Pensata

Marcio Aith

30/07/2001

O apagão é um bode. E Pedro Parente, o herói

Nos últimos dias, Pedro Parente, o "ministro do apagão", foi saudado como um herói em Washington, Nova York e Chicago.

Na capital norte-americana, ao ser recebido na Câmara de Comércio, foi tratado como salvador da pátria e elogiado, de forma efusiva, pela maestria com que procura evitar que a dócil e inofensiva população brasileira fique no escuro.

De Anthony Harrington, ex-embaixador dos EUA no Brasil e atual assessor de empresas norte-americanas com interesse na América Latina, ele ouviu: "Ainda bem que temos Pedro Parente cuidando do assunto"

De um representante da companhia norte-americana do setor energético Enron: "Esperamos que o apagão seja evitado. Se preciso, seria melhor elevar a cota de economia dos consumidores. Acompanhei de perto os esforços de Parente e pude observar sua competência"

Parente recebeu outros elogios, segundo constatou o enviado especial da Folha aos EUA, Ricardo Grinbaum.

Ao fim do encontro, empresários aproximavam-se do ministro para parabenizá-lo. Afoitos, insistiam em entregar-lhe seus cartões.

Caros leitores, começo a achar que os esforços para solucionar o apagão começam oficialmente a ser vendidos como prova de competência administrativa.

Vocês, pelo visto, são só figurantes de uma peça malandra. O governo, personificado na figura do ministro Parente, já recebe os louros pelo planejamento da retirada do bode.

A estratégia foi perfeita. Depois de nomeado, Parente veio para dentro de nossas casas, constatou a presença do bode no meio da sala e deus as ordens: mandou que segurássemos as patas do bicho e o carregássemos. Antes mesmo da retirada do animal, o ministro já corre para o abraço da torcida (dos EUA). Enquanto isso, ainda carregamos o bode.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca