse levante iniciado em 9 de julho de 1932.

Ao longo do ano, os programetes "Museu da Pessoa - A Memória do Cidadão" vão abordar temas diversos, como a migração e o cotidiano na cidade de São Paulo na primeira metade do século 20. Além das histórias contadas por pessoas comuns, cada módulo trará uma breve biografia dos depoentes, apresentando-os para os ouvintes. A intenção é que o locutor vire fixo, mas inicialmente haverá revezamento.

Pela manhã, os depoimentos escolhidos vão girar em torno de histórias de infância ou rurais. Já à noite, a preferência recai aos idosos, até por conta da própria audiência da emissora, nesta faixa de horário.

Todos os depoimentos utilizados fazem parte do acervo do Museu da Pessoa, instituição fundada em 1991 com o objetivo de preservar e divulgar histórias por meio dos relatos orais de indivíduos comuns da sociedade. O programa de rádio é resultado de uma parceria do Museu da Pessoa, da Paulo Marra Assessoria de Comunicação e da Rádio Cultura AM.

Na verdade, a idéia é antiga, desde que o museu começou, praticamente. É o que me contou, josé Santos, que já foi radialista no interior de Minas, quando era recém-formado em jornalismo.

Como o tripé é coletar, preservar e divulgar, pensaram em levar exatamente para a rádio Cultura. Conheceram o Batista Torres, houve empatia e bla bla bla... demorou meses para escolher os depoimentos, editar etc e tal, mas valeu!

A equipe do museu e da assessoria são responsáveis pela produção dos textos biográficos e seleção dos relatos, que são editados pela equipe do Museu. A apresentação, edição final e veiculação é da Rádio Cultura AM.

São depoimentos que trazem particularidades sobre o cotidiano de brasileiros e imigrantes que não costumam ser encontradas em livros de história.

Pelo Fone Agora Show, serviço jornalístico do Grupo Folha, pode-se ouvir e conhecer algumas das histórias. Ligue no 3471-4000 e digite 3. O custo é só da ligação.

Entre as histórias selecionadas dentro do tema da chegada de imigrantes europeus ao Brasil, está a da italiana Liviana Gianni Bernicchi, que tinha 18 anos quando chegou ao Rio de Janeiro e avistou o Cristo Redentor, ainda no navio que partira da Itália: "Aquele Cristo ali em cima todo iluminado, ai que o pessoal chorava feito não sei o quê! Como nós choramos! O navio estava ainda atracando, os tios estavam lá embaixo e começaram já a falar. Eu tinha meu tio que vinha conosco, que seria irmão do meu pai. Ele fumava muito, não havia nem mais cigarro no navio. Então, a primeira coisa foi: "Cigarro". Eles pegaram e jogaram o maço de cigarro no navio. Acredita? Alcançaram!".

O Museu da Pessoa é uma instituição especializada em registrar, preservar e divulgar histórias por meio dos relatos orais de indivíduos comuns da sociedade. Foi fundado em 1991 pela historiadora Karen Worcman. Desde então, vem atuando no Brasil e no exterior, construindo um vasto e rico acervo informatizado de histórias de vida, prestando serviços tanto para a comunidade como para empresas e instituições.

Como prestador de serviços para a comunidade, o museu coleta, preserva e divulga gratuitamente os depoimentos de todos aqueles que estão interessados em deixar registradas as suas memórias.

Tais histórias revelam detalhes sobre como indivíduos de diversos setores da sociedade vivenciam e pensam seu dia-a-dia, seu passado e futuro, também informam sobre costumes, leis, estruturas de trabalho e produção, relações humanas e tradições culturais.

Os depoimentos registrados pelo museu, posteriormente, são disponibilizados no site (www.museudapessoa.com.br), para onde qualquer pessoa pode enviar sua história de vida.

O acervo da instituição conta com mais de três mil depoimentos e está sendo totalmente disponibilizado para consulta na internet, sendo fonte de informação e pesquisa inédita no Brasil e no mundo.
Magaly Prado é jornalista e radiomaker. Escreve para a Folha Online aos sábados

E-mail: magalyprado@uol.com.br

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