Pensata

Marcio Aith

17/12/2001

Donald Rumsfeld é o homem de US$ 343 bilhões

Atividade popular nos EUA desde 11 de setembro tem sido identificar qual integrante da equipe presidencial exerce mais influência sobre as decisões de George Walker Bush.

O atual é Donald Rumsfeld, o veterano (70 anos de idade) e conservador secretário de Defesa que já trabalhou diretamente para outros dois presidentes (Nixon e Ford) e que virou vedete em Washington depois da vitória militar avassaladora sobre o Taleban e sobre a Al Qaeda.

Nada como um sucesso militar para alegrar um presidente norte-americano. Logo após 11 de setembro, Rumsfeld disse a Bush que os EUA não precisavam de uma coalisão para invadir o Afeganistão. Disse que, na hipótese mais pacífica, a guerra era uma reação legítima e que diplomacia era sinal de fraqueza. Rumsfeld argumentava que diplomacia permitiria ao antiamericano fingir que é pró-americano e daria tempo para o inimigo armar-se. Segundo ele, os EUA precisavam exercitar sua hegemonia de forma inequívoca e, se necessário, sozinhos.

Ao menos para Bush, Rumsfeld provou seu ponto com a vitória no Afeganistão. A influência do secretário já se faz sentir interna e externamente. Na última quinta-feira, o Congresso aprovou um orçamento militar de US$ 343 bilhões para 2002. O valor supera em US$ 50 bilhões a média dos orçamentos militares do presidente Bill Clinton e atinge 90% da média dos anos da Guerra Fria. No plano externo, a filosofia Rumsfeld deu a Bush a sensação de que a segurança dos EUA já não depende da paz no Oriente Médio _ contrariamente ao que o secretário de Estado, Colin Powell, parecia ter ensinado a Bush. Segundo Rumsfeld, basta ter pulso firme, como os de Ariel Sharon.

Antes de 11 de setembro, descobrir quem mais influenciava Bush não tinha graça, pois uma só pessoa mandava no governo norte-americano: o vice Richard Cheney, a quem coube, desde a posse em janeiro, negociar com um Congresso hostil e manter aberto os canais de comunicação com o pragmático setor privado norte-americano.

Nos dias em que não era levado às pressas para o hospital, em razão de seu coração problemático, Cheney tomava decisões importantes, em encontros secretos, às vezes noturnos, com parceiros históricos da família Bush - entre eles a companhia energérica Enron, cuja falência/concordata transformou-se numa bomba relógio para esse governo.

A sorte de Cheney mudou no dia dos ataques, quando Bush, conversando com crianças na Flórida, permitiu que seu serviço secreto o tratasse como filho do presidente, e não como o dito cujo. Ziguezagueando de avião, Bush demorou para voltar a Washington e criou um vácuo preenchido pelo experiente Cheney, com sua boca torta e palavras duras.

Karen Hughes, o "armário" que cuida da imagem presidencial, logo percebeu que Bush teria que transformar-se num estadista e Cheney, sumir do mapa. Decisões duras teriam que ser tomadas. Sob o pretexto da segurança interna, Cheney foi exilado para um "lugar não divulgado" - eufemismo para Sibéria, ou lugar nenhum. Bush treinou caras e bocas _provavelmente como De Niro em Taxi Driver- , estufou o peito e pronto: a estratégia deu certo. O presidente transformou-se no líder mais popular dos EUA pós-Gallup.

Simultaneamente, outros membros do gabinete presidencial perceberam que poderiam conquistar nacos do espaço deixado por Cheney no processo mental de Bush.

Powell, que definhava sem atribuições num governo isolado do mundo, foi o primeiro a ganhar. Montou a coalisão internacional e fez uma média com os governos estrangeiros ao sugerir a Bush que diplomacia e alianças ainda são vitais para um país como os EUA.

No começo da guerra, Powell derrotou provisoriamente Rumsfeld e outros que queriam uma ação militar ampla. Powell convenceu o presidente a desistir _ ano menos por um tempo _ de atacar o Iraque e convenceu a Casa Branca a atuar de forma mais equilibrada no Oriente Médio. Mas tudo isso mudou. Hoje, quem manda nos EUA é Rumsfeld, seu pulso firme e seu orçamento de US$ 343 bilhões.
Marcio Aith é correspondente da Folha em Washington. Escreve para a Folha Online às segundas

E-mail: maith@uol.com.br

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