Pensata

Magaly Prado

04/01/2003

Perspectivas para 2003

Obviamente, o assunto em pauta é o rádio digital que vai mudar a cara do AM. A rádio Capital, por exemplo, já está trocando seus transmissores e testando os equipamentos. Mesmo que os ouvintes venham a demorar demais para trocar seus receptores, o sinal de quem já está colocando as torres novas já é um adianto. Quando a TV virou em cores, os telespectadores também demoraram para trocar seus aparelhos. É assim mesmo, precisa de um tempo. Mas, quando chegar, o AM terá som límpido como o FM, porém com uma estrondosa vantagem: o alcance nacional. Ah, sem falar nas desvantagens que o FM local possui com a pirataria na cola. Assim que houver avanço na área, informo aqui.

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Em 2003, espero sinceramente que os dirigentes e proprietários de emissoras não contratem apenas "famosos" para o comando de programas. Se for famoso e competente, vá lá. Mas precisa ser remunerado. Pessoas que trabalham em rádio sem receber um tostão deve ser denunciado. Nem é preciso dizer que os radialistas profissionais agradecem. Alguém me informou (não me lembro se foi o Marcelo Delfino) que no Rio de Janeiro andam até querendo montar uma cooperativa para comprar uma rádio e ter onde trabalhar.

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Espero também que as músicas melhorem o nível. Como ouço rádio direto, meu ouvido às vezes parece pinico de tanta baboseira que acabo ouvindo. As Kellys Keys da vida deveriam mudar de ramo. Vocês podem imaginar para qual ramo proponho, ne?

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Outra coisa é a falação desenfreada sem nexo. Locutores (as) ficam papagaiando sem a menor consistência, não levam a nada. Vão do lugar comum, passando pelo chavão até a mesmice. Fora quando desinformam na cara dura. Irritam, assim como eu, a maioria troca de dial. Os diretores de programação, ou artísticos deveriam estar mais antenados e proibir que locutores falem besteiras ou fiquem enaltecendo uns aos outros ou os próprios umbigos.

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O humor precisa ser melhor trabalhado, refinado. Não adianta ficar só ruminando as mesmas imitações, ou fazendo piada com palavrão. Ninguém mais dá risada do palavrão, pois todos ouvem o tempo todo na linguagem comum. Piadinhas de homossexuais também já era. Parece até que quem escreve tem desejo contido de tanto que martelam no mesmo tema. Abaixo o preconceito, o machismo, e o bom-mocismo.

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Que a segmentação aprofunde cada vez mais, e amanhã possamos ter uma rádio para cada gosto, cada público. Como o dial não comporta muito mais emissoras para garantirmos a segmentação da segmentação, que os donos de rádio acordem para dedicar suas estações com horários distintos que possam abordar diferentes estilos de programação e assim, agradar um maior número de pessoas. Um exemplo: a Kiss já é segmentada em rock, certo? Mas toca muito rock progressivo. Que tal dedicar a madrugada para os infindáveis solos de guitarra e os gritinhos dos vocalistas, por exemplo? Aliás, falando em segmentação eu tinha tanto orgulho de morar em uma cidade onde havia uma rádio que tocava só rock dos anos 50-60, nos idos de 97, quando a Kiss começou ! Ê saudades!

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Que os dirigentes das rádios FMs populares acabem com essa onda de enaltecer ouvintes histéricos que se sujeitam a idolatrar músico ou artista. Tietagem aos berros nos microfones só faz a audiência cair. Quem aguenta os aaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiisssssss do fanatismo?

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Continuo a retrospectiva 2002

Notas que tenho publicado no jornal Agora São Paulo.

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Evangelização

Em maio, a Gazeta AM saiu e voltou para as mãos do bispo David Miranda. Por um mês, virou AM universitária. O radialista Beto Rivera diz que a emissora volta em 2003, porém, apenas por algumas horas diárias.

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Programas legais

Madeleine Lacsko, 23 anos, apresenta "Gente", das 16h30 às 17h, uma atração que ela mesmo criou. Aborda temas importantes, como o exercício da cidadania e da responsabilidade social, e questões sobre o ambiente. Além disso, mostra os problemas e como resolver.

O poeta Assis Ângelo, que completou quatro anos na Capital AM, comanda seu "São Paulo Capital Nordeste". A atração se destaca das demais dedicadas à música sertaneja de raiz.

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Primeiro lugar

A rádio 105,7 é a zebra do dial FM. A emissora passou a programar rap e conseguiu superar a concorrência, entre ouvintes do sexo masculino, tornando-se líder no horário noturno.

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Trip 89

Em março, Paulo Lima e Arthur Veríssimo completaram um ano de volta à 89 FM e, assim, somaram 18 anos de rádio. Recentemente, mudaram para as terças-feiras.

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Scalla - Marconi

Finalmente, a rádio que só toca música orquestrada volta ao ar para sossego dos aficionados. Gilbert não voltou como diretor, pois foi fazer novela global.

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Adivinhão

O astrólogo Cícero Augusto, da Tupi AM, deixou ouvintes em polvorosa por conta de suas adivinhações do tipo que descobre o sexo dos bebês, a partir da data do nascimento da futura mamãe, por exemplo.

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Estréia

Kid Vinil já trabalhou na Brasil 2000 FM tempos atrás. Entre idas e vindas, dá para contar uns dez anos. Nos últimos dois anos, fazia dropes espalhados na programação. Manteve os dropes e estreou no comando do "Sessão da Tarde", em 8 de abril.

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Emergente

Recentemente, com a nova política da Brasil 2000, Kid passou para o horário noturno. Seja qual for seu espaço, é sempre um privilégio ouvir o músico (é líder da banda Magazine), com toques do que há de novo no prestigiado mundo do rock.

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Programas que deram certo

Enquanto o romantismo recebe prêmio, curiosidades entram em rede

"Vale a Pena", programa de flash-back, das 12h às 13h, ganhou o "Microfone de Ouro". No comando diário, Cláudia Marthins, o xodozinho da Sucesso. A emissora, por sinal, completou um ano, em abril, com o novo nome.

O programa "Você é Curioso" (sábados, das 10h às 11h, e reprise, das 20h às 21h), de autoria de Marcelo Duarte e participação de Silvania Alves, em meados de abril, virou nacional, na Bandeirantes AM. O jornalista Duarte nunca havia feito rádio, mas ganhou apoio da tarimbada Silvania e tirou de letra.

Nos balanços de final de ano, a Jovem Pan foi eleita como a rádio que fez a melhor cobertura do Campeonato Brasileiro, segundo a Gazeta Esportiva.net.

Em 2002, o sistema Globo de rádio passou a implementar rede nacional. Com isso, demitiu radialistas como Haroldo de Andrade e escalou alguns comunicadores, que viraram cabeças de rede.

Outro que se deu bem foi Vitão Bonesso, da Brasil 2000 FM. Seu programa, "Backstage", ganhou mais espaço na atual radioescola, novo projeto da emissora.

Nem tudo, no entanto, foi alegria. Entre as baixas, a saída de Alessandra S. Costa, 22 anos, a mais jovem coordenadora de programação de uma rádio de ponta. Ela ficou cinco anos na Sucesso.

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Mulheres fora do ar

Maria Lydia deixa tardes da CBN para âncora nacional Com a reformulação da Globo, Adalberto Piotto assumiu o horário. Maria Lydia permanece na TV Gazeta. A jornalista comandava o programa só para São Paulo. Com a mudança, diminui o número de mulheres âncoras no sistema Globo. Na CBN, ainda resta Roxane Ré à noite. Na Globo AM, não existem mulheres comandando horários.

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Nem o Ibope segurou. Sônia provou que mulher pode ser do primeiro time. Era líder de audiência em seu horário

No entanto, de nada adiantou os números das pesquisas. A comunicadora aproveitou sua estréia no SBT para largar a rádio Capital AM. "Não aguentava a carga de trabalho", disse Sônia, em abril.

Na verdade, a apresentadora se sentiu traída, espremida entre os craques Eli Corrêa e Paulo Lopes. "Foi a Capital que fez a carreira radiofônica dela, por meio da aposta que fizemos, endossando o horário da manhã. Ela possui uma capacidade de improviso extraordinária", disse Néder Adib, diretor da emissora, na época.

Com a saída de Sônia Abrão, Eli Corrêa e Paulo Lopes, recém-contratados, dividiram suas horas.

"Adoro rádio. Resolveram testar uma mulher das 8h às 12h e deu certo. Gosto mais de rádio do que de TV", desabafou Sônia.

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Semana que vem continuo com as perpectivas 2003 e a retrospectiva 2002, pois nem terminei o primeiro semestre. Aguardem. Abraços a todos.
Magaly Prado é jornalista e radiomaker. Escreve para a Folha Online aos sábados

E-mail: magalyprado@uol.com.br

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