Pensata

Marcio Aith

15/10/2001

A morte de Amina Hassabo, 137 anos

Notícia do jornal egípcio "Al Wafd Daily" tirou ontem a guerra da minha cabeça e, apesar de ter a morte como tema, renovou minha paixão pela vida. Uma mulher de 137 anos, supostamente a mais velha do mundo, morreu no norte do Egito, em um povoado perto do delta do Nilo. O nome dela era Amina Hassabo. Teria nascido em 1864 e se casado três vezes na vida, tendo acumulado 190 netos. Só teria ido uma vez ao médico, há duas décadas, ao sentir que começava a ficar surda. Com uma pequena busca na internet, descobri que, como nunca teve documentos comprovando sua data de nascimento _apenas a memória do relato de sua mãe_, Amina nunca foi oficialmente reconhecida pelo Livro dos Recordes. Para os egípcios, no entanto, esses detalhes formais não importavam. Sua existência era motivo suficiente para celebração da vida. Para falar a verdade, também não me importei com detalhes formais ao saber de sua morte. Pelo menos ontem. Não interessa se Amina nos aplicou uma peça. Não importa se nasceu em 1864, dez anos antes ou dez anos depois. O que importa é que viveu bastante, viu bastante, andou bastante e, espero, foi feliz. Tendo morrido aos 137 anos, viveu quase três vezes mais que meu pai; cinco vezes mais que Anette Dataram, uma jovem contadora que trabalhava no "Windows of The World", no topo de uma das torres do World Trade Center; seis vezes mais que Geraldo Ferreira Soares, assassinado anteontem no Riacho Grande, em São Bernardo do Campo (Grande SP), depois de ter ido divertir-se num forró na cidade. Amina, que só foi ao médico uma vez na vida, driblou, lépida, a morte violenta. Foi embora como todos nós deveríamos ir. Com dignidade.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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