Pensata

Marcio Aith

10/09/2001

Querida, encolhi o orçamento

O chão sob o presidente George W. Bush ruiu muito antes que o esperado até por seus inimigos.

Entre janeiro e julho, o debate político nos EUA girou em torno do uso de um superávit orçamentário inédito construído pela administração de Bill Clinton.

Fora com base na projeção desse superávit que Bush construíra, no ano passado, suas promessas de campanha (corte de impostos, instalação de um escudo antimíssil, aumento dos orçamentos militares, entre outras). Seria natural, portanto, que a crença nessa mesma projeção lhe desse oxigênio para conduzir sua administração, ao menos durante os quatro anos de seu (talvez primeiro) mandato.

O quadro mudou nos últimos dois meses: a parte usável desse superávit já não mais existe. Evaporou-se num incrível processo de encolhimento orçamentário co-patrocinado pelo próprio Bush.

Acuado (em parte por sua própria culpa), o presidente poderá ser obrigado a descumprir promessa de campanha e, para fechar as contas do ano, botar a mão em dinheiro reservado para garantir a aposentadoria dos norte-americanos, principalmente a dos "baby boomers" - geração nascida nos EUA durante a última explosão dos índices de natalidade (entre 1946 e 1965) que começa a aposentar-se em 2010.

Quando Bush assumiu, previa-se uma sobra recorde de US$ 275 bilhões no orçamento de 2001. Desse valor, Bush prometeu que cerca de US$ 170 bilhões, pertencentes ao orçamento das aposentadorias, não seriam tocados. O resto, repetiu o atual presidente durante a campanha, "deve voltar para o bolso dos contribuintes, que são donos desse dinheiro".

Só que esse dinheiro desapareceu. Sumiu com o crash das Bolsas (fenômeno que derrubou investimentos, ganhos de capital e arrecadação tributária), com a crise econômica mundial e com a própria aprovação do corte de impostos de Bush.

Da previsão inicial de superávit para 2001, restam, agora, apenas US$ 153 bilhões, sendo que todo esse valor está reservado para aposentadorias. O superávit puro já não existe mais: excluindo o dinheiro da aposentadoria dos "baby boomers", ficou um buraco de US$ 9 bilhões no lugar.

Alguns dizem, com uma certa dose de razão, que Clinton preparou uma bomba-relógio para Bush.

O problema é que o atual presidente parece estar perdendo o apoio popular que lhe serviria de proteção contra esse estouro, fator que ameaça a governabilidade.

Seu pai, o presidente George Bush (que antecedeu Clinton no cargo), caiu em desgraça ao descumprir promessa eleitoral de não elevar impostos. Perdeu, com essa traição, a chance de um segundo mandato.

Quase dez anos depois, o filho -ele próprio um "baby boomer"- arrisca-se a cometer um erro similar.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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