Pensata

Marcio Aith

04/06/2001

Toledo, de engraxate a imperador

Parece que a vitória do ex-engraxate Alejandro Toledo nas eleições presidenciais do Peru foi o melhor resultado possível para a população daquele país. O economista de origem indígena se opôs, com coragem, à ditadura de Alberto Fujimori, tendo sido vítima de uma perseguição implacável de Vladimiro Montesinos, ex-chefe da polícia secreta peruana, instituição que corrompeu e assassinou. Além disso, incomoda a muitos o simples fato de o candidato derrotado por Toledo, o ex-presidente Alan García Pérez, ter conseguido participar de um pleito sem antes ter sido condenado e preso pela corrupção e abuso de direitos humanos cometidos durante seu governo.

No entanto, é importante lembrar que Toledo também tem defeitos. Dois dignos de nota são sua tendência ao culto personalístico e seu vínculo excessivo com instituições políticas e econômicas de Washington.

Toledo gosta de comparar-se ao maior imperador inca, Pachacútec, e anunciou que pretende tomar posse numa cerimônia em Machu Picchu. Ele exibe comportamento pouco aconselhável num país que se esforça para trocar o legado da personalidade de Fujimori pela força de instituições democráticas. Eu presenciei debates de Toledo em Washington, antes e depois da confusão eleitoral do ano passado, a mesma que deu origem ao novo pleito, concluído ontem. Seguro de si, Toledo parece ser um homem obstinado. Acredita que, com um pé em Washington e outro nas origens indígenas da população do país, conseguirá convencer "cholos" peruanos (como são conhecidos os indígenas do país) a realizar os ajustes fiscais que a Casa Branca "sugere" aos países dentro da área de influência norte-americana. Fiquei com a impressão de que, para governar, Toledo confia exageradamente em sua capacidade de comunicar-se diretamente com a maioria da população peruana. Contraditoriamente, mesmo tendo trabalhado no Banco Mundial e na ONU, Toledo não tem o apoio incondicional do governo norte-americano. Funcionários do Departamento de Estado dos EUA lembram que o presidente eleito irritou a comunidade internacional ao abandonar sua candidatura no meio da campanha ao segundo turno das eleições anteriores, boicotando um acordo que estava sendo costurado pela Casa Branca por meio da OEA. A vitória de Toledo é uma boa notícia aos peruanos, mas traz uma dose de incerteza ao país.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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