Pensata

Marcio Aith

16/07/2001

Cadê o saldo social das privatizações argentinas?

A última edição da revista inglesa "Economist" traz matéria irritante sobre a crise na América Latina ("Latin America's troubled economies"). O texto começa relatando o caos argentino. Menciona o desesperado pacote fiscal do ministro Domingo Cavallo, divulgado na semana passada, e, com certo grau de ironia, conclui: "Se (o pacotes) ao menos tivesse sido divulgado quatro meses atrás, seu (o de Cavallo) show de determinação para manter as finanças do governo sob controle talvez tivesse tranquilizado os mercados".

Tudo bem, tudo bem. O pacote poderia ter saído antes. No entanto, depois de uma década pregando reformas liberais em países bárbaros como Brasil e Argentina, a "Economist" poderia ao menos nos explicar por que o processo selvagem de privatização na Argentina não elevou a capacidade de o governo financiar programas sociais (vocês se lembram do discurso "reduzir-o-Estado-para-suas-funções-essenciais") nem reduziu a exposição do país a crises externas. Reconheço que a atual crise argentina guarda relação com o regime cambial do país e com sua incapacidade de exportar. No entanto, se são o câmbio e as exportações de países emergentes a chave para a geração de empregos, e se a venda selvagem de estatais argentinas não permitiu que o governo promovesse serviços sociais, por que, diabos, o país privatizou tudo? O que ele ganhou em troca? Alguém leu algum trabalho decente sobre o assunto?

O futuro na geladeira

Quando a revolução tecnológica começou nos EUA, uma das visões do futuro era a de um único cabo fornecendo serviços de telefone, televisão e internet aos lares norte-americanos. Mais cedo ou mais tarde, todas as tecnologias se transformariam numa só. Duranne a última década, a gigante da telefonia "AT&T" liderou a busca por esse sonho. Adquiriu várias companhias de TV a cabo, lançou seu serviço de internet rápida e gastou mundos de dinheiro para descobrir uma fórmula para juntar os três serviços num só. Na semana passada, a companhia foi obrigada a reconhecer que está longe da meta e admitiu que pode vender sua divisão de TV a cabo, limitando-se a fazer o que sabe: conectar telefones e, no máximo, manter seu serviço de internet.

Salvem a Polaroid

Com mais de US$ 300 milhões em dívidas, a Polaroid, inventora da tecnologia de fotografia instantânea, corre o risco que quebrar. Analistas dizem que a nova tecnologia digital desviou parte do mercado da empresa, mas o maior motivo para suas dificuldades é, na verdade, gerencial. Torço para que ela não quebre. Ainda não inventaram outra tecnologia fotográfica tão espetacular. Nem ousem dizer que a máquina digital se compara à Polaroid. Tenho raiva só de pensar naqueles fios de conexão com o computador e no tempo gasto para "downloadar" imagens. Longa vida à Polaroid.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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