Pensata

Magaly Prado

07/09/2002

Hoje o rádio completa 80 anos

A primeira transmissão no Brasil foi do alto do Corcovado, no Rio. Epitácio Pessoa proferiu um discurso quando inaugurava a exposição que comemorava os 100 anos da independência política e foi irradiado por uma pequena estação. Roquete Pinto encabeçou um esquema que instalou um fio e disponibilizou um microfone ao então presidente.

Há polêmica em torno de quem primeiro transmitiu as ondas de radiodifusão. O padre gaúcho Landell de Moura recebeu patentes muito antes de 22, na primeira década do século. A rádio Clube de Pernambuco (que aliás continua no ar) solicita o pioneirismo.

O fato é que aqui e no mundo, a virada do século trouxe a radiodifusão e com ela, a comunicação deu um salto inigualável. E até hoje, principalmente o rádio (pois radiodifusão inclui a TV) nada o substitui no quesito imaginação, como bem diz Waldemar Ciglione, radialista de 93 anos na ativa diária (é diretor superintendente da Mundial AM e FM).

Para ele, até mesmo a TV não o supera, pois além de imitar tudo o que o rádio já fez, possui a desvantagem de mostrar a imagem, e para quem acompanha, fica sem graça, já está lá, prontinha, sem possibilidade de se imaginar nada!

Exageros à parte, Ciglione tem razão quando fala da interatividade que sempre existiu no rádio e que hoje está mais em alta do que nunca. Ele lembra que esquemas de carne que conhecemos mais os do Silvio Santos, já existiam bem antes na rádio São Paulo para cestas de natal e o carne provocou um sistema de vendas excepcional! Tanto que o próprio governo estranhou, pois não tinham autorização, só aí pediram regularização, fiscais para o sorteio e patati patata...

Ciglione é taxativo ao dizer que a TV copiou tudo: as transmissões do futebol, progrmas de auditório, de humor, concursos etc.

Ele não se cansa em falar da emoção que a voz passava, principalmente nas radionovelas. Ele, que atuou em mais de 5 mil dramalhões....

Foi um dos maiores galãs do rádio!

Como os 80 anos do rádio ainda vão dar muito pano pra manga, vou contar todo sábado um pouquinho, tá?

E ando recebendo também curiosidades por email, vou começar a soltar aqui. Aguardem!

Mirna Grzich está de volta. Agora na Mundial FM

Amanhã é a estréia de "Música de Todas as Eras", na Rádio Mundial 95.7 FM, no qual a pesquisadora Mirna Grzich continua sendo uma referência na divulgação da música new age no Brasil. Entre 1987 e 1997, ela comandou em outra emissora qualificada, se não me engano na Eldorado, o programa "Música da Nova Era", dedicado à troca de informações sobre harmonia com a vida, ecologia e correntes espiritualistas. A proposta continua a mesma, sempre acompanhada de trilha lounge, world music, trance e mantras. Domingos, às 22h.

PR K DUKA, RÁDIO ZURETA - A RÁDIO QUE TOCA BESTEIRA

Esse é o show especial que o QUARTETO IRREVERENTE - formado por LAERT SARRUMOR (vocal solo), SERGIO GAMA (cordas e vocal), CACÁ LIMA (cordas e vocal) e MOISÉS INÁCIO (performances cênicas e vocal) , todos do grupo LÍNGUA DE TRAPO - preparou para o projeto RÁDIO - 80 ANOS, do Sesc Pinheiros.

O quarteto irá simular um programa de auditório da época áurea do rádio, apresentando paródias, esquetes humorísticos e 'clássicos' do Língua de Trapo, tudo aos moldes do humor radiofônico de mestres como Zé Fidélis, PRK 30 e Estevan Sangirardi e seu 'Show de Rádio'

SEGUNDA, 9 DE SETEMBRO, 21h

Sesc Pinheiros (av. Rebouças, 2876 - tel.11/xx/ 3815 3999). Laerte mandou.

TRIBUNA DO LEITOR-OUVINTE

Querida Magaly / Fluminense FM - falsa polêmica

Gostaria que fosse verdade, mas infelizmente não procede o que diz o

leitor-ouvinte Rogério Velloso sobre a Fluminense FM. Das 8 da manhã às 8 da noite a 'maldita' está quase 100% comercial, enfileirando sucessos do momento. Agora há pouco por exemplo aturei, só para confirmar o que lhe digo, a seguinte sequência : a última do Bon Jovi, a última do Engenheiros do Hawaí, a última do Strokes, mais a última do CPM22, e a última da Alanis Morissete, do RPM, do Aerosmith, dos menudos do K5, e mais um sonzinho de um grupo nacional novo (e fracote) que estão tentando emplacar... É de chorar! De vez em quando até colocam no meio um rokão clássico, bastante surrado, mas não é sempre. No geral, é só paradão mesmo. Depois das 8 da noite a situação melhora um pouco. Não é ainda o que esperávamos, mas comparado com a programação matutina e vespertina é um alívio. Sábado e domingo melhora ainda mais. Pergunto porque não mantém de segunda a sexta este nível de qualidade do fim de semana? Acho que estão sendo meio burros. E explico. Digamos que existam no Rio de Janeiro 50 ouvintes mais exigentes, que não conseguem nem ligar o rádio por falta de opção. E que a Rádio Cidade FM, que tem uma programação comercial bem parecida com a que vem sendo adotada pela Fluminense das 8 às 20, tenha 100 ouvintes. Com esta linha que vem adotando, na melhor das hipóteses a Flu só vai conseguir roubar alguns ouvintes da Cidade - até porque a programação da Cidade está melhor, acreditem! Se adotasse a ousadia, até tocando os sucessos da hora, mas misturando com o que se espera de uma 'maldita', creio que a 94,9 poderia conquistar um público nem maior : além de parte expressiva daqueles 50 rádios desligados, mais uma boa parcela do público da Cidade. Posso estar equivocada, mas desconfio que assim como estão, dono e programadores da Fluminense vão dar com os burros n'água, pela covardia e pela frustração que geraram em quem acreditou no projeto. Um Beijo! Tatiana / Niterói-RJ.

MALDITA

Não deixe de conferir as novidades do TRIBUTO AO RÁDIO DO

RIO DE JANEIRO:

- A ex-Maldita virou 'Bendita' - REDE CANÇÃO NOVA arrenda

a FLUMINENSE AM.

Se quiser enviar comentários, agradeço antecipadamente.

Até a próxima.

Atenciosamente

Marcelo Delfino

Editor

TRIBUTO AO RÁDIO DO RIO DE JANEIRO

http://br.geocities.com/radiorj2002

Cara Magaly,

Segue, para seu conhecimento, notícia publicada no site da OBORÉ, dando conta do fechamento da rádio Bicuda, no Rio de Janeiro, e documento de apoio distribuído no lançamento do filme 'Uma onda no ar'. Um abraço

Terlânia Bruno

História da rádio Favela faz lembrar drama da Bicuda

Um manifesto de apoio a rádio Bicuda, lacrada no último dia 29 pela Polícia Federal, produzido pela OBORÉ, foi distribuído ontem (3) no evento de lançamento do filme 'Uma onda no ar' e do documento 'Por uma política de juventude para o Brasil' promovido pelo Instituto Ayrton Senna. A rádio Bicuda é, assim como a rádio Favela que inspirou o filme, uma emissora comunitária que tem como principal objetivo, a prestação de serviços à comunidade local.

O filme 'Uma onda no ar', de Helvécio Ratton, conta a história da Rádio Favela, de Belo Horizonte. Criada há mais de 20 anos, essa rádio comunitária sofreu durante anos perseguições da polícia até ter seu funcionamento autorizado pelo Ministério das Comunicações, em 2001. A história, real, é a de centenas de outras rádios comunitárias que atuam na clandestinidade, enquanto esperam o aval do governo federal para colocar seus transmissores no ar.

A Rádio Bicuda é uma delas. Localizada na Vila da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro, é uma das mais conhecidas emissoras comunitárias do Estado e vem transmitindo, desde março de 1996, uma programação que alia informações sobre meio ambiente, saúde, música, além de notícias locais. A rádio atinge 14 bairros da região da Leopoldina com cerca de 210 mil moradores.

Política para a juventude - O documento 'Por uma política de juventude para o Brasil' foi entregue, após a exibição do filme, no cine Arteplex, em São Paulo, aos presidenciáveis Ciro Gomes e Anthony Garotinho e aos candidatos a vice-presidentes, José Alencar, representando Lula, e Rita Camata, representando José Serra.

Segundo Viviane Senna, diretora do Instituto Ayrton Senna, o documento (ainda não divulgado) propõe uma política intersetorial, liderada pelo próprio presidente da República, com metas definidas a serem alcançadas nos quatro anos de governo e aponta, como o filme de Rattón, para o imenso desafio de oferecer perspectivas de vida aos jovens. 'Cabe a nós mudarmos essa história e romper a cadeia homicida no país, onde os jovens são as principais vítimas. Precisamos, não de propostas, mas de uma verdadeira política de juventude para viabilizar o jovem no Brasil'.

Abaixo, o documento de apoio à Rádio Bicuda:

Bicuda calada

Isto tem a ver com cada um de nós

Mexeu com um - Mexeu com todos

Na manhã da quinta-feira, 29 de agosto, a Rádio Bicuda, na Vila da Penha

(subúrbio do Rio de Janeiro), foi invadida por agentes da Polícia Federal.

Portando um mandato de busca e apreensão, os policiais levaram todos os equipamentos de comunicação da rádio e prenderam três pessoas: Vanderlei Giarola. presidente da ONG Bicuda Ecológica (à qual a rádio é ligada ),Celso Brittes , Secretário da entidade e Jovanir Conçalves, locutor que trabalhava naquele momento.

A rádio existe há sete anos e há quatro - desde que a Lei de Radiodifusão entrou em vigor- deu entrada no pedido de regularização junto ao Ministério das Comunicações . Até hoje, a resposta não veio.

Aqui em São Paulo, a situação tem sido semelhante. Muitas rádios têm sido perseguidas, recentemente. A história da Rádio Favela, como se pode ver no filme Uma Onda no Ar de Helvécio Ratton, continua atualíssima .

Para oferecer uma alternativa legal a essa loucura de perseguir os que estão do lado do Bem, os vereadores Carlos Neder ( PT ) e Ricardo Montoro ( PSDB ) uniram-se na apresentação de um Projeto de Lei que dota o Município de poderes para autorizar o funcionamento das rádios comunitárias na nossa cidade, como reza a Constituição Brasileira. O PL 145 já foi aprovado ( por unanimidade ) nas quatro Comissões de praxe e está pronto para ir a Plenário. Acompanhar essa tramitação final e garantir o voto de todos os vereadores pode ser uma forma concreta que cada um de nós tem para ajudar na luta Em Defesa da Juventude, da Democracia na Comunicação e do Poder Local Comunitário.

Quanto às pessoas da Rádio Bicuda, detidas na quinta-feira, foram liberadas na no mesmo dia às 22h30.

Na sexta-feira ( 30 ), Maria Eduarda Mattar, jornalista da RETS - Revista do Terceiro Setor - entrevistou Vanderlei Giarola que contou como foi o choque na hora da invasão, as horas em que estiveram detidos e comenta a política de regularização de rádios comunitárias no país.

Abaixo, a íntegra da entrevista.

RETS - Como tudo aconteceu, na quinta-feira?

Vanderlei Giarola - Por volta das 11h30, a Polícia Federal invadiu as

instalações da Rádio Bicuda com um mandato de busca e apreensão, prendeu e algemou o locutor que estava trabalhando no momento - o Jovanir Gonçalves. O locutor falou no ar 'Celso, estamos com problemas' - se dirigindo a Celso Brittes (um dos diretores da rádio). Percebendo o fato, Celso e eu fomos para a sede da rádio para não deixar que nada acontecesse com o Jovanir, que trabalha voluntariamente. Chegando lá, recebemos voz de prisão. Entre o momento em que isso aconteceu e a nossa liberação, ontem (quinta-feira, 29 de agosto) às 22h30, foram 10 horas - durante as quais fomos submetidos a interrogatórios. Não sofremos nenhuma pressão absurda, nada em especial, mas ficamos lá incomunicáveis e tomando 'um chá de cadeira'. Conseguimos sair depois do pagamento da fiança e vamos responder ao processo em liberdade.

RETS - O que os policiais levaram?

Vanderlei Giarola - Eles levaram todos os equipamentos de comunicação da rádio, entre eles: duas mesas de som, dois aparelhos de MD, dois tape decks, uma aparelhagem de comunicação interna, quatro cd players, oito microfones, três receptores FM, entre outros. Tanto os que estavam sendo utilizados como os que são usados para produção de programas e spots educativos que veiculamos, na conscientização e em todo o conjunto de atividades que a ONG Bicuda Ecológica tem. Temos uma sede do CDI lá, desenvolvemos um projeto de prevenção a DST/Aids, entre outras. A rádio é apenas uma delas.

RETS - Por que essa ação da Polícia Federal? O que eles alegaram?

Vanderlei Giarola - O porquê não sabemos exatamente. Numa demonstração clara de incompetência, a Anatel não aprovou até hoje nenhum pedido de regularização de rádios comunitárias na cidade do Rio de Janeiro. Já faz quatro anos que a legislação foi aprovada [a Lei de Radiodifusão Comunitária 9612 de 1998] e no estado do Rio existem 600 rádios comunitárias. As alegações foram aquelas de sempre: falam em disque-denúncia, que o serviço de rastreamento (de pesquisa de espectro de rádio) apontou que nós não estamos regularizados, etc. Se essa intervenção é legal, eu considero ilegítima, pois é ilegítimo negar o direito à comunicação, regionalmente, como fazemos. Desde que a lei foi aprovada, entramos com pedido de regularização para obter o alvará de funcionamento, mas é o que eu falei: a Anatel demonstra claramente que a regularização da radiodifusão comunitária não está entre as suas prioridades.

RETS - Parte da aparelhagem que levaram foi comprada graças a um convênio que a Bicuda tem com o Ministério da Saúde, não é verdade? Ou seja, a ação da Polícia Federal interferiu numa atividade que tem a participação do próprio Estado...

Vanderlei Giarola - Desenvolvemos um projeto que trata de DST/Aids, em

convênio com o Ministério da Saúde. O que fazemos é falar em saúde e na prevenção ao vírus em linguagem popular. Inclusive, recebemos há pouco tempo a visita de 12 representantes de países africanos que foram lá conhecer a Bicuda. A Polícia Federal deveria ter chegado lá nesse momento e ter prendido todo mundo que estivesse lá. Eu gostaria de ver como isso iria repercutir...

RETS - Existe uma posição clara da Anatel em não regularizar as rádios

comunitárias?

Vanderlei Giarola - Se não existe uma posição declarada existe a intenção. No mínimo, há uma má vontade, pois mexe com o monopólio das comunicações no país. Portanto, se não há um movimento contrário, há a negligência no trato com as rádios comunitárias. Há 600 rádios comunitárias no estado do Rio e nenhuma da cidade do Rio consegue concessão. Para falar a verdade, há dois meses saiu a notícia de que uma rádio comunitária em Vista Alegre foi regularizada. Para se ter uma idéia, o bairro fica bem perto de nós e não conhecemos esta rádio. No interior do estado é diferente, existem mais rádios regularizadas (o que não é diferente no estado de São Paulo e em outros centros urbanos). Muitas vezes, tem a ver, sim, com política. E isso pode ter relação com a regularização destas rádios no interior.

RETS - Vocês pretendem fazer algum tipo de ação, de mobilização popular?

Vanderlei Giarola - Sim. Vamos usar todos os meios ao nosso alcance para Denunciar. Vamos tentar agregar a sociedade civil organizada. Além disso, vamos exigir que, no mínimo, eles devolvam o equipamento e, se possível, aproveitar o momento para pedir pela nossa regularização.

Cada um de nós pode fazer alguma coisa em legítima defesa vida

Para entrar em contato com a Rádio Bicuda: www.bicuda.org.br

bicuda@bicuda.org.br

tel (21) 3352 2452 - 2482 7662 - 2482 9562

Para ajudar na campanha em defesa da Bicuda, aqui em São Paulo :

neder@alternex.com.br - 3111 2236 - 3111 3023

Até semana que vem! 80 beijos sonoros!
Magaly Prado é jornalista e radiomaker. Escreve para a Folha Online aos sábados

E-mail: magalyprado@uol.com.br

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